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1. DO ESPÍRITO

1. DO ESPÍRITO

ESPÍRITO ELEMENTAR – Espírito considerado em si mesmo, abstração feita de seu perispírito ou envoltório semimaterial. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 15)

14. A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem; a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado Espírito.

Observação – A alma é assim um ser simples; o Espírito um ser duplo e o homem um ser triplo. Seria mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente, e o termo Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico, mas como não se pode conceber o princípio inteligente isolado da matéria, nem o perispírito sem ser animado pelo princípio inteligente, as palavras alma e Espírito são, no uso, indiferentemente empregadas uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, do mesmo modo por que se diz que uma cidade é povoada de tantas almas, uma vila composta de tantas famílias; filosoficamente, porém, é essencial fazer-se a diferença. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo II – p. 126)

4. […]

A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem; a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado Espírito. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Espíritos – p. 5)

— entre as diferentes espécies de seres corpóreos, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade moral e intelectual sobre as outras. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução, VI – p. 23)

6. […] Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados de razão que povoam os inúmeros orbes do Universo. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo III – p. 59)

34. […] Um Espírito, porque mau, não deixa de ser um Espírito humano, embora tão imperfeito que continue a fazer mal, depois de desencarnar, como o fazia antes, e é contra todas as leis da natureza que lhe seja possível fazer morada no corpo de um animal. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XV – p. 292)

585. Que pensais da divisão da Natureza em três reinos, ou melhor, em duas classes: a dos seres orgânicos e a dos inorgânicos? Segundo alguns, a espécie humana forma uma quarta classe. Qual destas divisões é preferível?

“Todas são boas, conforme o ponto de vista. Do ponto de vista material, apenas há seres orgânicos e inorgânicos. Do ponto de vista moral, há evidentemente quatro graus.”

Nota – Esses quatro graus apresentam, com efeito, caracteres determinados, muito embora pareçam confundir-se nos seus limites extremos. A matéria inerte, que constitui o reino mineral, só tem em si uma força mecânica. As plantas, ainda que compostas de matéria inerte, são dotadas de vitalidade. Os animais, também compostos de matéria inerte e igualmente dotados de vitalidade, possuem, além disso, uma espécie de inteligência instintiva, limitada, e a consciência de sua existência e de suas individualidades. O homem, tendo tudo o que há nas plantas e nos animais, domina todas as outras classes por uma inteligência especial, indefinida, que lhe dá a consciência do seu futuro, a percepção das coisas extra materiais e o conhecimento de Deus. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 281)

592. Se, pelo que toca à inteligência, comparamos o homem e os animais, parece difícil estabelecer-se uma linha de demarcação entre aquele e estes, porquanto alguns animais mostram, sob esse aspecto, notória superioridade sobre certos homens. Pode essa linha de demarcação ser estabelecida de modo preciso?

“A este respeito é completo o desacordo entre os vossos filósofos. Querem uns que o homem seja um animal e outros que o animal seja um homem. Estão todos em erro. O homem é um ser à parte, que desce muito baixo algumas vezes e que pode também elevar-se muito alto. Pelo físico, é como os animais e menos bem-dotado do que muitos destes. A Natureza lhes deu tudo o que o homem é obrigado a inventar com a sua inteligência, para satisfação de suas necessidades e para sua conservação. Seu corpo se destrói, como o dos animais, é certo, mas ao seu Espírito está assinado um destino que só ele pode compreender, porque só ele é inteiramente livre. Pobres homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! não sabeis distinguir-vos deles? Reconhecei o homem pela faculdade de pensar em Deus.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 283)

600. Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal vem a achar-se, depois da morte, num estado de erraticidade, como a do homem?

“Fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra por sua livre vontade. De idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe essa tarefa e utilizado quase imediatamente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 285-286)

605. Considerando-se todos os pontos de contato que existem entre o homem e os animais, não seria lícito pensar que o homem possui duas almas: a alma animal e a alma espírita e que, se esta última não existisse, só como o bruto poderia ele viver? Por outra: que o animal é um ser semelhante ao homem, tendo de menos a alma espírita? Dessa maneira de ver resultaria serem os bons e os maus instintos do homem efeito da predominância de uma ou outra dessas almas?

“Não, o homem não tem duas almas. O corpo, porém, tem seus instintos, resultantes da sensação peculiar aos órgãos. Dupla, no homem, só é a natureza. Há nele a natureza animal e a natureza espiritual. Participa, pelo seu corpo, da natureza dos animais e de seus instintos. Por sua alma, participa da dos Espíritos.”

a) De modo que, além de suas próprias imperfeições de que cumpre ao Espírito despojar-se, tem ainda o homem que lutar contra a influência da matéria?

“Quanto mais inferior é o Espírito, tanto mais apertados são os laços que o ligam à matéria. Não o vedes? O homem não tem duas almas; a alma é sempre única em cada ser. São distintas uma da outra a alma do animal e a do homem, a tal ponto que a de um não pode animar o corpo criado para o outro. Conquanto não tenha alma animal, que, por suas paixões, o nivele aos animais, o homem tem o corpo que, às vezes, o rebaixa até eles, por isso que o corpo é um ser dotado de vitalidade e de instintos, porém, inteligentes estes e restritos ao cuidado que a sua conservação requer.”

Nota – Encarnando no corpo do homem, o Espírito lhe traz o princípio intelectual e moral, que o torna superior aos animais. As duas naturezas nele existentes dão às suas paixões duas origens diferentes: umas provêm dos instintos da natureza animal, provindo as outras das impurezas do Espírito, de cuja encarnação é ele a imagem e que mais ou menos simpatiza com a grosseria dos apetites animais. Purificando-se, o Espírito se liberta pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa influência, aproxima-se do bruto. Isento dela, eleva-se à sua verdadeira destinação. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 287-288)

608. O Espírito do homem tem, após a morte, consciência de suas existências anteriores ao período de humanidade?

“Não, pois não é desse período que começa a sua vida de Espírito. Difícil é mesmo que se lembre de suas primeiras existências humanas, como difícil é que o homem se lembre dos primeiros tempos de sua infância e ainda menos do tempo que passou no seio materno. Essa a razão por que os Espíritos dizem que não sabem como começaram.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 289)

610. Ter-se-ão enganado os Espíritos que disseram constituir o homem um ser à parte na ordem da criação?

“Não, mas a questão não fora desenvolvida. Ademais, há coisas que só a seu tempo podem ser esclarecidas. O homem é, com efeito, um ser à parte, visto possuir faculdades que o distinguem de todos os outros e ter outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que podem conhecê-lo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 290)

611. O terem os seres vivos uma origem comum no princípio inteligente não é a consagração da doutrina da metempsicose?

“Duas coisas podem ter a mesma origem e absolutamente não se assemelharem mais tarde. Quem reconheceria a árvore, com suas folhas, flores e frutos, no germe informe que se contém na semente donde ela surge? Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, já não guarda relação com o seu estado primitivo e já não é a alma dos animais, como a árvore já não é a semente. De animal só há no homem o corpo e as paixões que nascem da influência do corpo e do instinto de conservação inerente à matéria. Não se pode, pois, dizer que tal homem é a encarnação do espírito de tal animal. Conseguintemente, a metempsicose, como a entendem, não é verdadeira.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 290)

612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?

“Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 290)

613. Embora de todo errônea, a ideia ligada à metempsicose não terá resultado do sentimento intuitivo que o homem possui de suas diferentes existências?

“Nessa, como em muitas outras crenças, se depara esse sentimento intuitivo. O homem, porém, o desnaturou, como costuma fazer com a maioria de suas ideias intuitivas.”

Nota – Seria verdadeira a metempsicose, se indicasse a progressão da alma, passando de um estado inferior a outro superior, em que adquirisse desenvolvimentos que lhe transformassem a natureza. É, porém, falsa no sentido de transmigração direta da alma do animal para o homem e reciprocamente, o que implicaria a ideia de uma retrogradação, ou de fusão. Ora, o fato de não poder semelhante fusão operar-se, entre os seres corporais das duas espécies, mostra que estas são de graus inassimiláveis, devendo dar-se o mesmo com relação aos Espíritos que as animam. Se um mesmo Espírito as pudesse animar alternativamente, haveria, como consequência, uma identidade de natureza, traduzindo-se pela possibilidade da reprodução material.

A reencarnação, como os Espíritos a ensinam, se funda, ao contrário, na marcha ascendente da Natureza e na progressão do homem, dentro da sua própria espécie, o que em nada lhe diminui a dignidade. O que o rebaixa é o mau uso que ele faz das faculdades que Deus lhe outorgou para que progrida. Seja como for, a ancianidade e a universalidade da doutrina da metempsicose e, bem assim, a circunstância de a terem professado homens eminentes provam que o princípio da reencarnação se radica na própria Natureza; são, pois, argumentos muito mais a seu favor, do que contrários a ele.

O ponto inicial do Espírito é uma dessas questões que se prendem à origem das coisas e de que Deus guarda o segredo. Dado não é ao homem conhecê-las de modo absoluto, nada mais lhe sendo possível a tal respeito do que fazer suposições, criar sistemas mais ou menos prováveis. Os próprios Espíritos longe estão de tudo saberem e, acerca do que não sabem, também podem ter opiniões pessoais mais ou menos sensatas.

[…] O homem possui, como propriedade sua, a alma ou Espírito, centelha divina que lhe confere o senso moral e um alcance intelectual de que carecem os animais e que é nele o ser principal, que preexiste e sobrevive ao corpo, conservando sua individualidade. Qual a origem do Espírito? Onde o seu ponto inicial? Forma-se do princípio inteligente individualizado? Tudo isso são mistérios que fora inútil querer devassar e sobre os quais, como dissemos, nada mais se pode fazer do que construir sistemas. O que é constante, o que ressalta do raciocínio e da experiência é a sobrevivência do Espírito, a conservação de sua individualidade após a morte, a progressividade de suas faculdades, seu estado feliz ou desgraçado de acordo com o seu adiantamento na senda do bem e todas as verdades morais decorrentes deste princípio. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 291-292)

803. Perante Deus, são iguais todos os homens?

“Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez suas leis para todos. Dizeis frequentemente: ‘O Sol luz para todos’ e enunciais assim uma verdade maior e mais geral do que pensais.”

Nota – Todos os homens estão submetidos às mesmas leis da Natureza. Todos nascem igualmente fracos, acham-se sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus a nenhum homem concedeu superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte: todos, aos seus olhos, são iguais. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IX – p. 363)

[…] os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos ou Gênios, declarando, alguns, pelo menos, terem pertencido a homens que viveram na Terra. Eles compõem o mundo espiritual, como nós constituímos o mundo corporal durante a vida terrena. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução, VI – p. 23)

Todos os seres que foram interrogados sobre a sua natureza declararam serem Espíritos, e pertencerem ao mundo invisível. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – Histórico do Espiritismo – p. 14)

Que são Espíritos? Que papel eles representam no universo? Por que se comunicam eles com os seres encarnados? Essas foram as primeiras questões que se trataram de resolver.

Os próprios Espíritos resolveram esse problema dizendo que não eram seres apartes da criação, mas as próprias almas daqueles que viveram na Terra ou em outros mundos; que essas almas, depois de terem deixado definitivamente o corpo físico, povoavam e percorriam o espaço. Disso não se pode ter mais dúvida quando se reconhece nesse número os parentes e amigos com os quais se pode conversar; que vieram dar provas de sua existência, demonstrar que somente o seu corpo físico pereceu e que a sua alma ou Espírito viviam, e que se encontravam aqui junto de nós, vendo-nos e observando-nos como durante sua existência, dispensando seus cuidados àqueles que amaram, e cuja lembrança é para eles uma satisfação. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – Histórico do Espiritismo – p. 17)

ESPÍRITO – do lat. spiritus, de spirare, soprar. No sentido especial da doutrina espírita, os Espíritos são os seres inteligentes da criação e povoam o universo, fora do mundo corpóreo. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 14)

GÊNIO – do lat. genius, do grego geino, gerar, produzir. É neste sentido que se diz de um homem capaz de criar ou inventar coisas extraordinárias que é um homem de gênio. Na linguagem espírita gênio é sinônimo de Espírito. Diz-se indiferentemente: Espírito familiar ou gênio familiar; bom e mau Espírito ou bom e mau gênio. O vocábulo Espírito encerra um sentido mais vago e menos circunscrito; o gênio é uma espécie de personificação do Espírito; figura-se-o sob uma forma determinada, mais ou menos semelhante à forma humana, mas vaporosa e impalpável, ora visível, ora invisível. Os gênios são os Espíritos em suas relações com os homens, agindo sobre eles por um poder oculto superior. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 18)

O Espiritismo encontra-se sustentado na existência dos Espíritos; porém, não sendo os Espíritos mais que as almas dos homens, desde que há homens, há também Espíritos.

Não foi o Espiritismo que os descobriu nem os inventou. Se as almas ou os Espíritos podem se manifestar aos vivos, é porque esse fato faz parte das leis naturais, desde todos os tempos, e por toda parte se encontram provas dessas manifestações, principalmente em grande parte das narrativas bíblicas. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – Histórico do Espiritismo – p. 24)

A ideia dos Espíritos não preexistia, nem mesmo lhe foi consecutiva; em uma palavra, não nasceu do cérebro de ninguém, mas nos foi dada pelos Espíritos mesmos, e tudo o que soubemos depois, a seu respeito, foi-nos por eles ensinado.

Uma vez revelada a existência dos Espíritos e estabelecidos os meios de nos comunicarmos com eles, pôde-se entreter conversações seguidas e obter informações sobre a natureza desses seres, condições de sua existência e seu papel no mundo visível.

Se assim pudéssemos interrogar os seres do mundo dos infinitamente pequenos, quantas coisas curiosas não ficaríamos sabendo sobre eles! (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo I – p. 73-74)

— Os seres materiais constituem o mundo visível ou corpóreo, e os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, isto é, dos Espíritos. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução, VI – p. 23)

2. […]

Ora, essas almas que povoam o Espaço são precisamente o a que se chama Espíritos. Assim, pois, os Espíritos não são senão as almas dos homens despojadas do invólucro corpóreo. Mais hipotética lhes seria a existência, se fossem seres à parte. Se, porém, se admitir que há almas, necessário também será se admita que os Espíritos são simplesmente as almas e nada mais. Se se admite que as almas estão por toda parte, ter-se-á que admitir, do mesmo modo, que os Espíritos estão por toda parte. Possível, portanto, não fora negar a existência dos Espíritos sem negar a das almas. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo I – p. 19)

2. Os Espíritos não são, como frequentemente se imagina, seres à parte na criação; são as almas daqueles que viveram sobre a Terra ou em outros mundos. As almas ou Espíritos são, pois, uma única e mesma coisa; de onde se segue que quem crê na existência da alma crê, por isso mesmo, na dos Espíritos. Negar os Espíritos seria negar a alma. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Espíritos – p. 5)

9. Os fenômenos espíritas consistem nos diferentes modos de manifestação da alma ou Espírito, quer durante a encarnação, quer no estado de erraticidade. É pelas manifestações que produz que a alma revela sua existência, sua sobrevivência e sua individualidade; julga-se dela pelos seus efeitos; sendo natural a causa, o efeito também o é. São esses efeitos que constituem objeto especial das pesquisas e do estudo do Espiritismo, a fim de chegar-se a um conhecimento tão completo quanto possível, assim da natureza e dos atributos da alma, como das leis que regem o princípio espiritual. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIII – p. 235)

6. […]

Provam a existência da alma os atos inteligentes do homem, por isso que eles hão de ter uma causa inteligente e não uma causa inerte. Que ela independe da matéria está demonstrado de modo patente pelos fenômenos espíritas que a mostram agindo por si mesma e o está, sobretudo, pelo seu insulamento durante a vida, o que lhe permite manifestar-se, pensar e agir sem o corpo. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de Fé Espírita Raciocinada – p. 42)

100. Ante a incerteza das revelações feitas pelos Espíritos, perguntarão: para que serve, então, o estudo do Espiritismo?

Para provar materialmente a existência do mundo espiritual. Sendo o mundo espiritual formado pelas almas daqueles que viveram, resulta de sua admissão a prova da existência da alma e sua sobrevivência ao corpo.

As almas que se manifestam nos revelam suas alegrias ou seus sofrimentos, segundo o modo por que empregaram o tempo de vida terrena; nisto temos a prova das penas e recompensas futuras.

Descrevendo-nos seu estado e situação, as almas ou Espíritos retificam as ideias falsas que faziam da vida futura e, principalmente, acerca da natureza e duração das penas.

Passando assim a vida futura do estado de teoria vaga e incerta ao de fato conhecido e positivo, aparece a necessidade de trabalhar o mais possível, durante a vida presente, que é tão curta, em proveito da vida futura, que é indefinida. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo II – p.151-152)

Quem eram os habitantes desse mundo? Eram seres à parte, estranhos à humanidade? Eram bons ou maus?

Foi ainda a experiência quem se encarregou da solução de tais problemas, mas até que observações numerosas tivessem derramado luz sobre o assunto, o campo das conjeturas e dos sistemas esteve aberto, e Deus sabe quantos surgiram! Uns creram ser os Espíritos superiores em tudo, outros, neles só viram demônios; era só por suas palavras e atos que podiam julgá-los.

Suponhamos que dentre os desconhecidos habitantes transatlânticos, de que acabamos de falar [ver trechos anteriores no livro], uns tenham dito muito boas coisas, ao passo que outros se faziam notar pelo cinismo da linguagem; ter-se-ia logo concluído que entre eles havia bons e maus.

Foi o que aconteceu com os Espíritos; foi assim que se reconheceu entre eles todos os graus de bondade e malvadez, de saber e ignorância.

Uma vez bem informados acerca dos defeitos e das boas qualidades que entre eles se encontram, cabe à nossa prudência distinguir o que é bom do que é mau, o verdadeiro do falso em suas relações conosco, absolutamente como procedemos a respeito dos homens.

A observação não nos esclareceu somente sobre as qualidades morais dos Espíritos, mas também sobre a sua natureza e sobre o que podemos chamar estado fisiológico. Ficou-se sabendo, por eles mesmos, que uns são muito felizes e outros muito desgraçados; que não são seres à parte, de natureza excepcional, e sim as almas daqueles que já viveram na Terra, onde deixaram seu invólucro corpóreo, e que hoje povoam os espaços, nos cercam, nos acotovelam sem cessar, e, dentre eles, cada qual pode, por sinais incontestáveis, reconhecer seus parentes e amigos e os que conhecera na Terra; pode-se acompanhá-los em todas as fases de sua existência de além-túmulo, desde o instante em que abandonam o corpo, e observar sua situação segundo o gênero de morte e o modo pelo qual viveram na Terra.

Enfim, soube-se que eles não são entes abstratos, imateriais, no sentido absoluto da palavra; possuem um invólucro, a que chamamos perispírito, espécie de corpo fluídico, vaporoso, diáfano, invisível no estado normal, que, em certos casos e por uma espécie de condensação ou de disposição, pode tornar-se momentaneamente visível e mesmo tangível e, desde então, ficou explicado o fenômeno das aparições e do contato.

Enquanto dura o corpo, esse invólucro é um laço que o prende ao Espírito; quando, porém, o corpo morre, a alma ou o Espírito, que é a mesma coisa, abandona-o, sem, contudo, deixar o primeiro envoltório, do mesmo modo como despimos as peças exteriores da nossa roupa, para só conservarmos as interiores; assim como o fruto despojado do invólucro cortical conserva ainda o perisperma.

É esse invólucro semimaterial do Espírito que lhe serve de meio para a produção de diferentes fenômenos, pelos quais ele se nos manifesta. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo I – p. 74-75)

4. Os Espíritos são seres individuais; possuem um envoltório denominado perispírito, espécie de corpo fluídico, do tipo da forma humana. Habitam os espaços que percorrem com a rapidez de um relâmpago, e constituem o que chamamos mundo invisível. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 30-31)

O Espiritismo, por sua vez, vem mostrar uma nova lei, uma nova força da Natureza: a que reside na ação do Espírito sobre a matéria, lei tão universal quanto a da gravitação e da eletricidade, conquanto ainda desconhecida e negada por certas pessoas, como o foram todas as outras leis na época de suas descobertas. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1864 – p. 76)

18. Os Espíritos são os agentes da potência divina; constituem a força inteligente da Natureza e concorrem para a execução dos desígnios do Criador, tendo em vista a manutenção da harmonia geral do Universo e das leis imutáveis que regem a criação.

19. Para colaborarem, como agentes da potência divina na obra dos mundos materiais, os Espíritos revestem transitoriamente um corpo material.

Os Espíritos encarnados constituem a Humanidade. A alma do homem é um Espírito encarnado. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de Fé Espírita Raciocinada – p. 46-47)

II. […]

[…] o Espiritismo nos apresenta a alma como um ser circunscrito, semelhante a nós, menos o envoltório material de que se despojou, mas revestido de um invólucro fluídico, o que já é mais compreensível e faz que se conceba melhor a sua individualidade. Além disso ele prova, pela experiência, as relações incessantes do mundo visível e do mundo invisível, que se tornam, assim, solidários um com o outro. As relações da alma com a Terra não cessam com a vida; a alma, no estado de Espírito, constitui uma das engrenagens, uma das forças vivas da Natureza; não é mais um ser inútil, que não pensa e já não age senão para si durante a eternidade; é sempre e por toda parte um agente ativo da vontade de Deus para a execução de suas obras. Assim, conforme a Doutrina Espírita, tudo se liga, tudo se encadeia no Universo; e nesse grande movimento, admiravelmente harmonioso, as afeições sobrevivem. Longe de se extinguirem, elas se fortificam e se depuram. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 23)

6. […]

As propriedades sui generis [peculiares] que se reconhecem ao princípio espiritual provam que ele tem existência própria, pois que, se sua origem estivesse na matéria, aquelas propriedades lhe faltariam. Desde que a inteligência e o pensamento não podem ser atributos da matéria, chega-se, remontando dos efeitos à causa, à conclusão de que o elemento material e o elemento espiritual são os dois princípios constitutivos do universo. Individualizado, o elemento espiritual constitui os seres chamados Espíritos, como, individualizado, o elemento material constitui os diferentes corpos da natureza, orgânicos e inorgânicos. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XI – p. 185)

4. […]

O Espírito mais não é do que a alma sobrevivente ao corpo; é o ser principal, pois que não morre, ao passo que o corpo é simples acessório sujeito à destruição. Sua existência, portanto, é tão natural depois, como durante a encarnação; está submetido às leis que regem o princípio espiritual, como o corpo o está às que regem o princípio material; mas como estes dois princípios têm necessária afinidade, como reagem incessantemente um sobre o outro, como da ação simultânea deles resultam o movimento e a harmonia do conjunto, segue-se que a espiritualidade e a materialidade são duas partes de um mesmo todo, tão natural uma quanto a outra, não sendo, pois, a primeira uma exceção, uma anomalia na ordem das coisas. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIII – p. 233)

8. […]

O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Jesus estabelece aí uma distinção positiva entre o Espírito e o corpo. O que é nascido da carne é carne indica claramente que o corpo procede do corpo e que o Espírito independe deste.

9. O Espírito sopra onde quer; ouves-lhe a voz, mas não sabes nem donde ele vem, nem para onde vai: pode-se entender que se trata do Espírito de Deus, que dá vida a quem ele quer, ou da alma do homem. Nesta última acepção — “não sabes donde ele vem, nem para onde vai” — significa que ninguém sabe o que foi, nem o que será o Espírito. Se o Espírito, ou alma, fosse criado ao mesmo tempo que o corpo, saber-se-ia donde ele veio, pois que se lhe conheceria o começo. Como quer que seja, essa passagem consagra o princípio da preexistência da alma e, por conseguinte, o da pluralidade das existências. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IV – p. 70)

109. Será a alma criada ao mesmo tempo que o corpo, ou anteriormente a este?

Depois da questão da existência da alma, é esta uma das questões mais capitais, porque de sua solução dimanam as mais importantes consequências; ela é a única capaz de explicar uma multidão de problemas até hoje insolúveis, por não se ter nela acreditado.

De duas uma: ou a alma existia, ou não existia antes da formação do corpo; não pode haver meio-termo.

Com a preexistência da alma tudo se explica lógica e naturalmente; sem ela, encontram-se tropeços a cada passo, e, mesmo, certos dogmas da Igreja ficam sem justificação, o que tem conduzido muitos pensadores à incredulidade.

Os Espíritos resolveram a questão afirmativamente, e os fatos, como a lógica, não podem deixar dúvidas a esse respeito.

Admita-se, ao menos como hipótese, a preexistência da alma, e veremos aplainar-se a maioria das dificuldades. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 159)

5. O homem compõe-se de corpo e Espírito: o Espírito é o ser principal, racional, inteligente; o corpo é o invólucro material que reveste o Espírito temporariamente, para preenchimento da sua missão na Terra e execução do trabalho necessário ao seu adiantamento. O corpo, usado, destrói-se e o Espírito sobrevive à sua destruição. Privado do Espírito, o corpo é apenas matéria inerte, qual instrumento privado da mola real de função; sem o corpo, o Espírito é tudo; a vida, a inteligência. Ao deixar o corpo, torna ao mundo espiritual, onde paira, para depois reencarnar.

Existem, portanto, dois mundos: o corporal, composto de Espíritos encarnados; e o espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal, devido mesmo à materialidade do seu envoltório, estão ligados à Terra ou a qualquer globo; o mundo espiritual ostenta-se por toda parte, em redor de nós como no Espaço, sem limite algum designado. Em razão mesmo da natureza fluídica do seu envoltório, os seres que o compõem, em lugar de se arrastarem penosamente sobre o solo, transpõem as distâncias com a rapidez do pensamento. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – p. 27)

134. Que é a alma?

“Um Espírito encarnado.”

a) Que era a alma antes de se unir ao corpo?

“Espírito.”

b) As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?

“Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um invólucro carnal para se purificarem e esclarecerem.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo II – p. 106)

7. Os Espíritos não são, como supõem muitas pessoas, uma classe à parte na Criação, porém as almas, despidas do seu invólucro corporal, daqueles que viveram na Terra ou em outros mundos.

Aquele que admite a sobrevivência da alma ao corpo admite, pelo mesmo motivo, a existência dos Espíritos; negar os Espíritos seria negar a alma. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo II – p. 125)

14. […]

A não se considerar, pois, senão a matéria, abstraindo do Espírito, o homem nada tem que o distinga do animal. Tudo, porém, muda de aspecto, logo que se estabelece distinção entre a habitação e o habitante.

Ou numa choupana, ou envergando as vestes de um campônio, um nobre senhor não deixa de o ser. O mesmo se dá com o homem: não é a sua vestidura de carne que o coloca acima do bruto e faz dele um ser à parte; é o seu ser espiritual, seu Espírito. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XI – p. 188)

11. […]

Na balança divina, são iguais todos os homens; só as virtudes os distinguem aos olhos de Deus. São da mesma essência todos os Espíritos e formados de igual massa todos os corpos. Em nada os modificam os vossos títulos e os vossos nomes. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VII – p. 117)

76. Que definição se pode dar dos Espíritos?

“Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o Universo, fora do mundo material.”

Nota – A palavra Espírito é empregada aqui para designar as individualidades dos seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente do Universo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 85)

77. Os Espíritos são seres distintos da Divindade ou serão simples emanações ou porções desta e, por isto, denominados filhos de Deus?

“Meu Deus! São obra de Deus, exatamente como uma máquina o é do homem que a fabrica. Esta máquina é obra do homem, não é o próprio homem. Sabes que, quando faz alguma coisa bela, útil, o homem lhe chama sua filha, criação sua. Pois bem! O mesmo se dá com relação a Deus: somos seus filhos, pois que somos obra sua.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 85)

78. Os Espíritos tiveram princípio ou existem, como Deus, de toda a eternidade?

“Se não tivessem tido princípio, seriam iguais a Deus, quando, ao invés, são criação sua e se acham submetidos à sua vontade. Deus existe de toda a eternidade, é incontestável. Quanto, porém, ao modo por que nos criou e em que momento o fez, nada sabemos. Podes dizer que não tivemos princípio, se quiseres com isso significar que, sendo eterno, Deus há de ter sempre criado ininterruptamente. Mas quando e como cada um de nós foi feito, repito-te, nenhum o sabe: aí é que está o mistério.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 86)

79. Pois que há dois elementos gerais no Universo: o elemento inteligente e o elemento material, poder-se-á dizer que os Espíritos são formados do elemento inteligente, como os corpos inertes o são do elemento material?

“Evidentemente. Os Espíritos são a individualização do princípio inteligente, como os corpos são a individualização do princípio material. A época e o modo por que essa formação se operou é que são desconhecidos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 86)

— A alma possuía sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de se haver separado do corpo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução, VI – p. 25)

151. Que pensar da opinião dos que dizem que após a morte a alma retorna ao todo universal?

“O conjunto dos Espíritos não forma um todo? Não constitui um mundo completo? Quando estás numa assembleia, és parte integrante dela; mas, não obstante, conservas sempre a tua individualidade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo III – p. 116)

152. Que prova podemos ter da individualidade da alma depois da morte?

“Não tendes essa prova nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos, veríeis; se não fôsseis surdos, ouviríeis; pois que muito amiúde uma voz vos fala, reveladora da existência de um ser que está fora de vós.”

Nota – Os que pensam que, pela morte, a alma reingressa no todo universal estão em erro, se supõem que, semelhante à gota de água que cai no oceano, ela perde ali a sua individualidade. Estão certos, se por todo universal entendem o conjunto dos seres incorpóreos, conjunto de que cada alma ou Espírito é um elemento.

Se as almas se confundissem num amálgama só teriam as qualidades do conjunto, nada as distinguiria umas das outras. Careceriam de inteligência e de qualidades pessoais quando, ao contrário, em todas as comunicações, denotam ter consciência do seu eu e vontade própria.

