2.3 DA ESPIRITUALIZAÇÃO DA EXISTÊNCIA

— O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que vence esta influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos bons Espíritos, em cuja companhia um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal;. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução – p. 25)

10. O Espírito tem por destino a vida espiritual, porém, nas primeiras fases da sua existência corpórea, somente às exigências materiais lhe cumpre satisfazer e, para tal, o exercício das paixões constitui uma necessidade para a conservação da espécie e dos indivíduos, materialmente falando. Mas, uma vez saído desse período, outras necessidades se lhe apresentam, a princípio semimorais e semimateriais, depois exclusivamente morais. É então que o Espírito exerce domínio sobre a matéria, sacode-lhe o jugo, avança pela senda providencial que se lhe acha traçada e se aproxima do seu destino final. Se, ao contrário, ele se deixa dominar pela matéria, atrasa-se e se identifica com o bruto. Nessa situação, o que era outrora um bem, porque era uma necessidade da sua natureza, transforma-se num mal, não só porque já não constitui uma necessidade, como porque se torna prejudicial à espiritualização do ser. Muita coisa, que é qualidade na criança, torna-se defeito no adulto. O mal é, pois, relativo e a responsabilidade é proporcionada ao grau de adiantamento. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo III – p. 67)

22. […] Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender e crede que Deus é justo em todas as coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no entanto, são as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreendem os vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa acanhada esfera e, à medida que vos elevardes, diminuirá para vós a importância da vida material que, nesse caso, se vos apresentará como simples incidente, no curso infinito da vossa existência espiritual, única existência verdadeira. – Fénelon (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 96)

OBTUSO: a que falta nitidez; confuso. [Definição do Dicionário Online do Google]

23. Vive o homem incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra na Terra. Entretanto, malgrado as vicissitudes que formam o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e turbará, e, coisa singular! o homem, como que de intento, cria para si tormentos que está nas suas mãos evitar. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 96)

PRELIBAR: sentir prazer antecipadamente ao pensar em (algo); antegozar, antefruir. [Definição do Dicionário Online do Google]

26. […]

Vós, porém, que vos retirais do mundo, para lhe evitar as seduções e viver no insulamento, que utilidade tendes na Terra? Onde a vossa coragem nas provações, uma vez que fugis à luta e desertais do combate? Se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas, e não aos vossos corpos; mortificai o vosso Espírito, e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amor-próprio; enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente do que a dor física. Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus. – Um anjo guardião (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 100)

ENRIJAR: tornar(-se) rijo, fortalecido, robusto (física e moralmente); arrijar(-se), enrijecer, enrobustecer(-se). [Definição do Dicionário Online do Google]

8. […] O sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao espírito e resignação. O coração bate então melhor, a alma se asserena e o corpo se forra aos desfalecimentos, por isso que o corpo tanto menos forte se sente, quanto mais profundamente golpeado é o espírito. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VI – p. 109)

FORRAR: pôr(-se) a salvo de; poupar(-se). [Definição do Dicionário Online do Google] 

5. Que queria Jesus dizer por estas palavras: “Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra”, tendo recomendado aos homens que renunciassem aos bens deste mundo e havendo-lhes prometido os do céu?

Enquanto aguarda os bens do céu, tem o homem necessidade dos da Terra para viver. Apenas, o que Ele lhe recomenda é que não ligue a estes últimos mais importância do que aos primeiros. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IX – p. 136)

[Espíritos Sofredores – Exprobrações de um boêmio]

[…]

Quem sacrifica aos instintos brutos a inteligência e os bons sentimentos que Deus lhe dá, assemelha-se ao animal que muitas vezes se maltrata. O homem deve utilizar-se sobriamente dos bens de que é depositário, habituando-se a visar a eternidade que o espera, abrindo mão, por consequência, dos gozos materiais. A sua alimentação deve ter por exclusivo fim a vitalidade; o luxo deve apenas restringir-se às necessidades da sua posição; os gostos, os pendores, mesmo os mais naturais, devem obedecer ao mais são raciocínio; sem o que, ele se materializa em vez de se purificar.

As paixões humanas são estreitos grilhões que se enroscam na carne e, assim, não lhes deis abrigo. Vós não sabeis o seu preço, quando regressamos à pátria! As paixões humanas vos despem antes mesmo de vos deixarem, de modo a chegardes nus, completamente nus, ante o Senhor. Ah! cobri-vos de boas obras que vos ajudem a franquear o Espaço entre vós e a eternidade. Manto brilhante, elas escondem as vossas torpezas humanas. Envolvei-vos na caridade e no amor — vestes divinas que duram eternamente. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 240)

FRANQUEAR: passar por cima ou através de; transpor; atravessar. [Definição do Dicionário Online do Google]

10. Meus caros condiscípulos, os Espíritos aqui presentes vos dizem, por meu intermédio: “Amai muito, a fim de serdes amados.” É tão justo esse pensamento, que nele encontrareis tudo o que consola e abranda as penas de cada dia; ou melhor: pondo em prática esse sábio conselho, elevar-vos-eis de tal modo acima da matéria que vos espiritualizareis antes de deixardes o invólucro terrestre. Havendo os estudos espíritas desenvolvido em vós a compreensão do futuro, uma certeza tendes: a de caminhardes para Deus, vendo realizadas todas as promessas que correspondem às aspirações de vossa alma. Por isso, deveis elevar-vos bem alto para julgardes sem as constrições da matéria, e não condenardes o vosso próximo sem terdes dirigido a Deus o pensamento. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XI – p. 158)

CONDISCÍPULO: colega, companheiro. [Definição do Dicio – Dicionário Online de Português]

13. […] Sim, meus filhos, é inútil que o homem ávido de gozos procure iludir-se sobre o seu destino nesse mundo, pretendendo ser-lhe lícito ocupar-se unicamente com a sua felicidade. Sem dúvida, Deus nos criou para sermos felizes na eternidade; entretanto, a vida terrestre tem que servir exclusivamente ao aperfeiçoamento moral, que mais facilmente se adquire com o auxílio dos órgãos físicos e do mundo material. Sem levar em conta as vicissitudes ordinárias da vida, a diversidade dos gostos, dos pendores e das necessidades, é esse também um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Com efeito, só a poder de concessões e sacrifícios mútuos podeis conservar a harmonia entre elementos tão diversos.

Tereis, contudo, razão, se afirmardes que a felicidade se acha destinada ao homem nesse mundo, desde que ele a procure, não nos gozos materiais, sim no bem. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XI – p. 161)

14. […]

[…] Quando Deus vos desferir um golpe, não esqueçais nunca que, ao lado da mais rude prova, coloca sempre uma consolação. Ponderai, sobretudo, que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa ideia vos ajudará a desprender-vos destes últimos. O pouco apreço que se ligue a uma coisa faz que menos sensível seja a sua perda. O homem que se aferra aos bens terrenos é como a criança que somente vê o momento que passa. O que deles se desprende é como o adulto que vê as coisas mais importantes, por compreender estas proféticas palavras do Salvador: “O meu reino não é deste mundo.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 229)

11. Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida uma viagem que o há de conduzir a determinado ponto, pouco caso faz das asperezas da jornada e não deixa que seus passos se desviem do caminho reto. Com o olhar constantemente dirigido para o termo a alcançar, nada lhe importa que as urzes e os espinhos ameacem produzir-lhe arranhaduras; umas e outros lhe roçam a epiderme, sem o ferirem, nem impedirem de prosseguir na caminhada. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XII – p. 172)

14. Venho, meus irmãos, meus amigos, trazer-vos o meu óbolo, a fim de vos ajudar a avançar, desassombradamente, pela senda do aperfeiçoamento em que entrastes. Nós nos devemos uns aos outros; somente pela união sincera e fraternal entre os Espíritos e os encarnados será possível a regeneração.

O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas materiais. Sede sinceros: proporciona a riqueza uma felicidade sem mescla? Quando tendes cheios os cofres, não há sempre um vazio no vosso coração? No fundo dessa cesta de flores não há sempre oculto um réptil? Compreendo a satisfação, bem justa, aliás, que experimenta o homem que, por meio de trabalho honrado e assíduo, ganhou uma fortuna; mas dessa satisfação, muito natural e que Deus aprova, a um apego que absorve todos os outros sentimentos e paralisa os impulsos do coração vai grande distância, tão grande quanto a que separa da prodigalidade exagerada a sórdida avareza, dois vícios entre os quais colocou Deus a caridade, santa e salutar virtude que ensina o rico a dar sem ostentação, para que o pobre receba sem baixeza. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 226)

ÓBOLO: Pequena moeda usada na antiguidade grega de valor insignificante, correspondia a um sexto de dracma. Donativo de pouco valor, dado aos pobres; esmola. [Definição do Dicio – Dicionário Online de Português]

912. Qual o meio mais eficiente de combater-se o predomínio da natureza corpórea?

“Praticar a abnegação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 404)

9. […] Ricos! […] Auxiliai os infelizes o melhor que puderdes. Dai, para que Deus, um dia, vos retribua o bem que houverdes feito, para que tenhais, ao sairdes do vosso invólucro terreno, um cortejo de Espíritos agradecidos, a receber-vos no limiar de um mundo mais ditoso.

Se pudésseis saber da alegria que experimentei ao encontrar no Além aqueles a quem, na minha última existência, me fora dado servir!… (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIII – p. 183-184)

14. […]

[…] O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 228)

A causa do orgulho está na crença, em que o homem se firma, da sua superioridade individual. Ainda aí se faz sentir a influência da concentração dos pensamentos sobre a vida corpórea. Naquele que nada vê adiante de si, atrás de si, nem acima de si, o sentimento da personalidade sobrepuja e o orgulho fica sem contrapeso.

A incredulidade não só carece de meios para combater o orgulho, como o estimula e lhe dá razão, negando a existência de um poder superior à Humanidade. O incrédulo apenas crê em si mesmo; é, pois, natural que tenha orgulho. Enquanto que, nos golpes que o atingem, unicamente vê uma obra do acaso e se ergue para combatê-la, aquele que tem fé percebe a mão de Deus e se submete. Crer em Deus e na vida futura é, conseguintemente, a primeira condição para moderar o orgulho; porém, não basta. Juntamente com o futuro, é necessário ver o passado, para fazer ideia exata do presente. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O egoísmo e o orgulho – p. 281-282)

941. Para muitas pessoas, o temor da morte é uma causa de perplexidade. Donde lhes vêm esse temor, tendo elas diante de si o futuro?

“Falece-lhes fundamento para semelhante temor. Mas que queres! se procuram persuadi-las, quando crianças, de que há um inferno e um paraíso e que mais certo é irem para o inferno, visto que também lhes disseram que o que está na Natureza constitui pecado mortal para a alma! Sucede então que, tornadas adultas, essas pessoas, se algum juízo têm, não podem admitir tal coisa e se fazem ateias ou materialistas. São assim levadas a crer que, além da vida presente, nada mais há. Quanto aos que persistiram nas suas crenças da infância, esses temem aquele fogo eterno que os queimará sem os consumir.

