1.2.1 DO DESPRENDIMENTO DO CORPO MATERIAL

EMANCIPAÇÃO DA ALMA – estado particular da vida humana, durante o qual, desprendendo-se dos laços materiais, a alma recobra algumas de suas faculdades de Espírito, e entra mais facilmente em comunicação com os seres incorpóreos. Tal estado se manifesta principalmente pelo fenômeno dos sonhos, da soniloquência, da dupla vista, do sonambulismo natural ou magnético e do êxtase. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 13)

SONILOQUÊNCIA: Ato de falar enquanto dorme. É um tipo de parassonia – comportamento anormal durante o sono. [Informação retirada do site https://www.willianrezende.com.br/falar-durante-o-sono-soniloquio]

23. Embora, durante a vida, o Espírito se encontre preso ao corpo pelo perispírito, não se lhe acha tão escravizado, que não possa alongar a cadeia que o prende e transportar-se a um ponto distante, quer sobre a Terra, quer do espaço. Repugna ao Espírito estar ligado ao corpo, porque a sua vida normal é a de liberdade e a vida corporal é a do servo preso à gleba.

Ele, por conseguinte, se sente feliz em deixar o corpo, como o pássaro em se encontrar fora da gaiola, pelo que aproveita todas as ocasiões que se lhe oferecem para dela se escapar, de todos os instantes em que a sua presença não é necessária à vida de relação. Tem-se então o fenômeno a que se dá o nome de emancipação da alma, fenômeno que se produz sempre durante o sono. De todas as vezes que o corpo repousa, que os sentidos ficam inativos, o Espírito se desprende.

Nesses momentos ele vive da vida espiritual, enquanto que o corpo vive apenas da vida vegetativa; acha-se, em parte, no estado em que se achará após a morte: percorre o espaço, confabula com os amigos e outros Espíritos, livres ou encarnados também.

O laço fluídico que o prende ao corpo só por ocasião da morte se rompe definitivamente; a separação completa somente se dá por efeito da extinção absoluta da atividade vital. Enquanto o corpo vive, o Espírito, a qualquer distância que esteja, é instantaneamente chamado à sua prisão, desde que a sua presença aí se torne necessária. Ele, então, retoma o curso da vida exterior de relação. Por vezes, ao despertar, conserva das suas peregrinações uma lembrança, uma imagem mais ou menos precisa, que constitui o sonho. Quando nada, traz delas intuições que lhe sugerem ideias e pensamentos novos e justificam o provérbio: A noite é boa conselheira.

Assim igualmente se explicam certos fenômenos característicos do sonambulismo natural e magnético, da catalepsia, da letargia, do êxtase etc., e que mais não são do que manifestações da vida espiritual. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 256-257)

GLEBA: terreno próprio para cultivo; torrão, leiva. [Definição do Dicionário Online do Google]

CATALEPSIA E LETARGIA: A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princípio, que é a perda temporária da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica ainda não explicada. Diferem uma da outra em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte; na catalepsia, fica localizada, podendo atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo, de sorte a permitir que a inteligência se manifeste livremente, o que a torna inconfundível com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é por vezes espontânea, mas pode ser provocada e anulada artificialmente pela ação magnética. [Definição dada por Allan Kardec, em nota da questão 424 de O Livro dos Espíritos]

SONO MAGNÉTICO – O fluido magnético age sobre o sistema nervoso e produz em certas pessoas um efeito comparável ao sono natural, mas do qual difere essencialmente sob vários aspectos. A principal diferença está em que, nesse estado, o pensamento fica inteiramente livre, o indivíduo tem uma perfeita consciência de si mesmo e o corpo pode agir como no estado normal, de vez que a causa fisiológica do sono magnético não é a mesma do sono natural. Mas o sono natural é um estado transitório que precede sempre o sono magnético: a passagem de um a outro é um verdadeiro despertar da alma. Eis por que aqueles que pela primeira vez são levados ao sonambulismo magnético, quando se lhes pergunta se dormem respondem negativamente. E, com efeito, desde que veem e pensam livremente, para eles isto não é dormir, no sentido comum do vocábulo. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 34)