A diversidade infinita que apresentam, sob todos os aspectos, é a consequência mesma de constituírem individualidades diversas. Se, após a morte, só houvesse o que se chama o grande Todo, a absorver todas as individualidades, esse Todo seria uniforme e, então, as comunicações que se recebessem do mundo invisível seriam idênticas. Desde que, porém, lá se nos deparam seres bons e maus, sábios e ignorantes, felizes e desgraçados; que lá os há de todos os caracteres: alegres e tristes, levianos e ponderados etc., patente se faz que eles são seres distintos. A individualidade ainda mais evidente se torna, quando esses seres provam a sua identidade por indicações incontestáveis, particularidades individuais verificáveis, referentes às suas vidas terrestres. Também não pode ser posta em dúvida, quando se fazem visíveis nas aparições. A individualidade da alma nos era ensinada em teoria, como artigo de fé. O Espiritismo a torna manifesta e, de certo modo, material. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo III – p.116)

7. A alma do homem sobrevive ao corpo e conserva a sua individualidade após a morte deste.

Se a alma não sobrevivesse ao corpo, o homem só teria por perspectiva o nada, do mesmo modo que se a faculdade de pensar fosse produto da matéria. Se não conservasse a sua individualidade, isto é, se se dissolvesse no reservatório comum chamado o grande todo, como as gotas d’água no Oceano, seria igualmente, para o homem, o nada do pensamento e as consequências seriam absolutamente as mesmas que se não houvesse alma.

A sobrevivência desta à morte do corpo está provada de maneira irrecusável e até certo ponto palpável, pelas comunicações espíritas. Sua individualidade é demonstrada pelo caráter e pelas qualidades peculiares a cada um. Essas qualidades, que distinguem umas das outras as almas, lhes constituem a personalidade. Se as almas se confundissem num todo comum, uniformes seriam as suas qualidades. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de Fé Espírita Raciocinada – p. 43)

110. Se a alma já existia antes da sua união com o corpo, tinha ela sua individualidade e consciência de si?

Sem individualidade e sem consciência de si mesma, seria como se não existisse. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 159)

958. Por que tem o homem, instintivamente, horror ao nada?

“Porque o nada não existe.”

 959. Donde nasce, para o homem, o sentimento instintivo da vida futura?

“Já temos dito: antes de encarnar, o Espírito conhecia todas essas coisas e a alma conserva uma vaga lembrança do que sabe e do que viu no estado espiritual.”

Nota – Em todos os tempos, o homem se preocupou com o seu futuro para lá do túmulo e isso é muito natural. Qualquer que seja a importância que ligue à vida presente, não pode ele furtar-se a considerar quanto essa vida é curta e, sobretudo, precária, pois que a cada instante está sujeita a interromper-se, nenhuma certeza lhe sendo permitida acerca do dia seguinte. Que será dele, após o instante fatal? Questão grave esta, porquanto não se trata de alguns anos apenas, mas da eternidade. Aquele que tem de passar longo tempo, em país estrangeiro, se preocupa com a situação em que lá se achará. Como, então, não nos havia de preocupar a em que nos veremos, deixando este mundo, uma vez que é para sempre?

A ideia do nada tem qualquer coisa que repugna à razão. O homem que mais despreocupado seja durante a vida, em chegando o momento supremo, pergunta a si mesmo o que vai ser dele e, sem o querer, espera.

Crer em Deus, sem admitir a vida futura, fora um contrassenso. O sentimento de uma existência melhor reside no foro íntimo de todos os homens e não é possível que Deus aí o tenha colocado em vão.

A vida futura implica a conservação da nossa individualidade, após a morte. Com efeito, que nos importaria sobreviver ao corpo, se a nossa essência moral houvesse de perder-se no oceano do infinito? As consequências, para nós, seriam as mesmas que se tivéssemos de nos sumir no nada. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 431-432)

111. Antes da sua união com o corpo, já tinha a alma feito algum progresso, ou estava estacionária?

O progresso anterior da alma é simultaneamente demonstrado pela observação dos fatos e pelo ensino dos Espíritos. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 159)

80. A criação dos Espíritos é permanente ou só se deu na origem dos tempos?

“É permanente. Quer dizer: Deus jamais deixou de criar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Capítulo I – p. 86)

81. Os Espíritos se formam espontaneamente ou procedem uns dos outros?

“Deus os cria, como a todas as outras criaturas, pela sua vontade. Mas repito ainda uma vez, a origem deles é mistério.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Capítulo I – p. 86)

82. Será certo dizer-se que os Espíritos são imateriais?

“Como se pode definir uma coisa, quando faltam termos de comparação e com uma linguagem deficiente? Pode um cego de nascença definir a luz? Imaterial não é bem o termo; incorpóreo seria mais exato, pois deves compreender que, sendo uma criação, o Espírito há de ser alguma coisa. É a matéria quintessenciada, mas sem analogia para vós outros, e tão etérea que escapa inteiramente ao alcance dos vossos sentidos.”

Nota – Dizemos que os Espíritos são imateriais, porque, pela sua essência, diferem de tudo o que conhecemos sob o nome de matéria. Um povo de cegos careceria de termos para exprimir a luz e seus efeitos. O cego de nascença se julga capaz de todas as percepções pelo ouvido, pelo olfato, pelo paladar e pelo tato. Não compreende as ideias que só lhe poderiam ser dadas pelo sentido que lhe falta. Nós outros somos verdadeiros cegos com relação a essência dos seres sobre-humanos. Não os podemos definir senão por meio de comparações sempre imperfeitas ou por um esforço da imaginação. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Capítulo I – p. 86-87)

QUINTESSENCIADA: Quintessenciada vem do verbo quintessenciar. O que há de melhor, de mais apurado, importante ou excelente; grau mais elevado ou melhor de alguma coisa; essencial. Variação de quinta-essenciar. [Definição do dicionário online de Português: Dicio]

— O Espírito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possível de conceber-se pelo pensamento. É um ser real, circunscrito, que, em certos casos, se torna apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tato. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução, VI – p. 24)

53. […]

[…] o Espírito não é uma abstração, é um ser definido, limitado e circunscrito. O Espírito encarnado no corpo constitui a alma. Quando o deixa, por ocasião da morte, não sai dele despido de todo o envoltório. Todos nos dizem que conservam a forma humana e, com efeito, quando nos aparecem, trazem as que lhes conhecíamos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo I – p. 64)

16. Os Espíritos não são, portanto, entes abstratos, vagos e indefinidos, mas seres concretos e circunscritos, aos quais só falta serem visíveis para se assemelharem aos humanos; donde se segue que se, em dado momento, pudesse ser levantado o véu que no-los esconde, eles formariam uma população, cercando-nos por toda parte. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo II – p. 127)

Faz-se dos Espíritos geralmente uma ideia completamente falsa. Eles não são, como muitos imaginam, seres abstratos, vagos e indefinidos, tampouco algo como uma faísca ou centelha, mas, ao contrário, são seres muito reais, que possuem sua individualidade e uma forma determinada. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – Histórico do Espiritismo – p. 18)

3. Geralmente, se faz uma ideia muito falsa do estado dos Espíritos; eles não são, como alguns o creem, seres vagos e indefinidos, nem chamas como os fogos fátuos, nem fantasmas como nos contos de assombração. São seres semelhantes a nós, tendo um corpo igual ao nosso, mas fluídico e invisível no estado normal. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Espíritos – p. 5)

8. Faz-se geralmente uma ideia muito errônea do estado dos Espíritos; eles não são, como alguns acreditam, seres vagos e indefinidos, nem chamas semelhantes a fogos-fátuos, nem fantasmas como os pintam nos contos das almas do outro mundo. São seres nossos semelhantes, tendo como nós um corpo, mas fluídico e invisível no estado normal. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo II – p. 125)

88. Os Espíritos têm forma determinada, limitada e constante?

“Para vós, não; para nós, sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea.”

a) Essa chama ou centelha tem cor?

“Tem uma cor que, para vós, vai do escuro ao brilho do rubi, conforme o Espírito é mais ou menos puro.”

Nota – Representam-se de ordinário os gênios com uma chama ou estrela na fronte. É uma alegoria, que lembra a natureza essencial dos Espíritos. Colocam-na no alto da cabeça, porque aí está a sede da inteligência. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Capítulo I – p. 88)

3. O Espírito propriamente dito é o princípio inteligente; não conhecemos a sua natureza íntima; para nós ele é imaterial, por não ter analogia com qualquer coisa que chamamos de matéria. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 30)

55. Hão dito que o Espírito é uma chama, uma centelha. Isto se deve entender com relação ao Espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, a que se não poderia atribuir forma determinada. Mas, qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito está sempre revestido de um envoltório, ou perispírito, cuja natureza se eteriza à medida que ele se depura e eleva na hierarquia espiritual. De sorte que, para nós, a ideia de forma é inseparável da de Espírito e não concebemos uma sem a outra. O perispírito faz, portanto, parte integrante do Espírito, como o corpo o faz do homem. Porém, o perispírito, só por só, não é o Espírito, do mesmo modo que só o corpo não constitui o homem, porquanto o perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o que o corpo é para o homem: o agente ou instrumento de sua ação. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo I – p. 65-66)

A natureza íntima dos Espíritos nos é desconhecida; eles próprios não a podem definir, por ignorância ou por deficiência de nossa linguagem. A esse respeito estamos como os cegos de nascença em relação à luz. Conforme ao que nos dizem, o Espírito não é material, no sentido vulgar do vocábulo; também não é imaterial, no sentido absoluto, pois que é alguma coisa e a imaterialidade absoluta seria o nada. O Espírito é, pois, formado de uma substância, da qual não nos pode dar uma ideia a matéria grosseira que afeta os nossos sentidos. Pode ser comparado a uma chama ou centelha, cujo brilho varia conforme seu grau de depuração. Pode afetar todas as formas, por meio do perispírito que o envolve. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 14)

200. Têm sexos os Espíritos?

“Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 135)

49. […]

1º Os fenômenos espíritas são produzidos por inteligências extracorpóreas, às quais também se dá o nome de Espíritos;

2º Os Espíritos constituem o mundo invisível; estão em toda parte; povoam infinitamente os espaços; temos muitos, de contínuo, em torno de nós, com os quais nos achamos em contato;

3º Os Espíritos reagem incessantemente sobre o mundo físico e sobre o mundo moral e são uma das potências da natureza;

4º Os Espíritos não são seres à parte dentro da criação, mas as almas dos que hão vivido na Terra, ou em outros mundos, e que despiram o invólucro corpóreo; donde se segue que as almas dos homens são Espíritos encarnados e que nós, morrendo, nos tornamos Espíritos;

5º Há Espíritos de todos os graus de bondade e de malícia, de saber e de ignorância;

6º Todos estão submetidos à lei do progresso e podem todos chegar à perfeição, mas, como têm livre-arbítrio, lá chegam em tempo mais ou menos longo, conforme seus esforços e vontade;

7º São felizes ou infelizes, de acordo com o bem ou o mal que praticaram durante a vida e com o grau de adiantamento que alcançaram. A felicidade perfeita e sem mescla é partilha unicamente dos Espíritos que atingiram o grau supremo da perfeição;

8º Todos os Espíritos, em dadas circunstâncias, podem manifestar-se aos homens; indefinido é o número dos que podem comunicar-se;

9º Os Espíritos se comunicam por médiuns, que lhes servem de instrumentos e intérpretes;

10º Reconhecem-se a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos pela linguagem que usam; os bons só aconselham o bem e só dizem coisas proveitosas; tudo neles lhes atesta a elevação; os maus enganam e todas as suas palavras trazem o cunho da imperfeição e da ignorância. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Cap. IV – p. 57-58)

112. Criou Deus as almas iguais moral e intelectualmente, ou fê-las mais perfeitas e inteligentes umas que as outras?

Se Deus as houvesse feito umas mais perfeitas que as outras, não conciliaria essa preferência com a justiça.

Sendo todas as criaturas obra sua, por que dispensaria Ele do trabalho umas, quando o impõe a outras para alcançarem a felicidade eterna?

A desigualdade das almas em sua origem seria a negação da Justiça de Deus. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 159)

83. Os Espíritos têm fim? Compreende-se que seja eterno o princípio donde eles emanam, mas o que perguntamos é se suas individualidades têm um termo e se, em dado tempo, mais ou menos longo, o elemento de que são formados não se dissemina e volta à massa donde saiu, como sucede com os corpos materiais. É difícil de conceber-se que uma coisa que teve começo possa não ter fim.

“Há muitas coisas que não compreendeis, porque tendes limitada a inteligência. Isso, porém, não é razão para que as repilais. O filho não compreende tudo o que a seu pai é compreensível, nem o ignorante tudo o que o sábio apreende. Dizemos que a existência dos Espíritos não tem fim. É tudo o que podemos, por agora, dizer.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 87)

804. Por que não outorgou Deus as mesmas aptidões a todos os homens?

“Deus criou iguais todos os Espíritos, mas cada um destes vive há mais ou menos tempo, e, conseguintemente, tem feito maior ou menor soma de aquisições. A diferença entre eles está na diversidade dos graus da experiência alcançada e da vontade com que obram, vontade que é o livre-arbítrio. Daí o se aperfeiçoarem uns mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões diversas. Necessária é a variedade das aptidões, a fim de que cada um possa concorrer para a execução dos desígnios da Providência, no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais. O que um não faz, fá-lo outro. Assim é que cada qual tem seu papel útil a desempenhar. Ademais, sendo solidários entre si todos os mundos, necessário se torna que os habitantes dos mundos superiores, que, na sua maioria, foram criados antes do vosso, venham habitá-lo, para vos dar o exemplo.”  (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IX – p. 363-364)

113. Se as almas são criadas iguais, como explicar a diversidade de aptidões e predisposições naturais que notamos entre os homens na Terra?

Essa diversidade é a consequência do progresso feito pela alma, antes da sua união ao corpo.

As almas mais adiantadas, em inteligência e moralidade, são as que têm vivido mais e mais progredido antes de sua encarnação. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 159-160)

2. Deus criou a matéria que constitui os mundos, criou também os seres a que denominamos Espíritos, responsáveis pela administração dos mundos materiais, conforme as leis imutáveis da criação, e que são perfeitas. Ao se aperfeiçoarem, os Espíritos se aproximam da divindade. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 30)

Nota – […]

Como todos sabem, não é nova a ideia da existência de seres intermediários entre Deus e o homem. Em geral, porém, toda gente supunha que esses seres constituíam uma criação à parte. As religiões os designaram pelos nomes de anjos e demônios, os pagãos lhes chamavam deuses. Provando que tais seres não são senão as almas dos homens em diferentes graus da escala espiritual, o Espiritismo reintegra a criação na unidade grandiosa que é a essência mesma das leis divinas. Em vez de uma imensidade de criações estacionárias, que implicariam, da parte da Divindade, capricho ou parcialidade, ele mostra haver uma única, essencialmente progressiva, sem privilégio para qualquer criatura, elevando-se cada individualidade do estado de embrião ao de desenvolvimento completo, como o gérmen que da semente se eleva ao estado de árvore. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Controvérsias Sobre a Ideia da Existência de Seres Intermediários entre o Homem e Deus – p. 112-113)

114. Qual o estado da alma em sua origem?

As almas são criadas simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas com igual aptidão para tudo. A princípio, encontram-se numa espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua existência. Pouco a pouco o livre-arbítrio se desenvolve, ao mesmo tempo que as ideias.

115. Fez a alma esse progresso anterior, no estado de alma propriamente dita, ou em precedente existência corporal?

Além do ensino dos Espíritos sobre esse ponto, o estudo dos diferentes graus de adiantamento do homem, na Terra, prova que o progresso anterior da alma deve fazer-se em uma série de existências corporais, mais ou menos numerosas, segundo o grau a que ele chegou; a prova disto está na observação dos fatos que diariamente estão sob os nossos olhos. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – p.160)

5. A origem e a forma da criação dos Espíritos, nós desconhecemos; sabemos unicamente que foram criados simples e sem conhecimento, isto é, desprovidos de ciência e do conhecimento a respeito do bem e do mal, porém, aptos todos do mesmo modo para tudo aprenderem, afinal, Deus em sua justiça não poderia impor a uns trabalho que seria de outros, para chegarem à perfeição. No início, encontram-se em uma espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência plena de sua existência. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 31)

560. Tem atribuições especiais cada Espírito?

“Todos temos que habitar em toda parte e adquirir o conhecimento de todas as coisas, presidindo sucessivamente ao que se efetua em todos os pontos do Universo. Como diz o Eclesiastes, há tempo para tudo. Assim, tal Espírito cumpre hoje neste mundo o seu destino, tal outro cumprirá ou já cumpriu o seu, em época diversa, na terra, na água, no ar etc.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 271)

121. Por que de dois filhos do mesmo pai, educados nas mesmas condições, um é às vezes inteligente e o outro estúpido, um bom e o outro mau? Por que o filho de um homem de gênio é, algumas vezes, um tolo, e o de um tolo, um homem de gênio?

É um fato esse que vem em abono da origem das ideias inatas; prova, além disso, que a alma do filho não procede, de sorte alguma, da dos pais; se assim não fosse, em virtude do axioma que a parte é da mesma natureza que o todo, os pais transmitiriam aos filhos as suas qualidades e defeitos próprios, como lhes transmitem o princípio das qualidades corporais. Na geração, somente o corpo procede do corpo, mas as almas são independentes umas das outras. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 161-162)

O princípio inteligente independe da matéria. A alma individual preexiste e sobrevive ao corpo. O ponto de partida ou de origem é o mesmo para todas as almas, sem exceção; todas são criadas simples e ignorantes e sujeitas a progresso indefinido. Nada de criaturas privilegiadas e mais favorecidas do que outras. Os anjos são seres que chegaram à perfeição, depois de haverem passado, como todas as outras criaturas, por todos os graus da inferioridade. As almas ou Espíritos progridem mais ou menos rapidamente, mediante o uso do livre-arbítrio, pelo trabalho e pela boa vontade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – As Cinco Alternativas da Humanidade – p. 244-245)

130. O homem já nasce bom ou mau?

É preciso fazermos uma distinção entre a alma e o homem. A alma é criada simples e ignorante, isto é, nem boa nem má, porém suscetível, em razão do seu livre-arbítrio, de seguir o bom ou o mau caminho, ou, por outra, de observar ou infringir as Leis de Deus. O homem nasce bom ou mau, segundo seja ele a encarnação de um Espírito adiantado ou atrasado. (Allan Kardec – O que é o Espiritismo – Capítulo III – p.163-164)

153. Em que sentido se deve entender a vida eterna?

“A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retoma a vida eterna.”

a) Não seria mais exato chamar vida eterna a dos Espíritos puros, dos que, tendo atingido a perfeição, não estão sujeitos a sofrer mais prova alguma?

“Essa é antes a felicidade eterna, mas isto constitui uma questão de palavras. Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo III – p.117)

15. A vida espiritual é a vida normal do Espírito. Ela é eterna; a vida corporal é transitória e passageira: não representa mais do que um instante diante da eternidade. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 33)

226. […]

Nota – No tocante às qualidades íntimas, os Espíritos são de diferentes ordens, ou graus, pelos quais vão passando sucessivamente, à medida que se purificam. Com relação ao estado em que se acham, podem ser: encarnados, isto é, ligados a um corpo; errantes, isto é, sem corpo material e aguardando nova encarnação para se melhorarem; Espíritos puros, isto é, perfeitos, não precisando mais de encarnação. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 154)

“Por sua natureza, possui o Espírito uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o influxo da atividade e das qualidades da alma. Poder-se-ia dizer que essas qualidades estão para o fluido perispiritual como o friccionamento para o fósforo. A intensidade da luz está na razão da pureza do Espírito; as menores imperfeições morais atenuam-na e enfraquecem-na. A luz irradiada por um Espírito será tanto mais viva, quanto maior o seu adiantamento. Assim sendo o Espírito, de alguma sorte, o seu próprio farol, verá proporcionalmente à intensidade da luz que produz, do que resulta que os Espíritos que não a produzem acham-se na obscuridade.”

Esta teoria é perfeitamente exata quanto à irradiação de fluidos luminosos pelos Espíritos superiores e é confirmada pela observação, conquanto se não possa inferir seja aquela a verdadeira causa, ou, pelo menos, a única causa do fenômeno; primeiro, porque nem todos os Espíritos inferiores estão em trevas; segundo, porque um mesmo Espírito pode achar-se alternadamente na luz e na obscuridade; e terceiro, finalmente, porque a luz também é castigo para os Espíritos muito imperfeitos. Se a obscuridade em que jazem certos Espíritos fosse inerente à sua personalidade, essa obscuridade seria permanente e geral para todos os maus Espíritos, o que aliás não acontece. Às vezes os perversos mais requintados veem perfeitamente, ao passo que outros, que assim não podem ser qualificados, jazem, temporariamente, em trevas profundas.

Assim, tudo indica que, independente da luz que lhes é própria, os Espíritos recebem uma luz exterior que lhes falta segundo as circunstâncias, donde força é concluir que a obscuridade depende de uma causa ou de uma vontade estranha, constituindo punição especial da soberana justiça, para casos determinados. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 259-260)

Como força e como lei da Natureza, a ação do elemento espiritual abre, assim, novos horizontes à Ciência, dando-lhe a chave de uma imensidão de problemas incompreendidos. Mas, se a descoberta de leis puramente materiais produziu revoluções materiais no mundo, a do elemento espiritual nele prepara uma revolução moral, pois muda totalmente o curso das ideias e das crenças mais arraigadas; mostra a vida sob outro aspecto; mata a superstição e o fanatismo; desenvolve o pensamento, e o homem, em vez de arrastar-se na matéria, de circunscrever sua vida entre o nascimento e a morte, eleva-se ao infinito; sabe donde vem e para onde vai; vê um objetivo para o seu trabalho, para os seus esforços, uma razão de ser para o bem; sabe que nada do que adquire na Terra, em saber e moralidade, lhe é perdido, e que seu progresso continua indefinidamente no além-túmulo; sabe que há sempre um futuro para si, sejam quais forem a insuficiência e a brevidade da existência presente, ao passo que a ideia materialista, circunscrevendo a vida à existência atual, dá-lhe como perspectiva o nada, que não tem por compensação sequer a duração, que ninguém pode aumentar à vontade, já que podemos cair amanhã, em uma hora, e então o fruto dos nossos labores, de nossas vigílias, dos conhecimentos adquiridos estarão para nós perdidos para sempre, muitas vezes sem termos tido tempo de desfrutá-los.

O Espiritismo, repito, ao demonstrar, não por hipótese, mas por fatos, a existência do mundo invisível e o futuro que nos aguarda, muda completamente o curso das ideias; dá ao homem a força moral, a coragem e a resignação, porque não mais trabalha apenas pelo presente, mas pelo futuro; sabe que se não gozar hoje, gozará amanhã. Demonstrando a ação do elemento espiritual sobre o mundo material, amplia o domínio da Ciência e, por isto mesmo, abre nova via ao progresso material. Então terá o homem uma base sólida para o estabelecimento da ordem moral na Terra; compreenderá melhor a solidariedade que existe entre os seres deste mundo, já que esta solidariedade se perpetua indefinidamente; a fraternidade deixa de ser palavra vã; ela mata o egoísmo, em vez de por ele ser morta e, muito naturalmente, o homem imbuído destas ideias a elas conformará suas leis e suas instituições sociais. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1864 – p. 76-77)

26. Eram necessários os conhecimentos que o espiritismo ministrou acerca das relações do princípio espiritual com o princípio material, acerca da natureza da alma, da sua criação em estado de simplicidade e de ignorância, da sua união com o corpo, da sua indefinida marcha progressiva através de sucessivas existências e através dos mundos, que são outros tantos degraus da senda do aperfeiçoamento, acerca da sua gradual libertação da influência da matéria, mediante o uso do livre-arbítrio, da causa dos seus pendores bons ou maus e de suas aptidões, do fenômeno do nascimento e da morte, da situação do Espírito na erraticidade e, finalmente, do futuro como prêmio de seus esforços por se melhorar e da sua perseverança no bem, para que se fizesse luz sobre todas as partes da gênese espiritual.

Graças a essa luz, o homem sabe doravante donde vem, para onde vai, por que está na Terra e por que sofre. Sabe que tem nas mãos o seu futuro e que a duração do seu cativeiro neste mundo unicamente dele depende. Despida da alegoria acanhada e mesquinha, a Gênese se lhe apresenta grande e digna da majestade, da bondade e da justiça do Criador. Considerada desse ponto de vista, ela confundirá a incredulidade e triunfará. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XII – p. 227-228)

1.1 DO PERISPÍRITO

93. O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?

“Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.”

Nota – Envolvendo o germe de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 89)

135. Há no homem alguma outra coisa além da alma e do corpo?

“Há o laço que liga a alma ao corpo.”

a) De que natureza é esse laço?

“Semimaterial, isto é, de natureza intermédia entre o Espírito e o corpo. É preciso que seja assim para que os dois possam comunicar-se um com o outro. Por meio desse laço é que o Espírito atua sobre a matéria e reciprocamente.”

Nota – O homem é, portanto, formado de três partes essenciais:

1º – o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;

2º – a alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação;

3º – o princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tal, num fruto, o germe, o perisperma e a casca. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo II – p. 106)

Figuremos, primeiramente, o Espírito em união com o corpo. Ele é o ser principal, pois que é o ser que pensa e sobrevive. O corpo não passa de um acessório seu, de um invólucro, uma veste, que ele deixa, quando usada. Além desse invólucro material, tem o Espírito um segundo, semimaterial, que o liga ao primeiro. Por ocasião da morte, despoja-se deste, porém não do outro, a que damos o nome de perispírito. Esse invólucro semimaterial, que tem a forma humana, constitui para o Espírito um corpo fluídico, vaporoso, mas que, pelo fato de nos ser invisível no seu estado normal, não deixa de ter algumas das propriedades da matéria. O Espírito não é, pois, um ponto, uma abstração; é um ser limitado e circunscrito, ao qual só falta ser visível e palpável para se assemelhar aos seres humanos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo I – p. 20)

4. Quando a alma está unida ao corpo, durante a vida, ela tem duplo envoltório: um pesado, grosseiro e destrutível, que é o corpo; outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito. O perispírito é o laço que une a alma e o corpo; é por seu intermédio que a alma faz o corpo agir e percebe as sensações experimentadas pelo corpo. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Espíritos – p. 5)

284. Como podem os Espíritos, não tendo corpo, comprovar suas individualidades e distinguir-se dos outros seres espirituais que os rodeiam?

“Comprovam suas individualidades pelo perispírito, que os torna distinguíveis uns dos outros, como faz o corpo entre os homens.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 178)

40. O estudo das propriedades do perispírito, dos fluidos espirituais e dos atributos fisiológicos da alma abre novos horizontes à Ciência e dá a chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos até então, por falta de conhecimento da lei que os rege — fenômenos negados pelo materialismo, por se prenderem à espiritualidade, e qualificados como milagres ou sortilégios por outras crenças. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo I – p. 33)

— O laço ou perispírito, que prende ao corpo o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém, que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das aparições. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução – Capítulo VI – p. 24)

114. […] Sabemos que durante o sono o Espírito readquire parte da sua liberdade, isto é, isola-se do corpo e é nesse estado que, em muitas ocasiões, se tem ensejo de observá-lo. Mas o Espírito, quer o homem esteja vivo, quer morto, traz sempre o envoltório semimaterial que, pelas mesmas causas de que já tratamos, pode tornar-se visível e tangível. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VII –  p. 127)

54. Numerosas observações e fatos irrecusáveis, de que mais tarde falaremos, levaram à consequência de que há no homem três componentes: 1º a alma, ou Espírito, princípio inteligente, em que tem sua sede o senso moral; 2º o corpo, invólucro grosseiro, material, de que ele se revestiu temporariamente, em cumprimento de certos desígnios providenciais; 3º o perispírito, envoltório fluídico, semimaterial, que serve de ligação entre a alma e o corpo.

A morte é a destruição, ou antes, a desagregação do envoltório grosseiro, do invólucro que a alma abandona. O outro se desliga deste e acompanha a alma que, assim, fica sempre com um envoltório. Este último, ainda que fluídico, etéreo, vaporoso, invisível, para nós, em seu estado normal, não deixa de ser matéria, embora até ao presente não tenhamos podido assenhorear-nos dela e submetê-la à análise.

Esse segundo invólucro da alma, ou perispírito, existe, pois, durante a vida corpórea; é o intermediário de todas as sensações que o Espírito percebe e pelo qual transmite sua vontade ao exterior e atua sobre os órgãos do corpo. Para nos servirmos de uma comparação material, diremos que é o fio elétrico condutor, que serve para a recepção e a transmissão do pensamento; é, em suma, esse agente misterioso, imperceptível, conhecido pelo nome de fluido nervoso, que desempenha tão grande papel na economia orgânica e que ainda não se leva muito em conta nos fenômenos fisiológicos e patológicos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo I – p. 65)

PERISPÍRITO – de peri, em redor e spiritus, espírito. Envoltório semimaterial do Espírito, depois de sua separação do corpo. O Espírito o adquire no mundo em que se acha e muda-o ao passar a um outro mundo. É mais ou menos sutil ou grosseiro, conforme a natureza de cada globo. O perispírito pode tomar todas as formas, à vontade do Espírito. De ordinário afeta a imagem que tinha em sua última existência corpórea.

Posto que de natureza etérea, a substância do perispírito é suscetível de certas modificações que a tornam perceptível aos nossos olhos. É o que se dá nas aparições. Pode até, por sua união com o fluido de certas pessoas, tornar-se temporariamente tangível, isto é, oferecer ao tacto a resistência de um corpo sólido, como se tem visto nas aparições estereotipias ou palpáveis.