Ao justo, nenhum temor inspira a morte, porque, com a fé, tem ele a certeza do futuro. A esperança fá-lo contar com uma vida melhor; e a caridade, a cuja lei obedece, lhe dá a segurança de que, no mundo para onde terá de ir, nenhum ser encontrará cujo olhar lhe seja de temer.”

Nota – O homem carnal, mais preso à vida corpórea do que à vida espiritual, tem, na Terra, penas e gozos materiais. Sua felicidade consiste na satisfação fugaz de todos os seus desejos. Sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, se conserva numa ansiedade e numa tortura perpétuas. A morte o assusta, porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeições e esperanças.

O homem moral, que se colocou acima das necessidades factícias criadas pelas paixões, já neste mundo experimenta gozos que o homem material desconhece. A moderação de seus desejos lhe dá ao Espírito calma e serenidade. Ditoso pelo bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades lhe deslizam por sobre a alma, sem nenhuma impressão dolorosa deixarem. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 423)

942. Pessoas não haverá que achem um tanto banais esses conselhos para ser-se feliz na Terra; que neles vejam o que chamam lugares comuns, sediciosas verdades; e que digam, que, afinal, o segredo para ser-se feliz consiste em saber cada um suportar a sua desgraça?

“Há as que isso dizem e em grande número, mas muitas se parecem com certos doentes a quem o médico prescreve a dieta; desejariam curar-se sem remédios e continuando a apanhar indigestões.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 423-424)

SEDICIOSO: revoltoso, insurgente, insubordinado. [Definição do Dicionário Online do Google] 

1018. Em que sentido se devem entender estas palavras do Cristo: Meu Reino não é deste mundo?

“Respondendo assim, o Cristo falava em sentido figurado. Queria dizer que o seu reinado se exerce unicamente sobre os corações puros e desinteressados. Ele está onde quer que domine o amor do bem. Ávidos, porém, das coisas deste mundo e apegados aos bens da Terra, os homens com Ele não estão.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 459)

799. De que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso?

“Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio do presente, lhe é dado preparar o seu futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 361)

5. A ideia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no porvir, fé que acarreta enormes consequências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, breve estada num país ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguir-se-lhes um estado mais ditoso. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo II – p. 53)

Com esse conhecimento [do Espiritismo] podemos saber qual será a nossa condição de felicidade ou infelicidade na vida futura, bem como a causa de nossos sofrimentos atuais, e a maneira de aliviá-los.

A difusão das ideais espíritas será inevitável e terá como efeito a destruição do materialismo que não resistirá às evidências dos fatos.

O homem, convencido da grandeza e da importância da sua existência futura, que é eterna, a compara com a incerteza da vida terrestre, que é tão curta, e se eleva por meio do pensamento acima das mesquinhas considerações humanas.

Conhecendo antecipadamente a causa e o término de suas misérias, resigna-se com paciência porque sabe que são meios para alcançar um estado melhor. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 26-27)

13. O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a duração do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento terá presto passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar. Contrariamente, para aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe parece esta, e a dor o oprime com todo o seu peso. Daquela maneira de considerar a vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se compelido o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, a receber atenuada a impressão dos reveses e das decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o ciúme e a ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as angústias da sua curta existência. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 87-88)

8. […] Somente a fé na vida futura e na Justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XII – p. 170)

36. […] A crença somente é válida se nos fizer dar um passo na senda do progresso e nos tornar melhores homens, uns para com os outros. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 40-41)

9. O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. Quando alguém vai a um país distante, constitui a sua bagagem de objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali lhe seriam inúteis. Procedei do mesmo modo com relação à vida futura; aprovisionai-vos de tudo o de que lá vos possais servir. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 222)

12. Quando considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante preocupação de que é para vós objeto o bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dais ao vosso aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum tempo consagrais e que, no entanto, é o que importa para a eternidade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 224)

Outros, porém, são os sentimentos daquele que tem fé no futuro [em oposição à doutrina do nadismo]; que sabe que nada do que adquiriu em saber e em moralidade lhe estará perdido; que o trabalho de hoje dará seus frutos amanhã; que ele próprio fará parte das gerações porvindouras, mais adiantadas e mais ditosas. Sabe que, trabalhando para os outros, trabalha para si mesmo. Sua visão não se detém na Terra, abrange a infinidade dos mundos que lhe servirão um dia de morada; entrevê o glorioso lugar que lhe caberá, como o de todos os seres que alcançam a perfeição.

Com a fé na vida futura, dilata-se-lhe o círculo das ideias; o porvir lhe pertence; o progresso pessoal tem um fim, uma utilidade real. Da continuidade das relações entre os homens nasce a solidariedade; a fraternidade se funda numa lei da Natureza e no interesse de todos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo espírita – p. 465)

14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 88)

[…] Continuai, pelo exemplo, a provar os benéficos resultados desta Doutrina [Espírita]. Aos que perguntarem para que pode ela servir, respondei: Em meu desespero eu queria me matar; o Espiritismo me deteve, porque agora sei o que custa abreviar voluntariamente as provas que Deus houve por bem mandar aos homens. Para me atordoar, embriagava-me; compreendi o quanto era desprezível por me tirar voluntariamente a razão, privando-me assim de ganhar o meu pão e o de meus filhos. Havia-me divorciado de todos os sentimentos religiosos: hoje rogo a Deus e deponho as esperanças na sua misericórdia. Só acreditava no nada, como supremo remédio para as minhas misérias; meu pai comunicou-se comigo e me disse: Filho, coragem! Deus te vê; mais um esforço e estarás salvo! Ajoelhei-me perante Deus e lhe pedi perdão. Vendo ricos e pobres, gente que tem tudo e outros que nada têm, acusava a Providência; hoje sei que Deus tudo pesa na balança da justiça e espero o seu julgamento; se estiver em seus decretos que eu deva sucumbir no sofrimento, então sucumbirei, mas com a consciência pura e sem levar o remorso de haver roubado um óbolo a quem me podia salvar a vida. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem espírita em 1861 – p. 61)

19. […] O Senhor apôs o seu selo em todos os que nele creem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo ficará sob a sua égide e não mais sofrerá. Os momentos das mais fortes dores lhe serão as primeiras notas alegres da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira do corpo que, enquanto ele se estorcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, entoando, com os anjos, hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor. Ditosos os que sofrem e choram! Alegres estejam suas almas, porque Deus as cumulará de bem-aventuranças. – Santo Agostinho  (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 92)

ÉGIDE: o que protege, ampara. [Definição do Dicionário Online do Google]

Nota – Os Espíritos que sucumbem são geralmente levados a alegar um compromisso superior às próprias forças – o que é ainda um resto de orgulho e um meio de se desculparem para consigo mesmos, não se conformando com a própria fraqueza. Deus não dá a ninguém mais do que possa suportar, não exige da árvore nascente os frutos dados pelo tronco desenvolvido. Ademais, os Espíritos têm a liberdade; o que lhes falta é a vontade, e esta depende deles exclusivamente. Com força de vontade não há tendências viciosas insuperáveis; mas, quando um vício nos apraz, é natural que não façamos esforços por domá-lo. Assim, somente a nós devemos atribuir as respectivas consequências. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 245)

21. […] Humanos, é nesse ponto que precisais elevar-vos acima do terra a terra da vida, para compreenderdes que o bem, muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia previdência onde pensais divisar a cega fatalidade do destino. Por que haveis de avaliar a Justiça divina pela vossa? Podeis supor que o Senhor dos mundos se aplique, por mero capricho, a vos infligir penas cruéis? Nada se faz sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos advêm, nelas encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e os vossos miseráveis interesses se tornariam de tão secundária consideração, que os atiraríeis para o último plano. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 94)

921. Concebe-se que o homem será feliz na Terra quando a Humanidade estiver transformada. Enquanto isso se não verifica, pode-se conseguir uma felicidade relativa?

“O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.”

Nota – Aquele que se acha bem compenetrado de seu destino futuro não vê na vida corporal mais do que uma estação temporária, uma como parada momentânea em péssima hospedaria. Facilmente se consola de alguns aborrecimentos passageiros de uma viagem que o levará a tanto melhor posição, quanto melhor tenha cuidado dos preparativos para empreendê-la. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 413)

922. A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?

“Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Quarta – Capítulo I – p. 414)

[Espíritos Felizes – A Srta. Emma]

“Os que sofrem na Terra, são recompensados na outra vida.

Deus é repleto de Justiça e Misericórdia para com os que aqui sofrem.

Concede a felicidade pura e perfeita, que não se deveria temer os sofrimentos e tampouco a morte, se fosse possível aos pobres seres humanos saber os misteriosos desígnios de nosso Criador.

Mas a Terra é um local de muitas provações e frequentemente semeados de dores bem pungentes.

Seja resignado se for ferido e diante de Deus que é o criador absoluto, inclinai-vos pela vossa bondade quando Ele vos dar um fardo pesado para suportar.

Se Ele vos chamar depois de grandes sofrimentos, se nenhum lamento ou murmúrio entrar em vosso coração, vereis como eram poucas essas dores e as penas da Terra, quando percebeis a recompensa que Deus vos reserva.

Bem cedo deixei a Terra e Deus quis me perdoar e dar-me a vida daqueles que respeitam vossa vontade.

Adorai e amai de todo coração para sempre a Deus.

Acima de tudo orai firmemente.

É nisto que consiste o vosso sustentáculo aqui na Terra.

A vossa esperança, a vossa salvação.” Emma (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo II – p. 209)

37. Tirai ao homem o Espírito livre e independente, sobrevivente à matéria, e fareis dele uma simples máquina organizada, sem finalidade, nem responsabilidade; sem outro freio além da lei civil e própria a ser explorada como um animal inteligente. Nada esperando depois da morte, nada obsta a que aumente os gozos do presente; se sofre, só tem a perspectiva do desespero e o nada como refúgio. Com a certeza do futuro, com a de encontrar de novo aqueles a quem amou e com o temor de tornar a ver aqueles a quem ofendeu, todas as suas ideias mudam. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo I – p. 31-32)

O homem não se preocupará com a vida futura, senão quando vir nela um fim claro e positivamente definido, uma situação lógica, em correspondência com todas as suas aspirações, que resolva todas as dificuldades do presente e em que não se lhe depare coisa alguma que a razão não possa admitir. Se ele se preocupa com o dia seguinte, é porque a vida do dia seguinte se liga intimamente à vida do dia anterior; uma e outra são solidárias; ele sabe que do que fizer hoje depende a sua posição amanhã e que do que fizer amanhã dependerá a sua posição no dia imediato e assim por diante.