A independência e a emancipação da alma se manifestam, de maneira evidente, sobretudo no fenômeno do sonambulismo natural e magnético, na catalepsia e na letargia. A lucidez sonambúlica não é senão a faculdade, que a alma tem, de ver e sentir sem o concurso dos órgãos materiais. É um de seus atributos essa faculdade e reside em todo o seu ser, não passando os órgãos do corpo de estreitos canais por onde lhe chegam certas percepções. A visão à distância, que alguns sonâmbulos possuem, provém de um deslocamento da alma, que então vê o que se passa nos lugares a que se transporta. Em suas peregrinações, ela se acha sempre revestida do seu perispírito, agente de suas sensações, mas que nunca se desliga completamente do corpo, como já ficou dito. O afastamento da alma produz a inércia do corpo, que às vezes parece sem vida.

Esse afastamento ou desprendimento pode também operar-se, em graus diversos, no estado de vigília. Mas, então, jamais o corpo goza inteiramente da sua atividade normal; há sempre uma certa absorção, um alheamento mais ou menos completo das coisas terrestres. O corpo não dorme, caminha, age, mas os olhos olham sem ver, dando a compreender que a alma está algures. Como no sonambulismo, ela vê as coisas distantes; tem percepções e sensações que desconhecemos; às vezes, tem a presciência de alguns acontecimentos futuros pela ligação que percebe existir entre eles e os fatos presentes. Penetrando no mundo invisível, vê os Espíritos com quem lhe é possível entabular conversação e cujos pensamentos lhe é dado transmitir.

À sua volta ao estado normal, de ordinário sobrevém o esquecimento do que se passou. Algumas vezes, porém, ela conserva uma lembrança mais ou menos vaga do ocorrido, como se tivesse tido um sonho. (Allan Kardec – Obras Póstumas – p. 67-68)

445. Que deduções se podem tirar dos fenômenos do sonambulismo e do êxtase? Não constituirão uma espécie de iniciação na vida futura?

“A bem dizer, mediante esses fenômenos, o homem entrevê a vida passada e a vida futura. Estude-os e achará o aclaramento de mais de um mistério, que a sua razão inutilmente procura devassar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 229)

407. É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito?

“Não; basta que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito recobre a sua liberdade. Para se emancipar, ele se aproveita de todos os instantes de trégua que o corpo lhe concede. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, tornando-se tanto mais livre, quanto mais fraco for o corpo.”

Nota – É assim que a sonolência ou o simples torpor dos sentidos apresenta, frequentemente, as mesmas imagens do sonho. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 219)

408. E qual a razão de ouvirmos, algumas vezes em nós mesmos, palavras pronunciadas distintamente e que nenhum nexo têm com o que nos preocupa?

“É fato: ouvis até mesmo frases inteiras, principalmente quando os sentidos começam a entorpecer-se. É, quase sempre, fraco eco do que diz um Espírito que convosco se quer comunicar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 219)

409. Doutras vezes, num estado que ainda não é bem o do adormecimento, estando com os olhos fechados, vemos imagens distintas, figuras cujas mínimas particularidades percebemos. Que há aí, efeito de visão ou de imaginação?

“Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de desprender-se. Transporta-se e vê. Se já fosse completo o sono, haveria sonho.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 220)

410. Dá-se também que, durante o sono, ou quando nos achamos apenas ligeiramente adormecidos, acodem-nos ideias que nos parecem excelentes e que se nos apagam da memória, apesar dos esforços que façamos para retê-las. Donde vêm essas ideias?

“Provêm da liberdade do Espírito que se emancipa e que, emancipado, goza de suas faculdades com maior amplitude. Também são, frequentemente, conselhos que outros Espíritos dão.”

a) De que servem essas ideias e esses conselhos, desde que, por esquecê-los, não os podemos aproveitar?