A natureza íntima do perispírito é ainda desconhecida. Poderia, porém, supor-se que a matéria dos corpos é composta de uma parte sólida e grosseira e de uma parte sutil etérea; que somente a primeira sofra a decomposição produzida pela morte, ao passo que a segunda persista e acompanhe o Espírito. Assim, o Espírito teria um duplo envoltório; a morte apenas o despojaria do mais grosseiro; o segundo, que constitui o perispírito, conservaria a marca e a forma do primeiro, do qual é uma espécie de sombra. Mas sua natureza essencialmente vaporosa permitiria que o Espírito lhe modificasse a forma à vontade, e a tornasse visível ou invisível, palpável ou impalpável. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 28)

54. […]

[…] quer durante a sua união com o corpo, quer depois de separar-se deste, a alma nunca está desligada do seu perispírito. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo I – p. 65)

58. A natureza íntima do Espírito propriamente dito, isto é, do ser pensante, desconhecemo-la por completo. Apenas pelos seus atos ele se nos revela, e seus atos não nos podem impressionar os sentidos, a não ser por um intermediário material. O Espírito precisa, pois, de matéria para atuar sobre a matéria. Tem por instrumento direto de sua ação o perispírito, como o homem tem o corpo. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns –  Segunda Parte – Capítulo I  – p. 67)

17. […]

O fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer que repercutam no Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fios condutores os nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o fio metálico. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XI – p. 189)

23. As propriedades do fluido perispirítico podem nos dar uma ideia. Ele não é de si mesmo inteligente, pois que é matéria, mas é o veículo do pensamento, das sensações e percepções do Espírito. O fluido perispiritual não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo ele que o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido, e na impossibilidade em que nos achamos de isolar o pensamento, a nós parece que ele faz corpo com o fluido, dando a entender que são uma coisa só, como sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo. Assim como dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo II – p. 56)

51. […]

“O que uns chamam perispírito não é senão o que outros chamam envoltório material fluídico. Direi, de modo mais lógico, para me fazer compreendido, que esse fluido é a perfectibilidade dos sentidos, a extensão da vista e das ideias. Falo aqui dos Espíritos elevados. Quanto aos Espíritos inferiores, os fluidos terrestres ainda lhes são de todo inerentes; logo, são, como vedes, matéria. Daí os sofrimentos da fome, do frio etc., sofrimentos que os Espíritos superiores não podem experimentar, visto que os fluidos terrestres se acham depurados em torno do pensamento, isto é, da alma. Esta, para progredir, necessita sempre de um agente; sem agente, ela nada é, para vós, ou melhor, não a podeis conceber. O perispírito, para nós outros Espíritos errantes, é o agente por meio do qual nos comunicamos convosco, quer indiretamente, pelo vosso corpo ou pelo vosso perispírito, quer diretamente, pela vossa alma; donde, infinitas modalidades de médiuns e de comunicações.

“Agora o ponto de vista científico, ou seja, a essência mesma do perispírito. Isso é outra questão. Compreendei primeiro moralmente. Resta apenas uma discussão sobre a natureza dos fluidos, coisa por ora inexplicável. A ciência ainda não sabe bastante, porém lá chegará, se quiser caminhar com o Espiritismo. O perispírito pode variar e mudar ao infinito. A alma é o pensamento: não muda de natureza. Não vades mais longe, por este lado; trata-se de um ponto que não pode ser explicado. Supondes que, como vós, também eu não perquiro? Vós pesquisais o perispírito; nós outros, agora, pesquisamos a alma. Esperai, pois.” — Lamennais (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo IV – p. 59-60)

7. O perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um dos mais importantes produtos do fluido cósmico; é uma condensação desse fluido em torno de um foco de inteligência ou alma. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 246)

94. De onde tira o Espírito o seu invólucro semimaterial?

“Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.”

a) Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro?

“É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 89)

9. Os Espíritos, como já foi dito, têm um corpo fluídico, a que se dá o nome de perispírito. Sua substância é haurida do fluido universal ou cósmico, que o forma e alimenta, como o ar forma e alimenta o corpo material do homem. O perispírito é mais ou menos etéreo, conforme os mundos e o grau de depuração do Espírito. Nos mundos e nos Espíritos inferiores, ele é de natureza mais grosseira e se aproxima muito da matéria bruta. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 56)

4. […]

[…] Um Espírito pode aparecer sob forma luminosa, ou transformar uma parte do seu fluido perispirítico em foco luminoso. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XV – p. 276)

XII. […]

Nota – […] a densidade do perispírito, se assim se pode dizer, varia de acordo com o estado dos mundos. Parece que também varia, em um mesmo mundo, de indivíduo para indivíduo. Nos Espíritos moralmente adiantados, é mais sutil e se aproxima da dos Espíritos elevados; nos Espíritos inferiores, ao contrário, aproxima-se da matéria e é o que faz que os Espíritos de baixa condição conservem por muito tempo as ilusões da vida terrestre. Esses pensam e obram como se ainda fossem vivos; experimentam os mesmos desejos e quase que se poderia dizer a mesma sensualidade. Esta grosseria do perispírito, dando-lhe mais afinidade com a matéria, torna os Espíritos inferiores mais aptos às manifestações físicas. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 80)

8. Do meio onde se encontra é que o Espírito extrai o seu perispírito, isto é, esse envoltório ele o forma dos fluidos ambientes. Resulta daí que os elementos constitutivos do perispírito naturalmente variam, conforme os mundos. Dando-se Júpiter como orbe muito adiantado em comparação com a Terra, como um orbe onde a vida corpórea não apresenta a materialidade da nossa, os envoltórios perispirituais hão de ser lá de natureza muito mais quintessenciada do que aqui. Ora, assim como não poderíamos existir naquele mundo com o nosso corpo carnal, também os nossos Espíritos não poderiam nele penetrar com o perispírito terrestre que os reveste. Emigrando da Terra, o Espírito deixa aí o seu invólucro fluídico e toma outro apropriado ao mundo onde vai habitar. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 247)

9. A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do Espírito. Os Espíritos inferiores não podem mudar de envoltório a seu bel-prazer, pelo que não podem passar, à vontade, de um mundo para outro. Alguns há, portanto, cujo envoltório fluídico, se bem que etéreo e imponderável com relação à matéria tangível, ainda é por demais pesado, se assim nos podemos exprimir, com relação ao mundo espiritual, para não permitir que eles saiam do meio que lhes é próprio. Nessa categoria se devem incluir aqueles cujo perispírito é tão grosseiro, que eles o confundem com o corpo carnal, razão por que continuam a crer-se vivos. Esses Espíritos, cujo número é avultado, permanecem na superfície da Terra, como os encarnados, julgando-se entregues às suas ocupações terrenas. Outros um pouco mais desmaterializados não o são, contudo, suficientemente, para se elevarem acima das regiões terrestres.

Os Espíritos superiores, ao contrário, podem vir aos mundos inferiores, e, até, encarnar neles. Tiram, dos elementos constitutivos do mundo onde entram, os materiais para a formação do envoltório fluídico ou carnal apropriado ao meio em que se encontrem. Fazem como o nobre que despe temporariamente suas vestes, para envergar os trajes plebeus, sem deixar por isso de ser nobre.

É assim que os Espíritos da categoria mais elevada podem manifestar-se aos habitantes da Terra ou encarnar em missão entre estes. Tais Espíritos trazem consigo, não o invólucro, mas a lembrança, por intuição, das regiões donde vieram e que, em pensamento, eles veem. São videntes entre cegos. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 247-248)

10. A camada de fluidos espirituais que cerca a Terra se pode comparar às camadas inferiores da atmosfera, mais pesadas, mais compactas, menos puras, do que as camadas superiores. Não são homogêneos esses fluidos; são uma mistura de moléculas de diversas qualidades, entre as quais necessariamente se encontram as moléculas elementares que lhes formam a base, porém, mais ou menos alteradas. Os efeitos que esses fluidos produzem estarão na razão da soma das partes puras que eles encerram. Tal, por comparação, o álcool retificado, ou misturado, em diferentes proporções, com água ou outras substâncias: seu peso específico aumenta, por efeito dessa mistura, ao mesmo tempo que sua força e sua inflamabilidade diminuem, embora no todo continue a haver álcool puro.

Os Espíritos chamados a viver naquele meio tiram dele seus perispíritos; porém, conforme seja mais ou menos depurado o Espírito, seu perispírito se formará das partes mais puras ou das mais grosseiras do fluido peculiar ao mundo onde ele encarna. O Espírito produz aí, sempre por comparação e não por assimilação, o efeito de um reativo químico que atrai a si as moléculas que a sua natureza pode assimilar.

Resulta disso este fato capital: a constituição íntima do períspirito não é idêntica em todos os Espíritos encarnados ou desencarnados que povoam a Terra ou o espaço que a circunda. O mesmo já não se dá com o corpo carnal, que, como foi demonstrado, se forma dos mesmos elementos, qualquer que seja a superioridade ou a inferioridade do Espírito. Por isso, em todos, são os mesmos os efeitos que o corpo produz, semelhantes as necessidades, ao passo que diferem em tudo o que respeita ao perispírito.

Também resulta que: o envoltório perispirítico de um Espírito se modifica com o progresso moral que este realiza em cada encarnação, embora ele encarne no mesmo meio; que os Espíritos superiores, encarnando excepcionalmente, em missão, num mundo inferior, têm perispírito menos grosseiro do que o dos indígenas desse mundo. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 248-249)

O próprio perispírito passa por transformações sucessivas. Torna-se cada vez mais etéreo, até a depuração completa, que é a condição dos puros Espíritos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IV – p. 76)

33. Uma pessoa que se ache no fundo de um vale, envolvido por densa bruma, não vê o Sol. Entretanto, pela luz difusa, percebe a claridade do Sol. Se começa a subir a montanha, à medida que for ascendendo, o nevoeiro se irá dissipando e a luz ficará cada vez mais viva. Contudo, ainda não verá o Sol. Só depois que se haja elevado acima da camada brumosa e chegado a um ponto onde o ar esteja perfeitamente límpido, ela o contemplará em todo o seu esplendor.

O mesmo se dá com a alma. O envoltório perispirítico, conquanto nos seja invisível e impalpável, é, com relação a ela, verdadeira matéria, ainda grosseira demais para certas percepções. Esse invólucro, porém, se espiritualiza, à proporção que a alma se eleva em moralidade. As imperfeições da alma são quais camadas nevoentas que lhe obscurecem a visão. Cada imperfeição de que ela se desfaz é uma mácula a menos; todavia, só depois de se haver depurado completamente é que goza da plenitude das suas faculdades. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo II – p. 59-60)

MÁCULA: marca de sujeira, de impureza ou de cor diferente sobre um corpo; nódoa, mancha, sujeira. [Definição do dicionário online do Google]

Em seu estado normal, o perispírito é invisível, entretanto, o Espírito pode agir sobre ele de modo a tornar-se momentaneamente visível, suscetível ao tato, e é assim que muitas vezes pode se mostrar nas aparições.

Assim, é por meio do perispírito que o Espírito age sobre os objetos materiais e pode produzir diversos tipos de fenômenos, como barulho, ruídos, movimentos, escritas etc. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – Histórico do Espiritismo – p. 19)

21ª Como pode o Espírito fazer-se visível?

“O princípio é o mesmo de todas as manifestações, reside nas propriedades do perispírito, que pode sofrer diversas modificações ao sabor do Espírito.”

22ª Pode o Espírito propriamente dito fazer-se visível ou só o pode com o auxílio do perispírito?

“No estado material em que vos achais, só com o auxílio de seus invólucros semimateriais podem os Espíritos manifestar-se. Esse invólucro é o intermediário por meio do qual eles atuam sobre os vossos sentidos. Sob esse envoltório é que aparecem, às vezes, com uma forma humana, ou com outra qualquer, seja nos sonhos, seja no estado de vigília, assim em plena luz, como na obscuridade.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 114)

28ª Podem os Espíritos tornar-se visíveis sob outra aparência que não a da forma humana?

“A humana é a forma normal. O Espírito pode variar-lhe a aparência, mas sempre com o tipo humano.”

a) Não podem manifestar-se sob a forma de chama?

“Podem produzir chamas, clarões, como todos os outros efeitos, para atestar sua presença, mas não são os próprios Espíritos que assim aparecem. A chama não passa muitas vezes de uma miragem ou de uma emanação do perispírito. Em todo caso, nunca é mais do que uma parcela deste. O perispírito não se mostra integralmente nas visões.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 115-116)

30ª Poderiam os Espíritos apresentar-se sob a forma de animais?

“Isso pode dar-se, mas somente Espíritos muito inferiores tomam essas aparências. Em caso algum, porém, será mais do que uma aparência momentânea. Fora absurdo acreditar-se que um qualquer animal verdadeiro pudesse ser a encarnação de um Espírito. Os animais são sempre animais e nada mais do que isto.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 116)

95. O invólucro semimaterial do Espírito tem formas determinadas e pode ser perceptível?

“Tem a forma que o Espírito queira. É assim que este vos aparece algumas vezes, quer em sonho, quer no estado de vigília, e que pode tomar forma visível, mesmo palpável.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 89-90)

102. […]

Podendo tomar todas as aparências, o Espírito se apresenta sob a que melhor o faça reconhecível, se tal é o seu desejo. Assim, embora como Espírito, nenhum defeito corpóreo tenha, ele se mostrará estropiado, coxo, corcunda, ferido, com cicatrizes, se isso for necessário à prova da sua identidade. Esopo, por exemplo, como Espírito, não é disforme; porém, se o evocarem como Esopo, ainda que muitas existências tenha tido depois da em que assim se chamou, ele aparecerá feio e corcunda, com os seus trajes tradicionais.

Coisa interessante é que, salvo em circunstâncias especiais, as partes menos acentuadas são os membros inferiores, enquanto a cabeça, o tronco, os braços e as mãos são sempre claramente desenhados. Daí vem que quase nunca são vistos a andar, mas a deslizar como sombras. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 117)

ESOPO: (séc. VI a.C) foi um fabulista grego, que teria vivido na Grécia antiga. Figura supostamente lendária, passou para a história como o primeiro criador de fábula. [Informação retirada do site https://www.ebiografia.com/esopo/]

28. Ainda que invisível para nós no estado normal, o perispírito é matéria etérea. Em certos casos, o Espírito pode fazê-lo sofrer uma espécie de modificação molecular que o torna visível e mesmo tangível; é como se produzem as aparições — fenômeno que não é mais extraordinário que o do vapor que, invisível quando muito rarefeito, se torna visível por condensação.

Os Espíritos que se tornam visíveis apresentam-se, quase sempre, com as aparências que tinham em vida e que os podem tornar conhecidos. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo  – Capítulo II – p. 130)

12. O perispírito, embora invisível para nós no estado normal, não deixa de ser matéria etérea. O Espírito pode, em certos casos, fazê-lo sofrer uma espécie de modificação molecular que o torna visível e mesmo tangível; assim é que se produzem as aparições. Esse fenômeno não é mais extraordinário do que o do vapor que é invisível quando está mais rarefeito, e que se torna visível quando está condensado.

Os Espíritos que se tornam visíveis se apresentam, quase sempre, sob a aparência que tinham quando vivos e que podem fazê-los reconhecer. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestação dos Espíritos – p. 8)

105. […]

[…] Quando o Espírito nos aparece, é que pôs o seu perispírito no estado próprio a torná-lo visível. Mas, para isso, não basta a sua vontade, porquanto a modificação do perispírito se opera mediante sua combinação com o fluido peculiar ao médium. Ora, esta combinação nem sempre é possível, o que explica não ser generalizada a visibilidade dos Espíritos. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se; não basta tampouco que uma pessoa queira vê-lo; é necessário que os dois fluidos possam combinar-se, que entre eles haja uma espécie de afinidade e também, porventura, que a emissão do fluido da pessoa seja suficientemente abundante para operar a transformação do perispírito e, provavelmente, que se verifiquem ainda outras condições que desconhecemos. É necessário, enfim, que o Espírito tenha a permissão de se fazer visível a tal pessoa, o que nem sempre lhe é concedido, ou só o é em certas circunstâncias, por motivos que não podemos apreciar.

Outra propriedade do perispírito inerente à sua natureza etérea é a penetrabilidade. Matéria nenhuma lhe opõe obstáculo: ele as atravessa todas, como a luz atravessa os corpos transparentes. Daí vem não haver tapagem capaz de obstar à entrada dos Espíritos. Eles visitam o prisioneiro no seu calabouço com a mesma facilidade com que visitam uma pessoa que esteja em pleno campo.

Não são raras, nem constituem novidades as aparições no estado de vigília. Elas se produziram em todos os tempos. A história as registra em grande número. Não precisamos, porém, remontar ao passado, tão frequentes são nos dias de hoje e muitas pessoas há que as têm visto e que as tomaram, no primeiro momento, pelo que se convencionou chamar alucinações. São frequentes, sobretudo, nos casos de morte de pessoas ausentes, que vêm visitar seus parentes ou amigos. Muitas vezes, as aparições não trazem um fim muito determinado, mas pode dizer-se que, em geral, os Espíritos que assim aparecem são atraídos pela simpatia. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 120)

16. Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível, tendo isso de comum com uma imensidade de fluidos que sabemos existir, mas que nunca vimos. Pode também, como alguns fluidos, sofrer modificações que o tornam perceptível à vista, quer por uma espécie de condensação, quer por uma mudança na disposição molecular. Pode mesmo adquirir as propriedades de um corpo sólido e tangível e retomar instantaneamente seu estado etéreo e invisível. É possível fazer-se ideia desse efeito pelo que acontece com o vapor, que passa do estado de invisibilidade ao estado brumoso, depois ao líquido, em seguida ao sólido e vice-versa.

Esses diferentes estados do perispírito resultam da vontade do Espírito e não de uma causa física exterior, como se dá com os gases. Quando um Espírito aparece, é que ele põe seu perispírito no estado próprio a torná-lo visível. Entretanto, nem sempre basta a vontade para fazê-lo visível: é preciso, para que se opere a modificação do perispírito, o concurso de umas tantas circunstâncias que dele independem. É, preciso, ao demais, que ao Espírito seja permitido fazer-se visível a tal pessoa, permissão que nem sempre lhe é concedida, ou somente o é em determinadas circunstâncias, por motivos que nos escapam. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 58-59)

16. […]

Outra propriedade do perispírito, peculiar essa à sua natureza etérea, é a penetrabilidade. Matéria nenhuma lhe opõe obstáculo; ele as atravessa todas, como a luz atravessa os corpos transparentes. Daí vem que não há como impedir que os Espíritos entrem num recinto inteiramente fechado. Eles visitam o preso no seu cárcere tão facilmente como visitam a um que está no campo a trabalhar. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 59)

11. O fluido que compõe o perispírito penetra todos os corpos e os atravessa como a luz atravessa os corpos transparentes; nenhuma matéria lhe opõe obstáculo. É por isso que os Espíritos penetram por toda a parte, nos lugares o mais hermeticamente fechados; é uma ideia ridícula crer-se que eles se introduzem por uma pequena abertura, como o buraco de uma fechadura ou o tubo de uma chaminé. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestação dos Espíritos – p. 08)

123. […]

Está, em princípio, admitido que o Espírito pode dar ao seu perispírito todas as aparências; que, mediante uma modificação na disposição molecular, pode dar-lhe a visibilidade, a tangibilidade e, conseguintemente, a opacidade; que o perispírito de uma pessoa viva, isolado do corpo, é passível das mesmas transformações; que essa mudança de estado se opera pela combinação dos fluidos. Figuremos agora o perispírito de uma pessoa viva, não isolado, mas irradiando-se em volta do corpo, de maneira a envolvê-lo numa espécie de vapor. Nesse estado, passível se torna das mesmas modificações de que o seria se o corpo estivesse separado. Perdendo ele a sua transparência, o corpo pode desaparecer, tornar-se invisível, ficar velado, como se mergulhado numa bruma. Poderá então o perispírito mudar de aspecto, fazer-se brilhante, se tal for a vontade do Espírito e se este dispuser de poder para tanto. Um outro Espírito, combinando seus fluidos com os do primeiro, poderá, a essa combinação de fluidos, imprimir a aparência que lhe é própria, de tal sorte que o corpo real desapareça sob um envoltório fluídico exterior, cuja aparência pode variar à vontade do Espírito. Esta parece ser a verdadeira causa do estranho fenômeno e raro, cumpra se diga, da transfiguração. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 134)

OPACIDADE: qualidade, estado ou propriedade do que é opaco; ausência de transparência. [Definição do dicionário online do Google]

22. O perispírito é o traço de união entre a vida corpórea e a vida espiritual. É por seu intermédio que o Espírito encarnado se acha em relação contínua com os desencarnados; é, em suma, por seu intermédio, que se operam no homem fenômenos especiais, cuja causa fundamental não se encontra na matéria tangível e que, por essa razão, parecem sobrenaturais.

É nas propriedades e nas irradiações do fluido perispirítico que se tem de procurar a causa da dupla vista, ou vista espiritual, a que também se pode chamar vista psíquica, da qual muitas pessoas são dotadas, frequentemente a seu mau grado, assim como da vista sonambúlica.

O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos corpóreos. Pelos órgãos do corpo, a visão, a audição e as diversas sensações são localizadas e limitadas à percepção das coisas materiais; pelo sentido espiritual, ou psíquico, elas se generalizam: o Espírito vê, ouve e sente, por todo o seu ser, tudo o que se encontra na esfera de irradiação do seu fluido perispirítico. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 256)

22. O perispírito das pessoas vivas goza das mesmas propriedades que o dos Espíritos. Como já foi dito, o daquelas não se acha confinado no corpo: irradia e forma em torno deste uma espécie de atmosfera fluídica. Ora, pode suceder que, em certos casos e dadas as mesmas circunstâncias, ele sofra uma transformação análoga à já descrita: a forma real e material do corpo se desvanece sob aquela camada fluídica, se assim nos podemos exprimir, e toma por momentos uma aparência inteiramente diversa, mesmo a de outra pessoa ou a do Espírito que combina seus fluidos com os do indivíduo, podendo também dar a um semblante feio um aspecto bonito e radioso. Tal o fenômeno que se designa pelo nome de “transfiguração”, bastante frequente e que se produz, principalmente, quando as circunstâncias ocorrentes provocam mais abundante expansão de fluido. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 62-63)

61. Todos os evangelistas narram as aparições de Jesus, após sua morte, com circunstanciados pormenores que não permitem se duvide da realidade do fato. Elas, aliás, se explicam perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e nada de anômalo apresentam em face dos fenômenos do mesmo gênero, cuja história, antiga e contemporânea, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a tangibilidade. Se notarmos as circunstâncias em que se deram as suas diversas aparições, nele reconheceremos, em tais ocasiões, todos os caracteres de um ser fluídico. Aparece inopinadamente e do mesmo modo desaparece; uns o vêem, outros não, sob aparências que não o tornam reconhecível nem sequer aos seus discípulos; mostra-se em recintos fechados, onde um corpo carnal não poderia penetrar; sua própria linguagem carece da vivacidade da de um ser corpóreo; fala em tom breve e sentencioso, peculiar aos Espíritos que se manifestam daquela maneira; todas as suas atitudes, numa palavra, denotam alguma coisa que não é do mundo terreno. Sua presença causa simultaneamente surpresa e medo; ao vê-lo, seus discípulos não lhe falam com a mesma liberdade de antes; sentem que já não é um homem.

Jesus, portanto, se mostrou com o seu corpo perispirítico, o que explica que só tenha sido visto pelos que Ele quis que o vissem. Se estivesse com o seu corpo carnal, todos o veriam, como quando estava vivo. Ignorando a causa originária do fenômeno das aparições, seus discípulos não se apercebiam dessas particularidades, a que, provavelmente, não davam atenção. Desde que viam o Senhor e o tocavam, haviam de achar que aquele era o seu corpo ressuscitado. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XV – p. 308-309)

ANÔMALO: fora da ordem, da norma estabelecida; diferente do normal; anormal, estranho, irregular. [Definição do dicionário online do Google]

109. O perispírito, como se vê, é o princípio de todas as manifestações [dos Espíritos]. O conhecimento dele foi a chave da explicação de uma imensidade de fenômenos e permitiu que a ciência espírita desse largo passo, fazendo-a enveredar por nova senda, tirando-lhe todo o cunho de maravilhosa. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 122)

13. É com a ajuda do seu perispírito, que o Espírito atua sobre seu corpo vivo; é ainda com esse mesmo fluido que ele se manifesta atuando sobre a matéria inerte, que produz os ruídos, os movimentos de mesas e outros objetos, que ergue, tomba ou transporta. Esse fenômeno nada tem de surpreendente se se considera que, entre nós, os mais poderosos motores se acham nos fluidos os mais rarefeitos e mesmo imponderáveis, como o ar, o vapor e a eletricidade.

É igualmente com a ajuda do seu perispírito que o Espírito faz os médiuns escreverem, falarem, ou desenharem; não tendo mais corpo tangível para atuar ostensivamente quando quer se manifestar, ele se serve do corpo do médium, de quem empresta os órgãos que faz atuarem como se fosse seu próprio corpo, e isso pela emanação fluídica que derrama sobre ele. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestação dos Espíritos – p. 9)

77. […]

Pois que o fluido vital, que o Espírito, de certo modo, emite, dá vida factícia e momentânea aos corpos inertes; pois que o perispírito não é mais do que esse mesmo fluido vital, segue-se que, quando o Espírito está encarnado, é ele próprio quem dá vida ao seu corpo, por meio do seu perispírito, conservando-se unido a esse corpo, enquanto a organização deste o permite. Quando se retira, o corpo morre. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 85)

75. […] o fluido universal, no qual contém o princípio da vida, é o agente principal das manifestações, agente que recebe impulsão do Espírito, seja encarnado, seja errante. Condensado, esse fluido constitui o perispírito, ou invólucro semimaterial do Espírito. Encarnado este, o perispírito se acha unido à matéria do corpo; estando o Espírito na erraticidade, ele se encontra livre. Quando o Espírito está encarnado, a substância do perispírito se acha mais ou menos ligada, mais ou menos aderente, se assim nos podemos exprimir. Em algumas pessoas se verifica, por efeito de suas organizações, uma espécie de emanação desse fluido e é isso, propriamente falando, o que constitui o médium de influências físicas. A emissão do fluido animalizado pode ser mais ou menos abundante, como mais ou menos fácil a sua combinação, donde os médiuns mais ou menos poderosos. Essa emissão, porém, não é permanente, o que explica a intermitência do poder mediúnico. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI  – p. 84)

11. O perispírito não se acha encerrado nos limites do corpo, como numa caixa. Pela sua natureza fluídica, ele é expansível, irradia para o exterior e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera que o pensamento e a força da vontade podem dilatar mais ou menos. Daí se segue que pessoas há que, sem estarem em contato corporal, podem achar-se em contato pelos seus perispíritos e permutar a seu mau grado impressões e, algumas vezes, pensamentos, por meio da intuição. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 56-57)

[Ao fluido perispirítico] Nenhum corpo lhe opõe obstáculo; ele os penetra e atravessa todos. Até agora nenhum se conhece que seja capaz de o isolar. Somente a vontade lhe pode ampliar ou restringir a ação. A vontade, com efeito, é o seu mais poderoso princípio. Pela vontade, dirigem-se-lhe os eflúvios através do espaço, saturam-se dele alguns objetos, ou faz-se que ele se retire dos lugares onde superabunda. Digamos, de passagem, que é neste princípio que se funda a força magnética. Parece, enfim, que ele é o veículo da vista psíquica, como o fluido luminoso o é da vista ordinária. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Introdução ao estudo da fotografia e da telegrafia do pensamento – p. 132)

125. […]

[…] O perispírito irradia ao redor do corpo, formando uma espécie de atmosfera impregnada das qualidades boas ou más do Espírito encarnado. Duas pessoas que se encontram, experimentam, pelo contato desses fluidos, a impressão sensitiva, impressão que pode ser agradável ou desagradável; os fluidos tendem a confundir-se ou a repelir-se, segundo sua natureza semelhante ou dessemelhante. É assim que se pode explicar o fenômeno da transmissão de pensamento. Pelo contato desses fluidos, duas almas, de algum modo, leem uma na outra; elas se adivinham e compreendem, sem se falarem. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 162-163)

É fato incontestável a ação fisiológica de indivíduo a indivíduo, com ou sem contacto. Semelhante ação evidentemente só pode ser exercida por um agente intermediário, do qual são reservatório o nosso corpo, os nossos olhos e os nossos dedos, principais órgãos de emissão e de direção. Esse agente invisível é necessariamente um fluido. Quais a sua natureza e a sua essência? Quais as suas propriedades íntimas? Será um fluido especial, ou uma modificação da eletricidade, ou de algum outro fluido conhecido? Não será antes o a que hoje damos o nome de fluido cósmico, quando se acha esparso na atmosfera, e fluido perispirítico, quando individualizado?

Esta questão, aliás, é secundária.

O fluido perispirítico é imponderável, como a luz, a eletricidade e o calórico. É-nos invisível, no nosso estado normal, e somente por seus efeitos se revela.