Tal tem de ser para ele a vida futura, quando esta não mais se achar perdida nas nebulosidades da abstração e for uma atualidade palpável, complemento necessário da vida presente, uma das fases da vida geral, como os dias são fases da vida corporal. Quando vir o presente reagir sobre o futuro, pela força das coisas, e, sobretudo, quando compreender a reação do futuro sobre o presente; quando, em suma, verificar que o passado, o presente e o futuro se encadeiam por inflexível necessidade, como o ontem, o hoje e o amanhã na vida atual, oh! então suas ideias mudarão completamente, porque ele verá na vida futura não só um fim, como também um meio; não um efeito distante, mas atual. Então, igualmente, essa crença exercerá sem dúvida, e por uma consequência toda natural, ação preponderante sobre o estado social e sobre a moralização da Humanidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A vida futura – p. 262-263)

Identifique-se o homem com a vida futura e completamente mudará a sua maneira de ver, como a do indivíduo que apenas por poucas horas haja de permanecer numa habitação má e que sabe que, ao sair, terá outra, magnífica, para o resto de seus dias.

A importância da vida presente, tão triste, tão curta, tão efêmera, se apaga, para ele, ante o esplendor do futuro infinito que se lhe desdobra às vistas. A consequência natural e lógica dessa certeza é sacrificar o homem um presente fugidio a um porvir duradouro, ao passo que antes ele tudo sacrificava ao presente. Tomando por objetivo a vida futura, pouco lhe importa estar um pouco mais ou um pouco menos nesta outra; os interesses mundanos passam a ser o acessório, em vez de ser o principal; ele trabalha no presente com o fito de assegurar a sua posição no futuro, tanto mais quando sabe em que condições poderá ser feliz.

Pelo que toca aos interesses terrenos, podem os humanos criar-lhe obstáculos: ele tem que os afastar e se torna egoísta pela força mesma das coisas. Se lançar os olhos para o alto, para uma felicidade a que ninguém pode obstar, interesse nenhum se lhe deparará em oprimir a quem quer que seja e o egoísmo se lhe torna carente de objeto. Todavia, restará o estimulante do orgulho. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O orgulho e o egoísmo – p. 280-281)

[Espíritos em condições medianas – Joseph Bré]

(Falecido em 1840 e evocado em Bordeaux, por sua neta, em 1862.)

O homem honesto segundo Deus ou segundo os homens

1. Caro avô, podeis dizer-me como vos encontrais no mundo dos Espíritos, dando-me quaisquer pormenores úteis ao nosso progresso?

— R. Tudo que quiseres, querida filha. Eu expio a minha descrença; porém, grande é a bondade de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias imaginar: é o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra.

2. Como? Pois não vivestes sempre honestamente?

— R. Sim, no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus. E uma vez que desejas instruir-te, procurarei demonstrar-te a diferença. Aí, entre vós, é reputado honesto aquele que respeita as leis do seu país, respeito arbitrário para muitos. Honesto é aquele que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o culpado hipócrita.

Podendo fazer gravar na pedra do túmulo um epitáfio de virtude, julgam muitos terem pago sua dívida à humanidade! Erro! Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso antes de tudo não haver transgredido as Leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for ativo na vida; ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações, sem esquecer a condição de servo ao qual o Senhor pedirá contas, um dia, do emprego do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.

“Assim o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo. O homem honesto, segundo Deus, deve ter sempre cerrado o coração a quaisquer germens de orgulho, de inveja, de ambição; deve ser paciente e benévolo para com os que o agredirem; deve perdoar do fundo da alma, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda; deve, enfim, praticar o preceito conciso e grandioso que se resume ‘no amor de Deus sobre todas as coisas e do próximo como a si mesmo’.

“Eis aí, querida filha, aproximadamente o que deve ser o homem honesto perante Deus. Pois bem: tê-lo-ia eu sido? (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo III – p. 219-220)

MORDAZ: que agride ou corrói; cáustico, corrosivo, sarcástico. [Definição do Dicionário Online do Google]

626. Só por Jesus foram reveladas as leis divinas e naturais? Antes do seu aparecimento, o conhecimento dessas leis só por intuição os homens o tiveram?

“Já não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Desde os séculos mais longínquos, todos os que meditaram sobre a sabedoria hão podido compreendê-las e ensiná-las. Pelos ensinos, mesmo incompletos, que espalharam, prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da natureza, possível foi ao homem conhecê-las, logo que as quis procurar. Por isso é que os preceitos que consagram foram, desde todos os tempos, proclamados pelos homens de bem; e também por isso é que elementos delas se encontram, se bem que incompletos ou adulterados pela ignorância, na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 298)

Jesus assentou o princípio da caridade, da igualdade e da fraternidade, fazendo dele uma condição expressa para a salvação; mas, estava reservado à terceira manifestação da vontade de Deus, ao Espiritismo, pelo conhecimento que faculta da vida espiritual, pelos novos horizontes que desvenda e pelas leis que revela, sancionar esse princípio, provando que ele não encerra uma simples doutrina moral, mas uma lei da Natureza que o homem tem o máximo interesse em praticar. Ora, ele a praticará desde que, deixando de encarar o presente como o começo e o fim, compreenda a solidariedade que existe entre o presente, o passado e o futuro. No campo imenso do infinito, que o Espiritismo lhe faz entrever, anula-se a sua importância capital e ele percebe que, por si só, nada vale e nada é; que todos têm necessidade uns dos outros e que uns não são mais do que os outros: duplo golpe, no seu egoísmo e no seu orgulho.

Mas, para isso, é-lhe necessária a fé, sem a qual permanecerá na rotina do presente, não a fé cega, que foge à luz, restringe as ideias e, em consequência, alimenta o egoísmo. É-lhe necessária a fé inteligente, racional, que procura a claridade e não as trevas, que ousadamente rasga o véu dos mistérios e alarga o horizonte. Essa fé, elemento básico de todo progresso, é que o Espiritismo lhe proporciona, fé robusta, porque assente na experiência e nos fatos, porque lhe fornece provas palpáveis da imortalidade da sua alma, lhe mostra donde ele vem, para onde vai e por que está na Terra e, finalmente, lhe firma as ideias, ainda incertas, sobre o seu passado e sobre o seu futuro.

Uma vez que haja entrado decisivamente por esse caminho, já não tendo o que os incite, o egoísmo e o orgulho se extinguirão pouco a pouco, por falta de objetivo e de alimento, e todas as relações sociais se modificarão sob o influxo da caridade e da fraternidade bem compreendidas. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O egoísmo e o orgulho – p. 284-285)

O homem que se esforça seriamente por se melhorar assegura para si a felicidade, já nesta vida. Além da satisfação que proporciona à sua consciência, ele se isenta das misérias materiais e morais, que são a consequência inevitável das suas imperfeições. Terá calma, porque as vicissitudes só de leve o roçarão. Gozará de saúde, porque não estragará o seu corpo com os excessos. Será rico, porque rico é sempre todo aquele que sabe contentar-se com o necessário. Terá a paz do espírito, porque não experimentará necessidades fictícias, nem será atormentado pela sede das honrarias e do supérfluo, pela febre da ambição, da inveja e do ciúme. Indulgente para com as imperfeições alheias, menos sofrimentos lhe causarão elas, que, antes, lhe inspirarão piedade e não cólera. Evitando tudo o que possa prejudicar o seu próximo, por palavras e por atos, procurando, ao invés, fazer tudo o que possa ser útil e agradável aos outros, ninguém sofrerá com o seu contato.

Garante a sua felicidade na vida futura, porque, quanto mais ele se depurar, tanto mais se elevará na hierarquia dos seres inteligentes e cedo abandonará esta terra de provações, por mundos superiores, porquanto o mal que haja reparado nesta vida não terá que o reparar em outras existências; porquanto, na erraticidade, só encontrará seres amigos e simpáticos e não será atormentado pela visão incessante dos que contra ele tenham motivos de queixa.

Vivam juntos alguns homens, animados desses sentimentos, e serão tão felizes quanto o comporta a nossa terra. Ganhem assim, passo a passo, esses sentimentos todo um povo, toda uma raça, toda a Humanidade e o nosso globo tomará lugar entre os mundos ditosos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo espírita – p. 463)

5. […] Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VI – p. 107)

9. […] O Cristo foi o iniciador da mais pura, da mais sublime moral, da moral evangélico-cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações a caridade e o amor do próximo e estabelecer entre os humanos uma solidariedade comum; de uma perfeita moral, enfim, que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos que hoje a habitam. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo I – p. 46)

Pobres ovelhas desgarradas, aprendei a ver aproximar-se de vós o bom Pastor, que, longe de vos banir para todo o sempre de sua presença, vem pessoalmente ao vosso encontro, para vos reconduzir ao aprisco. Filhos pródigos, deixai o vosso voluntário exílio; encaminhai vossos passos para a morada paterna. O Pai vos estende os braços e está sempre pronto a festejar o vosso regresso ao seio da família.” Lamennais (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 450)

18. Disse o Cristo: “Deixai que venham a mim as criancinhas.” Profundas em sua simplicidade, essas palavras não continham um simples chamamento dirigido às crianças, mas também o das almas que gravitam nas regiões inferiores, onde o infortúnio desconhece a esperança. Jesus chamava a si a infância intelectual da criatura formada: os fracos, os escravizados e os viciosos. Ele nada podia ensinar à infância física, presa à matéria, submetida ao jugo do instinto, ainda não incluída na categoria superior da razão e da vontade que se exercem em torno dela e por ela.

Queria que os homens a Ele fossem com a confiança daqueles entezinhos de passos vacilantes, cujo chamamento conquistava, para o seu, o coração das mulheres, que são todas mães. Submetia assim as almas à sua terna e misteriosa autoridade. Ele foi o facho que ilumina as trevas, a claridade matinal que toca a despertar; foi o iniciador do Espiritismo, que a seu turno atrairá para Ele, não as criancinhas, mas os homens de boa vontade. Está empenhada a ação viril; já não se trata de crer instintivamente, nem de obedecer maquinalmente; é preciso que o homem siga a lei inteligente que se lhe revela na sua universalidade. […] João Evangelista. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 130-131)

28. […] 3º [Entre os que se convenceram por um estudo direto] Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as consequências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do progresso, única que os pode elevar na hierarquia do mundo dos Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e coibir seus maus pendores. As relações com eles sempre oferecem segurança, porque a convicção que nutrem os preserva de pensarem praticar o mal. A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo III – p. 38)

38. A crença no Espiritismo somente é proveitosa para aquele de quem se pode dizer: hoje ele é melhor do que ontem. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 41)

11. […] 

[…] Aquele, portanto, que não aproveita essas máximas [“muito se pedirá àquele que muito recebeu”] para melhorar-se, que as admira como coisas interessantes e curiosas, sem que lhe toquem o coração, que não se torna nem menos vão, nem menos orgulhoso, nem menos egoísta, nem menos apegado aos bens materiais, nem melhor para seu próximo, mais culpado é, porque mais meios tem de conhecer a verdade.