“Essas ideias, em regra, mais dizem respeito ao mundo dos Espíritos do que ao mundo corpóreo. Pouco importa que comumente o Espírito as esqueça, quando unido ao corpo. Na ocasião oportuna, voltar-lhe-ão como inspiração de momento.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 220)

413. Do princípio da emancipação da alma parece decorrer que temos duas existências simultâneas: a do corpo, que nos permite a vida de relação ostensiva; e a da alma, que nos proporciona a vida de relação oculta. É assim?

“No estado de emancipação, prima a vida da alma. Contudo, não há, verdadeiramente, duas existências. São antes duas fases de uma só existência, porquanto o homem não vive duplamente.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 221)

35ª […]

“A alma da criança é um Espírito ainda envolto nas faixas da matéria; porém, desprendido desta, goza de suas faculdades de Espírito, porquanto os Espíritos não têm idade, o que prova que o da criança já viveu. Entretanto, até que se ache completamente desligado da matéria, pode conservar, na linguagem, traços do caráter da criança.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV – p. 308)

28. Em sua manifestação mais simples, a faculdade que a alma tem de emancipar-se produz o que se denomina o devaneio em vigília. A algumas pessoas, essa emancipação também dá a presciência, que se traduz pelos pressentimentos; em grau mais avançado de desprendimento, produz o fenômeno conhecido pelo nome de “segunda vista”, “vista dupla”, ou “sonambulismo vígil”. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 68)

PRESCIÊNCIA: conhecimento do futuro. [Definição do Dicionário Online do Google]

455. […]

A emancipação da alma se verifica às vezes no estado de vigília e produz o fenômeno conhecido pelo nome de segunda vista ou dupla vista, que é a faculdade graças à qual quem a possui vê, ouve e sente além dos limites dos sentidos humanos. Percebe o que exista até onde estende a alma a sua ação. Vê, por assim dizer, através da vista ordinária e como por uma espécie de miragem.

No momento em que o fenômeno da segunda vista se produz, o estado físico do indivíduo se acha sensivelmente modificado. O olhar apresenta alguma coisa de vago. Ele olha sem ver. Toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação. Nota-se que os órgãos visuais se conservam alheios ao fenômeno, pelo fato de a visão persistir, malgrado a oclusão dos olhos.

Aos dotados desta faculdade ela se afigura tão natural, como a que todos temos de ver. Consideram-na um atributo de seus próprios seres, que em nada lhes parecem excepcionais. De ordinário, o esquecimento se segue a essa lucidez passageira, cuja lembrança, tornando-se cada vez mais vaga, acaba por desaparecer, como a de um sonho.

O poder da vista dupla varia, indo desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes. Quando rudimentar, confere a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma certa segurança nos atos, a que se pode dar o qualificativo de precisão de golpe de vista moral. Um pouco desenvolvida, desperta os pressentimentos. Mais desenvolvida, mostra os acontecimentos que deram ou estão para dar-se.

O sonambulismo natural e artificial, o êxtase e a dupla vista são efeitos vários, ou de modalidades diversas, de uma mesma causa. Esses fenômenos, como os sonhos, estão na ordem da natureza. Tal a razão por que hão existido em todos os tempos. A história mostra que foram sempre conhecidos e até explorados desde a mais remota antiguidade e neles se nos depara a explicação de uma imensidade de fatos que os preconceitos fizeram fossem tidos por sobrenaturais. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 236)

9. […]

Nota – […]

A faculdade de expansão dos fluidos perispiríticos já está sobejamente demonstrada pelas mais dolorosas operações cirúrgicas realizadas em doentes adormecidos, quer pelo clorofórmio e o éter, quer pelo magnetismo animal. Não raro, com efeito, estes últimos conversam de coisas agradáveis com os assistentes, ou se transportam para longe, em Espírito, enquanto o corpo se retorce com todas as aparências de estar experimentando as mais horríveis torturas. A máquina humana, imobilizada no todo ou em parte, é retalhada pelo escalpelo brutal do cirurgião, os músculos se agitam, crispam-se os nervos e transmitem a sensação ao aparelho cérebro-espinhal; mas, a alma, que é quem, no estado normal, sente a dor e a manifesta exteriormente, afastada, por alguns momentos, do corpo sujeito à operação, dominada por outras ideias, por outras ações, só muito surdamente é avisada do que se passa no seu envoltório mortal e se conserva perfeitamente insensível. Quantas vezes não se têm visto soldados gravemente feridos, absorvidos pelo ardor do combate, a perder sangue e forças, combaterem por muito tempo ainda, sem se aperceberem de seus ferimentos? Um homem vivamente preocupado, recebe um golpe violento sem sentir coisa alguma, e só quando cessa a abstração da sua inteligência, reconhece tê-lo atingido a sensação dolorosa que experimenta. A quem não aconteceu ainda, durante uma profunda contenção do Espírito, passar pelo meio de uma multidão tumultuosa e ululante, sem nada ver, nem ouvir, embora o nervo óptico e o aparelho auditivo hajam percebido e transmitido à alma as sensações?