Torna-se, porém, visível a quem se ache no estado de sonambulismo lúcido e, mesmo, no estado de vigília, às pessoas dotadas de dupla vista. No estado de emissão, ele se apresenta sob a forma de feixes luminosos, muito semelhante à luz elétrica difundida no vácuo. A isso, em suma, se limita a sua analogia com este último fluido, porquanto não produz, pelo menos ostensivamente, nenhum dos fenômenos físicos que conhecemos. No estado ordinário, denota matizes diversos, conforme os indivíduos que o emitem: ora vermelho fraco, ora azulado, ou acinzentado, qual ligeira bruma. As mais das vezes, espalha sobre os corpos circunjacentes uma coloração amarelada, mais ou menos forte. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Introdução ao estudo da fotografia e da telegrafia do pensamento – p. 131-132)

MATIZ: colorido obtido da mistura ou combinação de várias cores num todo. [Definição do Dicionário Online do Google]

CIRCUNJACENTE: que jaz ou se estende ao redor. [Definição do Dicionário Online do Google]

O fluido cósmico, conquanto emane de uma fonte universal, se individualiza, por assim dizer, em cada ser e adquire propriedades características, que permitem distingui-lo de todos os outros. Nem mesmo a morte apaga esses caracteres de individualização, que persistem por longos anos após a cessação da vida, coisa de que já hemos podido convencer-nos. Cada um de nós tem, pois, o seu fluido próprio, que o envolve e acompanha em todos os movimentos, como a atmosfera acompanha cada planeta. É muito variável a extensão da irradiação dessas atmosferas individuais. Achando-se o Espírito em estado de absoluto repouso, pode essa irradiação ficar circunscrita nos limites de alguns passos; mas, atuando a vontade, pode alcançar distâncias infinitas. A vontade como que dilata o fluido, do mesmo modo que o calor dilata os gases. As diferentes atmosferas individuais se entrecruzam e misturam, sem jamais se confundirem, exatamente como as ondas sonoras que se conservam distintas, a despeito da imensidade de sons que simultaneamente abalam o ar. Pode-se, por conseguinte, dizer que cada indivíduo é centro de uma onda fluídica, cuja extensão se acha em relação com a força da vontade, do mesmo modo que cada ponto vibrante é centro de uma onda sonora, cuja extensão está na razão propulsora do fluido, como o choque é a causa de vibração do ar e propulsora das ondas sonoras.

Das qualidades peculiares a cada fluido resulta uma espécie de harmonia ou desacordo entre eles, uma tendência a se unirem ou evitarem, uma atração ou repulsão, numa palavra: as simpatias ou antipatias que se experimentam, muitas vezes sem manifestas causas determinantes. Se nos colocamos na esfera de atividade de um indivíduo, a sua presença não raro se nos revela pela impressão agradável ou desagradável que nos produz o seu fluido. Se estamos entre pessoas de cujos sentimentos não partilhamos, cujos fluidos não se harmonizam com os nossos, penosa reação entra a oprimir-nos e sentimo-nos ali como nota dissonante num concerto! Se, ao contrário, muitos indivíduos se acham reunidos em comunhão de vistas e de intenções, os sentimentos de cada um se exaltam na proporção mesma da massa das forças atuantes. Quem não conhece a força de arrastamento que domina as aglomerações onde há homogeneidade de pensamentos e de vontades? Ninguém pode imaginar a quantas influências estamos assim submetidos, à nossa revelia.

Não podem essas influências ser a causa determinante de certas ideias, dessas ideias que em dado momento se nos tornam comuns e a outras pessoas, desses pressentimentos que nos levam a dizer: paira alguma coisa no ar, pressagiando tal ou tal acontecimento? Enfim, certas sensações indefiníveis de bem-estar ou de mal-estar moral, de alegria ou tristeza, não serão efeitos da reação do meio fluídico em que nos encontramos, dos eflúvios simpáticos ou antipáticos que recebemos e que nos envolvem como as emanações de um corpo odorífico? Não podemos pronunciar-nos afirmativamente, de modo absoluto, sobre essas questões, mas é forçoso convir, pelo menos, em que a teoria do fluido cósmico, individualizado em cada ser sob o nome de fluido perispirítico, abre um campo inteiramente novo para a solução de uma imensidade de problemas até agora insolúveis. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Introdução ao estudo da fotografia e da telegrafia do pensamento – p. 132-134)

Em seu movimento de translação, cada um de nós leva consigo a sua atmosfera fluídica, como o caracol leva a sua concha; esse fluido, porém, deixa vestígios da sua passagem; deixa um como sulco luminoso, inacessível aos nossos sentidos, no estado de vigília, mas que serve para que os sonâmbulos, os videntes e os Espíritos desencarnados reconstituam os fatos ocorridos e examinem os móveis que os ocasionaram. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Introdução ao estudo da fotografia e da telegrafia do pensamento – p. 134-135)

18. Sendo apenas Espíritos encarnados, os homens têm uma parcela da vida espiritual, visto que vivem dessa vida tanto quanto da vida corporal; primeiramente, durante o sono e, muitas vezes, no estado de vigília. O Espírito, encarnado, conserva, com as qualidades que lhe são próprias, o seu perispírito que, como se sabe, não fica circunscrito pelo corpo, mas irradia ao seu derredor e o envolve como que de uma atmosfera fluídica.

Pela sua união íntima com o corpo, o perispírito desempenha preponderante papel no organismo. Pela sua expansão, põe o Espírito encarnado em relação mais direta com os Espíritos livres e também com os Espíritos encarnados.

O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito pelas mesmas vias e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes.

Desde que estes se modificam pela projeção dos pensamentos do Espírito, seu invólucro perispirítico, que é parte constituinte do seu ser e que recebe de modo direto e permanente a impressão de seus pensamentos, há de, ainda mais, guardar a de suas qualidades boas ou más. Os fluidos viciados pelos eflúvios dos maus Espíritos podem depurar-se pelo afastamento destes, cujos perispíritos, porém, serão sempre os mesmos, enquanto o Espírito não se modificar por si próprio.

Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta, quanto, por sua expansão e sua irradiação, o períspirito com eles se confunde.

Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu turno, reage sobre o organismo material com que se acha em contato molecular. Se os eflúvios são de boa natureza, o corpo ressente uma impressão salutar; se são maus, a impressão é penosa. Se são permanentes e enérgicos, os eflúvios maus podem ocasionar desordens físicas; não é outra a causa de certas enfermidades.

Os meios onde superabundam os maus Espíritos são, pois, impregnados de maus fluidos que o encarnado absorve pelos poros perispiríticos, como absorve pelos poros do corpo os miasmas pestilenciais. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 253-254)

1.2 DAS FACULDADES DO ESPÍRITO

754. A crueldade não derivará da carência de senso moral?

“Dize — da falta de desenvolvimento do senso moral; não digas da carência, porquanto o senso moral existe, como princípio, em todos os homens. É esse senso moral que dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos. Ele, pois, existe no selvagem, mas como o princípio do perfume no germe da flor que ainda não desabrochou.”

Nota – Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem. Desenvolvem-se, conforme lhes sejam mais ou menos favoráveis as circunstâncias. O desenvolvimento excessivo de umas detém ou neutraliza o das outras. A sobre-excitação dos instintos materiais abafa, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do senso moral enfraquece pouco a pouco as faculdades puramente animais. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 341-342)

No ato da reencarnação, as faculdades do Espírito não ficam apenas entorpecidas por uma espécie de sono momentâneo, conforme se dá quando do regresso à vida espiritual; todas, sem exceção, passam ao estado de latência. A vida corpórea tem por fim desenvolvê-las mediante o exercício, mas nem todas se podem desenvolver simultaneamente, porque o exercício de uma poderia prejudicar o de outra, ao passo que, por meio do desenvolvimento sucessivo, umas se firmam nas outras. Convém, pois, que algumas fiquem em repouso, enquanto outras aumentam. Esta a razão por que, na sua nova existência, pode o Espírito apresentar-se sob aspecto muito diferente, sobretudo se pouco adiantado for, do que tinha na existência precedente.

Num, a faculdade musical, por exemplo, será mais ativa; ele conceberá, perceberá e, portanto, fará tudo o que for necessário ao desenvolvimento dessa faculdade; noutra existência, tocará a vez à pintura, às ciências exatas, à poesia, etc. Enquanto estas novas faculdades se exercitarem, a da música estará latente, mas conservando o progresso que realizou. Resulta daí que quem foi artista numa existência, poderá ser um sábio, um homem de estado, ou um estrategista noutra, sendo nulo do ponto de vista artístico e reciprocamente. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Morte Espiritual – p. 249-250)

Todas as faculdades, todas as aptidões se encontram em gérmen no Espírito, desde a sua criação, mas em estado rudimentar, como todos os órgãos no primeiro filete do feto informe, como todas as partes da árvore na semente. O selvagem que mais tarde se tornará homem civilizado possui, pois, em si os germens que, um dia, farão dele um sábio, um grande artista, ou um grande filósofo.

À medida que esses germens chegam à maturidade, a Providência lhes dá, para a vida terrestre, um corpo apropriado às suas novas aptidões. É assim que o cérebro de um europeu é organizado de modo mais completo, provido de maior número de teclas, do que o do selvagem. Para a vida espiritual, dá-lhes um corpo fluídico, ou perispírito, mais sutil e impressionável por novas sensações. À proporção que o Espírito se engrandece, a natureza o provê dos instrumentos que lhe são necessários. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Morte Espiritual – p. 252)

772. Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas, desde a mais remota antiguidade?

“Perguntai, antes, a vós mesmos se a palavra é faculdade natural e por que Deus a concedeu ao homem. Deus condena o abuso e não o uso das faculdades que lhe outorgou. Entretanto, o silêncio é útil, pois no silêncio pões em prática o recolhimento; teu espírito se torna mais livre e pode entrar em comunicação conosco. O voto de silêncio, porém, é uma tolice. Sem dúvida obedecem a boa intenção os que consideram essas privações como atos de virtude. Enganam-se, no entanto, porque não compreendem suficientemente as verdadeiras leis de Deus.”

Nota – O voto de silêncio absoluto, do mesmo modo que o voto de insulamento, priva o homem das relações sociais que lhe podem facultar ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VII – p. 348-349)

792. Por que não efetua a civilização, imediatamente, todo o bem que poderia produzir?

“Porque os homens ainda não estão aptos nem dispostos a alcançá-lo.”

a) Não será também porque, criando novas necessidades, suscita paixões novas?

“É, e ainda porque não progridem simultaneamente todas as faculdades do Espírito. Tempo é preciso para tudo. De uma civilização incompleta não podeis esperar frutos perfeitos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 358)

805. Passando de um mundo superior a outro inferior, conserva o Espírito, integralmente, as faculdades adquiridas?

“Sim, já temos dito que o Espírito que progrediu não retrocede. Poderá escolher, no estado de Espírito livre, um invólucro mais grosseiro, ou uma posição mais precária do que as que já teve, porém tudo isso para lhe servir de ensinamento e ajudá-lo a progredir.”

Nota – Assim, a diversidade das aptidões entre os homens não deriva da natureza íntima da sua criação, mas do grau de aperfeiçoamento a que tenham chegado os Espíritos encarnados neles. Deus, portanto, não criou faculdades desiguais; permitiu, porém, que os Espíritos em graus diversos de desenvolvimento estivessem em contato, para que os mais adiantados pudessem auxiliar o progresso dos mais atrasados e também para que os homens, necessitando uns dos outros, compreendessem a lei de caridade que os deve unir. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 364)

    1.        DA MEDIUNIDADE

MÉDIUM – do lat. medium, meio, intermediário. Pessoa acessível à influência dos Espíritos e mais ou menos dotada da faculdade de receber e transmitir suas comunicações. Para os Espíritos o médium é um intermediário; é um agente ou instrumento mais ou menos cômodo, conforme a natureza ou o grau da faculdade mediatriz. Essa faculdade é devida a uma disposição orgânica especial, suscetível de desenvolvimento. Distinguem-se diversas variedades de médiuns, conforme sua aptidão particular para este ou aquele modo de transmissão, ou tal ou qual gênero de comunicação.

Médiuns de influência física, os que têm o poder de provocar manifestações ostensivas. Compreendem as seguintes variedades:

médiuns motores, que provocam movimento e deslocamento de objetos;

médiuns tiptólogos, os que provocam ruídos e golpes vibrados;

médiuns de aparição, os que provocam aparições.

Entre os médiuns de influência física distinguem-se: os médiuns facultativos, isto é, que têm o poder de provocar os fenômenos por um ato da vontade, e os médiuns naturais, os que produzem espontaneamente e sem qualquer participação da vontade.

Médiuns de influência moral, os que são mais especialmente aptos a receber e transmitir as comunicações inteligentes. Conforme sua aptidão especial, distinguem-se em:

médiuns de pressentimentos, pessoas que, em certas circunstâncias, têm uma vaga intuição das coisas futuras;

médiuns desenhistas, os que desenham sob a influência dos Espíritos;

médiuns escreventes ou psicógrafos, os que têm a faculdade de escrever sob a influência dos Espíritos.

médiuns excitadores, os que têm o poder de desenvolver nos outros, pela sua vontade, a faculdade de escrever, sejam ou não médiuns escreventes;

médiuns falantes ou parlantes, os que transmitem pela palavra falada o que os psicógrafos transmitem pela escrita;

médiuns inspirados, as pessoas que, em estado normal ou em êxtase, recebem pelo pensamento comunicações ocultas, estranhas às suas ideias;

médiuns musicistas, os que escrevem música ou a executam sob a influência dos Espíritos;

médiuns pneumatógrafos, os que têm a faculdade de obter a escrita direta dos Espíritos.

médiuns sensitivos ou impressíveis, são as pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma vaga impressão de que não se podem dar conta. Essa variedade não tem um caráter bem definido. Todos os médiuns são necessariamente impressíveis. A impressionabilidade é, assim, antes uma qualidade geral que especial. É: a faculdade rudimentar indispensável ao desenvolvimento de todas as outras. Difere da impressionabilidade puramente física e nervosa, com a qual não deve ser confundida;

médiuns videntes, são as pessoas que têm a faculdade da segunda vista, ou de ver os Espíritos. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 23-24)

159. Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. É de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos desta ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades quantas são as espécies de manifestações. As principais são: a dos médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou impressionáveis; a dos audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes ou psicógrafos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIV – p. 171)

Toda pessoa que, num grau qualquer, experimente a influência dos Espíritos é, por esse simples fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem e, por conseguinte, não constitui privilégio exclusivo, donde se segue que poucos são os que não possuam um rudimento de tal faculdade. Pode-se, pois, dizer que toda gente, mais ou menos, é médium. Contudo, segundo o uso, esse qualificativo só se aplica àqueles em quem a faculdade mediúnica se manifesta por efeitos ostensivos, de certa intensidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 71)

Toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por isso mesmo, médium. Essa faculdade é inerente ao homem e, consequentemente, não é privilégio exclusivo; assim, poucos há nos quais não seja ela encontrada, embora em forma rudimentar. Pode, pois, dizer-se que todo o mundo é mais ou menos médium. Contudo, em geral essa qualificação só se aplica às pessoas nas quais a faculdade mediatriz esteja claramente caracterizada e se traduza por efeitos patentes de uma certa intensidade, o que, então, depende de uma organização mais ou menos sensitiva. Além disso, é de notar-se que essa faculdade não se revela em todos do mesmo modo: geralmente os médiuns têm uma aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que determina tantas variedades quantas as espécies de manifestações. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo V – p. 64)

Entre as diferentes espécies de médiuns, distinguem-se principalmente: os de efeitos físicos; os sensitivos ou impressivos; os audientes, falantes, videntes, inspirados, sonambúlicos, curadores, escreventes ou psicógrafos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos Médiuns – p. 73-74)

10. Os Espíritos podem se manifestar de maneiras bem diferentes: pela visão, pela audição, pelo toque, pelos ruídos, pelos movimentos dos corpos, pela escrita, pelo desenho, pela música, etc. Eles se manifestam por intermédio de pessoas dotadas de uma aptidão especial para cada gênero de manifestação e que se distinguem sob o nome de médiuns. É assim que se distinguem os médiuns videntes, falantes, audientes, sensitivos, de efeitos físicos, desenhistas, tiptólogos, escreventes, etc. Entre os médiuns escreventes, há numerosas variedades, segundo a natureza das comunicações que estão aptos a receber. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestação dos Espíritos – p. 10)

236. […]

“Primeiramente, entendamo-nos bem acerca dos fatos. Que é um médium? É o ser, é o indivíduo que serve de traço de união aos Espíritos, para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens: Espíritos encarnados. Por conseguinte, sem médium, não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer natureza que seja”. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXII – p. 253)

49. […]

8º Todos os Espíritos, em dadas circunstâncias, podem manifestar-se aos homens; indefinido é o número dos que podem comunicar-se;

9º Os Espíritos se comunicam por médiuns, que lhes servem de instrumentos e intérpretes; (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo IV – p. 57)

Para conhecer as coisas do mundo visível e descobrir os segredos da Natureza material, outorgou Deus ao homem a vista corpórea, os sentidos e instrumentos especiais. Com o telescópio, ele mergulha o olhar nas profundezas do espaço, e, com o microscópio, descobriu o mundo dos infinitamente pequenos. Para penetrar no mundo invisível, deu-lhe a mediunidade.

Os médiuns são os intérpretes incumbidos de transmitir aos homens os ensinos dos Espíritos; ou, melhor, são os órgãos materiais de que se servem os Espíritos para se expressarem aos homens por maneira inteligível. Santa é a missão que desempenham, visto ter por fim rasgar os horizontes da vida eterna.

Os Espíritos vêm instruir o homem sobre seus destinos, a fim de o reconduzirem à senda do bem, e não para o pouparem ao trabalho material que lhe cumpre executar neste mundo, tendo por meta o seu adiantamento, nem para lhe favorecerem a ambição e a cupidez. Aí têm os médiuns o de que devem compenetrar-se bem, para não fazer mau uso de suas faculdades. Aquele que, médium, compreende a gravidade do mandato de que se acha investido, religiosamente o desempenha. Sua consciência lhe profligaria, como ato sacrílego, utilizar por divertimento e distração, para si ou para os outros, faculdades que lhe são concedidas para fins sobremaneira sérios e que o põem em comunicação com os seres de além-túmulo.

Como intérpretes do ensino dos Espíritos, têm os médiuns de desempenhar importante papel na transformação moral que se opera. Os serviços que podem prestar guardam proporção com a boa diretriz que imprimam às suas faculdades, porquanto os que enveredam por mau caminho são mais nocivos do que úteis à causa do Espiritismo. Pela má impressão que produzem, mais de uma conversão retardam. Terão, por isso mesmo, de dar contas do uso que hajam feito de um dom que lhes foi concedido para o bem de seus semelhantes.

O médium que queira gozar sempre da assistência dos bons Espíritos tem de trabalhar por melhorar-se. O que deseja que a sua faculdade se desenvolva e engrandeça tem de se engrandecer moralmente e de se abster de tudo o que possa concorrer para desviá-la do seu fim providencial. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 335-336)

5. Resta agora a questão de saber se o Espírito pode comunicar-se com o homem, isto é, se pode com este trocar ideias. Por que não? Que é o homem senão um Espírito aprisionado num corpo? Por que não há de o Espírito livre se comunicar com o Espírito cativo, como o homem livre com o encarcerado? (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo I – p. 21)

Médiuns são pessoas aptas a sentir a influência dos Espíritos e a transmitir os pensamentos destes. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 71)

Nem sempre é necessária a intervenção da vontade do médium. O Espírito que quer manifestar-se procura o indivíduo apto a receber-lhe a impressão e dele se serve, muitas vezes a seu mau grado. Outras pessoas, ao contrário, conscientes de suas faculdades, podem provocar certas manifestações. Daí duas categorias de médiuns: médiuns inconscientes e médiuns facultativos.

No caso dos primeiros, a iniciativa é dos Espíritos; no segundo, é dos médiuns. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 73)

Os médiuns facultativos só se encontram entre pessoas que têm conhecimento mais ou menos completo dos meios de comunicação com os Espíritos, o que lhes possibilita servir-se, por vontade própria, de suas faculdades; os médiuns inconscientes, ao contrário, existem entre as que nenhuma ideia fazem do Espiritismo, nem dos Espíritos, até mesmo entre as mais incrédulas e que servem de instrumento, sem o saberem e sem o quererem. Os fenômenos espíritas de todos os gêneros podem operar-se por influência destes últimos, que sempre existiram, em todas as épocas e no seio de todos os povos. A ignorância e a credulidade lhes atribuíram um poder sobrenatural e, conforme os tempos e os lugares, fizeram deles santos, feiticeiros, loucos ou visionários. O Espiritismo mostra que com eles apenas se dá a manifestação espontânea de uma faculdade natural. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 73)

Médiuns facultativos são os que têm consciência de seu poder e produzem fenômenos espíritas por um ato da própria vontade. Tal faculdade, posto que inerente à espécie humana, como já ficou dito, está longe de encontrar-se em todos no mesmo grau. Mas se há poucas pessoas nas quais ela seja absolutamente nula, as que são aptas a produzir grandes efeitos, tais como a suspensão dos corpos no espaço, a translação aérea e sobretudo as aparições são ainda mais raras. Os mais simples efeitos são os de rotação dos objetos, os golpes vibrados pelo levantamento de um objeto ou na sua própria substância. Sem ligar uma importância capital a tais fenômenos, aconselhamos a que não sejam negligenciados: eles podem dar lugar a observações interessantes e ajudar a convicção. É de notar-se, porém, que a faculdade de produzir efeitos materiais existe raramente nos que possuem mais perfeitos meios de comunicação, tais como, por exemplo, a escrita e a palavra. Geralmente ela diminui num sentido à medida que se desenvolve num outro. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo V – p. 67)

As manifestações espontâneas se produzem muito raramente em lugares isolados. É quase sempre em casas habitadas que elas ocorrem, isto pelo fato da presença de certas pessoas que, mau grado seu, exercem uma certa influência. Tais pessoas são verdadeiros médiuns que ignoram suas próprias faculdades e que, por isso, os chamamos médiuns naturais. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo II – p. 49)

Os médiuns de influência física são os que têm uma aptidão mais especial para a produção dos fenômenos materiais. É nessa classe que se encontram principalmente os médiuns naturais, isto é, os médiuns cuja influência se exerce mau grado seu. Não têm nenhuma consciência de seu poder e frequentemente aquilo que se passa de anormal em seu redor de modo algum lhes parece extraordinário. Isto faz parte deles mesmos, absolutamente como as pessoas dotadas de segunda vista e que não o suspeitam. Estas criaturas são muito dignas de observação e não se deve negligenciar a colheita e o estudo dos fatos desse gênero, que podem vir ao nosso conhecimento. Eles se manifestam em todas as idades, muitas vezes, até, em crianças de muito tenra idade. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo V – p. 64)

Quando uma tal faculdade se desenvolve espontaneamente numa pessoa, deve deixar-se que o fenômeno siga o seu curso natural: a natureza é mais sábia que os homens; aliás a Providência tem seus pontos de vista e o mais humilde pode ser instrumento de grandes desígnios. Deve-se, porém, convir que o fenômeno por vezes adquire proporções fatigantes e importunas para todos. Ora, eis aqui, em todo caso, o que se deve fazer.

Partindo do princípio que as manifestações físicas espontâneas têm o objetivo de chamar a nossa atenção para qualquer coisa, é preciso procurar conhecer tal objetivo, para o que se deve interrogar o Ser invisível que deseja comunicar-se. A respeito demos uma explicação no capítulo das manifestações. Pode ele querer algo para si mesmo ou para a pessoa a quem se manifesta. Num caso, como no outro, é provável, conforme já dissemos, que se for atendido cessem as visitas. Aliás, eis um outro meio, como o precedente, baseado na observação dos fatos. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo V – p. 65-66)

O fluido perispirítico é o agente de todos os fenômenos espíritas, que só se podem produzir pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito. O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansiva do perispírito do médium e da maior ou menor facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos; depende, portanto, do organismo e pode ser desenvolvida quando exista o princípio; não pode, porém, ser adquirida quando o princípio não exista. A predisposição mediúnica independe do sexo, da idade e do temperamento. Há médiuns em todas as categorias de indivíduos, desde a mais tenra idade, até a mais avançada. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos Médiuns – p. 71)

As relações entre os Espíritos e os médiuns se estabelecem por meio dos respectivos perispíritos, dependendo a facilidade dessas relações do grau de afinidade existente entre os dois fluidos. Alguns há que se combinam facilmente, enquanto outros se repelem, donde se segue que não basta ser médium para que uma pessoa se comunique indistintamente com todos os Espíritos. Há médiuns que só com certos Espíritos podem comunicar-se ou com Espíritos de certas categorias, e outros que não o podem a não ser pela transmissão do pensamento, sem qualquer manifestação exterior. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos Médiuns – p. 72)

34. A facilidade das comunicações depende do grau de afinidade que existe entre os fluidos do médium e do Espírito. Cada médium está, assim, mais ou menos apto para receber a impressão ou impulso do pensamento de tal ou tal Espírito; ele pode ser um bom instrumento para um e mau para um outro. Disso resulta que, dois médiuns igualmente bem dotados, estando um ao lado do outro, um Espírito poderá se manifestar por um e não pelo outro.

É, pois, um erro crer que basta ser médium para receber com igual facilidade as comunicações de todo Espírito. Não existem médiuns universais. Os Espíritos procuram, de preferência, os instrumentos que vibrem em uníssono com eles.

Sem a harmonia, que só a assimilação fluídica pode proporcionar, as comunicações são impossíveis, incompletas ou falsas. Podem ser falsas porque, à falta do Espírito desejado, não faltam outros, prontos para aproveitarem a ocasião de se manifestarem e que pouco se importam em dizer a verdade. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Médiuns – p. 18)

Para compreender o papel do médium nas manifestações é preciso que nos demos conta da maneira por que se opera a transmissão do pensamento dos Espíritos. Falamos aqui dos médiuns escreventes.

Como dissemos, o Espírito possui um envoltório semimaterial chamado perispírito. O fluido condensado, por assim dizer, em redor do Espírito, para formar esse envoltório é o intermediário por meio do qual aquele age sobre o corpo; é o agente de sua força material; é por ele que se produzem os fenômenos físicos.

[…] O Espírito pode, pois, exprimir diretamente o seu pensamento pelo movimento de um objeto, do qual a mão do médium serve de ponto de apoio. Pode-o até sem que tal objeto esteja em contato com o médium.

A transmissão do pensamento também se dá por meio do Espírito do médium, ou melhor, por meio de sua alma, porque sob este nome designamos o Espírito encarnado. Neste caso o Espírito estranho não age sobre a mão, fazendo-a escrever como no caso da cesta; ele não a domina, não a guia: age sobre a alma, com a qual se identifica. Sob esse impulso, a alma dirige a mão por meio do fluido que constitui o seu perispírito. A mão dirige a cesta, a cesta dirige o lápis. Notemos aqui – e isto é Importante – que o Espírito estranho não se substitui à alma, pois não poderia deslocá-la: ele a domina, mau grado seu e lhe imprime a sua vontade. Quando dizemos mau grado seu, queremos falar da alma agindo exteriormente pelos órgãos do corpo. Mas a alma, como Espírito que é, mesmo encarnado, pode perfeitamente ter consciência da ação exercida sobre si mesma por um Espírito estranho. O papel da alma em tal circunstância é, por vezes, inteiramente passivo, e, então, o médium nenhuma consciência tem do que escreve ou do que diz, caso seja um médium falante. Mas às vezes, a passividade não é absoluta: então há uma consciência mais ou menos vaga, posto sua mão seja arrastada por um movimento maquinal ao qual fique estranha a sua vontade. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo VI – p. 72-73)

[…] tirantes raras exceções, o médium transmite o pensamento dos Espíritos pelos meios mecânicos à sua disposição e que a expressão desse pensamento pode, e, mesmo, deve, na maioria dos casos, ressentir-se da imperfeição desses meios. Assim, o homem inculto, o campônio, poderá dizer as mais belas coisas, exprimir os mais elevados pensamentos, os mais filosóficos, falando como um camponês. Para os Espíritos o pensamento é tudo, a forma, nada. Isto responde à objeção de certos críticos, relativamente às incorreções de estilo e de ortografia, que podem ser notadas, e que tanto podem vir do médium quanto do Espírito. Seria futilidade agarrar-se a semelhantes coisas. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo VI – p. 74)

Podem os Espíritos manifestar-se de uma infinidade de maneiras, mas não o podem senão com a condição de acharem uma pessoa apta a receber e transmitir impressões deste ou daquele gênero, segundo as aptidões que possua. Ora, como não há nenhuma que possua no mesmo grau todas as aptidões, resulta que umas obtêm efeitos que a outras são impossíveis. Dessa diversidade de aptidões decorre que há diferentes espécies de médiuns. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 72)

236. […]

Há um princípio que, estou certo, todos os espíritas admitem, é que os semelhantes atuam com seus semelhantes e como seus semelhantes. Ora, quais são os semelhantes dos Espíritos senão os Espíritos, encarnados ou não? Será preciso que vo-lo repitamos incessantemente? Pois bem! Repeti-lo-ei ainda: o vosso perispírito e o nosso procedem do mesmo meio, são de natureza idêntica, são, numa palavra, semelhantes. Possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de magnetização mais ou menos vigorosa, que nos permite a nós, Espíritos desencarnados e encarnados, pormo-nos muito pronta e facilmente em comunicação. Enfim, o que é peculiar aos médiuns, o que é da essência mesma da individualidade deles, é uma afinidade especial e, ao mesmo tempo, uma força de expansão particular, que lhes suprimem toda refratariedade e estabelecem, entre eles e nós, uma espécie de corrente, uma espécie de fusão, que nos facilita as comunicações. É, em suma, essa refratariedade da matéria que se opõe ao desenvolvimento da mediunidade, na maior parte dos que não são médiuns. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXII – p. 253)

A cesta ou a prancheta só podem ser postas em movimento debaixo da influência de certas pessoas, dotadas, para isso, de um poder especial, as quais se designam pelo nome de médiuns, isto é — meios ou intermediários entre os Espíritos e os homens. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução IV – p. 21)

203. […] Para que um Espírito possa comunicar-se, preciso é que haja entre ele e o médium relações fluídicas, que nem sempre se estabelecem instantaneamente. Só à medida que a faculdade se desenvolve, é que o médium adquire pouco a pouco a aptidão necessária para pôr-se em comunicação com o Espírito que se apresente. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XVII – p. 208)

223. […]

6ª O Espírito que se comunica por um médium transmite diretamente seu pensamento ou este tem por intermediário o Espírito encarnado no médium?