Os médiuns que obtêm boas comunicações ainda mais censuráveis são, se persistem no mal, porque muitas vezes escrevem sua própria condenação e porque, se não os cegasse o orgulho, reconheceriam que a eles é que se dirigem os Espíritos. Todavia, em vez de tomarem para si as lições que escrevem, ou que leem escritas por outros, têm por única preocupação aplicá-las aos demais, confirmando assim estas palavras de Jesus: “Vedes um argueiro no olho do vosso próximo e não vedes a trave que está no vosso.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVIII – p. 249)

Mateus, 5:1-2 

9. […] Conseguir a assistência destes [os bons Espíritos], afastar os Espíritos levianos e mentirosos, tal deve ser a meta para qual convirjam os esforços constantes de todos os médiuns sérios. Sem isso, a mediunidade se torna uma faculdade estéril, capaz mesmo de redundar em prejuízo daquele que a possua, pois pode degenerar em perigosa obsessão.

O médium que compreende o seu dever, longe de se orgulhar de uma faculdade que não lhe pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui a Deus as boas coisas que obtém. Se as suas comunicações receberem elogios, não se envaidecerá com isso, porque as sabe independentes do seu mérito pessoal; agradece a Deus o haver consentido que por seu intermédio bons Espíritos se manifestassem. Se dão lugar à crítica, não se ofende, porque não são obra do seu próprio Espírito. Ao contrário, reconhece no seu íntimo que não foi um instrumento bom e que não dispõe de todas as qualidades necessárias a obstar a imiscuição dos Espíritos maus. Cuida, então, de adquirir essas qualidades e suplica, por meio da prece, as forças que lhe faltam. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 336)

919. Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?

“Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.

a) Concebemos toda a sabedoria desta máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?

“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: ‘Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?’.

Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.

O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na podereis ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.

Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o objeto de todos os vossos desejos, o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! que é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de alguns esforços? Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o futuro. Ora, esta exatamente a ideia que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este objetivo é que ditamos O livro dos espíritos.Santo Agostinho

Nota – Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que uma máxima, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós mesmos. Aquela exige respostas categóricas, por um sim ou um não, que não abrem lugar para qualquer alternativa e que não outros tantos argumentos pessoais. E, pela soma que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que existe em nós. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 408-410)

7. […] Sede pacientes. A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência.

A vida é difícil, bem o sei. Compõe-se de mil nadas, que são outras tantas picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém, atentarmos nos deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que, por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito mais numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesado, quando se olha para o alto, do que quando se curva para a terra a fronte. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IX – p. 137)

4. A misericórdia é o complemento da brandura, porquanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. Ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam alma sem elevação, nem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir. Uma é sempre ansiosa, de sombria suscetibilidade e cheia de fel; a outra é calma, toda mansidão e caridade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 142)

Durante a minha estada em Lyon, assistindo a uma reunião espírita, um homem, por cujas roupas identifiquei um trabalhador, levantou-se no fundo da sala e disse: “Senhor, há seis meses eu não acreditava em Deus, nem no diabo, nem em minha alma; estava convencido de que quando morremos tudo se acaba; não temia as penas futuras, pois me parecia que tudo se findava com a vida. Devo dizer-vos que não orava, e que desde a minha primeira comunhão não voltei a pôr os pés numa igreja; além disso, eu era violento e exaltado. Enfim, nada temia, nem mesmo a justiça humana. Há seis meses, assim era eu. Foi então que o Espiritismo chegou; lutei durante dois meses; mas li, compreendi e não pude me furtar à evidência. Uma verdadeira revolução operou-se em mim. Hoje já não sou o mesmo homem; oro todos os dias e vou à igreja. Quanto ao meu caráter, perguntai aos meus camaradas se mudei! Outrora eu me irritava com tudo: um nada me exasperava; agora estou tranquilo e feliz, bendizendo a Deus por me ter enviado a luz.” (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem espírita em 1862 – p. 35)

535. Quando algo de venturoso nos sucede é ao Espírito nosso protetor que devemos agradecê-lo?

“Agradecei primeiramente a Deus, sem cuja permissão nada se faz; depois, aos bons Espíritos que foram os agentes da sua vontade.”

a) Que sucederia se nos esquecêssemos de agradecer?

“O que sucede aos ingratos.”

b) No entanto, pessoas há que não pedem nem agradecem e às quais tudo sai bem!

“Assim é, de fato, mas importa ver o fim. Pagarão bem caro essa felicidade de que não são merecedoras, pois quanto mais houverem recebido, tanto maiores contas terão que prestar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 261-262)

22. O dever primordial de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece. Quase todos vós orais, mas quão poucos são os que sabem orar! Que importam ao Senhor as frases que maquinalmente articulais umas às outras, fazendo disso um hábito, um dever que cumpris e que vos pesa como qualquer dever?

A prece do cristão, do espírita, seja qual for o culto, deve ele dizê-la logo que o Espírito haja retomado o jugo da carne; deve elevar-se aos pés da majestade divina com humildade, com profundeza, num ímpeto de reconhecimento por todos os benefícios recebidos até aquele dia; pela noite transcorrida e durante a qual lhe foi permitido, ainda que sem consciência disso, ir ter com os seus amigos, com os seus guias, para haurir, no contato com eles, mais força e perseverança. Deve ela subir humilde aos pés do Senhor, para lhe recomendar a vossa fraqueza, para lhe suplicar amparo, indulgência e misericórdia. Deve ser profunda, porquanto é a vossa alma que tem de elevar-se para o Criador, de transfigurar-se, como Jesus no Tabor, a fim de lá chegar nívea e radiosa de esperança e de amor.

A vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê alegrias e riquezas. Rogai-lhe que vos conceda os bens mais preciosos da paciência, da resignação e da fé. Não digais, como o fazem muitos: “Não vale a pena orar, porquanto Deus não me atende.” Que é o que, na maioria dos casos, pedis a Deus? Já vos tendes lembrado de pedir-lhe a vossa melhoria moral? Oh! não; bem poucas vezes o tendes feito. O que preferentemente vos lembrais de pedir é o bom êxito para os vossos empreendimentos terrenos e haveis com frequência exclamado: “Deus não se ocupa conosco; se se ocupasse, não se verificariam tantas injustiças.” Insensatos! Ingratos! Se descêsseis ao fundo da vossa consciência, quase sempre depararíeis, em vós mesmos, com o ponto de partida dos males de que vos queixais. Pedi, pois, antes de tudo, que vos possais melhorar e vereis que torrente de graças e de consolações se derramará sobre vós.

Deveis orar incessantemente, sem que, para isso, se faça mister vos recolhais ao vosso oratório, ou vos lanceis de joelhos nas praças públicas. A prece do dia é o cumprimento dos vossos deveres, sem exceção de nenhum, qualquer que seja a natureza deles. Não é ato de amor a Deus assistirdes os vossos irmãos numa necessidade, moral ou física? Não é ato de reconhecimento o elevardes a Ele o vosso pensamento, quando uma felicidade vos advém, quando evitais um acidente, quando mesmo uma simples contrariedade apenas vos roça a alma, desde que vos não esqueçais de exclamar: Sede bendito, meu Pai?! Não é ato de contrição o vos humilhardes diante do supremo Juiz, quando sentis que falistes, ainda que somente por um pensamento fugaz, para lhe dizerdes: Perdoai-me, meu Deus, pois pequei (por orgulho, por egoísmo, ou por falta de caridade); dai-me forças para não falir de novo e coragem para a reparação da minha falta?!

Isso independe das preces regulares da manhã, da noite e dos dias consagrados. Como o vedes, a prece pode ser de todos os instantes, sem nenhuma interrupção acarretar aos vossos trabalhos. Dita assim, ela, ao contrário, os santifica. Tende como certo que um só desses pensamentos, se partir do coração, é mais ouvido pelo vosso Pai celestial do que as longas orações ditas por hábito, muitas vezes sem causa determinante e às quais apenas maquinalmente vos chama a hora convencional. – V. Monod. (Bordeaux, 1862.) (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVII – p. 321-322)

NÍVEO:  alva, láctea, nevada, branca. [Definição  do Dicio – Dicionário Online de Português] ;

44. A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar e se aproximar do criador; é entrar em comunicação com Ele. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 42)

45. Quem ora com confiança e fervorosamente torna-se mais forte para resistir às tentações do mal. Deus lhe envia bons Espíritos em seu auxílio. Trata-se de um socorro que jamais lhe é negado, quando o pedido é feito com sinceridade. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 42)

47. Aquele que solicita o perdão de Deus para os seus erros, somente o obtém por meio da mudança de conduta. A melhor prece reside nas boas ações, porquanto os atos valem mais do que as palavras. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 42)

50. Cada um deve pedir de acordo com suas convicções e do modo que julgar mais adequado; pois a forma não é nada, o pensamento é tudo; a sinceridade e a pureza de intenção são essenciais; um bom pensamento vale mais do que inúmeras palavras, que se parecem com o ruído de um moinho em que não toma parte o coração. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 43)

523. Acontecendo que os pressentimentos e a voz do instinto são sempre algum tanto vagos, que devemos fazer, na incerteza em que ficamos?

“Quando te achares na incerteza, invoca o teu bom Espírito, ou ora a Deus, soberano senhor de todos, e Ele te enviará um de seus mensageiros, um de nós.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 257)

23. […] Avançai, avançai pelas veredas da prece e ouvireis as vozes dos anjos. Que harmonia! Já não são o ruído confuso e os sons estrídulos da Terra; são as liras dos arcanjos; são as vozes brandas e suaves dos serafins, mais delicadas do que as brisas matinais, quando brincam na folhagem dos vossos bosques. Por entre que delícias não caminhareis! A vossa linguagem não poderá exprimir essa ventura, tão rápida entra ela por todos os vossos poros, tão vivo e refrigerante é o manancial em que, orando, se bebe. Dulçorosas vozes, inebriantes perfumes, que a alma ouve e aspira, quando se lança a essas esferas desconhecidas e habitadas pela prece! Sem mescla de desejos carnais, são divinas todas as aspirações. Também vós, orai como o Cristo, levando a sua cruz ao Gólgota, ao Calvário. Carregai a vossa cruz e sentireis as doces emoções que lhe perpassavam na alma, se bem que vergado ao peso de um madeiro infamante. Ele ia morrer, mas para viver a vida celestial na morada de seu Pai. – Santo Agostinho. (Paris, 1861.) (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVII – p. 323)

ESTRÍDULO: que ou o que se caracteriza pelo som agudo, ruidoso, penetrante. [Definição do Dicionário Online do Google] 