Pelos casos que precedem e por uma imensidade de fatos que seria ocioso reproduzir aqui, mas que a todos é possível conhecer e apreciar, torna-se fora de dúvida que o corpo pode desempenhar suas funções orgânicas, estando longe o Espírito, levado por preocupações de outra ordem. Indefinidamente expansível, conservando ao corpo a elasticidade e a atividade necessárias à sua existência, o perispírito acompanha constantemente o Espírito durante a sua prolongada viagem pelo mundo ideal.

Se, ao demais, considerarmos a propriedade, muito conhecida, que ele possui, de condensar-se, propriedade que lhe permite tornar-se visível sob aparências corpóreas aos médiuns videntes e, embora mais raramente, a quem quer que se ache presente no lugar para onde o Espírito se haja transportado, não poderemos pôr em dúvida a possibilidade do fenômeno da ubiquidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos homens duplos e das aparições de pessoas vivas – p. 101-102)

SOBEJAMENTE: Excessivamente, em excesso. [Definição do Dicionário Online de Português: Dicio]

ESCALPELO: tipo de bisturi de um ou dois gumes us. em dissecções anatômicas. [Definição do Dicionário Online do Google]

CRISPAR: encolher(-se), contrair(-se) espasmodicamente. [Definição do Dicionário Online do Google]

ULULANTE: que ulula, uiva. [Definição do Dicionário Online do Google]

374. Na condição de Espírito livre, tem o idiota consciência do seu estado mental?

“Frequentemente tem. Compreende que as cadeias que lhe obstam ao voo são prova e expiação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p. 203)

118. […] como pode o corpo viver, enquanto está ausente o Espírito? Poderíamos dizer que o corpo vive a vida orgânica, que independe do Espírito, e a prova é que as plantas vivem e não têm Espírito. Mas precisamos acrescentar que, durante a vida, nunca o Espírito se acha completamente separado do corpo. Do mesmo modo que alguns médiuns videntes, os Espíritos reconhecem o Espírito de uma pessoa viva, por um rastro luminoso, que termina no corpo, fenômeno que absolutamente não se dá quando este está morto, porque, então, a separação é completa. Por meio dessa comunicação, entre o Espírito e o corpo, é que aquele recebe aviso, qualquer que seja a distância a que se ache do segundo, da necessidade que este possa experimentar da sua presença, caso em que volta ao seu invólucro com a rapidez do relâmpago. Daí resulta que o corpo não pode morrer durante a ausência do Espírito e que não pode acontecer que este, ao regressar, encontre fechada a porta, conforme hão dito alguns romancistas, em histórias compostas para recrear.

119. Voltemos ao nosso assunto. Isolado do corpo, o Espírito de um vivo pode, como o de um morto, mostrar-se com todas as aparências da realidade. Demais, pelas mesmas causas que hemos exposto, pode adquirir momentânea tangibilidade. Este fenômeno, conhecido pelo nome de bicorporeidade, foi que deu azo às histórias de homens duplos, isto é, de indivíduos cuja presença simultânea em dois lugares diferentes se chegou a comprovar. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 130)

9. […]

Nota – […]