“O Espírito do médium é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve para falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se comunicam, como é preciso um fio elétrico para comunicar a grande distância uma notícia e, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente, que a receba e transmita.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIX – p. 228-229)

223. […]

7ª O Espírito encarnado no médium exerce alguma influência sobre as comunicações que deva transmitir, provindas de outros Espíritos?

“Exerce, porquanto, se estes não lhe são simpáticos, pode ele alterar-lhes as respostas e assimilá-las às suas próprias ideias e a seus pendores; não influencia, porém, os próprios Espíritos, autores das respostas; constitui-se apenas em mau intérprete.”

8ª Será essa a causa da preferência dos Espíritos por certos médiuns?

“Não há outra. Os Espíritos procuram o intérprete que mais simpatize com eles e que lhes exprima com mais exatidão os pensamentos. Não havendo entre eles simpatia, o Espírito do médium é um antagonista que oferece certa resistência e se torna um intérprete de má qualidade e muitas vezes infiel. É o que se dá entre vós, quando a opinião de um sábio é transmitida por intermédio de um estonteado ou de uma pessoa de má-fé.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIX – p. 229)

10. Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos; suprem, nestes últimos, a falta de órgãos materiais pelos quais transmitam suas instruções. Daí vem o serem dotados de faculdades para esse efeito. Nos tempos atuais, de renovação social, cabe-lhes uma missão especialíssima; são árvores destinadas a fornecer alimento espiritual a seus irmãos; multiplicam-se em número, para que abunde o alimento; há-os por toda a parte, em todos os países, em todas as classes da sociedade, entre os ricos e os pobres, entre os grandes e os pequenos, a fim de que em nenhum ponto faltem e a fim de ficar demonstrado aos homens que todos são chamados. Se, porém, eles desviam do objetivo providencial a preciosa faculdade que lhes foi concedida, se a empregam em coisas fúteis ou prejudiciais, se a põem a serviço dos interesses mundanos, se em vez de frutos sazonados dão maus frutos, se se recusam a utilizá-la em benefício dos outros, se nenhum proveito tiram dela para si mesmos, melhorando-se, são quais a figueira estéril. Deus lhes retirará um dom que se tornou inútil neles: a semente que não sabem fazer que frutifique, e consentirá que se tornem presas dos Espíritos maus. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIX – p. 257)

7. Os médiuns atuais — pois que também os apóstolos tinham mediunidade — igualmente receberam de Deus um dom gratuito: o de serem intérpretes dos Espíritos, para instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los à fé, não para lhes vender palavras que não lhes pertencem, a eles médiuns, visto que não são fruto de suas concepções, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais. Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado e possa dizer: não tenho fé, porque não a pude pagar; não tive o consolo de receber os encorajamentos e os testemunhos de afeição dos que pranteio, porque sou pobre. Tal a razão por que a mediunidade não constitui privilégio e se encontra por toda parte. Fazê-la paga seria, pois, desviá-la do seu providencial objetivo. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVI – p. 307)

9. A par da questão moral, apresenta-se uma consideração efetiva não menos importante, que entende com a natureza mesma da faculdade. A mediunidade séria não pode ser e não o será nunca uma profissão, não só porque se desacreditaria moralmente, identificada para logo com a dos ledores da boa sorte, como também porque um obstáculo a isso se opõe. É que se trata de uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e mutável, com cuja perenidade, pois, ninguém pode contar. Constituiria, portanto, para o explorador, uma fonte absolutamente incerta de receitas, de natureza a poder faltar-lhe no momento exato em que mais necessária lhe fosse. Coisa diversa é o talento adquirido pelo estudo, pelo trabalho e que, por essa razão mesma, representa uma propriedade da qual naturalmente lícito é, ao seu possuidor, tirar partido. A mediunidade, porém, não é uma arte, nem um talento, pelo que não pode tornar-se uma profissão. Ela não existe sem o concurso dos Espíritos; faltando estes, já não há mediunidade. Pode subsistir a aptidão, mas o seu exercício se anula. Daí vem não haver no mundo um único médium capaz de garantir a obtenção de qualquer fenômeno espírita em dado instante. Explorar alguém a mediunidade é, conseguintemente, dispor de uma coisa da qual não é realmente dono. Afirmar o contrário é enganar a quem paga. Há mais: não é de si próprio que o explorador dispõe; é do concurso dos Espíritos, das almas dos mortos, que ele põe a preço de moeda. Essa ideia causa instintiva repugnância. Foi esse tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, pela credulidade e pela superstição que motivou a proibição de Moisés. O moderno Espiritismo, compreendendo o lado sério da questão, pelo descrédito a que lançou essa exploração, elevou a mediunidade à categoria de missão. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVI – p. 308-309)

37. A mediunidade é uma faculdade essencialmente móvel e fugidia, pela razão de estar subordinada à vontade dos Espíritos; por isso é que está sujeita a intermitências. Esse motivo, e o princípio mesmo segundo o qual se estabelece a comunicação, são os obstáculos a que se torne uma profissão lucrativa, uma vez que não poderia ser nem permanente, nem aplicável a todos os Espíritos e porque poderia faltar no momento em que dela se tivesse necessidade. Aliás, não é racional admitir que os Espíritos sérios se coloquem à disposição da primeira pessoa que os queira explorar. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Médiuns – p. 19)

223. […]

19ª […]

A mediunidade propriamente dita independe da inteligência, bem como das qualidades morais. Em falta de instrumento melhor, pode o Espírito servir-se daquele que tem à mão. Porém, é natural que, para as comunicações de certa ordem, prefira o médium que lhe ofereça menos obstáculos materiais. Acresce outra consideração: o idiota muitas vezes só o é pela imperfeição de seus órgãos, podendo, entretanto, seu Espírito ser mais adiantado do que o julguem. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIX – p. 231-232)

Digamos, antes de tudo, que a mediunidade é inerente a uma disposição orgânica, de que qualquer homem pode ser dotado, como da de ver, de ouvir, de falar. Ora, nenhuma há de que o homem, por efeito do seu livre-arbítrio, não possa abusar, e se Deus não houvesse concedido, por exemplo, a palavra senão aos incapazes de proferirem coisas más, maior seria o número dos mudos do que o dos que falam. Deus outorgou faculdades ao homem e lhe dá a liberdade de usá-las, mas não deixa de punir o que delas abusa.

Se só aos mais dignos fosse concedida a faculdade de comunicar com os Espíritos, quem ousaria pretendê-la? Onde, ademais, o limite entre a dignidade e a indignidade? A mediunidade é conferida sem distinção, a fim de que os Espíritos possam trazer a luz a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, ao pobre como ao rico; aos retos, para os fortificar no bem, aos viciosos para os corrigir. Não são estes últimos os doentes que necessitam de médico? Por que Deus, que não quer a morte do pecador, o privaria do socorro que o pode arrancar ao lameiro? Os bons Espíritos lhe vêm em auxílio e seus conselhos, dados diretamente, são de natureza a impressioná-lo de modo mais vivo, do que se os recebesse indiretamente. Deus, em sua bondade, para lhe poupar o trabalho de ir buscá-la longe, nas mãos lhe coloca a luz. Não será ele bem mais culpado, se não a quiser ver? Poderá desculpar-se com a sua ignorância, quando ele mesmo haja escrito com suas mãos, visto com seus próprios olhos, ouvido com seus próprios ouvidos, e pronunciado com a própria boca a sua condenação? Se não aproveitar, será então punido pela perda ou pela perversão da faculdade que lhe fora outorgada e da qual, nesse caso, se aproveitam os maus Espíritos para o obsidiarem e enganarem, sem prejuízo das aflições reais com que Deus castiga os servidores indignos e os corações que o orgulho e o egoísmo endureceram. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXIV – p. 296)

A mediunidade não implica necessariamente relações habituais com os Espíritos superiores. É apenas uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos dúctil aos Espíritos, em geral. O bom médium, pois, não é aquele que comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos e somente deles tem assistência. Unicamente neste sentido é que a excelência das qualidades morais se torna onipotente sobre a mediunidade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXIV – p. 296-297)

36. O que constitui o médium, propriamente dito, é a faculdade; sob esse aspecto, ele pode estar mais ou menos formado, mais ou menos desenvolvido. O que constitui o médium seguro, o que se pode verdadeiramente qualificar de bom médium, é a aplicação da faculdade, a aptidão de servir de intérprete dos bons Espíritos. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Médiuns – p. 18-19)

Pondo de lado o grau da faculdade, as qualidades essenciais de um bom médium são a modéstia, a simpatia e o devotamento. Deve oferecer seu concurso tendo em vista tornar-se útil, e não para satisfazer à sua vaidade; jamais deve tomar partido das comunicações que recebe, pois, de outra forma, poderia fazer crer que nelas põe algo de si, e que tem interesse em defendê-las; deve aceitar a crítica, mesmo solicitá-la, e submetê-la ao parecer da maioria, sem ideias premeditadas; se o que escreve é falso, é mau, detestável, devem dizê-lo sem temor de o magoar, porque ele não é responsável por nada. Eis os médiuns realmente úteis numa reunião e com os quais jamais teremos contrariedade, porque compreendem a Doutrina; os outros não a compreendem ou não a querem compreender. São estes que recebem as melhores comunicações, porque não se deixam dominar por Espíritos orgulhosos; os Espíritos mentirosos os temem, pois se reconhecem impotentes para deles abusar. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 19)

236. […]

“Sabeis que tomamos [os Espíritos desencarnados] ao cérebro do médium os elementos necessários a dar ao nosso pensamento uma forma que vos seja sensível e apreensível; é com o auxílio dos materiais que possui, que o médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXII – p. 256)

224. O Espírito que se quer comunicar compreende, sem dúvida, todas as línguas, pois que as línguas são a expressão do pensamento e é pelo pensamento que o Espírito tem a compreensão de tudo, mas, para exprimir esse pensamento, torna-se-lhe necessário um instrumento, e este é o médium. A alma do médium, que recebe a comunicação de um terceiro, não a pode transmitir senão pelos órgãos de seu corpo. Ora, esses órgãos não podem ter, para uma língua que o médium desconheça, a flexibilidade que apresentam para a que lhe é familiar. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIX – p. 233)

226. 1ª O desenvolvimento da mediunidade guarda relação com o desenvolvimento moral dos médiuns?

“Não; a faculdade propriamente dita se radica no organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as qualidades do médium.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XX – p. 239)

227. Se o médium, do ponto de vista da execução, não passa de um instrumento, exerce, todavia, influência muito grande sob o aspecto moral. Pois que, para se comunicar, o Espírito desencarnado se identifica com o Espírito do médium, esta identificação não se pode verificar senão havendo, entre um e outro, simpatia e, se assim é lícito dizer-se, afinidade. A alma exerce sobre o Espírito livre uma espécie de atração ou de repulsão, conforme o grau da semelhança existente entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os bons, e os maus com os maus, donde se segue que as qualidades morais do médium exercem influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por ele se comunicam. Se o médium é vicioso, em torno dele se vêm grupar os Espíritos inferiores, sempre prontos a tomar o lugar aos bons Espíritos evocados. As qualidades que, de preferência, atraem os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, o amor do próximo, o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões que escravizam o homem à matéria. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XX – p. 242-243)

Encontramos em Bordeaux numerosos e excelentes médiuns em todas as classes, de todos os sexos e idades. Muitos escrevem com grande facilidade e obtêm comunicações de elevado alcance, o que, aliás, os Espíritos nos haviam prevenido antes de nossa partida. Além disso, não se pode senão louvá-los pela solicitude com que prestam seu concurso nas reuniões. Mas o que é ainda melhor é a abnegação de todo o amor-próprio a respeito das comunicações; ninguém se julga privilegiado e intérprete exclusivo da verdade; ninguém procura impor-se, nem impor os Espíritos que os assistem; todos submetem com simplicidade o que obtêm ao julgamento da assembleia e ninguém se ofende, nem se melindra com a crítica; aquele que recebe falsas comunicações consola-se aproveitando as boas que outras obtêm e dos quais não têm ciúmes. Acontece a mesma coisa em toda parte? Ignoramos. Constatamos o que vimos; constatamos, também, que se compenetraram do princípio de que todo médium orgulhoso, ciumento e suscetível não pode ser assistido por bons Espíritos e que nele essas imperfeições são motivo de suspeita. Longe, pois, de procurar tais médiuns, a despeito da eminência de suas faculdades, porquanto se fossem encontrados seriam repelidos por todos os grupos sérios que, antes de tudo, querem ter comunicações sérias, e não visar os efeitos. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1861 – p. 63)

24. […] Diremos simplesmente que não há, para se comunicar com os Espíritos, nem dias, nem horas, nem lugares mais propícios uns do que os outros; que não é preciso para evocá-los, nem fórmulas, nem palavras sacramentais ou cabalísticas; e não há necessidade de nenhuma preparação, de nenhuma iniciação; que o emprego de qualquer sinal ou objeto material, seja para atraí-los, seja para afastá-los, não tem efeito e o pensamento basta; enfim, que os médiuns recebem suas comunicações tão simplesmente e tão naturalmente como se fossem ditadas por uma pessoa viva, sem sair do estado normal. […]

A evocação dos Espíritos se faz em nome de Deus, com respeito e recolhimento; é a única coisa recomendada às pessoas sérias que querem ter relações com Espíritos sérios. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestação dos Espíritos – p. 14)

162. […]

Como se sabe, o sonambulismo natural cessa, geralmente, quando substituído pelo sonambulismo magnético. Não se suprime a faculdade, que tem a alma, de emancipar-se; dá-se-lhe outra diretriz. O mesmo acontece com a faculdade mediúnica. Para isso, em vez de pôr óbices ao fenômeno, coisa que raramente se consegue e que nem sempre deixa de ser perigosa, o que se tem de fazer é concitar o médium a produzi-los à sua vontade, impondo-se ao Espírito. Por esse meio, chega o médium a sobrepujá-lo e, de um dominador às vezes tirânico, faz um ser submisso e, não raro, dócil. Fato digno de nota e que a experiência confirma é que, em tal caso, uma criança tem tanta e, por vezes, mais autoridade que um adulto: mais uma prova a favor deste ponto capital da Doutrina, que o Espírito só é criança pelo corpo; que tem por si mesmo um desenvolvimento necessariamente anterior à sua encarnação atual, desenvolvimento que lhe pode dar ascendente sobre Espíritos que lhe são inferiores.

A moralização de um Espírito, pelos conselhos de uma terceira pessoa influente e experiente, não estando o médium em estado de o fazer, constitui frequentemente meio muito eficaz. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIV – p. 174)

220. […]

3ª […]

Este dom de Deus [mediunidade] não é concedido ao médium para seu deleite e, ainda menos, para satisfação de suas ambições, mas para o fim da sua melhora espiritual e para dar a conhecer aos homens a verdade. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XVII – p. 218)

189. […]

Nota – Os Espíritos insistiram, contra a nossa opinião, em incluir a escrita direta entre os fenômenos de ordem física, pela razão, disseram eles, de que: “Os efeitos inteligentes são aqueles para cuja produção o Espírito se serve dos materiais existentes no cérebro do médium, o que não se dá na escrita direta. A ação do médium é aqui toda material, ao passo que no médium escrevente, ainda que completamente mecânico, o cérebro desempenha sempre um papel ativo.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XVI – p. 195)

193. […]

Quanto aos [médiuns] que têm uma aptidão especial para comunicações científicas, históricas, médicas e outras, fora do alcance de suas especialidades atuais, fica certo de que possuíram, em anterior existência, esses conhecimentos, que permaneceram neles em estado latente, fazendo parte dos materiais cerebrais de que necessita o Espírito que se manifesta; são os elementos que a este abrem caminho para a transmissão de ideias que lhe são próprias, porquanto, em tais médiuns, encontra ele instrumentos mais inteligentes e mais maleáveis do que num ignaro”. Erasto (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XVI – p. 201)

[Espíritos sofredores – Ferdinand Bertin]

[…] os Espíritos não encontram em todas as pessoas as condições fluídicas imprescindíveis à manifestação. Este, [o Espírito] na perturbação em que estava, nem mesmo tinha a liberdade da escolha, sendo conduzido instintiva e atrativamente para este médium, dotado, ao que parece, de aptidão especial para as comunicações deste gênero. Também é de supor que pressentisse uma simpatia particular, como outros a encontraram em idênticas circunstâncias. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 249)

44. Fenômeno muito frequente na mediunidade é a aptidão de certos médiuns para escrever em língua que lhes é estranha; a explanar, oralmente ou por escrito, assuntos que lhes estão fora do alcance da instrução recebida. Não é raro o caso de alguns que escrevem correntemente sem nunca terem aprendido a escrever; de outros que compõem poesias, sem jamais na vida terem sabido fazer um verso; de outros que desenham, pintam, esculpem, compõem música, tocam um instrumento, sem conhecerem desenho, pintura, escultura, ou a arte musical. Ocorre frequentemente o fato de um médium escrevente reproduzir com perfeição a grafia e a assinatura que os Espíritos, que por ele se comunicam, tinham quando vivos, se bem não as haja ele conhecido.

Nada, porém, apresenta esse fenômeno de mais maravilhoso, do que o de se fazer que uma criança escreva, guiando-se-lhe a mão; pode-se, dessa maneira, conseguir que ela execute tudo o que se queira. Pode-se fazer que qualquer pessoa escreva num idioma que ela ignore, ditando-se-lhe as palavras letra por letra. Compreende-se que o mesmo se possa dar com a mediunidade, desde que se atente na maneira por que os Espíritos se comunicam com os médiuns que, para eles, mais não são do que instrumentos passivos. Se, porém, o médium tem o mecanismo, se venceu as dificuldades práticas, se lhe são familiares as expressões, se, finalmente, possui no cérebro os elementos daquilo que o Espírito quer fazê-lo executar, ele se acha na posição do homem que sabe ler e escrever correntemente; o trabalho se torna mais fácil e mais rápido; ao Espírito já não resta senão transmitir seus pensamentos ao intérprete, para que este os reproduza pelos meios de que dispõe.

A aptidão de um médium para coisas que lhe são estranhas também tem frequentemente suas raízes nos conhecimentos que ele possuiu noutra existência e dos quais seu Espírito conservou a intuição. Se, por exemplo, ele foi poeta ou músico, mais facilidade encontrará para assimilar o pensamento poético ou musical que um Espírito queira fazê-lo expressar. A língua que ele hoje ignora pode ter-lhe sido familiar noutra existência, donde maior aptidão sua para escrever mediunicamente nessa língua. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 267-268)

41. Médiuns de efeitos físicos — São os mais aptos, especialmente, à produção de fenômenos materiais, como o movimento de corpos inertes, os ruídos, a deslocação, o levantamento e a translação de objetos, etc. Estes fenômenos podem ser espontâneos ou provocados. Em todos os casos, exigem o concurso voluntário ou involuntário de médiuns dotados de faculdades especiais. Em geral, têm por agentes Espíritos de ordem inferior, uma vez que os Espíritos elevados só se preocupam com comunicações inteligentes e instrutivas. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 74)

Os Espíritos manifestam-se ainda e podem transmitir seus pensamentos por sons articulados, que se fazem ouvir, seja no ar, seja no interior do órgão auditivo, pela voz do médium, pela vista, por desenhos, pela música e por muitos outros meios que um estudo completo torna conhecidos.

Os médiuns possuem, para esses diferentes modos de comunicação, aptidões especiais que dependem de sua organização. Assim, temos médiuns de efeitos físicos, isto é, aptos para produzir fenômenos materiais, como pancadas, movimentos de corpos etc.; há médiuns auditivos, falantes, videntes, desenhadores, músicos, escreventes. Esta última faculdade é a mais comum, a que melhor se desenvolve pelo exercício e também a mais preciosa, por ser a que permite comunicações mais frequentes e rápidas. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo I – p. 76-77)

19. Há pessoas que obtêm regularmente e, de alguma forma, à vontade, a produção de certos fenômenos; mas, há que se anotar que esses são sempre efeitos puramente físicos, mais curiosos do que instrutivos, e que se produzem constantemente em condições análogas. As circunstâncias nas quais são obtidos são de natureza a inspirarem dúvidas, tanto mais legítimas sobre sua realidade quando são geralmente objetos de uma exploração, e, frequentemente, quando é difícil distinguir a mediunidade real da prestidigitação. Os fenômenos desse gênero, entretanto, podem ser o produto de uma mediunidade verdadeira, porque pode ocorrer que Espíritos de baixo estágio, que talvez tinham tido esse ofício, se comprazam nessas espécies de exibições; mas seria absurdo pensar que os Espíritos, por pouca que seja sua elevação, se alegrem em se exibirem.

Isso não infirma em nada o princípio da liberdade dos Espíritos; aqueles que vêm, o fazem porque isso lhes agrada, mas não porque sejam constrangidos, e do momento que não lhes convenha mais vir, se o indivíduo for verdadeiro médium, nenhum efeito se produzirá. Os mais poderosos médiuns, de efeitos físicos ou outros, têm tempos de interrupção, independentemente de sua vontade; os charlatães não os têm jamais.  (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestação dos Espíritos – p. 11-12)

42. Médiuns sensitivos ou impressivos — Dá-se esta denominação às pessoas suscetíveis de pressentir a presença dos Espíritos, por impressão vaga, um como ligeiro atrito em todos os membros, fato que não logram explicar. Tal sutileza pode essa faculdade adquirir, que aquele que a possui reconhece, pela impressão que experimenta, não só a natureza, boa ou má, do Espírito que lhe está ao lado, mas também a sua individualidade, como o cego reconhece instintivamente a aproximação de tal ou tal pessoa. Um Espírito bom causa sempre uma impressão branda e agradável; a de um Espírito mau, ao contrário, é penosa, aflitiva e desagradável: há um como cheiro de impureza. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 74)

43. Médiuns audientes — Esses ouvem os Espíritos; é, algumas vezes, como se escutassem uma voz interna que lhes ressoasse no foro íntimo; doutras vezes é uma voz exterior, clara e distinta, qual a de uma pessoa viva. Os médiuns audientes também podem conversar com os Espíritos. Quando se habituam a comunicar-se com certos Espíritos, eles os reconhecem imediatamente pelo som da voz. Aquele que não é médium audiente pode comunicar-se com um Espírito por via de um médium audiente que lhe transmite as palavras. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 74-75)

44. Médiuns falantes — Os médiuns audientes, que nada mais fazem do que transmitir o que ouvem, não são propriamente médiuns falantes, os quais, as mais das vezes, nada ouvem. Com eles, o Espírito atua sobre os órgãos da palavra, como atuam sobre a mão dos médiuns escreventes. Querendo comunicar-se, o Espírito se serve do órgão que acha mais maleável: de um, utiliza-se da mão, de outro da palavra, de um terceiro da audição. Em geral, o médium falante se exprime sem ter consciência do que diz e diz amiúde coisas inteiramente fora do âmbito de suas ideias habituais, de seus conhecimentos e, até, fora do alcance da sua inteligência. Não é raro verem-se pessoas iletradas e de inteligência vulgar expressar-se, em tais momentos, com verdadeira eloquência e tratar, com incontestável superioridade, de questões sobre as quais seriam incapazes de emitir, no estado ordinário, uma opinião.

Se bem esteja perfeitamente acordado quando exerce a sua faculdade, raro é que o médium falante guarde lembrança do que disse. Nem sempre, porém, é integral a sua passividade. Alguns há que têm intuição do que dizem, no próprio instante em que proferem as palavras. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 75)

PSlCOFONIA – do gr. psuké, alma e phone, som ou voz. Transmissão do pensamento dos Espíritos pela voz do médium falante. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 30)

45. Médiuns videntes — Dá-se esta qualificação às pessoas que, em estado normal e perfeitamente despertas, gozam da faculdade de ver os Espíritos. A possibilidade de vê-los em sonho resulta, sem contestação, de uma espécie de mediunidade, mas não são médiuns videntes, propriamente ditos. Expusemos a teoria deste fenômeno no capítulo: “Visões e Aparições” de O Livro dos Médiuns.

São muito frequentes as aparições dos Espíritos às pessoas que os amaram, ou os conheceram na Terra. Conquanto os que costumam tê-las possam ser considerados médiuns videntes, esta denominação, em regra, só é dada aos que gozam, de modo mais ou menos permanente, da faculdade de ver quase que todos os Espíritos. Nesse número, há os que apenas veem os Espíritos que são evocados e que eles conseguem descrever com minuciosa exatidão. Descrevem-lhes os gestos com todos os pormenores, os traços fisionômicos, o vestuário e até os sentimentos de que parecem animados. Há outros em quem essa faculdade revela caráter ainda mais geral: são os que vêem toda a população espírita ambiente a movimentar-se, como se tratasse, poder-se-ia dizer, de seus negócios. Esses médiuns nunca estão sós; cerca-os sempre uma sociedade a cuja escolha podem proceder, livremente, porquanto podem, pela ação da vontade própria, afastar os Espíritos que lhes não convenha ter próximos de si, ou atrair os que lhes são simpáticos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 76-77)

27ª Pode-se provocar a aparição dos Espíritos?

“Isso algumas vezes é possível, porém muito raramente. A aparição é quase sempre espontânea. Para que alguém veja os Espíritos, precisa ser dotado de uma faculdade especial.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 115)

APARIÇÃO – fenômeno pelo qual os seres do mundo incorpóreo se tornam visíveis.

aparição etérea ou vaporosa – a que é impalpável e insustentável, pois não oferece resistência ao tacto;

aparição tangível ou estereolítica – a que é palpável e apresenta a consistência dos corpos sólidos.

A aparição difere da visão pelo fato de ocorrer em estado de vigília, afetando os órgãos visuais, quando o homem tem plena consciência de suas relações com o mundo exterior. A visão se dá no estado de sono ou de êxtase; também ocorre em vigília, por efeito da segunda vista. A aparição nos chega pelos olhos do corpo; produz-se no próprio lugar onde nos encontramos. A visão tem por objeto coisas ausentes ou afastadas, percebidas pela alma no estado de emancipação e quando as faculdades sensitivas se acham mais ou menos suspensas. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 10)

46. Médiuns sonambúlicos — Pode-se considerar o sonambulismo como uma variedade da faculdade mediúnica ou, antes, são duas ordens de fenômenos que frequentemente se encontram ligados. O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; sua própria alma é que, em momentos de emancipação, vê, ouve e percebe além dos limites dos sentidos. O que ele exprime haure-o de si mesmo; suas ideias são, em geral, mais justas do que no estado normal, mais extensos os seus conhecimentos, porque livre se lhe acha a alma. Em suma, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos. O médium, ao contrário, é instrumento de uma inteligência estranha; é passivo e o que diz não vem do seu próprio eu.

Em resumo: o sonâmbulo externa seus próprios pensamentos e o médium exprime os de outrem. Mas, o Espírito que se comunica com um médium qualquer também pode comunicar-se com um sonambúlico. É até frequente o estado de emancipação da alma, durante o sonambulismo, tornar mais fácil essa comunicação. Muitos sonâmbulos veem perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes; podem conversar com eles e transmitir-nos seus pensamentos; se o que dizem está fora do âmbito de seus conhecimentos pessoais, é que outros Espíritos lho sugerem. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 77)

47. Médiuns inspirados — Nestes médiuns, muito menos aparentes são do que nos outros os sinais exteriores da mediunidade; é toda intelectual e moral a ação que os Espíritos exercem sobre eles e se revela nas menores circunstâncias da vida, como nas maiores concepções. Sobretudo debaixo desse aspecto é que se pode dizer que todos são médiuns, porquanto ninguém há que não tenha Espíritos protetores e familiares a empregar todos os esforços por lhe sugerir salutares ideias. No inspirado, difícil muitas vezes se torna distinguir as ideias que lhe são próprias do que lhe é sugerido. A espontaneidade é principalmente o que caracteriza esta última.

Nos grandes trabalhos da inteligência é onde mais se evidencia a inspiração. Os homens de gênio, de todas as categorias, artistas, sábios, literatos, oradores, são sem dúvida Espíritos adiantados, capazes, por si mesmos, de compreender e conhecer grandes coisas; ora, precisamente porque são considerados capazes, é que os Espíritos que visam à execução de certos trabalhos lhes sugerem as ideias necessárias, de sorte que na maioria dos casos eles são médiuns sem o saberem. Têm, contudo, vaga intuição de uma assistência estranha, porquanto aquele que apela para a inspiração nada mais faz do que uma evocação. Se não esperasse ser atendido, por que exclamaria, como tão amiúde sucede: Meu bom gênio, vem em meu auxílio! (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 77-78)

545. Pode, alguma vez, o general ser guiado por uma espécie de dupla vista, por uma visão intuitiva, que lhe mostre de antemão o resultado de seus planos?

“Isso se dá amiúde com o homem de gênio. É o que ele chama inspiração e o que faz que obre com uma espécie de certeza. Essa inspiração lhe vem dos Espíritos que o dirigem, os quais se aproveitam das faculdades de que o veem dotado.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 265)

48. Médiuns de pressentimentos — Pessoas há que, em dadas circunstâncias, têm uma imprecisa intuição das coisas futuras. Essa intuição pode provir de uma espécie de dupla vista, que faculta se entrevejam as consequências das coisas presentes; mas, doutras vezes, resulta de comunicações ocultas, que fazem de tais pessoas uma variedade dos médiuns inspirados. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 78-79)

49. Médiuns proféticos — É igualmente uma variedade dos médiuns inspirados. Recebem, com a permissão de Deus e com mais precisão do que os médiuns de pressentimentos, a revelação das coisas futuras, de interesse geral, que eles recebem o encargo de tornar conhecidas aos homens, para lhes servir de ensinamento.