11. […] Despertai, meus irmãos, meus amigos. Que a voz dos Espíritos ecoe nos vossos corações. Sede generosos e caridosos, sem ostentação, isto é, fazei o bem com humildade. Que cada um proceda pouco a pouco à demolição dos altares que todos ergueram ao orgulho. Numa palavra: sede verdadeiros cristãos e tereis o Reino da Verdade. Não continueis a duvidar da bondade de Deus, quando dela vos dá Ele tantas provas. Vimos preparar os caminhos para que as profecias se cumpram. Quando o Senhor vos der uma manifestação mais retumbante da sua clemência, que o enviado celeste já vos encontre formando uma grande família; que os vossos corações, mansos e humildes, sejam dignos de ouvir a palavra divina que Ele vos vem trazer; que ao eleito somente se deparem em seu caminho as palmas que aí tenhais deposto, volvendo ao bem, à caridade, à fraternidade. Então, o vosso mundo se tornará o paraíso terrestre. No entanto, se permanecerdes insensíveis à voz dos Espíritos enviados para depurar e renovar a vossa sociedade civilizada, rica de ciências, mas tão pobre de bons sentimentos, ah! então não nos restará senão chorar e gemer pela vossa sorte. Mas não, assim não será. Voltai para Deus, vosso Pai, e todos nós que houvermos contribuído para o cumprimento da sua vontade entoaremos o cântico de ação de graças, agradecendo-lhe a inesgotável bondade e glorificando-o por todos os séculos dos séculos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VI – p. 119)

15. […] “Tira-se ao que não tem ou tem pouco.” Tomai isso como uma antítese figurada. Deus não retira das suas criaturas o bem que se haja dignado de fazer-lhes. Homens cegos e surdos, abri as vossas inteligências e os vossos corações; vede pelo vosso espírito; ouvi pela vossa alma e não interpreteis de modo tão grosseiramente injusto as palavras daquele que fez resplandecesse aos vossos olhos a Justiça do Senhor. Não é Deus quem retira daquele que pouco recebera: é o próprio Espírito que, por pródigo e descuidado, não sabe conservar o que tem e aumentar, fecundando-o, o óbolo que lhe caiu no coração.

Aquele que não cultiva o campo que o trabalho de seu pai lhe granjeou, e que lhe coube em herança, o vê cobrir-se de ervas parasitas. É seu pai quem lhe tira as colheitas que ele não quis preparar? Se, à falta de cuidado, deixou fenecessem as sementes destinadas a produzir nesse campo, é a seu pai que lhe cabe acusar por nada produzirem elas? Não e não. Em vez de acusar aquele que tudo lhe preparara [Deus], de criticar as suas doações, queixe-se do verdadeiro autor de suas misérias [si mesmo] e, arrependido e operoso, meta, corajoso, mãos à obra; arroteie o solo ingrato com o esforço de sua vontade; lavre-o fundo com auxílio do arrependimento e da esperança; lance nele, confiante, a semente que haja separado, por boa, dentre as más; regue-o com o seu amor e a sua caridade, e Deus, o Deus de amor e de caridade, dará àquele que já recebera. Verá ele, então, coroados de êxito os seus esforços e um grão produzir cem e outro mil. Ânimo, trabalhadores! Tomai dos vossos arados e das vossas charruas; lavrai os vossos corações; arrancai deles a cizânia; semeai a boa semente que o Senhor vos confia e o orvalho do amor lhe fará produzir frutos de caridade. – Um Espírito amigo. (Bordeaux, 1862.) (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – p. 250-251)

Marcos, 4:24-25

ARROTEAR: desmoitar, desbravar (terreno) para plantação. [Definição do Dicionário Online do Google]

37. O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cobiça, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência são, para a alma, ervas venenosas, das quais se devem arrancar as raízes. Seus antídotos são a caridade e a humildade. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 41)

8. Quando diz: “Ide reconciliar-vos com o vosso irmão, antes de depordes a vossa oferenda no altar”, Jesus ensina que o sacrifício mais agradável ao Senhor é o que o homem faça do seu próprio ressentimento; que, antes de se apresentar para ser por Ele perdoado, precisa o homem haver perdoado e reparado o agravo que tenha feito a algum de seus irmãos. Só então a sua oferenda será bem-aceita, porque virá de um coração expungido de todo e qualquer pensamento mau. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 143-144)

8. […] O cristão não oferece dons materiais, pois que espiritualizou o sacrifício. Com isso, porém, o preceito ainda mais força ganha. Ele oferece sua alma a Deus e essa alma tem de ser purificada. Entrando no templo do Senhor, deve ele deixar fora todo sentimento de ódio e de animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão. Só então os anjos levarão sua prece aos pés do Eterno. Eis aí o que ensina Jesus por estas palavras: “Deixai a vossa oferenda junto do altar e ide primeiro reconciliar-vos com o vosso irmão, se quiserdes ser agradável ao Senhor.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 144)

Mateus, 5:23-24

14. Prestai, pois, ouvidos a essa resposta de Jesus [Quantas vezes perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-eis, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes] e, como Pedro, aplicai-a a vós mesmos. Perdoai, usai de indulgência, sede caridosos, generosos, pródigos até do vosso amor. Dai, que o Senhor vos restituirá; perdoai, que o Senhor vos perdoará; abaixai-vos, que o Senhor vos elevará; humilhai-vos, que o Senhor fará vos assenteis à sua direita. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 147)

15. Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio; perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era. Perdoai, pois, meus amigos, a fim de que Deus vos perdoe, porquanto, se fordes duros, exigentes, inflexíveis, se usardes de rigor até por uma ofensa leve, como querereis que Deus esqueça de que cada dia maior necessidade tendes de indulgência? Oh! ai daquele que diz: “Nunca perdoarei”, pois pronuncia a sua própria condenação. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 147)

16. […] Quando perdoardes aos vossos irmãos, não vos contenteis com o estender o véu do esquecimento sobre suas faltas, porquanto, as mais das vezes, muito transparente é esse véu para os olhares vossos. Levai-lhes, simultaneamente, com o perdão, o amor; fazei por eles o que pediríeis fizesse o vosso Pai celestial por vós. Substituí a cólera que conspurca, pelo amor que purifica. Pregai, exemplificando, essa caridade ativa, infatigável, que Jesus vos ensinou; pregai-a, como Ele o fez durante todo o tempo em que esteve na Terra, visível aos olhos corporais e como ainda a prega incessantemente, desde que se tornou visível tão somente aos olhos do Espírito. Segui esse modelo divino; caminhai em suas pegadas; elas vos conduzirão ao refúgio onde encontrareis o repouso após a luta. Como Ele, carregai todos vós as vossas cruzes e subi penosamente, mas com coragem, o vosso calvário, em cujo cimo está a glorificação. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 150)

CONSPURCAR: fazer recair dúvidas sobre a integridade de; macular, infamar, desonrar. [Definição do Dicionário Online do Google]

30. […] No que nos aflige, só vemos, em geral, o presente, e não as ulteriores consequências favoráveis que possa ter a nossa aflição. Muitas vezes, o bem é a consequência de um mal passageiro, como a cura de uma enfermidade é o resultado dos meios dolorosos que se empregaram para combatê-la. Em todos os casos devemos submeter-nos à vontade de Deus, suportar com coragem as tribulações da vida, se queremos que elas nos sejam levadas em conta e que se nos possam aplicar estas palavras do Cristo: “Bem-aventurados os que sofrem.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 344)

19. […] Deixai venham a mim todos os que sofrem, a multidão dos aflitos e dos infortunados: Eu lhes ensinarei o grande remédio que suaviza os males da vida e lhes revelarei o segredo da cura de suas feridas! Qual é, meus amigos, esse bálsamo soberano, que possui tão grande virtude, que se aplica a todas as chagas do coração e as cicatriza? É o amor, é a caridade! Se possuís esse fogo divino, que é o que podereis temer? Direis a todos os instantes de vossa vida: “Meu Pai, que a tua vontade se faça e não a minha; se te apraz experimentar-me pela dor e pelas tribulações, bendito sejas, porquanto é para meu bem, eu o sei, que a tua mão sobre mim se abate. Se é do teu agrado, Senhor, ter piedade da tua criatura fraca, dar-lhe ao coração as alegrias sãs, bendito sejas ainda.

[…]

Se tendes amor, possuís tudo o que há de desejável na Terra, possuís preciosíssima pérola, que nem os acontecimentos, nem as maldades dos que vos odeiem e persigam poderão arrebatar. Se tendes amor, tereis colocado o vosso tesouro lá onde os vermes e a ferrugem não o podem atacar e vereis apagar-se da vossa alma tudo o que seja capaz de lhe conspurcar a pureza; sentireis diminuir dia a dia o peso da matéria e, qual pássaro que adeja nos ares e já não se lembra da Terra, subireis continuamente, subireis sempre, até que vossa alma, inebriada, se farte do seu elemento de vida no seio do Senhor. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 131)

ADEJAR: agitar as asas para se manter no ar durante voo; voar. [Definição do Dicionário Online do Google]  

INEBRIANTE: que embriaga, entontece; embriagador. [Definição do Dicionário Online do Google]  

629. Que definição se pode dar da moral?

“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 299-300)

630. Como se pode distinguir o bem do mal?

“O bem é tudo o que é conforme a lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 300)

631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?

“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para distinguir um do outro.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 300)

632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal?

“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 300)

643. Haverá quem, pela sua posição, não tenha possibilidade de fazer o bem?

“Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque, fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso venha a ser necessário.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 302-303)

646. Estará subordinado a determinadas condições o mérito do bem que se pratique? Por outra: será de diferentes graus o mérito que resulta da prática do bem?

“O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo. Nenhum merecimento há em fazê-lo sem esforço e quando nada custe. ‘Em melhor conta tem Deus o pobre que divide com outro o seu único pedaço de pão, do que o rico que apenas dá do que lhe sobra’, disse-o Jesus, a propósito do óbolo da viúva.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 303)

Lucas 21: 1-4

647. A Lei de Deus se acha contida toda no preceito do amor ao próximo, ensinado por Jesus?

“Certamente. Esse preceito encerra todos os deveres dos homens uns para com os outros. Cumpre, porém, se lhes mostre a aplicação que comporta, do contrário deixarão de cumpri-lo, como o fazem presentemente. Ademais, a lei natural abrange todas as circunstâncias da vida e esse preceito compreende só uma parte da lei. Aos homens são necessárias regras precisas; os preceitos gerais e muito vagos deixam grande número de portas abertas à interpretação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 303-304)

648. Que pensais da divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis de adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade e, por fim, a de justiça, amor e caridade?

“Essa divisão da Lei de Deus em dez partes é a de Moisés e de natureza a abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes, pois, adotá-la, sem que, por isso, tenha qualquer coisa de absoluta, como não o tem nenhum dos outros sistemas de classificação, que todos dependem do prisma pelo qual se considere o que quer que seja. A última lei é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 304)

883. É natural o desejo de possuir?

“Sim, mas quando o homem deseja possuir para si somente e para sua satisfação pessoal, o que há é egoísmo.”

a) Não será, entretanto, legítimo o desejo de possuir, uma vez que aquele que tem de que viver a ninguém é pesado?