Temos, pois, como demonstrado que uma pessoa viva pode aparecer simultaneamente em dois lugares afastados um do outro: num, com o seu corpo real; no outro, com o seu perispírito momentaneamente condensado sob a aparência de suas formas materiais. Entretanto, de acordo nisto, como sempre, com Allan Kardec, não podemos admitir a ubiquidade, senão quando reconhecemos identidade perfeita nos modos por que se comporta o ser aparente. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos homens duplos e das aparições de pessoas vivas – p. 102-103)

É fato hoje comprovado e perfeitamente explicado que o Espírito, isolando-se de um corpo vivo, pode, com auxílio do seu envoltório fluido-perispirítico, aparecer em lugar diferente do em que está o corpo material. Até ao presente, porém, a teoria, de acordo com a experiência, parece demonstrar que essa separação somente durante o sono se dá, ou, pelo menos, durante a inatividade dos sentidos corpóreos. Se são exatos, os fatos seguintes provam que ela igualmente se produz no estado de vigília. Extraímo-las da obra alemã: Os Fenômenos Místicos da Vida Humana, por Maximiliano Perty, professor da Universidade de Berne, publicada em 1861.

1. “Um camponês proprietário foi visto, pelo seu cocheiro, na cavalariça, com o olhar dirigido para os animais, no momento mesmo em que estava a comungar na igreja. Narrando o fato, mais tarde, ao seu pastor, perguntou-lhe este em que pensava ele no momento da comunhão. — Para dizer a verdade, respondeu o camponês, pensava nos meus animais. — Aí está explicada a sua aparição, replicou o eclesiástico.”

Estava com a verdade o pastor, porquanto, sendo o pensamento atributo essencial do Espírito, tem este que se achar onde se ache o seu pensamento. A questão é saber se, no estado de vigília, pode o desprendimento do perispírito ser suficientemente grande para produzir uma aparição, o que implicaria um como desdobramento do Espírito, uma de cujas partes animaria o corpo fluídico e a outra o corpo material. Nada terá isto de impossível, se considerarmos que, quando o pensamento se concentra num ponto distante, o corpo apenas atua maquinalmente, por efeito de uma espécie de impulsão mecânica, o que se verifica, sobretudo, com as pessoas distraídas. A vida espiritual acompanha o Espírito. É, pois, provável que o homem de quem se trata haja tido, naquele momento, uma distração forte e que os seus animais o preocupavam mais do que a comunhão. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos homens duplos e das aparições de pessoas vivas – p. 93-94)

 

TELEGRAFIA HUMANA – Comunicação à distância entre duas pessoas vivas, que se evocam reciprocamente. Essa evocação provoca a emancipação da alma ou Espírito encarnado, que vem manifestar-se e pode comunicar o seu pensamento pela escrita ou por qualquer outro meio. Dizem-nos os Espíritos que a telegrafia humana será um dia um meio usual de comunicação, quando os homens forem mais moralizados, menos egoístas, menos ligados às coisas materiais. Enquanto esperam, ela será apenas um privilégio das almas de escol. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 35)

38ª Pode evocar-se o Espírito de uma pessoa viva?

“Pode-se, visto que se pode evocar um Espírito encarnado. O Espírito de um vivo também pode, em seus momentos de liberdade, se apresentar sem ser evocado; isto depende da simpatia que tenha pelas pessoas com quem se comunica.”

39ª Em que estado se acha o corpo da pessoa cujo Espírito é evocado?

“Dorme, ou cochila; é quando o Espírito está livre.”

a) Poderia o corpo despertar enquanto o Espírito está ausente?

“Não; o Espírito é forçado a reentrar na sua habitação; se, no momento, ele estiver confabulando convosco, deixa-vos e às vezes diz por que motivo.”

40ª Como, estando ausente do corpo, o Espírito é avisado da necessidade da sua presença?

“O Espírito jamais está completamente separado do corpo vivo em que habita; qualquer que seja a distância a que se transporte, a ele se conserva ligado por um laço fluídico que serve para chamá-lo, quando se torne preciso. Esse laço só a morte o rompe.”