De certo modo, o pressentimento é dado à maioria dos homens, para uso pessoal deles; o dom de profecia, ao contrário, é excepcional e implica a ideia de uma missão na Terra.

Todavia, se há verdadeiros profetas, maior é o número dos falsos, que tomam os devaneios da sua imaginação como revelações, quando não são velhacos que por ambição se fazem passar como profetas.

O profeta verdadeiro é um homem de bem, inspirado por Deus; pode ser reconhecido pelas suas palavras e pelas suas ações. Não é possível que Deus se sirva da boca do mentiroso para ensinar a verdade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 79)

50. Médiuns escreventes ou psicógrafos — Essa denominação é dada às pessoas que escrevem sob a influência dos Espíritos. Assim como um Espírito pode atuar sobre os órgãos vocais de um médium falante e fazê-lo pronunciar palavras, também pode servir-se da sua mão para fazê-lo escrever. A mediunidade psicográfica apresenta três variedades bem distintas: os médiuns mecânicos, os intuitivos e os semimecânicos.

Com o médium mecânico, o Espírito lhe atua diretamente sobre a mão, impulsionando-a. O que caracteriza este gênero de mediunidade é a inconsciência absoluta, por parte do médium, do que sua mão escreve. O movimento desta independe da vontade do escrevente; movimenta-se sem interrupção, a despeito do médium, enquanto o Espírito tem alguma coisa a dizer, e para desde que este último haja concluído.

Com o médium intuitivo, à transmissão do pensamento serve de intermediário o Espírito do médium. O outro Espírito, nesse caso, não atua sobre a mão para movê-la, atua sobre a alma, identificando-se com ela e imprimindo-lhe sua vontade e suas ideias. A alma recebe o pensamento do Espírito comunicante e o transcreve. Nesta situação, o médium escreve voluntariamente e tem consciência do que escreve, embora não grafe seus próprios pensamentos.

Torna-se frequentemente difícil distinguir o pensamento do médium do que lhe é sugerido, o que leva muitos médiuns deste gênero a duvidar da sua faculdade. Podem reconhecer-se os pensamentos sugeridos pelo fato de não serem nunca preconcebidos; eles surgem à proporção que o médium vai escrevendo e não raro são opostos à ideia que este previamente concebera. Podem mesmo estar fora dos conhecimentos e da capacidade do médium.

Há grande analogia entre a mediunidade intuitiva e a inspiração; a diferença consiste em que a primeira se restringe quase sempre a questões de atualidade e pode aplicar-se ao que esteja fora das capacidades intelectuais do médium; por intuição pode este último tratar de um assunto que lhe seja completamente estranho. A inspiração se estende por um campo mais vasto e geralmente vem em auxílio das capacidades e das preocupações do Espírito encarnado. Os traços da mediunidade são, de regra, menos evidentes.

O médium semimecânico, ou semi-intuitivo participa dos outros dois gêneros. No médium puramente mecânico, o movimento da mão independe da sua vontade; no médium intuitivo, o movimento é voluntário e facultativo. O médium semimecânico sente na mão uma impulsão dada mau grado seu, mas ao mesmo tempo tem consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam. Com o primeiro, o pensamento vem depois do ato de escrever; com o segundo, precede-o; com o terceiro, acompanha-o. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 79-81)

PSICOGRAFIA – do gr. psuké, borboleta, alma e grapho, eu escrevo. Transmissão do pensamento dos Espíritos por meio da escrita pela mão de um médium. No médium escrevente a mão é o instrumento, mas a sua alma ou Espírito nele encarnado é o intermediário ou intérprete do Espírito estranho que se comunica. Na pneumatografia é o próprio Espírito estranho quem escreve sem intermediário.

Psicografia imediata ou direta, é quando o próprio médium escreve, tomando do lápis como para escrever normalmente.

Psicografia mediata ou indireta, é quando o lápis é adaptado a um objeto qualquer, que serve, de certo modo, como um apêndice da mão, tal como uma cesta, uma prancheta, etc. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 30)

Quem quer que tenha recebido o dom de escrever sob a influência dos Espíritos possui uma faculdade preciosa, porque se toma intérprete entre o mundo visível e o invisível. É muitas vezes uma missão que recebeu para o bem, mas do qual não se deve envaidecer, pois a faculdade pode lhe ser retirada se dela fizer mau uso e, até, voltar-se contra si mesmo, no sentido de que escreverá coisas más e terá apenas maus Espíritos à sua disposição. Aquele que, a despeito dos esforços e da perseverança, não chega a possuí-Ia, não deve, por isso, concluir desfavoravelmente à sua pessoa: é que sua organização física não se presta para isso, mas não fica deserdado das comunicações espíritas; se as não recebe diretamente, pode obtê-las muito belas e muito boas por um intermediário. Aliás, pode, em compensação, possuir outras faculdades não menos úteis. A privação de um sentido quase sempre é compensada por um outro sentido mais desenvolvido. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo V – p. 71)

Não sendo o médium mais do que um instrumento que recebe e transmite o pensamento de um Espírito estranho, que obedece à impulsão mecânica que lhe é dada, nada há que ele não possa fazer fora do campo de seus conhecimentos, se possui a maleabilidade e a aptidão mediúnica necessárias. Assim é que há médiuns desenhistas, pintores, músicos, versejadores, embora estranhos às artes do desenho, da pintura, da música e da poesia; médiuns iletrados, que escrevem sem saber ler, nem escrever; médiuns polígrafos, que reproduzem escritas de diversos gêneros e, algumas vezes, com perfeita exatidão, a que o Espírito tinha quando encarnado; médiuns poliglotas, que escrevem ou falam em línguas que lhes são desconhecidas, etc. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 81)

Entre os médiuns que vimos, um há que merece menção especial. É uma moça de dezenove anos que, à faculdade de escrever, reúne a de médium desenhista e músico. Ela anotou mecanicamente, sob o ditado de um Espírito, que disse ser Mozart, um trecho de música que este não desautorizaria. Assinou-o, e várias pessoas, que viram os seus autógrafos, atestaram a perfeita identidade da assinatura. Mas o trabalho mais notável é, sem contradita, o desenho; trata-se de um quadro planetário de quatro metros quadrados de superfície, de um efeito tão original e tão singular que nos seria impossível dar uma ideia pela sua descrição. E trabalhado em lápis negro, em pastel de diversas cores e em esfuminho. Esse quadro, começado há alguns meses, ainda não está terminado; é destinado pelo Espírito à Sociedade Espírita de Paris. Vimos a médium à obra e tanto ficamos maravilhados com a rapidez, quanto com a precisão do trabalho. Inicialmente, e à guisa de treino, o Espírito a fez traçar, com mão levantada e de um jacto, círculos e espirais de cerca de um metro de diâmetro e de tal regularidade, que se encontrou o centro geométrico perfeitamente exato. Nada podemos dizer ainda quanto ao valor científico do quadro; mas, admitindo seja uma fantasia, não deixa de ser, como execução mediúnica, um trabalho deveras notável. Devendo o original ser enviado a Paris, o Espírito aconselhou que o fotografassem para se tirar várias cópias.

Um fato que devemos mencionar é que o pai da médium é pintor. Como artista achava que o Espírito obrava contrariamente às regras da arte e pretendia dar conselhos. Por isso o Espírito o proibiu de assistir ao trabalho, a fim de que a médium não lhe sofresse a influência.

Até pouco tempo a médium não havia lido nossas obras. O Espírito lhe ditou, para nos ser entregue à nossa chegada, que ainda não estava anunciada, um pequeno tratado de Espiritismo, em todos os pontos conforme O Livro dos Espíritos. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1861 – p. 63-64)

Não se devem confundir os médiuns curadores com os médiuns receitistas, que são simples médiuns escreventes, cuja especialidade consiste em servirem mais facilmente de intérpretes aos Espíritos para as prescrições médicas; absolutamente mais não fazem que transmitir o pensamento do Espírito, sem exercerem, de si mesmos, nenhuma influência. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 83-84)

10. A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora. O médico dá o fruto de seus estudos, feitos, muita vez, à custa de sacrifícios penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes até a sua saúde. Podem pôr-lhes preço. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam.

Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVI – p. 309)

É por vezes muito difícil distinguir, num dado efeito, o que provém diretamente da alma do médium do que promana de uma causa estranha, porque com frequência as duas ações se confundem e convalidam. É assim que nas curas por imposição das mãos, o Espírito do médium pode atuar por si só, ou com a assistência de outro Espírito; que a inspiração poética ou artística pode ter dupla origem. Mas, do fato de ser difícil fazer-se uma distinção como essa não se segue seja ela impossível. Não raro, a dualidade é evidente e, em todos os casos, quase sempre ressalta de atenta observação. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Controvérsias sobre a ideia da existência de seres intermediários entre o homem e Deus – p. 113-114)

    2.        DO MAGNETISMO

MAGNETISMO ANIMAL – do gr. magnes, ímã. Assim chamado por analogia como o magnetismo mineral. Demonstrou a experiência que não existe tal analogia ou que é apenas aparente. Assim, a denominação não é exata. Como, porém, foi consagrada pelo emprego universal, e como, por outro lado, o epíteto que é adicionado não permite equívocos, haveria mais inconveniente do que utilidade em substituir a expressão. Algumas pessoas a substituem por mesmerismo. Mas até agora a tentativa não prevaleceu.

O magnetismo animal pode assim ser definido: ação recíproca de dois seres vivos por meio de um agente especial chamado fluido magnético. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 22)

[…] a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxílio. Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIV – p. 183)

Como se há visto, o fluido universal é o elemento primitivo do corpo carnal e do perispírito, os quais são simples transformações dele. Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer princípios reparadores ao corpo; o Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância do seu envoltório fluídico. A cura se opera mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula . O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas, depende também da energia da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido. Depende ainda das intenções daquele que deseje realizar a cura, seja homem ou Espírito. Os fluidos que emanam de uma fonte impura são quais substâncias medicamentosas alteradas. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 261)

33. A ação magnética pode produzir-se de muitas maneiras:

1º) pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou magnetismo humano, cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do fluido;

2º) pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um encarnado, seja para o curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade está na razão direta das qualidades do Espírito;

3º) pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para esse derramamento. É o magnetismo misto, semiespiritual, ou, se o preferirem, humano-espiritual. Combinado com o fluido humano, o fluido espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Em tais circunstâncias, o concurso dos Espíritos é amiúde espontâneo, porém, as mais das vezes, provocado por um apelo do magnetizador. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 261-262)

5. O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível. Daí decorre que aquele que a um grande poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural. Tal o motivo por que Jesus disse a seus apóstolos: se não o curastes, foi porque não tínheis fé. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIX – p. 254)

12. No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade.

Até o presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso, porque o Cristo a exalçou como poderosa alavanca e porque o tem considerado apenas como chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis?

A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim colimado, certeza que lhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendores que se não chegue a vencer.

O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.

Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. – Um Espírito protetor. (Paris, 1863.) (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIX – p. 259)

52. Médiuns curadores — Consiste a mediunidade desta espécie na faculdade que certas pessoas possuem de curar pelo simples contato, pela imposição das mãos, pelo olhar, por um gesto, mesmo sem o concurso de qualquer medicamento. Semelhante faculdade incontestavelmente tem o seu princípio na força magnética; difere desta, entretanto, pela energia e instantaneidade da ação ao passo que as curas magnéticas exigem um tratamento metódico, mais ou menos longo. Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, se sabem proceder convenientemente; dispõem da ciência que adquiriram. Nos médiuns curadores, a faculdade é espontânea e alguns a possuem sem nunca ter ouvido falar de magnetismo. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 81-82)

52. […]

A faculdade de curar pela imposição das mãos deriva evidentemente de uma força excepcional de expansão, mas diversas causas concorrem para aumentá-la, entre as quais são de colocar-se, na primeira linha: a pureza dos sentimentos, o desinteresse, a benevolência, o desejo ardente de proporcionar alívio, a prece fervorosa e a confiança em Deus; numa palavra: todas as qualidades morais. A força magnética é puramente orgânica; pode, como a força muscular, ser partilha de toda gente, mesmo do homem perverso; mas, só o homem de bem se serve dela exclusivamente para o bem, sem ideias ocultas de interesse pessoal, nem de satisfação de orgulho ou de vaidade. Mais depurado, o seu fluido possui propriedades benfazejas e reparadoras, que não pode ter o do homem vicioso ou interesseiro. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 82)

552. Que se deve pensar da crença no poder, que certas pessoas teriam, de enfeitiçar?

“Algumas pessoas dispõem de grande força magnética, de que podem fazer mau uso, se maus forem seus próprios Espíritos, caso em que possível se torna serem secundados por outros Espíritos maus. Não creias, porém, num pretenso poder mágico, que só existe na imaginação de criaturas supersticiosas, ignorantes das verdadeiras Leis da Natureza. Os fatos que citam, como prova da existência desse poder, são fatos naturais, mal observados e sobretudo mal compreendidos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 267)

555. Que sentido se deve dar ao qualificativo de feiticeiro?

“Aqueles a quem chamais feiticeiros são pessoas que, quando de boa-fé, gozam de certas faculdades, como sejam a força magnética ou a dupla vista. Então, como fazem coisas geralmente incompreensíveis, são tidas por dotadas de um poder sobrenatural.

Os vossos sábios não têm passado muitas vezes por feiticeiros aos olhos dos ignorantes?”

Nota – O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única, mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas Leis da Natureza e o que não passa de ridícula crendice. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 268-269)

556. Têm algumas pessoas, verdadeiramente, o poder de curar pelo simples contato?

“A força magnética pode chegar até aí, quando secundada pela pureza dos sentimentos e por um ardente desejo de fazer o bem, porque então os bons Espíritos lhe vêm em auxílio.

Cumpre, porém, desconfiar da maneira pela qual contam as coisas pessoas muito crédulas e muito entusiastas, sempre dispostas a considerar maravilhoso o que há de mais simples e mais natural. Importa desconfiar também das narrativas interesseiras, que costumam fazer os que exploram, em seu proveito, a credulidade alheia.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 269)

1. Os fatos que o Evangelho relata e que foram até hoje considerados milagrosos pertencem, na sua maioria, à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, dos que têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma. […]

O princípio dos fenômenos psíquicos repousa, como já vimos, nas propriedades do fluido perispiritual, que constitui o agente magnético; nas manifestações da vida espiritual durante a vida corpórea e depois da morte; e, finalmente, no estado constitutivo dos Espíritos e no papel que eles desempenham como força ativa da natureza. Conhecidos estes elementos e comprovados os seus efeitos, tem-se, como consequência, de admitir a possibilidade de certos fatos que eram rejeitados enquanto se lhes atribuía uma origem sobrenatural. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XV – p. 273-274)

52. […]

Todo efeito mediúnico, como já foi dito, resulta da combinação dos fluidos que emitem um Espírito e um médium. Pela sua conjugação esses fluidos adquirem propriedades novas, que separadamente não teriam, ou, pelo menos, não teriam no mesmo grau. A prece, que é uma verdadeira evocação, atrai os bons Espíritos sempre solícitos em secundar os esforços do homem bem-intencionado; o fluido benéfico dos primeiros se casa facilmente com o do segundo, ao passo que o do homem vicioso se junta ao dos maus Espíritos que o cercam.

O homem de bem, que não dispusesse da força fluídica, pouca coisa conseguiria fazer por si mesmo, só lhe restando apelar para a assistência dos Espíritos bons, pois quase nula seria a sua ação pessoal; uma grande força fluídica, aliada à maior soma possível de qualidades morais, pode operar, em matéria de curas, verdadeiros prodígios.

53. A ação fluídica, ao demais, é poderosamente secundada pela confiança do doente, e Deus quase sempre lhe recompensa a fé, concedendo-lhe o bom êxito. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos) p. 82-83)

Por vezes acontece que a subjugação avulta até ao ponto de paralisar a vontade do obsidiado, do qual nenhum concurso sério se pode esperar. Aí, principalmente, é que a intervenção de terceiros se torna necessária, quer por meio da prece, quer pela ação magnética. Mas, também a força dessa intervenção depende do ascendente moral que os interventores possam ter sobre os Espíritos; se não valerem mais do que estes, improfícua será a ação que desenvolvam. A ação magnética, no caso, tem por efeito introduzir no fluido do obsidiado um fluido melhor e eliminar o do mau Espírito. Ao operar, deve o magnetizador objetivar duplo fim: o de opor a uma força moral outra força moral e produzir sobre o paciente uma espécie de reação química, para nos servirmos de uma comparação material, expelindo um fluido com o auxílio de outro fluido. Dessa forma, não só opera um desprendimento salutar, como igualmente fortalece os órgãos enfraquecidos por longa e vigorosa constrição. Compreende-se, em suma, que o poder da ação fluídica está na razão direta não somente da energia da vontade, mas, sobretudo, da qualidade do fluido introduzido e, segundo o que deixamos dito, que essa qualidade depende da instrução e das qualidades morais do magnetizador. Daí se segue que um magnetizador ordinário, que atuasse maquinalmente, apenas por magnetizar, fraco ou nenhum efeito produziria. É de toda a necessidade um magnetizador espírita, que atue com conhecimento de causa, com a intenção de obter, não o sonambulismo ou uma cura orgânica, porém, os resultados que vimos de descrever. É, além disso, evidente que uma ação magnética dirigida neste sentido não pode deixar de ser muito proveitosa nos casos de obsessão ordinária, porque, então, se o magnetizador tem a auxiliá-lo a vontade do obsidiado, o Espírito se vê combatido por dois adversários em lugar de um. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestação dos Espíritos – p. 88-89)

Toda ação física ou moral, patente ou oculta, de um ser sobre si mesmo, ou sobre outro, pressupõe, de um lado, uma força atuante e, de outro, uma sensibilidade passiva. Em todas as coisas, duas forças iguais se neutralizam e a fraqueza cede à força. Ora, não sendo todos os homens dotados da mesma energia fluídica, ou, por outra, não tendo o fluido perispirítico, em todos, a mesma potência ativa, explicado fica por que, nuns, essa potência é quase irresistível, ao passo que, noutros, é nula; por que algumas pessoas são muito acessíveis à sua ação, enquanto que outras lhe são refratárias.

Essa superioridade e essa inferioridade relativas dependem evidentemente do organismo; mas, fora erro acreditar-se que estão na razão direta da força ou da fraqueza física. A experiência prova que os homens mais robustos às vezes sofrem as influências fluídicas mais facilmente do que outros de constituição muito mais delicada, ao passo que com frequência se descobrem entre estes últimos uma força que a frágil aparência deles não permitiria se suspeitasse. De muitas formas se pode explicar essa diversidade no modo de agir. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Introdução ao estudo da fotografia e da telegrafia do pensamento – p. 135)

O poder fluídico aplicado à ação recíproca dos homens uns sobre os outros, isto é, ao Magnetismo, pode depender: 1º da quantidade de fluido que cada um possua; 2º da natureza intrínseca do fluido de cada um, abstração feita da quantidade; 3º do grau de energia da força impulsiva; porventura, até, dessas três causas reunidas. Na primeira hipótese, aquele que tem mais fluido dá-lo-ia ao que tem menos, recebendo-o deste em menor quantidade. Haveria nesse caso analogia perfeita com a permuta de calórico entre dois corpos que se colocam em equilíbrio de temperatura. Qualquer que seja a causa daquela diferença, podemos aperceber-nos do efeito que ela produz, imaginando três pessoas cujo poder representaremos pelos números 10, 5 e 1. O 10 agirá sobre o 5 e sobre o 1, porém mais energicamente sobre o 1 do que sobre o 5; este atuará sobre o 1 mas será impotente para atuar sobre o 10; o 1, finalmente, não atuará sobre nenhum dos dois outros. Será essa talvez a razão por que certos pacientes são sensíveis à ação de tal magnetizador e insensíveis à de tal outro.

Pode-se também, até certo ponto, explicar esse fenômeno, apoiado nas considerações precedentes. Dissemos, com efeito, que os fluidos individuais são simpáticos ou antipáticos, uns com relação aos outros. Ora, não poderia dar-se que a ação recíproca de dois indivíduos estivesse na razão da simpatia dos fluidos, isto é, da tendência destes a se confundirem por uma espécie de harmonia, como as ondas sonoras produzidas pelos corpos vibrantes? Indubitavelmente essa harmonia ou simpatia dos fluidos é uma condição, ainda que não indispensável em absoluto, pelo menos muito preponderante, e quando há desacordo ou antipatia, a ação não pode deixar de ser fraca, ou, até, nula. Este sistema explica bem as condições prévias da ação; mas, não diz de que lado está a força e, admitindo-o, somos forçados a recorrer à nossa primeira suposição. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Introdução ao estudo da fotografia e da telegrafia do pensamento – p. 135-136)

    3.        DA VISTA ESPIRITUAL E OUTROS SENTIDOS DO ESPÍRITO

VISTA (SEGUNDA) – Efeito da emancipação da alma, que se manifesta em estado de vigília. Faculdade de ver as coisas ausentes como se estivessem presentes. Os que são dotados dessa faculdade não veem pelos olhos, mas pela alma, que parece a imagem dos objetos em qualquer parte para onde se transporte e como que por uma espécie de miragem. Essa faculdade não é permanente: certas pessoas a possuem, mau grado seu; ela lhes parece um efeito natural e produz aquilo a que se chama visões. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 37)

CLARIVIDÊNCIA – propriedade inerente à alma e que dá a certas pessoas a faculdade de ver sem o concurso dos órgãos da visão. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 11)

LUCIDEZ – Clarividência, faculdade de ver sem auxílio dos órgãos da visão. É uma faculdade inerente à natureza mesma da alma ou do Espírito, e que reside em todo o seu ser. Por isso, em todos os casos em que há emancipação da alma, o homem tem percepções independentes dos sentidos. No estado corpóreo normal a faculdade de ver é limitada pelos órgãos materiais; desprendida desse obstáculo, ela não mais se acha circunscrita; estende-se por toda a parte onde a alma exerce a sua ação. Tal é a causa da visão à distância, de que desfrutam certos sonâmbulos. Veem-se no próprio local que observam, ainda que a milhares de quilômetros, porque, se ali não se acha o corpo, a alma realmente está. Pode, pois, dizer-se que o sonâmbulo vê pela luz da alma.

O vocábulo clarividência é mais geral. Lucidez se diz mais particularmente da clarividência sonambúlica. Um sonâmbulo é mais ou menos lúcido, conforme seja mais ou menos completa a emancipação da alma. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 21)

245. O Espírito tem circunscrita a visão como os seres corpóreos?

“Não, ela reside em todo ele.”

246. Precisam da luz para ver?

“Veem por si mesmos, sem precisarem de luz exterior. Para os Espíritos, não há trevas, salvo as em que podem achar-se por expiação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 160)

247. Para verem o que se passa em dois pontos diferentes, precisam transportar-se a esses pontos? Podem, por exemplo, ver simultaneamente nos dois hemisférios do globo?

“Como o Espírito se transporta aonde queira, com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parte ao mesmo tempo. Seu pensamento é suscetível de irradiar, dirigindo-se a um tempo para muitos pontos diferentes, mas esta faculdade depende da sua pureza. Quanto menos puro é o Espírito, tanto mais limitada tem a visão. Só os Espíritos superiores podem com a vista abranger um conjunto.”

Nota – No Espírito, a faculdade de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso. É uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange simultaneamente o espaço, os tempos e as coisas, lucidez para a qual não há trevas, nem obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a visão se dá pelo funcionamento de um órgão que a luz impressiona. Daí se segue que, não havendo luz, o homem fica na obscuridade. No Espírito, como a faculdade de ver constitui um atributo seu, abstração feita de qualquer agente exterior, a visão independe da luz. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 160)

248. O Espírito vê as coisas tão distintamente como nós?

“Mais distintamente, pois que sua vista penetra onde a vossa não pode penetrar. Nada a obscurece.”

249. Percebe os sons?

“Sim, percebe mesmo sons imperceptíveis para os vossos sentidos obtusos.”

a) No Espírito, a faculdade de ouvir está em todo ele, como a de ver?

“Todas as percepções constituem atributos do Espírito e lhe são inerentes ao ser. Quando o reveste um corpo material, elas só lhe chegam pelo conduto dos órgãos. Deixam, porém, de estar localizadas, em se achando ele na condição de Espírito livre.”

250. Constituindo elas atributos próprios do Espírito, ser-lhe-á possível subtrair-se às percepções?

“O Espírito unicamente vê e ouve o que quer. Dizemos isto de um ponto de vista geral e, em particular, com referência aos Espíritos elevados, porquanto os imperfeitos muitas vezes ouvem e veem, a seu mau grado, o que lhes possa ser útil ao aperfeiçoamento.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 160-161)

282. Como se comunicam entre si os Espíritos?

“Eles se veem e se compreendem. A palavra é material, é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 177-178)

100. […]

19ª A visão dos Espíritos se produz no estado normal ou só estando o vidente num estado extático?

“Pode produzir-se achando-se este em condições perfeitamente normais. Entretanto, as pessoas que os veem se encontram muito amiúde num estado próximo do de êxtase, estado que lhes faculta uma espécie de dupla vista.”

20ª Os que veem os Espíritos veem-nos com os olhos?

“Assim o julgam, mas, na realidade, é a alma quem vê, e o que o prova é que os podem ver com os olhos fechados.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 114)

25ª Toda gente tem aptidão para ver os Espíritos?

“Durante o sono, todos têm; em estado de vigília, não. Durante o sono, a alma vê sem intermediário; no estado de vigília, acha-se sempre mais ou menos influenciada pelos órgãos. Daí vem não serem totalmente idênticas as condições nos dois casos.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 115)

26ª De que depende, para o homem, a faculdade de ver os Espíritos, em estado de vigília?

“Depende da organização física. Reside na maior ou menor facilidade que tem o fluido do vidente para se combinar com o do Espírito. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se, é preciso também que encontre a necessária aptidão na pessoa a quem deseje fazer-se visível.”

a) Pode essa faculdade desenvolver-se pelo exercício?

“Pode, como todas as outras faculdades, mas pertence ao número daquelas com relação às quais é melhor que se espere o desenvolvimento natural do que provocá-lo, para não sobreexcitar a imaginação. A de ver os Espíritos, em geral e permanentemente, constitui uma faculdade excepcional e não está nas condições normais do homem.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 115)

25. Assim, envolta no seu perispírito, a alma tem consigo o seu princípio luminoso. Penetrando a matéria por virtude da sua essência etérea, não há, para a sua visão, corpos opacos.

Entretanto, a vista espiritual não é idêntica, quer em extensão, quer em penetração, para todos os Espíritos. Somente os Espíritos puros a possuem em todo o seu poder. Nos inferiores ela se acha enfraquecida pela relativa grosseria do perispírito, que se lhe interpõe qual nevoeiro.

Manifesta-se em diferentes graus, nos Espíritos encarnados, pelo fenômeno da segunda vista, tanto no sonambulismo natural ou magnético, quanto no estado de vigília. Conforme o grau de poder da faculdade, diz-se que a lucidez é maior ou menor. Com o auxílio dessa faculdade é que certas pessoas veem o interior do organismo humano e descrevem as causas das enfermidades. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 258)

27. Necessariamente incompleta e imperfeita é a vista espiritual nos Espíritos encarnados e, por conseguinte, sujeita a aberrações. Tendo por sede a própria alma, o estado desta há de influir nas percepções que aquela vista faculte. Segundo o grau de desenvolvimento, as circunstâncias e o estado moral do indivíduo, pode ela dar, quer durante o sono, quer no estado de vigília: 1º a percepção de certos fatos materiais e reais, como o conhecimento de alguns que ocorram a grande distância, os detalhes descritivos de uma localidade, as causas de uma enfermidade e os remédios convenientes; 2º a percepção de coisas igualmente reais do mundo espiritual, como a presença dos Espíritos; 3º imagens fantásticas criadas pela imaginação, análogas às criações fluídicas do pensamento. Estas criações se acham sempre em relação com as disposições morais do Espírito que as gera. É assim que o pensamento de pessoas fortemente imbuídas de certas crenças religiosas e com elas preocupadas lhes apresenta o inferno, suas fornalhas, suas torturas e seus demônios, tais quais essas pessoas os imaginam. Às vezes, é toda uma epopeia. Os pagãos viam o Olimpo e o Tártaro, como os cristãos veem o inferno e o paraíso. Se, ao despertarem, ou ao saírem do êxtase, conservam lembrança exata de suas visões, os que as tiveram tomam-nas como realidades confirmativas de suas crenças, quando tudo não passa de produto de seus próprios pensamentos. Cumpre, pois, se faça uma distinção muito rigorosa nas visões extáticas, antes que se lhes dê crédito. A tal propósito, o remédio para a excessiva credulidade é o estudo das leis que regem o mundo espiritual. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 258-259)

146. A alma, que deixa o corpo, pode ver a Deus?

As faculdades perceptivas da alma são proporcionais à sua purificação: só as de escol podem gozar da presença de Deus. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 170)

9. […]

A pesca qualificada de miraculosa igualmente se explica pela dupla vista. Jesus não produziu espontaneamente peixes onde não os havia; Ele viu, com a vista da alma, como teria podido fazê-lo um lúcido vígil, o lugar onde se achavam os peixes e disse com segurança aos pescadores que lançassem aí suas redes.