“Há homens insaciáveis, que acumulam bens sem utilidade para ninguém, ou apenas para saciar suas paixões. Julgas que Deus vê isso com bons olhos? Aquele que, ao contrário, junta pelo trabalho, tendo em vista socorrer os seus semelhantes, pratica a lei de amor e caridade, e Deus abençoa o seu trabalho.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XI – p. 392)

4. “Amar o próximo como a si mesmo: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós”, é a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o próximo. Não podemos encontrar guia mais seguro, a tal respeito, que tomar para padrão, do que devemos fazer aos outros, aquilo que para nós desejamos. Com que direito exigiríamos dos nossos semelhantes melhor proceder, mais indulgência, mais benevolência e devotamento para conosco, do que os temos para com eles? A prática dessas máximas tende à destruição do egoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas tão somente união, concórdia e benevolência mútua. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XI – p. 154)

10. Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento. Missionário do amor, Ele amou até dar o sangue e a vida por amor. Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XII – p. 171)

11. […]

[…] Difunde em torno de ti, como os socorros materiais, o amor de Deus, o amor do trabalho, o amor do próximo. Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará e que te trará grandes lucros: a das boas obras. A riqueza da inteligência deves utilizá-la como a do ouro. Derrama em torno de ti os tesouros da instrução; derrama sobre teus irmãos os tesouros do teu amor e eles frutificarão. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 224)

876. Posto de parte o direito que a lei humana consagra, qual a base da justiça, segundo a lei natural?

“Disse o Cristo: Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo. No coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de como deva proceder com o seu semelhante, em dada circunstância, trate o homem de saber como quereria que com ele procedessem, em circunstância idêntica. Guia mais seguro do que a própria consciência não lhe podia Deus haver dado.”

Nota – Efetivamente, o critério da verdadeira justiça está em querer cada um para os outros o que para si mesmo quereria e não em querer para si o que quereria para os outros, o que absolutamente não é a mesma coisa. Não sendo natural que haja quem deseje o mal para si, desde que cada um tome por modelo o seu desejo pessoal, é evidente que nunca ninguém desejará para o seu semelhante senão o bem. Em todos os tempos e sob o império de todas as crenças, sempre o homem se esforçou para que prevalecesse o seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XI – p. 390)

Mateus 7:12

893. Qual a mais meritória de todas as virtudes?

“Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 397)

895. Postos de lado os defeitos e os vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o sinal mais característico da imperfeição?

“O interesse pessoal. Frequentemente, as qualidades morais são como, num objeto de cobre, a douradura, que não resiste à pedra de toque. Pode um homem possuir qualidades reais, que levem o mundo a considerá-lo homem de bem. Mas, essas qualidades, conquanto assinalem um progresso, nem sempre suportam certas provas e às vezes basta que se fira a corda do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto. O verdadeiro desinteresse é coisa ainda tão rara na Terra que, quando se patenteia, todos o admiram como se fora um fenômeno.

O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferra aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 398)

PEDRA DE TOQUE: Elemento que serve para avaliar (ou no qual se manifesta) a essência ou a verdadeira natureza de algo. [Definição do Dicionário Online de Português: Dicio]

918. Por que indícios se pode reconhecer em um homem o progresso real que lhe elevará o Espírito na hierarquia espírita?

“O Espírito prova a sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática da lei de Deus e quando antecipadamente compreende a vida espiritual.”

Nota – Verdadeiramente, homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal, se fez todo bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim, se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça.

É bondoso, humanitário e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todos os homens, sem distinção de raças, nem de crenças.

Se Deus lhe outorgou o poder e a riqueza, considera essas coisas como UM DEPÓSITO, de que lhe cumpre usar para o bem. Delas não se envaidece, por saber que Deus, que lhas deu, também lhas pode retirar.

Se sob a sua dependência a ordem social colocou outros homens, trata-os com bondade e complacência, porque são seus iguais perante Deus. Usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho.

É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que também precisa da indulgência dos outros e se lembra destas palavras do Cristo: Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado.

Não é vingativo. A exemplo de Jesus, perdoa as ofensas, para só se lembrar dos benefícios, pois não ignora que, como houver perdoado, assim perdoado lhe será.

Respeita, enfim, em seus semelhantes, todos os direitos que as leis da Natureza lhes concedem, como quer que os mesmos direitos lhe sejam respeitados. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 407-408)

923. O que para um é supérfluo não representará, para outro, o necessário, e reciprocamente, de acordo com as posições respectivas?

“Sim, conforme as vossas ideias materiais, os vossos preconceitos, a vossa ambição e as vossas ridículas extravagâncias, a que o futuro fará justiça, quando compreenderdes a verdade. Não há dúvida de que aquele que tinha cinquenta mil libras de renda, vendo-se reduzido a só ter dez mil, se considera muito desgraçado, por não mais poder fazer a mesma figura, conservar o que chama a sua posição, ter cavalos, lacaios, satisfazer a todas as paixões etc. Acredita que lhe falta o necessário, mas, francamente, achas que seja digno de lástima, quando ao seu lado muitos há, morrendo de fome e frio, sem um abrigo onde repousem a cabeça? O homem criterioso, a fim de ser feliz, olha sempre para baixo e não para cima, a não ser para elevar sua alma ao infinito.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 414)

12. […] Homens de bem, de boa e firme vontade, uni-vos para continuar amplamente a obra de propagação da caridade; no exercício mesmo dessa virtude, encontrareis a vossa recompensa; não há alegria espiritual que ela não proporcione já na vida presente. Sede unidos, amai-vos uns aos outros, segundo os preceitos do Cristo. Assim seja. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIII – p. 188)

913. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical?

“Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 404)

698. O celibato voluntário representa um estado de perfeição meritório aos olhos de Deus?

“Não, e os que assim vivem, por egoísmo, desagradam a Deus e enganam o mundo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IV – p. 324)

699. Da parte de certas pessoas, o celibato não será um sacrifício que fazem com o fim de se votarem, de modo mais completo, ao serviço da Humanidade?

“Isso é muito diferente. Eu disse: por egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem. Quanto maior o sacrifício, tanto maior o mérito.”

Nota – Não é possível que Deus se contradiga, nem que ache mau o que Ele próprio fez. Nenhum mérito, portanto, pode haver na violação da sua lei. Se o celibato, em si mesmo, não é um estado meritório, outro tanto não se dá quando constitui, pela renúncia, às alegrias da família, um sacrifício praticado em prol da humanidade. Todo sacrifício pessoal, tendo em vista o bem e sem qualquer ideia egoísta, eleva o homem acima da sua condição material. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IV – p. 324)

720. São meritórias aos olhos de Deus as privações voluntárias, com o objetivo de uma expiação igualmente voluntária?

“Fazei o bem aos vossos semelhantes e mais mérito tereis.”

a) Haverá privações voluntárias que sejam meritórias?

“Há: a privação dos gozos inúteis, porque desprende da matéria o homem e lhe eleva a alma. Meritório é resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao gozo das coisas inúteis; é o homem tirar do que lhe é necessário para dar aos que carecem do bastante. Se a privação não passar de simulacro, será uma irrisão.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V –  p. 332)

IRRISÃO: aquele ou aquilo que é alvo de risos desdenhosos, motejos e zombarias. [Definição do Dicionário Online do Google]

724. Será meritório abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação?

“Sim, se praticar essa privação em benefício dos outros. Aos olhos de Deus, porém, só há mortificação, havendo privação séria e útil. Por isso é que qualificamos de hipócritas os que apenas aparentemente se privam de alguma coisa.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 333)

725. Que se deve pensar das mutilações operadas no corpo do homem ou dos animais?

“A que propósito, semelhante questão? Ainda uma vez: inquiri sempre vós mesmos se é útil aquilo de que porventura se trate. A Deus não pode agradar o que seja inútil e o que for nocivo lhe será sempre desagradável. Porque, ficai sabendo, Deus só é sensível aos sentimentos que elevam para Ele a alma. Obedecendo-lhe à lei e não a violando é que podereis forrar-vos ao jugo da vossa matéria terrestre.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 333)

726. Visto que os sofrimentos deste mundo nos elevam, se os suportarmos devidamente, dar-se-á que também nos elevam os que nós mesmos nos criamos?

“Os sofrimentos naturais são os únicos que elevam, porque vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários de nada servem, quando não concorrem para o bem de outrem. Supões que se adiantam no caminho do progresso os que abreviam a vida, mediante rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas? Por que de preferência não trabalham pelo bem de seus semelhantes? Vistam o indigente; consolem o que chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações para alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto, agradáveis a Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 333-334)

BONZO: membro de qualquer ordem religiosa; frade, sacerdote. [Definição do  Dicionário Online do Google]

FAQUIR: asceta que, na Índia, pratica a mendicância e submete-se a uma vida de privações, procurando atingir a perfeição espiritual a partir do controle sobre os sentidos. [Definição do  Dicionário Online do Google]

727. Uma vez que não devemos criar sofrimentos voluntários, que nenhuma utilidade tenham para outrem, deveremos cuidar de preservar-nos dos que prevejamos ou nos ameacem?

“Contra os perigos e os sofrimentos é que o instinto de conservação foi dado a todos os seres. Fustigai o vosso espírito e não o vosso corpo, mortificai o vosso orgulho, sufocai o vosso egoísmo, que se assemelha a uma serpente a vos roer o coração, e fareis muito mais pelo vosso adiantamento do que infligindo-vos rigores que já não são deste século.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 334)

Bem sabeis, senhores, que a palavra caridade tem uma acepção muito ampla. Há caridade em pensamentos, em palavras, em ações; não consiste apenas na esmola. Alguém é caridoso em pensamentos sendo indulgente para com as faltas do próximo; caridoso em palavras, nada dizendo que possa prejudicar a outrem; caridoso em ações quando assiste o próximo na medida de suas forças. O pobre, que partilha seu naco de pão com outro mais pobre que ele, é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus do que aquele que dá do supérfluo, sem de nada se privar.

Quem quer que alimente contra o próximo sentimentos de ódio, de animosidade, de inveja, de rancor, falta com a caridade. A caridade é a antítese do egoísmo; a primeira é a abnegação da personalidade, o segundo é a exaltação da personalidade. Uma diz: Para vós primeiro lugar, para mim depois; e o outro: Para mim antes, para vós se sobrar. A primeira está toda inteira nestas palavras do Cristo: “Fazei aos outros o que quereríeis que vos fizessem.” Numa palavra, aplica-se sem exceção a todas as relações sociais. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem espírita de 1862 – p. 24-25)

Mateus, 7:12

55. A caridade é a lei suprema do Cristo: “Amai-vos uns aos outros como os irmãos se amam.” “Amai o vosso próximo como amai-vos a vós mesmos.” “Perdoai os vossos inimigos; não façais aos outros o que não desejais que vos façam” – isso tudo se resume em uma única palavra: Caridade.