Nota – Esse laço fluídico há sido muitas vezes percebido por médiuns videntes. É uma espécie de cauda fosforescente que se perde no Espaço e na direção do corpo. Alguns Espíritos hão dito que por aí é que reconhecem os que ainda se acham presos ao mundo corporal.

41ª Que sucederia se, durante o sono e na ausência do Espírito, o corpo fosse mortalmente ferido?

“O Espírito seria avisado e voltaria antes que a morte se consumasse.”

a) Assim, não poderá dar-se que o corpo morra na ausência do Espírito e que este, ao voltar, não possa entrar?

“Não; seria contrário à lei que rege a união da alma e do corpo.”

b) Mas se o golpe for dado subitamente e de improviso?

“O Espírito será prevenido antes que o golpe mortal seja vibrado.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV – p. 310)

43ª É absolutamente impossível evocar-se o Espírito de uma pessoa acordada?

“Ainda que difícil, não é absolutamente impossível, porquanto, se a evocação produz efeito, pode dar-se que a pessoa adormeça, mas o Espírito não pode comunicar-se, como Espírito, senão nos momentos em que a sua presença não é necessária à atividade inteligente do corpo.”

Nota – A experiência prova que a evocação feita durante o estado de vigília pode provocar o sono, ou, pelo menos, um torpor aproximado do sono, mas semelhante efeito não se pode produzir senão por ato de uma vontade muito enérgica e se existirem laços de simpatia entre as duas pessoas; de outro modo, a evocação nenhum resultado dá. Mesmo no caso de a evocação poder provocar o sono, se o momento é inoportuno, a pessoa, não querendo dormir, oporá resistência e, se sucumbir, seu Espírito ficará perturbado e dificilmente responderá. Segue-se daí que o momento mais favorável para a evocação de uma pessoa viva é o do sono natural, porque, estando livre, seu Espírito pode vir ter com aquele que o chama, do mesmo modo que poderá ir algures.

Quando a evocação é feita com consentimento da pessoa e esta procura dormir para esse efeito, pode acontecer que essa preocupação retarde o sono e perturbe o Espírito. Por isso, o sono não forçado é sempre preferível. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV  – p. 311)

45ª Evocado o Espírito de uma pessoa viva, responde ele como Espírito ou com as ideias que tem no estado de vigília?

“Isso depende da sua elevação; porém, sempre julga com mais ponderação e tem menos prejuízos, exatamente como os sonâmbulos; é um estado quase semelhante.”

46ª Se fosse evocado no estado de sono magnético, o Espírito de um sonâmbulo seria mais lúcido do que o de qualquer outra pessoa?

“Responderia sem dúvida mais facilmente, por estar mais desprendido; tudo decorre do grau de independência do Espírito com relação ao corpo.”

a) Poderia o Espírito de um sonâmbulo responder a uma pessoa que o evocasse a distância, ao mesmo tempo que respondesse verbalmente a outra pessoa?

“A faculdade de se comunicar simultaneamente em dois pontos diferentes só a têm os Espíritos completamente desprendidos da matéria.”

47ª Poder-se-iam modificar as ideias de uma pessoa em estado de vigília, atuando-se sobre o seu Espírito durante o sono?

“Algumas vezes, será possível. Não estando o Espírito então preso à matéria por laços tão estreitos, mais acessível se acha às impressões morais e essas impressões podem influir sobre a sua maneira de ver no estado ordinário. Infelizmente, acontece com frequência que, ao despertar ele, a natureza corpórea predomina e lhe faz esquecer as boas resoluções que haja tomado.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV – p. 312)

419. Que é o que dá causa a que uma ideia, a de uma descoberta, por exemplo, surja em muitos pontos ao mesmo tempo?

“Já dissemos que durante o sono os Espíritos se comunicam entre si. Ora bem! Quando se dá o despertar, o Espírito se lembra do que aprendeu e o homem julga ser isso um invento de sua autoria. Assim é que muitos podem simultaneamente descobrir a mesma coisa. Quando dizeis que uma ideia paira no ar, usais de uma figura de linguagem mais exata do que supondes. Todos, sem o suspeitarem, contribuem para propagá-la.”