A acuidade do pensamento e, por conseguinte, certas previsões decorrem da vista espiritual. Quando Jesus chama a si Pedro, André, Tiago, João e Mateus, é que lhes conhecia as disposições íntimas e sabia que eles o acompanhariam e que eram capazes de desempenhar a missão que tencionava confiar-lhes. E mister se fazia que eles próprios tivessem intuição da missão que iriam desempenhar para, sem hesitação, atenderem ao chamamento de Jesus. O mesmo se deu quando, por ocasião da Ceia, Ele anunciou que um dos doze o trairia e o apontou, dizendo ser aquele que punha a mão no prato; e deu-se também, quando predisse que Pedro o negaria.

Em muitos passos do Evangelho se lê: “Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, lhes diz…” Ora, como poderia Ele conhecer os pensamentos dos seus interlocutores, senão pelas irradiações fluídicas desses pensamentos e, ao mesmo tempo, pela vista espiritual que lhe permitia ler-lhes no foro íntimo?

Muitas vezes, supondo que um pensamento se acha sepultado nos refolhos da alma, o homem não suspeita que traz em si um espelho onde se reflete aquele pensamento, um revelador na sua própria irradiação fluídica, impregnada dele. Se víssemos o mecanismo do mundo invisível que nos cerca, as ramificações dos fios condutores do pensamento, a ligarem todos os seres inteligentes, corporais e incorpóreos, os eflúvios fluídicos carregados das marcas do mundo moral, os quais, como correntes aéreas, atravessam o espaço, muito menos surpreendidos ficaríamos diante de certos efeitos que a ignorância atribui ao acaso. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XV- p. 278-279)

2. Suponhamos um homem colocado no cume de uma alta montanha, a observar a vasta extensão da planície em derredor. Nessa situação, o espaço de uma légua pouca coisa será para ele, que poderá facilmente apanhar, de um golpe de vista, todos os acidentes do terreno, de um extremo a outro da estrada que lhe esteja diante dos olhos. O viajor, que pela primeira vez percorra essa estrada, sabe que, caminhando, chegará ao fim dela. Constitui isso uma simples previsão da consequência que terá a sua marcha. Entretanto, os acidentes do terreno, as subidas e descidas, os cursos de água que terá de transpor, os bosques que haja de atravessar, os precipícios em que poderá cair, as casas hospitaleiras onde lhe será possível repousar, os ladrões que o espreitem para roubá-lo, tudo isso independe da sua pessoa; é para ele o desconhecido, o futuro, porque a sua vista não vai além da pequena área que o cerca. Quanto à duração, mede-a pelo tempo que gasta em perlustrar o caminho. Tirai-lhe os pontos de referência e a duração desaparecerá. Para o homem que está em cima da montanha e que o acompanha com o olhar, tudo aquilo está presente. Suponhamos que esse homem desce do seu ponto de observação e, indo ao encontro do viajante, lhe diz: “Em tal momento, encontrarás tal coisa, serás atacado e socorrido.” Estará predizendo o futuro, mas, futuro para o viajante, não para ele, autor da previsão, pois que, para ele, esse futuro é presente.

3. Se, agora, sairmos do âmbito das coisas puramente materiais e entrarmos, pelo pensamento, no domínio da vida espiritual, veremos o mesmo fenômeno produzir-se em maior escala. Os Espíritos desmaterializados são como o homem da montanha; o espaço e a duração não existem para eles. Mas a extensão e a penetração da vista são proporcionadas à depuração deles e à elevação que alcançaram na hierarquia espiritual. Com relação aos Espíritos inferiores, aqueles são quais homens munidos de possantes telescópios, ao lado de outros que apenas dispõem dos olhos. Nos Espíritos inferiores, a visão é circunscrita, não só porque eles dificilmente podem afastar-se do globo a que se acham presos, como também porque a grosseria de seus perispíritos lhes vela as coisas distantes, do mesmo modo que um nevoeiro as oculta aos olhos do corpo.

Bem se compreende, pois, que, de conformidade com o grau de sua perfeição, possa um Espírito abarcar um período de alguns anos, de alguns séculos, mesmo de muitos milhares de anos, porquanto, que é um século em face do infinito? Diante dele, os acontecimentos não se desenrolam sucessivamente, como os incidentes da estrada diante do viajor: ele vê simultaneamente o começo e o fim do período; todos os eventos que, nesse período, constituem o futuro para o homem da Terra são o presente para ele, que poderia então vir dizer-nos com certeza: Tal coisa acontecerá em tal época, porque essa coisa ele a vê como o homem da montanha vê o que espera o viajante no curso da viagem. Se assim não procede, é porque poderia ser prejudicial ao homem o conhecimento do futuro, conhecimento que lhe pearia o livre-arbítrio, paralisá-lo-ia no trabalho que lhe cumpre executar a bem do seu progresso. O se lhe conservarem desconhecidos o bem e o mal com que topará constitui para o homem uma prova.

Se tal faculdade, mesmo restrita, se pode contar entre os atributos da criatura, em que grau de potencialidade não existirá no Criador, que abrange o infinito? Para o Criador, o tempo não existe: o princípio e o fim dos mundos lhe são o presente. Dentro desse panorama imenso, que é a duração da vida de um homem, de uma geração, de um povo?

4. Entretanto, como o homem tem de concorrer para o progresso geral, como certos acontecimentos devem resultar da sua cooperação, pode convir que, em casos especiais, ele pressinta esses acontecimentos, a fim de lhes preparar o encaminhamento e de estar pronto a agir, em chegando a ocasião. Por isso é que Deus, às vezes, permite se levante uma ponta do véu; mas, sempre com fim útil, nunca para satisfação de vã curiosidade. Tal missão pode, pois, ser conferida, não a todos os Espíritos, porquanto muitos há que do futuro não conhecem mais do que os homens, porém a alguns Espíritos bastante adiantados para desempenhá-la. Ora, é de notar-se que as revelações dessa espécie são sempre feitas espontaneamente e jamais, ou, pelo menos, muito raramente, em resposta a uma pergunta direta.

5. Pode também semelhante missão ser confiada a certos homens, desta maneira:

Aquele a quem é dado o encargo de revelar uma coisa oculta recebe, à sua revelia e por inspiração dos Espíritos que a conhecem, a revelação dela e a transmite maquinalmente, sem se aperceber do que faz. É sabido, ao demais, que, assim durante o sono, como em estado de vigília, nos êxtases da dupla vista, a alma se desprende e adquire, em grau mais ou menos alto, as faculdades do Espírito livre. Se for um Espírito adiantado, se, sobretudo, houver recebido, como os profetas, uma missão especial para esse efeito, gozará, nos momentos de emancipação da alma, da faculdade de abarcar, por si mesmo, um período mais ou menos extenso, e verá, como presente, os sucessos desse período. Pode então revelá-los no mesmo instante, ou conservar lembrança deles ao despertar. Se os sucessos hajam de permanecer secretos, ele os esquecerá, ou apenas guardará uma vaga intuição do que lhe foi revelado, bastante para o guiar instintivamente.

6. É assim que em certas ocasiões essa faculdade se desenvolve providencialmente, na iminência de perigos, nas grandes calamidades, nas revoluções, e é assim também que a maioria das seitas perseguidas adquire numerosos videntes. É ainda por isso que se veem os grandes capitães avançar resolutamente contra o inimigo, certos da vitória; que homens de gênio, como, por exemplo, Cristóvão Colombo, caminham para uma meta, anunciando previamente, por assim dizer, o instante em que a alcançarão. É que eles viram, essa meta, que, para seus Espíritos, deixou de ser o desconhecido.

Nada, pois, tem de sobrenatural o dom da predição, mais do que uma imensidade de outros fenômenos. Ele se funda nas propriedades da alma e na lei das relações do mundo visível com o mundo invisível, que o Espiritismo veio dar a conhecer.

A teoria da presciência talvez não resolva de modo absoluto todos os casos que se possam apresentar de revelação do futuro, mas não se pode deixar de convir em que lhe estabelece o princípio fundamental. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVI – p. 317-320)

447. O fenômeno a que se dá a designação de dupla vista tem alguma relação com o sonho e o sonambulismo?

“Tudo isso é uma só coisa. O que se chama dupla vista é ainda resultado da libertação do Espírito, sem que o corpo seja adormecido. A dupla vista ou segunda vista é a vista da alma.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 229)

Desde que no estado sonambúlico as manifestações da alma se tornam, de certo modo, ostensivas, fora absurdo supor que no estado normal ela se ache confinada, de modo absoluto, em seu envoltório, como o caramujo em sua concha. Não é de maneira alguma a influência magnética que a desenvolve; essa influência nada mais faz do que a tornar patente pela ação que exerce sobre os órgãos corporais. Ora, nem sempre o estado sonambúlico é condição indispensável a essa manifestação. As faculdades que se revelam nesse estado desenvolvem-se algumas vezes espontaneamente, no estado normal, em certos indivíduos. Resulta-lhes daí a faculdade de verem as coisas distantes, por onde quer que a alma estenda sua ação; veem, se podemos servir-nos desta expressão, através da vista ordinária; e os quadros que descrevem, os fatos que narram se lhes apresentam como efeitos de uma miragem. É o fenômeno a que se dá o nome de segunda vista. No sonambulismo, a clarividência deriva da mesma causa; a diferença está em que, nesse estado, ela é isolada, independe da vista corporal, ao passo que é simultânea nos que dessa faculdade são dotados em estado de vigília. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 121-122)

448. É permanente a segunda vista?

“A faculdade é, o exercício não. Nos mundos menos materiais do que o vosso, os Espíritos se desprendem mais facilmente e se põem em comunicação apenas pelo pensamento, sem que, todavia, fique abolida a linguagem articulada. Por isso mesmo, em tais mundos, a dupla vista é faculdade permanente, para a maioria de seus habitantes, cujo estado normal se pode comparar ao dos vossos sonâmbulos lúcidos. Essa também a razão por que esses Espíritos se vos manifestam com maior facilidade do que os encarnados em corpos mais grosseiros.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 230)

449. A segunda vista aparece espontaneamente ou por efeito da vontade de quem a possui como faculdade?

“As mais das vezes é espontânea, porém, a vontade também desempenha com grande frequência importante papel no seu aparecimento. Toma, para exemplo, de umas dessas pessoas a quem se dá o nome de ledoras da buena-dicha, algumas das quais dispõem desta faculdade, e verás que é com o auxílio da própria vontade que se colocam no estado de terem a dupla vista e o que chamas visão.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 230)

450. A dupla vista é suscetível de desenvolver-se pelo exercício?

“Sim, do trabalho sempre resulta o progresso e a dissipação do véu que encobre as coisas.”

a) Esta faculdade tem qualquer ligação com a organização física?

“Incontestavelmente, o organismo influi para a sua existência. Há organismos que lhe são refratários.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – p. 230)

451. Por que a segunda vista parece hereditária em algumas famílias?

“Por semelhança da organização, que se transmite como as outras qualidades físicas. Depois, a faculdade se desenvolve por uma espécie de educação, que também se transmite de um a outro.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 230)

452. É exato que certas circunstâncias desenvolvem a segunda vista?

“A moléstia, a proximidade do perigo, uma grande comoção podem desenvolvê-la. O corpo, às vezes, vem a achar-se num estado especial que faculta ao Espírito ver o que não podeis ver com os olhos carnais.”

Nota – Nas épocas de crises e de calamidades, as grandes emoções, todas as causas, enfim, de superexcitação do moral provocam não raro o desenvolvimento da dupla vista. Parece que a Providência, quando um perigo nos ameaça, nos dá o meio de conjurá-lo. Todas as seitas e partidos perseguidos oferecem múltiplos exemplos desse fato. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 230-231)

453. As pessoas dotadas de dupla vista sempre têm consciência de que a possuem?

“Nem sempre. Consideram isso coisa perfeitamente natural e muitos creem que, se cada um observasse o que se passa consigo, todos verificariam que são como eles.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 231)

454. Poder-se-ia atribuir a uma espécie de segunda vista a perspicácia de algumas pessoas que, sem nada apresentarem de extraordinário, apreciam as coisas com mais precisão do que outras?

“É sempre a alma a irradiar mais livremente e a apreciar melhor do que sob o véu da matéria.”

a) Pode esta faculdade, em alguns casos, dar a presciência das coisas?

“Pode. Também dá os pressentimentos, pois que muitos são os graus em que ela existe, sendo possível que num mesmo indivíduo exista em todos os graus, ou em alguns somente.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 231)

Quase nunca é permanente a segunda vista. Em geral, o fenômeno se produz espontaneamente, em dados momentos, sem ser por efeito da vontade, e provoca uma espécie de crise que, algumas vezes, modifica sensivelmente o estado físico. O indivíduo parece olhar sem ver; toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação.

É de notar-se que as pessoas dotadas dessa faculdade não suspeitam possuí-la. Ela se lhes afigura natural, como a de ver com os olhos. Consideram-na um atributo de seu ser e nunca uma coisa excepcional. Cumpre acrescentar que muito amiúde o esquecimento se segue a essa lucidez passageira, cuja lembrança, cada vez mais imprecisa, acaba por desvanecer-se como a de um sonho. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 122)

Há infinitos graus na potencialidade da segunda vista, desde a sensação confusa, até a percepção tão nítida quanto no sonambulismo. Há carência de um termo para designar-se esse estado especial e, sobretudo, os indivíduos suscetíveis de experimentá-lo. Tem-se empregado a palavra vidente, que, embora não exprima com exatidão a ideia, adotaremos até nova ordem, em falta de outra melhor.

Se agora confrontarmos os fenômenos de segunda vista com os da clarividência sonambúlica, compreenderemos que o vidente possa perceber coisas que lhe estejam fora do alcance da visão ordinária, do mesmo modo que o sonâmbulo vê, a distância, acompanha o curso dos acontecimentos, aprecia-lhes a tendência e, em certos casos, lhes prevê o desenlace. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 122-123)

Esse dom da segunda vista é que, em estado rudimentar, dá a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma espécie de segurança aos atos, o que se pode com justeza denominar: golpe de vista moral. Mais desenvolvido, ele acorda os pressentimentos, ainda mais desenvolvido, faz ver acontecimentos que já se realizaram, ou que estão prestes a realizar-se; finalmente, quando chega ao apogeu, é o êxtase vígil. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 123)

Como já dissemos, o fenômeno da segunda vista é quase sempre natural e espontâneo; parece, entretanto, que se produz com mais frequência sob o império de determinadas circunstâncias. Os tempos de crise, de calamidades, de grandes emoções, tudo, enfim, que sobrexcita o moral, que provoca o desenvolvimento. Dir-se-ia que a Providência, diante de perigos iminentes, multiplica em torno das criaturas a faculdade de prevê-los. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 123)

Videntes sempre os houve em todos os tempos e em todas as nações, parecendo, no entanto, que alguns povos são mais naturalmente predispostos a tê-los. Dizem que na Escócia é muito comum o dom da segunda vista. Não se lhe nota a existência entre a gente do campo e os que habitam nas montanhas.

Os videntes têm sido diversamente considerados, conforme os tempos, os costumes e o grau de civilização. Para os cépticos, eles não passam de cérebros desarranjados, de alucinados; as seitas religiosas os arvoraram em profetas, sibilas, oráculos; nos séculos de superstição e ignorância, eram feiticeiros e acabavam nas fogueiras. Para o homem sensato, que acredita no poder infinito da Natureza e na bondade inesgotável do Criador, a dupla vista é uma faculdade inerente à espécie humana, por meio da qual Deus nos revela a existência da nossa essência espiritual. Quem não reconheceria um dom dessa natureza em Joana d’Arc e em toda uma multidão de outras personagens que a história qualifica de inspiradas? (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 123-124)

Podem incluir-se os médiuns videntes na categoria das pessoas que possuem a dupla vista. Com efeito, do mesmo modo que estas últimas, aqueles julgam ver com os olhos, mas, na realidade, a alma é que vê e por essa razão é que eles veem tão bem com os olhos abertos como com os olhos fechados. Segue-se, necessariamente, que um cego poderia ser médium vidente, tanto quanto um que tenha perfeita a vista. Constituiria estudo interessante indagar se essa faculdade é mais frequente nos cegos. Somos levado a crê-lo, dado que, como se pode verificar experimentalmente, a privação de comunicar-se com o meio exterior, por falta de certos sentidos, confere em geral poder maior à faculdade de abstração da alma e, consequentemente, maior desenvolvimento ao sentido íntimo pelo qual ela se põe em relação com o mundo espiritual. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 124-125)

Podem, pois, os médiuns videntes ser identificados às pessoas que gozam da vista espiritual; mas, seria porventura demasiado considerar essas pessoas como médiuns, porquanto a mediunidade se caracteriza unicamente pela intervenção dos Espíritos, não se podendo ter como ato mediúnico o que alguém faz por si mesmo. Aquele que possui a vista espiritual vê pelo seu próprio Espírito, não sendo de necessidade, para o surto da sua faculdade, o concurso de um Espírito estranho. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 125)

No fenômeno da dupla vista, por se achar a alma parcialmente liberta do envoltório material, que lhe limita as faculdades, não há duração, nem distância; visto que lhe é dado abranger o espaço e o tempo, tudo se lhe confunde no presente. Livre dos entraves da carne, ela julga dos efeitos e das causas melhor do que nós, que não podemos fazer outro tanto; vê as consequências das coisas presentes e pode levar-nos a pressenti-las. É neste sentido que se deve entender o dom de presciência atribuído aos videntes. Suas previsões resultam de ter a alma consciência mais nítida do que existe e não de uma predição de coisas fortuitas, sem ligação com o presente. É por dedução lógica do conhecido que ela chega ao desconhecido, dependente muitas vezes da nossa maneira de proceder. Quando um perigo nos ameaça, se somos avisados, ficamos em condições de tentar tudo o que seja preciso para evitá-lo, cabendo-nos a liberdade de fazê-lo ou não.

Em tal caso, o vidente tem diante de si um perigo que se nos acha oculto; ele o assinala, indica o meio de afastá-lo, pois de outro modo o acontecimento segue o seu curso.

Suponhamos que uma carruagem enveredou por uma estrada que vai dar num precipício que o condutor não pode perceber. É evidente que, se nada ocorrer que a desvie, ela ali se precipitará. Suponhamos também que um homem colocado de maneira a divisar a estrada em toda a sua extensão, vendo o perigo que corre o viajante, consegue avisá-lo a tempo de ele se desviar. O perigo estará conjurado. Da sua posição, dominando o espaço, o observador vê o que o viajante, cuja visão os acidentes do terreno circunscrevem, não logra divisar. Pode ele ver se uma causa fortuita obstará à queda do outro; conhece então, previamente, o que se dará e prediz o acontecimento.

Imaginemos que esse homem, do alto de uma montanha, divise ao longe, pela estrada, uma tropa inimiga dirigindo-se para uma aldeia a que pretende atear fogo. Fácil lhe será, levados em conta o espaço e a velocidade, prever quando a tropa chegará. Se, então, descendo à aldeia, disser apenas: A tal hora a aldeia será incendiada, caso o fato ocorrer, ele passará, aos olhos da multidão ignorante, por adivinho, feiticeiro; entretanto, apenas viu o que os outros não podiam ver e deduziu, do que vira, as conseqüências.

Ora, o vidente, como esse homem, apreende e acompanha o curso dos acontecimentos; não lhes prevê o resultado porque possua o dom de adivinhar: ele o vê e, desde então, pode dizer-vos se estais no bom caminho, indicar-vos outro melhor e anunciar o que se vos deparará no extremo do que seguis. É, para vós, o fio de Ariadne, mostrando a saída do labirinto.

Como se vê, longe está isso da predição propriamente dita, conforme a entendemos na acepção vulgar do termo. Nada foi tirado ao livre-arbítrio do homem, que conserva sempre a liberdade de agir ou não, de evitar ou deixar que os acontecimentos se deem, por sua vontade, ou por sua inércia; indica-se-lhe um meio de chegar ao fim, cabendo-lhe utilizá-lo. Supô-lo submetido a uma fatalidade inexorável, com relação aos menores acontecimentos da vida, é despojá-lo do seu mais belo atributo: a inteligência; é assimilá-lo ao bruto. O vidente, pois, não é um adivinho; é um ser que percebe o que não vemos; é, para nós, o cão do cego. Nada nisto há, portanto, que se contraponha aos desígnios da Providência quanto ao segredo de nosso destino; é ela própria quem nos dá um guia.

Tal o ponto de vista donde se deve considerar o conhecimento do futuro, por parte das pessoas dotadas de dupla vista. Se fosse fortuito esse futuro, se dependesse do a que se chama acaso, se nenhuma ligação tivesse com as circunstâncias presentes, nenhuma clarividência poderia penetrá-lo e nenhuma certeza, nesse caso, ofereceria qualquer previsão. O vidente (referimo-nos ao que verdadeiramente o é), o vidente sério e não o charlatão que simula sê-lo, o verdadeiro vidente, não diz o que o vulgo denomina “buena-dicha”; ele apenas prevê as consequências que decorrerão do presente; nada mais e já é muito. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 126-129)

8. Para compreendermos as coisas espirituais, isto é, para fazermos delas ideia tão clara como a que fazemos de uma paisagem que tenhamos ante os olhos, falta-nos em verdade um sentido, exatamente como ao cego de nascença falta um que lhe faculte compreender os efeitos da luz, das cores e da vista, sem o contato. Daí se segue que somente por esforço da imaginação e por meio de comparações com coisas materiais que nos sejam familiares chegamos a consegui-lo. As coisas materiais, porém, não nos podem dar das coisas espirituais senão ideias muito imperfeitas, razão por que não se devem tomar ao pé da letra essas comparações e crer, por exemplo, que a extensão das faculdades perceptivas dos Espíritos depende da efetiva elevação deles, nem que eles precisem estar em cima de uma montanha ou acima das nuvens para abrangerem o tempo e o espaço.

Tal faculdade lhes é inerente ao estado de espiritualização, ou, se o preferirem, de desmaterialização. Quer isto dizer que a espiritualização produz um efeito que se pode comparar, se bem muito imperfeitamente, ao da visão de conjunto que tem o homem colocado sobre a montanha. Esta comparação objetivava simplesmente mostrar que acontecimentos pertencentes ainda, para uns, ao futuro, estão, para outros, ao presente e podem assim ser preditos, o que não implica que o efeito se produza de igual maneira.

Para, portanto, gozar dessa percepção, não precisa o Espírito transportar-se a um ponto qualquer do espaço. Pode possuí-la em toda a sua plenitude aquele que na Terra se acha ao nosso lado, tanto quanto se achasse a mil léguas de distância, ao passo que nós nada vemos além do nosso horizonte visual. Não se operando a visão, nos Espíritos, do mesmo modo, nem com os mesmos elementos que no homem, muito diverso é o horizonte visual dos primeiros. Ora, é precisamente esse o sentido que nos falece para o concebermos. O Espírito, ao lado do encarnado, é como o vidente ao lado do cego.

9. Devemos, além disso, ponderar que essa percepção não se limita ao que diz respeito à extensão; que ela abrange a penetração de todas as coisas. É, repetimo-lo, uma faculdade inerente e proporcionada ao estado de desmaterialização. A encarnação amortece-a, sem, contudo, a anular completamente, porque a alma não fica encerrada no corpo como numa caixa. O encarnado a possui, embora sempre em grau menor do que quando se acha completamente desprendido; é o que confere a certos homens um poder de penetração que a outros falece inteiramente; maior agudeza de visão moral; compreensão mais fácil das coisas extramateriais.

O Espírito encarnado não somente percebe, como também se lembra do que viu no estado de Espírito livre e essa lembrança é como um quadro que se lhe desenha na mente. Na encarnação, ele vê, mas vagamente, como através de um véu; no estado de liberdade, vê e concebe claramente. O princípio da visão não lhe é exterior, está nele; essa a razão por que não precisa da luz exterior. Por efeito do desenvolvimento moral, alarga-se o círculo das ideias e da concepção; por efeito da desmaterialização gradual do perispírito, este se purifica dos elementos grosseiros que lhe alteravam a delicadeza das percepções, o que torna fácil compreender-se que a ampliação de todas as faculdades acompanha o progresso do Espírito.

10. O grau da extensão das faculdades do Espírito é que, na encarnação, o torna mais ou menos apto a conceber as coisas espirituais. Essa aptidão, todavia, não é corolário forçoso do desenvolvimento da inteligência; a ciência vulgar não a dá, tanto assim que há homens de grande saber tão cegos para as coisas espirituais, quanto outros o são para as coisas materiais; são-lhes refratários, porque não as compreendem, o que significa que ainda não progrediram em tal sentido, ao passo que outros, de instrução e inteligência vulgares, as aprendem com a maior facilidade, o que prova que já tinham de tais coisas uma intuição prévia. É, para estes, uma lembrança retrospectiva do que viram e souberam, quer na erraticidade, quer em suas existências anteriores, como alguns têm a intuição das línguas e das ciências de que já foram conhecedores. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVI – p. 320-322)

14. Pode, portanto, ser certo o resultado final de um acontecimento, por se achar este nos desígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os pormenores e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens, podem ser eventuais as sendas e os meios. Está nas possibilidades dos Espíritos prevenir-nos do conjunto, se convier que sejamos avisados; mas, para determinarem lugar e data, fora mister conhecessem previamente a decisão que tomará este ou aquele indivíduo. Ora, se essa decisão ainda não lhe estiver na mente, poderá, tal venha ela a ser, apressar ou demorar a realização do fato, modificar os meios secundários de ação, embora o mesmo resultado chegue sempre a produzir-se. É assim, por exemplo, que, pelo conjunto das circunstâncias, podem os Espíritos prever que uma guerra se acha mais ou menos próxima, que é inevitável, sem, contudo, poderem predizer o dia em que começará, nem os incidentes pormenorizados que possam ser modificados pela vontade dos homens. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVI – p. 323-324)

18. A humanidade contemporânea também conta seus profetas. Mais de um escritor, poeta, literato, historiador ou filósofo hão traçado, em seus escritos, a marcha futura de acontecimentos a cuja realização agora assistimos.

Essa aptidão, sem dúvida, decorre, muitas vezes, da retidão do juízo, no deduzir as consequências lógicas do presente; mas, doutras vezes, também resulta de uma especial clarividência inconsciente, ou de uma inspiração vinda do exterior. O que tais homens fizeram quando vivos, podem, com razão mais forte e maior exatidão, fazer no estado de Espíritos livres, quando não têm a visão espiritual obscurecida pela matéria. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVI – p. 326)

20. A faculdade de pressentir as coisas porvindouras é um dos atributos da alma e se explica pela teoria da presciência. Jesus a possuía, como todos os outros, em grau eminente. Pôde, portanto, prever os acontecimentos que se seguiriam à sua morte, sem que nesse fato algo haja de sobrenatural, pois que o vemos reproduzir-se aos nossos olhos, nas mais vulgares condições. Não é raro que indivíduos anunciem com precisão o instante em que morrerão; é que a alma deles, no estado de desprendimento, está como o homem da montanha: abarca a estrada a ser percorrida e lhe vê o termo.

21. Tanto mais assim havia de dar-se com Jesus, quanto, tendo consciência da missão que viera desempenhar, sabia que a morte no suplício forçosamente lhe seria a consequência. A visão espiritual, permanente nele, assim como a penetração do pensamento, haviam de mostrar-lhe as circunstâncias e a época fatal. Pela mesma razão podia prever a ruína do Templo, a de Jerusalém, as desgraças que se iam abater sobre seus habitantes e a dispersão dos judeus. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVII – p. 333)

138. Donde vêm os pressentimentos?

São recordações vagas e intuitivas do que o Espírito aprendeu em seus momentos de liberdade e algumas vezes avisos ocultos dados por Espíritos benévolos. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 166)

522. O pressentimento é sempre um aviso do Espírito protetor?

“É o conselho íntimo e oculto de um Espírito que vos quer bem. Também está na intuição da escolha que se haja feito. É a voz do instinto. Antes de encarnar, tem o Espírito conhecimento das fases principais de sua existência, isto é, do gênero das provas a que se submete. Tendo estas caráter assinalado, ele conserva, no seu foro íntimo, uma espécie de impressão de tais provas e esta impressão, que é a voz do instinto, fazendo-se ouvir quando lhe chega o momento de sofrê-las, se torna pressentimento.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 257)

857. Há homens que afrontam os perigos dos combates, persuadidos, de certo modo, de que a hora não lhes chegou. Haverá algum fundamento para essa confiança?

“Muito amiúde tem o homem o pressentimento do seu fim, como pode ter o de que ainda não morrerá. Esse pressentimento lhe vem dos Espíritos seus protetores, que assim o advertem para que esteja pronto a partir, ou lhe fortalecem a coragem nos momentos em que mais dela necessita. Pode vir-lhe também da intuição que tem da existência que escolheu, ou da missão que aceitou e que sabe ter que cumprir.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 379)

960. Donde se origina a crença, com que deparamos entre todos os povos, na existência de penas e recompensas porvindouras?

“É sempre a mesma coisa: pressentimento da realidade, trazido ao homem pelo Espírito nele encarnado. Porque, sabei-o bem, não é debalde que uma voz interior vos fala. O vosso erro consiste em não lhe prestardes bastante atenção. Melhores vos tornaríeis, se nisso pensásseis muito, e muitas vezes.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 432)

Pode-se conceber a luz sem chama e compreender a harmonia sem música. A alma é apta a perceber a harmonia, excluído todo o concurso de instrumentação, como é apta a ver a luz sem o concurso de combinações materiais. A luz é um sentido íntimo que a alma possui: quanto mais desenvolvido ele, tanto melhor percebe ela a luz. A harmonia é igualmente um sentido íntimo da alma, que a percebe em relação com o desenvolvimento desse sentido. Fora do mundo material, isto é, fora das causas tangíveis, a luz e a harmonia são de essência divina. A posse de uma e outra está na razão dos esforços empregados para adquiri-las. Se comparo a luz e a harmonia, é para me fazer mais bem compreendido e também porque esses dois sublimes gozos da alma são filhos de Deus e, portanto, irmãos. (Rossini) (Allan Kardec – Obras Póstumas – Música Espírita – p. 220)

    4.        DA LOCOMOÇÃO E DA COMUNICAÇÃO DOS ESPÍRITOS

90. O Espírito que se transporta de um lugar a outro tem consciência da distância que percorre e dos espaços que atravessa ou é subitamente transportado ao lugar aonde quer ir?