56. A caridade não consiste somente em dar esmolas. Existe atitude caridosa por meio dos pensamentos, das palavras e das ações. É caridoso em pensamento aquele que é indulgente para com os erros alheios; é caridoso em palavras quem não diz coisa alguma que possa prejudicar o próximo; é caridoso nas ações aquele que auxilia o seu próximo na medida de suas possibilidades. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 44)

12. Não pode a alma elevar-se às altas regiões espirituais, senão pelo devotamento ao próximo; somente nos arroubos da caridade encontra ela ventura e consolação. Sede bons, amparai os vossos irmãos, deixai de lado a horrenda chaga do egoísmo. Cumprido esse dever, abrir-se-vos-á o caminho da felicidade eterna. […] Se unicamente buscásseis a volúpia que uma ação boa proporciona, conservar-vos-íeis sempre na senda do progresso espiritual. Não vos faltam os exemplos; rara é apenas a boa vontade. Notai que a vossa história guarda piedosa lembrança de uma multidão de homens de bem. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIII – p. 186-187)

O Espiritismo não se limita a provar o mundo invisível. Pelos exemplos que desdobra aos nossos olhos, ele no-lo mostra em sua realidade e não tal como a imaginação o havia feito conceber; ele no-lo revela povoado de seres felizes ou infelizes, mas prova que só a caridade, a soberana lei do Cristo, pode assegurar, a felicidade. Por outro lado, vemos a sociedade terrestre dilacerar-se mutuamente sob o império do egoísmo, ao passo que viveria feliz e pacífica sob o domínio da caridade. Com a caridade tudo é, pois, benefício para o homem: felicidade neste mundo e no outro. Não se trata mais, conforme a expressão de um materialista, de um sacrifício de tolos, mas, segundo a expressão do Cristo, de um dinheiro aplicado ao cêntuplo. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem espírita de 1862 – p. 27)

O caminho traçado pela caridade é claro, infalível e sem equívocos. Poder-se-ia defini-lo assim: “Sentimento de benevolência, de justiça e de indulgência para com o próximo, baseado no que quereríamos que o próximo nos fizesse.” Tomando-a por guia, podemos estar certos de não nos afastar do reto caminho, daquele que conduz a Deus; quem quer que deseje, de maneira sincera e séria, trabalhar por sua própria melhoria, deve analisar a caridade em seus mais minuciosos detalhes e por ela conformar sua conduta, pois ela se aplica a todas as circunstâncias da vida, pequenas ou grandes. Quando estivermos em dúvida sobre que partido tomar, no interesse alheio, basta que interroguemos a caridade e ela responderá sempre de maneira justa. Infelizmente escutamos, na maioria das vezes, a voz do egoísmo. (Allan Kardec – Viagem Espírita –  Viagem espírita de 1862 – p. 31)

57. O pobre que reparte o seu pão com quem possui menos ou não possui nada é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus do que aquele que dá do seu supérfluo, e que não se priva de coisa alguma. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 44)

60. O egoísmo leva os homens a uma luta permanente; a caridade os conduz a uma vivência pacífica. A caridade deve constituir-se na base das instituições. Com ela haverá garantia de felicidade neste mundo. O Cristo disse que somente a caridade pode garantir a felicidade futura, pois ela encerra todas as virtudes que podem levar os homens à perfeição.

Com a verdadeira caridade ensinada e vivenciada pelo Cristo, deixará de existir o egoísmo, o orgulho, o ódio, a inveja, a maledicência; não haverá mais tanto apego às coisas do mundo material. É por isso que o Espiritismo cristão ostenta como máxima: “FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.” (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 45)

951. Não é, às vezes, meritório o sacrifício da vida, quando aquele que o faz visa salvar a de outrem, ou ser útil aos seus semelhantes?

“Isso é sublime, conforme a intenção, e, em tal caso, o sacrifício da vida não constitui suicídio. Deus, porém, se opõe a todo sacrifício inútil e não o pode ver de bom grado, se tem o orgulho a manchá-lo. Só o desinteresse torna meritório o sacrifício e, não raro, quem o faz guarda oculto um pensamento, que lhe diminui o valor aos olhos de Deus.”

Nota – Todo sacrifício que o homem faça à custa da sua própria felicidade é um ato soberanamente meritório aos olhos de Deus, porque resulta da prática da lei de caridade. Ora, sendo a vida o bem terreno a que maior apreço dá o homem, não comete atentado o que a ela renuncia pelo bem de seus semelhantes: cumpre um sacrifício; mas, antes de o cumprir, deve refletir sobre se sua vida não será mais útil do que sua morte. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 426)

Não podem os homens ser felizes, se não viverem em paz, isto é, se não os animar um sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocas; numa palavra: enquanto procurarem esmagar-se uns aos outros. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e todos os deveres sociais; uma e outra, porém, pressupõem a abnegação. Ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; logo, com esses vícios, não é possível a verdadeira fraternidade, nem, por conseguinte, igualdade, nem liberdade, dado que o egoísta e o orgulhoso querem tudo para si. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O egoísmo e o orgulho – p. 278)

743. Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá?

“Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, todos os povos serão irmãos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IV – p. 340)

A fraternidade, na rigorosa acepção do termo, resume todos os deveres dos homens, uns para com os outros. Significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência. É, por excelência, a caridade evangélica e a aplicação da máxima: “Proceder para com os outros, como quereríamos que os outros procedessem para conosco.” O oposto do egoísmo. A fraternidade diz: “Um por todos e todos por um.” O egoísmo diz: “Cada um por si.” Sendo estas duas qualidades a negação uma da outra, tão impossível é que um egoísta proceda fraternalmente para com os seus semelhantes, quanto a um avarento ser generoso, quanto a um indivíduo de pequena estatura atingir a de um outro alto. Ora, sendo o egoísmo a chaga dominante da sociedade, enquanto ele reinar soberanamente, impossível será o reinado da fraternidade verdadeira. Cada um a quererá em seu proveito; não quererá, porém, praticá-la em proveito dos outros, ou, se o fizer, será depois de se certificar de que não perderá coisa alguma.

Considerada do ponto de vista da sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira linha: é a base. Sem ela, não poderiam existir a igualdade, nem a liberdade séria. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade é consequência das duas outras. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Liberdade, igualdade, fraternidade – p. 287-288)

[…] Os homens que vivam como irmãos, com direitos iguais, animados do sentimento de benevolência recíproca, praticarão entre si a justiça, não procurarão causar danos uns aos outros e nada, por conseguinte, terão que temer uns dos outros. A liberdade nenhum perigo oferecerá, porque ninguém pensará em abusar dela em prejuízo de seus semelhantes. Mas, como poderiam o egoísmo, que tudo quer para si, e o orgulho, que incessantemente quer dominar, dar a mão à liberdade que os destronaria? O egoísmo e o orgulho são, pois, os inimigos da liberdade, como o são da igualdade e da fraternidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Liberdade, igualdade, fraternidade – p. 289)

812. Por não ser possível a igualdade das riquezas, o mesmo se dará com o bem-estar?

“Não, mas o bem-estar é relativo e todos poderiam dele gozar, se se entendessem convenientemente, porque o verdadeiro bem-estar consiste em cada um empregar o seu tempo como lhe apraza e não na execução de trabalhos pelos quais nenhum gosto sente. Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. Em tudo existe o equilíbrio; o homem é quem o perturba.”

a) Será possível que todos se entendam?

“Os homens se entenderão quando praticarem a lei de justiça.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IX – p. 366)

943. Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?

“Efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade.

Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 424)

O homem foi criado para a atividade; a atividade do Espírito é da sua própria essência; e a do corpo, uma necessidade.

Cumpri, portanto, as prescrições da existência, como Espírito votado à paz eterna. A serviço do Espírito, o corpo mais não é que máquina submetida à inteligência: trabalhai, cultivai, portanto, a inteligência, para que dê salutar impulso ao instrumento que deve auxiliá-la no cumprimento de sua missão. Não lhe concedais tréguas nem repouso, tendo em mente que essa paz a que aspirais não vos será concedida senão pelo trabalho.  Assim, quanto mais protelardes este, tanto mais durará para vós a ansiedade de espera.

Trabalhai, trabalhai incessantemente; cumpri todos os deveres sem exceção, isto com zelo, com coragem, com perseverança.

A fé vos alentará. Todo aquele que desempenha conscientemente o papel mais ingrato e vil da vossa sociedade, é cem vezes mais elevado aos olhos do Onipotente do que aquele que, impondo esse papel aos outros, despreza o seu.

Tudo é degrau que dá acesso ao Céu: não quebreis a lápide sob os pés e contai com o concurso de amigos que vos estendem a mão, sustentáculos que são dos que vão haurir suas forças na crença do Senhor. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 329)

O princípio do melhoramento está na natureza das crenças, porque estas constituem o móvel das ações e modificam os sentimentos. Também está nas ideias inculcadas desde a infância e que se identificam com o Espírito; está ainda nas ideias que o desenvolvimento ulterior da inteligência e da razão podem fortalecer, nunca destruir. É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo espírita – p. 462)

10. Uma das insensatezes da Humanidade consiste em vermos o mal de outrem, antes de vermos o mal que está em nós. Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa e perguntar: Que pensaria eu se visse alguém fazer o que faço? Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a dissimular, para si mesmo, os seus defeitos, tanto morais quanto físicos. […] porque é o pai de muitos vícios, o orgulho é também a negação de muitas virtudes. Ele se encontra na base e como móvel de quase todas as ações humanas. Essa a razão por que Jesus se empenhou tanto em combatê-lo, como principal obstáculo ao progresso. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 144-145)

Para julgar os Espíritos, como para julgar os homens, é necessário, de saída, saber julgar-se a si próprio. Infelizmente há muita gente que toma a sua opinião pessoal como medida exclusiva do bom e do mau, do verdadeiro e do falso: tudo quanto contradiga a sua maneira de ver, as suas ideias, o sistema que conceberam ou adotaram, aos seus olhos é mau. Evidentemente a tais criaturas falta a primeira qualidade para uma sã apreciação – o reto julgamento. Mas elas nem o suspeitam. E isto é uma falta sobre a qual mais se iludem. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo III – p. 53)

903. Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios?

“Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar, porque será faltar com a caridade. Se o fizer, para tirar daí proveito, para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade. Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos de outrem é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o mesmo. Tratai, pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticais no vosso semelhante. Esse o meio de vos tornardes superiores a ele. Se lhe censurais o ser avaro, sede generosos; se o ser orgulhoso, sede humildes e modestos; se o ser áspero, sede brandos; se o proceder com pequenez, sede grandes em todas as vossas ações. Numa palavra, fazei por maneira que se não vos possam aplicar estas palavras de Jesus: vê o argueiro no olho do seu vizinho e não vê a trave no seu próprio.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 401)

Mateus 7:3

Os males da Humanidade provêm da imperfeição dos homens; pelos seus vícios é que eles se prejudicam uns aos outros. Enquanto forem viciosos, serão infelizes, porque a luta dos interesses gerará constantes misérias.