Nota – Desse modo, o nosso próprio Espírito revela muitas vezes, a outros Espíritos, mau grado nosso, o que constituía objeto de nossas preocupações no estado de vigília. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 222)

416. Pode o homem, pela sua vontade, provocar as visitas espíritas? Pode, por exemplo, dizer, quando está para dormir: Quero esta noite encontrar-me em Espírito com fulano, quero falar-lhe para dizer isto?

“O que se dá é o seguinte: Adormecendo o homem, seu Espírito desperta e, muitas vezes, nada disposto se mostra a fazer o que o homem resolvera, porque a vida deste pouco interessa ao seu Espírito, uma vez desprendido da matéria. Isto com relação a homens já bastante elevados espiritualmente. Os outros passam de modo muito diverso a fase espiritual de sua existência terrena. Entregam-se às paixões que os escravizaram, ou se mantêm inativos. Pode, pois, suceder, tais sejam os motivos que a isso o induzem, que o Espírito vá visitar aqueles com quem deseja encontrar-se, mas não constitui razão, para que semelhante coisa se verifique, o simples fato de ele o querer quando desperto.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 221)

57ª […]

Nota – […] A evocação das pessoas vivas, feita em boas condições, prova, da maneira menos contestável, a ação do Espírito distinta da do corpo e, por conseguinte, a existência de um princípio inteligente independente da matéria. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV – p. 315)

Da possibilidade de evocar os Espíritos encarnados resulta a de evocar o Espírito de uma pessoa viva. Então responderá ele como Espírito e não como homem e frequentemente suas ideias não serão as mesmas. Esta espécie de evocação requer prudência, porque circunstâncias há em que poderiam ter inconvenientes. A emancipação da alma, como se sabe, quase sempre se dá durante o sono. Ora, a evocação o provoca, se a pessoa não estiver dormindo ou, ao menos, produzirá um entorpecimento e uma suspensão momentânea das faculdades sensitivas. Assim, haveria perigo se nesse momento a pessoa se achasse numa posição em que necessitasse inteiramente de sua consciência. Outro inconveniente seria se estivesse doente porque o mal poderia agravar-se. O perigo, aliás, é atenuado no sentido em que o Espírito conhece as necessidades de seu corpo e a isto se conforma, não ficando ausente mais que o tempo necessário. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo VIII – p. 84)

113. […]

b) Poder-se-ão considerar como aparições as figuras e outras imagens que se apresentam a certas pessoas, quando estão meio adormecidas, ou quando apenas fecham os olhos?

“Desde que os sentidos entram em torpor, o Espírito se desprende e pode ver longe, ou perto, aquilo que lhe não seria possível ver com os olhos. Muito frequentemente, tais imagens são visões, mas também podem ser efeito das impressões que a vista de certos objetos deixou no cérebro, que lhes conserva os vestígios, como conserva os dos sons. Desprendido, o Espírito vê no seu próprio cérebro as impressões que aí se fixaram como numa chapa daguerreotípica. A variedade e o baralhamento das impressões formam os conjuntos estranhos e fugidios, que se apagam quase imediatamente, ainda que se façam os maiores esforços para retê-los. A uma causa idêntica se devem atribuir certas aparições fantásticas, que nada têm de reais e que muitas vezes se produzem durante uma enfermidade.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 125)

CHAPA DAGUERREOTÍPICA: Relativo a antigo aparelho fotográfico inventado por Daguerre [inventor e pintor francês (1787-1851)], que fixava as imagens obtidas na câmara escura numa folha de prata sobre uma placa de cobre. [Nota da editora FEB]

418. Uma pessoa que julgasse morto um de seus amigos, sem que tal fosse a realidade, poderia encontrar-se com ele, em Espírito, e verificar que continuava vivo? E, dado o fato, poderia, ao despertar, ter dele a intuição?

“Como Espírito, a pessoa que figuras pode ver o seu amigo e conhecer-lhe a sorte. Se lhe não houver sido imposto, por prova, crer na morte desse amigo, poderá ter um pressentimento da sua existência, como poderá tê-lo de sua morte.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII –  p. 222)

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