Sem dúvida, boas leis contribuem para melhorar o estado social, mas são impotentes para tornar venturosa a Humanidade, porque mais não fazem do que comprimir as paixões ruins, sem as eliminar. Em segundo lugar, porque são mais repressivas do que moralizadoras e só reprimem os mais salientes atos maus, sem lhes destruir as causas. Aliás, a bondade das leis guarda relação com a bondade dos homens; enquanto estes se conservarem dominados pelo orgulho e pelo egoísmo, farão leis em benefício de suas ambições pessoais. A lei civil apenas modifica a superfície; somente a lei moral pode penetrar o foro íntimo da consciência e reformá-lo.

Reconhecido, pois, que o atrito oriundo do contato dos vícios é que faz infortunados os homens, o único remédio para seus males está em se melhorarem eles moralmente. Uma vez que nas imperfeições se encontra a causa dos males, a felicidade aumentará na proporção em que as imperfeições diminuírem. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo espírita – p. 461-462)

19. “Rejubilai-vos”, diz Jesus, “quando os homens vos odiarem e perseguirem por minha causa, visto que sereis recompensados no céu.” Podem traduzir-se assim essas verdades: “Considerai-vos ditosos, quando haja homens que, pela sua má vontade para convosco, vos deem ocasião de provar a sinceridade da vossa fé, porquanto o mal que vos façam redundará em proveito vosso. Lamentai-lhes a cegueira, porém, não os maldigais.”

Depois, acrescenta: “Tome a sua cruz aquele que me quiser seguir”, isto é, suporte corajosamente as tribulações que sua fé lhe acarretar, dado que aquele que quiser salvar a vida e seus bens, renunciando a mim, perderá as vantagens do Reino dos Céus, enquanto os que tudo houverem perdido neste mundo, mesmo a vida, para que a verdade triunfe, receberão, na vida futura, o prêmio da coragem, da perseverança e da abnegação de que deram prova. Mas aos que sacrificam os bens celestes aos gozos terrestres, Deus dirá: “Já recebestes a vossa recompensa.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXIV – p. 298)

Lucas, 6:22-23

Marcos, 8:34 a 36; Lucas, 9:23 a 25; Mateus, 10:38 e 39; João, 12:25 e 26

649. Em que consiste a adoração?

“Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela adoração, aproxima o homem sua alma.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 305)

654. Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou daquela maneira?

“Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes.

Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam.

É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento.

Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem, ou ambicioso dos bens deste mundo. Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais culpado do mal que faz, do que o selvagem ignorante que vive no deserto. E como tal será tratado no dia da justiça. Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis; se for um homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão.

Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda uma vez vos digo: até ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 306)

657. Têm, perante Deus, algum mérito os que se consagram à vida contemplativa, uma vez que nenhum mal fazem e só em Deus pensam?

“Não, porquanto, se é certo que não fazem o mal, também o é que não fazem o bem e são inúteis. Ademais, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que o homem pense nele, mas não quer que só nele pense, pois que lhe impôs deveres a cumprir na Terra. Quem passa todo o tempo na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque vive uma vida toda pessoal e inútil à humanidade e Deus lhe pedirá contas do bem que não houver feito.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 307)

658. Agrada a Deus a prece?

“A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para Ele, a intenção é tudo. Assim, preferível lhe é a prece do íntimo à prece lida, por muito bela que seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração. Agrada-lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e sinceridade. Não creiais, porém, que toque a Deus a prece do homem fútil, orgulhoso e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 307-308)

659. Qual o caráter geral da prece?

“A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar nele; é aproximar-se dele; é pôr-se em comunicação com Ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir, agradecer.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 308)

660. A prece torna melhor o homem?

“Sim, porquanto aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assisti-lo. É este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade.”

a) Como é que certas pessoas, que oram muito, são, não obstante, de mau caráter, ciosas, invejosas, impertinentes, carentes de benevolência e de indulgência e até, algumas vezes, viciosas?

“O essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas pessoas supõem que todo o mérito está na longura da prece e fecham os olhos para os seus próprios defeitos. Fazem da prece uma ocupação, um emprego do tempo, nunca, porém, um estudo de si mesmas. A ineficácia, em tais casos, não é do remédio, sim da maneira por que o aplicam.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 308)

661. Poderemos utilmente pedir a Deus que perdoe as nossas faltas?

“Deus sabe discernir o bem do mal; a prece não esconde as faltas. Aquele que a Deus pede perdão de suas faltas só o obtém mudando de proceder. As boas ações são a melhor prece, por isso que os atos valem mais que as palavras.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 308)

58. […] 

Antes de pretender, quem quer que seja, domar um Espírito mau, precisa cuidar de domar-se a si mesmo. De todos os meios de adquirir-se força para chegar a isso, o mais eficiente é a vontade secundada pela prece, a prece do coração, entenda-se, e não a de palavras, das quais a boca participa mais do que o pensamento. Precisamos pedir ao nosso anjo guardião e aos bons Espíritos que nos assistam na luta; não basta, porém, lhes peçamos que afastem o Espírito mau; devemos lembrar-nos desta máxima: ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará e rogar-lhes, sobretudo, a força que nos falta para vencermos os nossos maus pendores, que são, para nós, piores que os maus Espíritos, porquanto são esses pendores que os atraem, como a podridão atrai as aves de rapina. Orando também pelo Espírito obsessor, retribuir-lhe-emos com o bem o mal que nos queira e nos mostraremos melhores do que ele, o que já é uma superioridade. Com perseverança, acaba-se as mais das vezes por induzi-lo à posse de melhores sentimentos e a transformá-lo de perseguidor em amigo grato. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 88)

58. […] 

Em resumo: a prece fervorosa e os esforços sérios que a criatura faça por melhorar-se constituem os únicos meios de ela afastar os maus Espíritos, que reconhecem como seus senhores aqueles que praticam o bem, enquanto que as fórmulas lhes provocam o riso, do mesmo modo que a cólera e a impaciência os excitam. Precisa o perseguido cansá-los, demonstrando-se mais paciente do que eles. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 88)

872. […] 

[…] Muito mais moral se mostra, indiscutivelmente, a Doutrina Espírita. Ela admite no homem o livre-arbítrio em toda a sua plenitude e, se lhe diz que, praticando o mal, ele cede a uma sugestão estranha e má, em nada lhe diminui a responsabilidade, pois lhe reconhece o poder de resistir, o que evidentemente lhe é muito mais fácil do que lutar contra a sua própria natureza. Assim, de acordo com a Doutrina Espírita, não há arrastamento irresistível: o homem pode sempre cerrar ouvidos à voz oculta que lhe fala no íntimo, induzindo-o ao mal, como pode cerrá-los à voz material daquele que lhe fale ostensivamente. Pode-o pela ação da sua vontade, pedindo a Deus a força necessária e reclamando, para tal fim, a assistência dos bons Espíritos. Foi o que Jesus nos ensinou por meio da sublime prece que é a Oração dominical, quando manda que digamos: “Não nos deixes sucumbir à tentação, mas livra-nos do mal”.

Essa teoria da causa determinante dos nossos atos ressalta, com evidência, de todo o ensino que os Espíritos hão dado. Não só é sublime de moralidade, mas também, acrescentaremos, eleva o homem aos seus próprios olhos. Mostra-o livre de subtrair-se a um jugo obsessor, como livre é de fechar sua casa aos importunos. Ele deixa de ser simples máquina, atuando por efeito de uma impulsão independente da sua vontade, para ser um ente racional, que ouve, julga e escolhe livremente de dois conselhos um. Aditemos que, apesar disto, o homem não se acha privado de iniciativa, não deixa de agir por impulso próprio, pois que, em definitivo, ele é apenas um Espírito encarnado que conserva, sob o envoltório corporal, as qualidades e os defeitos que tinha como Espírito. Conseguintemente, as faltas que cometemos têm por fonte primária a imperfeição do nosso próprio Espírito, que ainda não conquistou a superioridade moral que um dia alcançará, mas que, nem por isso, carece de livre-arbítrio. A vida corpórea lhe é dada para se expungir de suas imperfeições, mediante as provas por que passa, imperfeições que, precisamente, o tornam mais fraco e mais acessível às sugestões de outros Espíritos imperfeitos, que delas se aproveitam para tentar fazê-lo sucumbir na luta em que se empenhou. Se dessa luta sai vencedor, ele se eleva; se fracassa, permanece o que era, nem pior, nem melhor. Será uma prova que lhe cumpre recomeçar, podendo suceder que longo tempo gaste nessa alternativa. Quanto mais se depura, tanto mais diminuem os seus pontos fracos e tanto menos acesso oferece aos que procurem atraí-lo para o mal. Na razão de sua elevação, cresce-lhe a força moral, fazendo que dele se afastem os maus Espíritos. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 387-388)

Mateus 6:9

909. Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?

“Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 403)

911. Não haverá paixões tão vivas e irresistíveis, que a vontade seja impotente para dominá-las?

“Há muitas pessoas que dizem: Quero, mas a vontade só lhes está nos lábios. Querem, porém muito satisfeitas ficam que não seja como ‘querem’. Quando o homem crê que não pode vencer as suas paixões, é que seu Espírito se compraz nelas, em consequência da sua inferioridade. Compreende a sua natureza espiritual aquele que as procura reprimir. Vencê-las é, para ele, uma vitória do Espírito sobre a matéria.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Terceira – Capítulo XII – p. 403)

226. […] 11ª Quais as condições necessárias para que a palavra dos Espíritos superiores nos chegue isenta de qualquer alteração?

“Querer o bem; repulsar o egoísmo e o orgulho. Ambas essas coisas são necessárias.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XX – p. 242)

226. […] Os Espíritos que considerais como personificações do bem não atendem de boa vontade ao apelo dos que trazem o coração manchado pelo orgulho, pela cupidez e pela falta de caridade. Expurguem-se, pois, os que desejam esclarecer-se, de toda a vaidade humana e humilhem a sua inteligência ante o infinito poder do Criador. Esta a melhor prova que poderão dar da sinceridade do desejo que os anima. É uma condição a que todos podem satisfazer. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XX – p. 242)

EXPURGAR: livrar do que é pernicioso, deletério, imoral. [Definição do Dicionário Online do Google]

254. […] O mais poderoso meio de combater a influência dos maus Espíritos é aproximar-se o mais possível da natureza dos bons. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIII – p. 269)

15. […] Das qualidades do indivíduo depende-lhe a felicidade, e não do estado material do meio em que se encontra, podendo a felicidade, portanto, existir em qualquer parte onde haja Espíritos capazes de a gozar. Nenhum lugar lhe é circunscrito e assinalado no universo.

Onde quer que se encontrem, os Espíritos podem contemplar a majestade divina, porque Deus está em toda parte. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – p. 32)

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