“Dá-se uma e outra coisa. O Espírito pode perfeitamente, se o quiser, inteirar-se da distância que percorre, mas também essa distância pode desaparecer completamente, dependendo isso da sua vontade, bem como da sua natureza mais ou menos depurada.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 88)

420. Podem os Espíritos comunicar-se, estando completamente despertos os corpos?

“O Espírito não se acha encerrado no corpo como numa caixa; irradia por todos os lados. Segue-se que pode comunicar-se com outros Espíritos, mesmo em estado de vigília, se bem que mais dificilmente.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 222-223)

421. Como se explica que duas pessoas, perfeitamente acordadas, tenham instantaneamente a mesma ideia?

“São dois Espíritos simpáticos, que se comunicam e veem reciprocamente seus pensamentos respectivos, embora não estejam adormecidos os corpos.”

Nota – Há, entre os Espíritos que se encontram, uma comunicação de pensamento, que dá causa a que duas pessoas se vejam e compreendam sem precisarem dos sinais ostensivos da linguagem. Poder-se-ia dizer que falam entre si a linguagem dos Espíritos. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 223)

    5.        DA RELAÇÃO COM A MATÉRIA

91. A matéria opõe obstáculo aos Espíritos?

“Nenhum; eles passam através de tudo. O ar, a terra, as águas e até mesmo o fogo lhes são igualmente acessíveis.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 88)

[Suicidas – Um ateu]

19. Vós, e vosso irmão que acabamos de evocar, vos vedes reciprocamente?

— R. Não; ele me foge.

Nota – Poder-se-ia perguntar como é que os Espíritos se podem evitar no mundo espiritual, uma vez que aí não existem obstáculos materiais nem refúgios impenetráveis à vista. Tudo é, porém, relativo nesse mundo e conforme a natureza fluídica dos seres que o habitam. Só os Espíritos superiores têm percepções indefinidas, que nos inferiores são limitadas. Para estes, os obstáculos fluídicos equivalem a obstáculos materiais. Os Espíritos furtam-se às vistas dos semelhantes por efeito volitivo, que atua sobre o envoltório perispiritual e fluidos ambientes. A Providência, porém, qual mãe, por todos os seus filhos vela, e por intermédio dos mesmos, individualmente, lhes concede ou nega essa faculdade, conforme as suas disposições morais, o que constitui, conforme as circunstâncias, um castigo ou uma recompensa. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo V – p. 281)

39. Podendo o Espírito operar transformações na contextura do seu envoltório perispirítico e irradiando-se esse envoltório em torno do corpo qual atmosfera fluídica, pode produzir-se na superfície mesma do corpo um fenômeno análogo ao das aparições. Pode a imagem real do corpo apagar-se mais ou menos completamente, sob a camada fluídica, e assumir outra aparência; ou, então, vistos através da camada fluídica modificada, os traços primitivos podem tomar outra expressão. Se, saindo do terra a terra, o Espírito encarnado se identifica com as coisas do mundo espiritual, pode a expressão de um semblante feio tornar-se bela, radiosa e até luminosa; se, ao contrário, o Espírito é presa de paixões más, um semblante belo pode tomar um aspecto horrendo.

Assim se operam as transfigurações, que refletem sempre qualidades e sentimentos predominantes no Espírito. O fenômeno resulta, portanto, de uma transformação fluídica; é uma espécie de aparição perispirítica, que se produz sobre o próprio corpo do vivo e, algumas vezes, no momento da morte, em lugar de se produzir ao longe, como nas aparições propriamente ditas. O que distingue as aparições desse gênero é o serem, geralmente, perceptíveis por todos os assistentes e com os olhos do corpo, precisamente por se basearem na matéria carnal visível, ao passo que, nas aparições puramente fluídicas, não há matéria tangível. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 264-265)

O fenômeno da transfiguração pode operar-se com intensidades muito diferentes, conforme o grau de depuração do perispírito, grau que sempre corresponde ao da elevação moral do Espírito. Cinge-se às vezes a uma simples mudança no aspecto geral da fisionomia, enquanto que doutras vezes dá ao perispírito uma aparência luminosa e esplêndida.

A forma material pode conseguintemente desaparecer sob o fluido perispirítico, sem que se faça para isso necessário que o fluido assuma outro aspecto. Por vezes, apenas oculta um corpo inerte ou vivo, tornando-o invisível para uma ou para muitas pessoas, como o faria uma camada de vapor. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 63)

Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre aqueles como o som atua sobre o ar; eles nos trazem o pensamento como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer, com verdade, que há ondas nos fluidos e radiações de pensamento, que se cruzam sem se confundirem, como há, no ar, ondas e radiações sonoras.

Ainda mais; criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico como num espelho, ou, então, como essas imagens de objetos terrestres que se refletem nos vapores do ar tomando aí um corpo e, de certo modo, fotografando-se. Se um homem, por exemplo, tiver a ideia de matar alguém, embora seu corpo material se conserve impassível, seu corpo fluídico é acionado por essa ideia e a reproduz com todos os matizes. Ele executa fluidicamente o gesto, o ato que o indivíduo premeditou. Seu pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira se desenha, como num quadro, tal qual lhe está na mente.

É, assim que os mais secretos movimentos da alma repercutem no invólucro fluídico. É assim que uma alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos corporais. Estes veem as impressões interiores que se refletem nos traços fisionômicos: a cólera, a alegria, a tristeza; a alma, porém, vê nos traços da alma os pensamentos que não se exteriorizam. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Fotografia e Telegrafia do Pensamento – p. 142)

O homem exerce ação direta sobre as coisas, assim como sobre as pessoas que o cercam. Frequentemente, uma pessoa de quem se faz pouco caso a exerce decisiva sobre outras de reputação muito superior. Isto decorre de que na Terra se veem muito mais máscaras do que semblantes e de que aí o olhar tem a obscurecê-lo a vaidade, o interesse pessoal e todas as paixões más. A experiência demonstra que se pode atuar sobre o espírito dos homens, à revelia deles. Um pensamento superior, fortemente pensado, permita-se-nos a expressão, pode, pois, conforme a sua força e a sua elevação, tocar de perto ou de longe homens que nenhuma ideia fazem da maneira por que ele lhes chega, do mesmo modo que muitas vezes aquele que o emite não faz idéia do efeito produzido pela sua emissão. É esse um jogo constante das inteligências humanas e da ação recíproca de umas sobre as outras. Juntai-lhe a das inteligências dos desencarnados e imaginai, se o conseguirdes, o poder incalculável dessa força composta de tantas forças reunidas.

Se se pudesse suspeitar do imenso mecanismo que o pensamento aciona e dos efeitos que ele produz de um indivíduo a outro, de um grupo de seres a outro grupo e, afinal, da ação universal dos pensamentos das criaturas umas sobre as outras, o homem ficaria assombrado! Sentir-se-ia aniquilado diante dessa infinidade de pormenores, diante dessas inúmeras redes ligadas entre si por uma potente vontade e atuando harmonicamente para alcançar um único objetivo: o progresso universal.

Pela telegrafia do pensamento, ele apreciará em todo o seu valor a lei da solidariedade, ponderando que não há um pensamento, seja criminoso, seja virtuoso, ou de outro gênero, que não tenha ação real sobre o conjunto dos pensamentos humanos e sobre cada um deles. Se o egoísmo o levava a desconhecer as consequências, para outrem, de um pensamento perverso, pessoalmente seu, por esse mesmo egoísmo ele se verá induzido a ter bons pensamentos, para elevar o nível moral da generalidade das criaturas, atentando nas consequências que sobre si mesmo produziria um mau pensamento de outrem. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Fotografia e Telegrafia do Pensamento – p. 145-146)

482. Como é que sucede estender-se subitamente a toda uma população o estado anormal dos convulsionários e dos que sofrem de crises nervosas?

“Efeito de simpatia. As disposições morais se comunicam mui facilmente, em certos casos. Não és tão alheio aos efeitos magnéticos que não compreendas isto e a parte que alguns Espíritos naturalmente tomam no fato, por simpatia com os que os provocam.”

Nota – Entre as singulares faculdades que se notam nos convulsionários, algumas facilmente se reconhecem, de que numerosos exemplos oferecem o sonambulismo e o magnetismo, tais como, além de outras, a insensibilidade física, a leitura do pensamento, a transmissão das dores, por simpatia etc. Não há, pois, duvidar de que aqueles em quem tais crises se manifestam estejam numa espécie de sonambulismo desperto, provocado pela influência que exercem uns sobre os outros. Eles são ao mesmo tempo magnetizadores e magnetizados, inconscientemente. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 244)

483. Qual a causa da insensibilidade física que se observa em alguns convulsionários, assim como em outros indivíduos submetidos às mais atrozes torturas?

“Em alguns é, exclusivamente, efeito do magnetismo, que atua sobre o sistema nervoso, do mesmo modo que certas substâncias. Em outros, a exaltação do pensamento embota a sensibilidade. Dir-se-ia que nestes a vida se retirou do corpo, para se concentrar toda no Espírito. Não sabeis que, quando o Espírito está vivamente preocupado com uma coisa, o corpo nada sente, nada vê e nada ouve?”

Nota – A exaltação fanática e o entusiasmo hão proporcionado, em casos de suplícios, múltiplos exemplos de uma calma e de um sangue frio que não seriam capazes de triunfar de uma dor aguda, senão admitindo-se que a sensibilidade se acha neutralizada, como por efeito de um anestésico. Sabe-se que, no ardor da batalha, combatentes há que não se apercebem de que estão gravemente feridos, ao passo que, em circunstâncias ordinárias, uma simples arranhadura os poria trêmulos.

Visto que esses fenômenos dependem de uma causa física e da ação de certos Espíritos, lícito se torna perguntar como há podido uma autoridade pública fazê-los cessar em alguns casos. Simples a razão. Meramente secundária é aqui a ação dos Espíritos, que nada mais fazem do que aproveitar-se de uma disposição natural. A autoridade não suprimiu essa disposição, mas a causa que a entretinha e exaltava. De ativa que era, passou esta a ser latente. E a autoridade teve razão para assim proceder, porque do fato resultava abuso e escândalo. Sabe-se, ademais, que semelhante intervenção nenhum poder absolutamente tem, quando a ação dos Espíritos é direta e espontânea. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 244)

    6.        DA UBIQUIDADE E DA BICORPOREIDADE

92. Têm os Espíritos o dom da ubiquidade? Por outras palavras: um Espírito pode dividir-se, ou existir em muitos pontos ao mesmo tempo?

“Não pode haver divisão de um mesmo Espírito, mas cada um é um centro que irradia para diversos lados. Isso é que faz parecer estar um Espírito em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol? É um somente. No entanto, irradia em todos os sentidos e leva muito longe os seus raios. Contudo, não se divide.”

a) Todos os Espíritos irradiam com igual força?

“Longe disso. Essa força depende do grau de pureza de cada um.”

Nota – Cada Espírito é uma unidade indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados, sem que se fracione para tal efeito. Nesse sentido unicamente é que se deve entender o dom da ubiquidade atribuído aos Espíritos. Dá-se com eles o que se dá com uma centelha, que projeta longe a sua claridade e pode ser percebida de todos os pontos do horizonte; ou, ainda, o que se dá com um homem que, sem mudar de lugar e sem se fracionar, transmite ordens, sinais e movimento a diferentes pontos. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 88-89)

5. […] O Espiritismo nos faz compreender como podem os Espíritos achar-se entre nós. Comparecem com seu corpo fluídico ou espiritual e sob a aparência que nos levaria a reconhecê-los, se se tornassem visíveis. Quanto mais elevados são na hierarquia espiritual, tanto maior é neles o poder de irradiação. É assim que possuem o dom da ubiquidade e que podem estar simultaneamente em muitos lugares, bastando para isso que enviem a cada um desses lugares um raio de suas mentes. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 332)

119. […]

Quando o homem, por suas virtudes, chegou a desmaterializar-se completamente; quando conseguiu elevar sua alma para Deus, pode aparecer em dois lugares ao mesmo tempo. Eis como: o Espírito encarnado, ao sentir que lhe vem o sono, pode pedir a Deus lhe seja permitido transportar-se a um lugar qualquer. Seu Espírito, ou sua alma, como quiseres, abandona então o corpo, acompanhado de uma parte do seu perispírito, e deixa a matéria imunda num estado próximo do da morte. Digo próximo do da morte, porque no corpo ficou um laço que liga o perispírito e a alma à matéria, laço este que não pode ser definido. O corpo aparece, então, no lugar desejado. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 131)

119. […]

Nota – A alma não se divide, no sentido literal do termo: irradia-se para diversos lados e pode assim manifestar-se em muitos pontos, sem se haver fracionado. Dá-se o que se dá com a luz, que pode refletir-se simultaneamente em muitos espelhos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 132)

37. Sendo o mesmo o perispírito, assim nos encarnados, como nos desencarnados, um Espírito encarnado, por efeito completamente idêntico, pode, num momento de liberdade, aparecer em ponto diverso do em que repousa seu corpo, com os traços que lhe são habituais e com todos os sinais de sua identidade. Foi esse fenômeno, do qual se conhecem muitos casos autênticos, que deu lugar à crença nos homens duplos. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 264)

32. A faculdade, que a alma possui, de emancipar-se e de desprender-se do corpo durante a vida pode dar lugar a fenômenos análogos aos que os Espíritos desencarnados produzem. Enquanto o corpo se acha mergulhado em sono, o Espírito, transportando-se a diversos lugares, pode tornar-se visível e aparecer sob forma vaporosa, quer em sonho, quer em estado de vigília. Pode igualmente apresentar-se sob forma tangível, ou, pelo menos, com uma aparência tão idêntica à realidade, que possível se torna a muitas pessoas estar com a verdade, ao afirmarem tê-lo visto ao mesmo tempo em dois pontos diversos. Ele, com efeito, estava em ambos, mas apenas num se achava o corpo verdadeiro, achando-se no outro o Espírito. Foi este fenômeno, aliás muito raro, que deu origem à crença nos homens duplos e que se denomina de bicorporeidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 70)

1.2.1 DO DESPRENDIMENTO DO CORPO MATERIAL

EMANCIPAÇÃO DA ALMA – estado particular da vida humana, durante o qual, desprendendo-se dos laços materiais, a alma recobra algumas de suas faculdades de Espírito, e entra mais facilmente em comunicação com os seres incorpóreos. Tal estado se manifesta principalmente pelo fenômeno dos sonhos, da soniloquência, da dupla vista, do sonambulismo natural ou magnético e do êxtase. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 13)

SONILOQUÊNCIA: Ato de falar enquanto dorme. É um tipo de parassonia – comportamento anormal durante o sono. [Informação retirada do site https://www.willianrezende.com.br/falar-durante-o-sono-soniloquio]

23. Embora, durante a vida, o Espírito se encontre preso ao corpo pelo perispírito, não se lhe acha tão escravizado, que não possa alongar a cadeia que o prende e transportar-se a um ponto distante, quer sobre a Terra, quer do espaço. Repugna ao Espírito estar ligado ao corpo, porque a sua vida normal é a de liberdade e a vida corporal é a do servo preso à gleba.

Ele, por conseguinte, se sente feliz em deixar o corpo, como o pássaro em se encontrar fora da gaiola, pelo que aproveita todas as ocasiões que se lhe oferecem para dela se escapar, de todos os instantes em que a sua presença não é necessária à vida de relação. Tem-se então o fenômeno a que se dá o nome de emancipação da alma, fenômeno que se produz sempre durante o sono. De todas as vezes que o corpo repousa, que os sentidos ficam inativos, o Espírito se desprende.

Nesses momentos ele vive da vida espiritual, enquanto que o corpo vive apenas da vida vegetativa; acha-se, em parte, no estado em que se achará após a morte: percorre o espaço, confabula com os amigos e outros Espíritos, livres ou encarnados também.

O laço fluídico que o prende ao corpo só por ocasião da morte se rompe definitivamente; a separação completa somente se dá por efeito da extinção absoluta da atividade vital. Enquanto o corpo vive, o Espírito, a qualquer distância que esteja, é instantaneamente chamado à sua prisão, desde que a sua presença aí se torne necessária. Ele, então, retoma o curso da vida exterior de relação. Por vezes, ao despertar, conserva das suas peregrinações uma lembrança, uma imagem mais ou menos precisa, que constitui o sonho. Quando nada, traz delas intuições que lhe sugerem ideias e pensamentos novos e justificam o provérbio: A noite é boa conselheira.

Assim igualmente se explicam certos fenômenos característicos do sonambulismo natural e magnético, da catalepsia, da letargia, do êxtase etc., e que mais não são do que manifestações da vida espiritual. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 256-257)

GLEBA: terreno próprio para cultivo; torrão, leiva. [Definição do Dicionário Online do Google]

CATALEPSIA E LETARGIA: A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princípio, que é a perda temporária da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica ainda não explicada. Diferem uma da outra em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte; na catalepsia, fica localizada, podendo atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo, de sorte a permitir que a inteligência se manifeste livremente, o que a torna inconfundível com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é por vezes espontânea, mas pode ser provocada e anulada artificialmente pela ação magnética. [Definição dada por Allan Kardec, em nota da questão 424 de O Livro dos Espíritos]

SONO MAGNÉTICO – O fluido magnético age sobre o sistema nervoso e produz em certas pessoas um efeito comparável ao sono natural, mas do qual difere essencialmente sob vários aspectos. A principal diferença está em que, nesse estado, o pensamento fica inteiramente livre, o indivíduo tem uma perfeita consciência de si mesmo e o corpo pode agir como no estado normal, de vez que a causa fisiológica do sono magnético não é a mesma do sono natural. Mas o sono natural é um estado transitório que precede sempre o sono magnético: a passagem de um a outro é um verdadeiro despertar da alma. Eis por que aqueles que pela primeira vez são levados ao sonambulismo magnético, quando se lhes pergunta se dormem respondem negativamente. E, com efeito, desde que veem e pensam livremente, para eles isto não é dormir, no sentido comum do vocábulo. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 34)

A independência e a emancipação da alma se manifestam, de maneira evidente, sobretudo no fenômeno do sonambulismo natural e magnético, na catalepsia e na letargia. A lucidez sonambúlica não é senão a faculdade, que a alma tem, de ver e sentir sem o concurso dos órgãos materiais. É um de seus atributos essa faculdade e reside em todo o seu ser, não passando os órgãos do corpo de estreitos canais por onde lhe chegam certas percepções. A visão à distância, que alguns sonâmbulos possuem, provém de um deslocamento da alma, que então vê o que se passa nos lugares a que se transporta. Em suas peregrinações, ela se acha sempre revestida do seu perispírito, agente de suas sensações, mas que nunca se desliga completamente do corpo, como já ficou dito. O afastamento da alma produz a inércia do corpo, que às vezes parece sem vida.

Esse afastamento ou desprendimento pode também operar-se, em graus diversos, no estado de vigília. Mas, então, jamais o corpo goza inteiramente da sua atividade normal; há sempre uma certa absorção, um alheamento mais ou menos completo das coisas terrestres. O corpo não dorme, caminha, age, mas os olhos olham sem ver, dando a compreender que a alma está algures. Como no sonambulismo, ela vê as coisas distantes; tem percepções e sensações que desconhecemos; às vezes, tem a presciência de alguns acontecimentos futuros pela ligação que percebe existir entre eles e os fatos presentes. Penetrando no mundo invisível, vê os Espíritos com quem lhe é possível entabular conversação e cujos pensamentos lhe é dado transmitir.

À sua volta ao estado normal, de ordinário sobrevém o esquecimento do que se passou. Algumas vezes, porém, ela conserva uma lembrança mais ou menos vaga do ocorrido, como se tivesse tido um sonho. (Allan Kardec – Obras Póstumas – p. 67-68)

445. Que deduções se podem tirar dos fenômenos do sonambulismo e do êxtase? Não constituirão uma espécie de iniciação na vida futura?

“A bem dizer, mediante esses fenômenos, o homem entrevê a vida passada e a vida futura. Estude-os e achará o aclaramento de mais de um mistério, que a sua razão inutilmente procura devassar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 229)

407. É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito?

“Não; basta que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito recobre a sua liberdade. Para se emancipar, ele se aproveita de todos os instantes de trégua que o corpo lhe concede. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, tornando-se tanto mais livre, quanto mais fraco for o corpo.”

Nota – É assim que a sonolência ou o simples torpor dos sentidos apresenta, frequentemente, as mesmas imagens do sonho. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 219)

408. E qual a razão de ouvirmos, algumas vezes em nós mesmos, palavras pronunciadas distintamente e que nenhum nexo têm com o que nos preocupa?

“É fato: ouvis até mesmo frases inteiras, principalmente quando os sentidos começam a entorpecer-se. É, quase sempre, fraco eco do que diz um Espírito que convosco se quer comunicar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 219)

409. Doutras vezes, num estado que ainda não é bem o do adormecimento, estando com os olhos fechados, vemos imagens distintas, figuras cujas mínimas particularidades percebemos. Que há aí, efeito de visão ou de imaginação?

“Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de desprender-se. Transporta-se e vê. Se já fosse completo o sono, haveria sonho.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 220)

410. Dá-se também que, durante o sono, ou quando nos achamos apenas ligeiramente adormecidos, acodem-nos ideias que nos parecem excelentes e que se nos apagam da memória, apesar dos esforços que façamos para retê-las. Donde vêm essas ideias?

“Provêm da liberdade do Espírito que se emancipa e que, emancipado, goza de suas faculdades com maior amplitude. Também são, frequentemente, conselhos que outros Espíritos dão.”

a) De que servem essas ideias e esses conselhos, desde que, por esquecê-los, não os podemos aproveitar?

“Essas ideias, em regra, mais dizem respeito ao mundo dos Espíritos do que ao mundo corpóreo. Pouco importa que comumente o Espírito as esqueça, quando unido ao corpo. Na ocasião oportuna, voltar-lhe-ão como inspiração de momento.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 220)

413. Do princípio da emancipação da alma parece decorrer que temos duas existências simultâneas: a do corpo, que nos permite a vida de relação ostensiva; e a da alma, que nos proporciona a vida de relação oculta. É assim?

“No estado de emancipação, prima a vida da alma. Contudo, não há, verdadeiramente, duas existências. São antes duas fases de uma só existência, porquanto o homem não vive duplamente.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 221)

35ª […]

“A alma da criança é um Espírito ainda envolto nas faixas da matéria; porém, desprendido desta, goza de suas faculdades de Espírito, porquanto os Espíritos não têm idade, o que prova que o da criança já viveu. Entretanto, até que se ache completamente desligado da matéria, pode conservar, na linguagem, traços do caráter da criança.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV – p. 308)

28. Em sua manifestação mais simples, a faculdade que a alma tem de emancipar-se produz o que se denomina o devaneio em vigília. A algumas pessoas, essa emancipação também dá a presciência, que se traduz pelos pressentimentos; em grau mais avançado de desprendimento, produz o fenômeno conhecido pelo nome de “segunda vista”, “vista dupla”, ou “sonambulismo vígil”. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 68)

PRESCIÊNCIA: conhecimento do futuro. [Definição do Dicionário Online do Google]

455. […]

A emancipação da alma se verifica às vezes no estado de vigília e produz o fenômeno conhecido pelo nome de segunda vista ou dupla vista, que é a faculdade graças à qual quem a possui vê, ouve e sente além dos limites dos sentidos humanos. Percebe o que exista até onde estende a alma a sua ação. Vê, por assim dizer, através da vista ordinária e como por uma espécie de miragem.

No momento em que o fenômeno da segunda vista se produz, o estado físico do indivíduo se acha sensivelmente modificado. O olhar apresenta alguma coisa de vago. Ele olha sem ver. Toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação. Nota-se que os órgãos visuais se conservam alheios ao fenômeno, pelo fato de a visão persistir, malgrado a oclusão dos olhos.

Aos dotados desta faculdade ela se afigura tão natural, como a que todos temos de ver. Consideram-na um atributo de seus próprios seres, que em nada lhes parecem excepcionais. De ordinário, o esquecimento se segue a essa lucidez passageira, cuja lembrança, tornando-se cada vez mais vaga, acaba por desaparecer, como a de um sonho.

O poder da vista dupla varia, indo desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes. Quando rudimentar, confere a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma certa segurança nos atos, a que se pode dar o qualificativo de precisão de golpe de vista moral. Um pouco desenvolvida, desperta os pressentimentos. Mais desenvolvida, mostra os acontecimentos que deram ou estão para dar-se.

O sonambulismo natural e artificial, o êxtase e a dupla vista são efeitos vários, ou de modalidades diversas, de uma mesma causa. Esses fenômenos, como os sonhos, estão na ordem da natureza. Tal a razão por que hão existido em todos os tempos. A história mostra que foram sempre conhecidos e até explorados desde a mais remota antiguidade e neles se nos depara a explicação de uma imensidade de fatos que os preconceitos fizeram fossem tidos por sobrenaturais. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 236)

9. […]

Nota – […]

A faculdade de expansão dos fluidos perispiríticos já está sobejamente demonstrada pelas mais dolorosas operações cirúrgicas realizadas em doentes adormecidos, quer pelo clorofórmio e o éter, quer pelo magnetismo animal. Não raro, com efeito, estes últimos conversam de coisas agradáveis com os assistentes, ou se transportam para longe, em Espírito, enquanto o corpo se retorce com todas as aparências de estar experimentando as mais horríveis torturas. A máquina humana, imobilizada no todo ou em parte, é retalhada pelo escalpelo brutal do cirurgião, os músculos se agitam, crispam-se os nervos e transmitem a sensação ao aparelho cérebro-espinhal; mas, a alma, que é quem, no estado normal, sente a dor e a manifesta exteriormente, afastada, por alguns momentos, do corpo sujeito à operação, dominada por outras ideias, por outras ações, só muito surdamente é avisada do que se passa no seu envoltório mortal e se conserva perfeitamente insensível. Quantas vezes não se têm visto soldados gravemente feridos, absorvidos pelo ardor do combate, a perder sangue e forças, combaterem por muito tempo ainda, sem se aperceberem de seus ferimentos? Um homem vivamente preocupado, recebe um golpe violento sem sentir coisa alguma, e só quando cessa a abstração da sua inteligência, reconhece tê-lo atingido a sensação dolorosa que experimenta. A quem não aconteceu ainda, durante uma profunda contenção do Espírito, passar pelo meio de uma multidão tumultuosa e ululante, sem nada ver, nem ouvir, embora o nervo óptico e o aparelho auditivo hajam percebido e transmitido à alma as sensações?

Pelos casos que precedem e por uma imensidade de fatos que seria ocioso reproduzir aqui, mas que a todos é possível conhecer e apreciar, torna-se fora de dúvida que o corpo pode desempenhar suas funções orgânicas, estando longe o Espírito, levado por preocupações de outra ordem. Indefinidamente expansível, conservando ao corpo a elasticidade e a atividade necessárias à sua existência, o perispírito acompanha constantemente o Espírito durante a sua prolongada viagem pelo mundo ideal.

Se, ao demais, considerarmos a propriedade, muito conhecida, que ele possui, de condensar-se, propriedade que lhe permite tornar-se visível sob aparências corpóreas aos médiuns videntes e, embora mais raramente, a quem quer que se ache presente no lugar para onde o Espírito se haja transportado, não poderemos pôr em dúvida a possibilidade do fenômeno da ubiquidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos homens duplos e das aparições de pessoas vivas – p. 101-102)

SOBEJAMENTE: Excessivamente, em excesso. [Definição do Dicionário Online de Português: Dicio]

ESCALPELO: tipo de bisturi de um ou dois gumes us. em dissecções anatômicas. [Definição do Dicionário Online do Google]

CRISPAR: encolher(-se), contrair(-se) espasmodicamente. [Definição do Dicionário Online do Google]

ULULANTE: que ulula, uiva. [Definição do Dicionário Online do Google]

374. Na condição de Espírito livre, tem o idiota consciência do seu estado mental?

“Frequentemente tem. Compreende que as cadeias que lhe obstam ao voo são prova e expiação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p. 203)

118. […] como pode o corpo viver, enquanto está ausente o Espírito? Poderíamos dizer que o corpo vive a vida orgânica, que independe do Espírito, e a prova é que as plantas vivem e não têm Espírito. Mas precisamos acrescentar que, durante a vida, nunca o Espírito se acha completamente separado do corpo. Do mesmo modo que alguns médiuns videntes, os Espíritos reconhecem o Espírito de uma pessoa viva, por um rastro luminoso, que termina no corpo, fenômeno que absolutamente não se dá quando este está morto, porque, então, a separação é completa. Por meio dessa comunicação, entre o Espírito e o corpo, é que aquele recebe aviso, qualquer que seja a distância a que se ache do segundo, da necessidade que este possa experimentar da sua presença, caso em que volta ao seu invólucro com a rapidez do relâmpago. Daí resulta que o corpo não pode morrer durante a ausência do Espírito e que não pode acontecer que este, ao regressar, encontre fechada a porta, conforme hão dito alguns romancistas, em histórias compostas para recrear.

119. Voltemos ao nosso assunto. Isolado do corpo, o Espírito de um vivo pode, como o de um morto, mostrar-se com todas as aparências da realidade. Demais, pelas mesmas causas que hemos exposto, pode adquirir momentânea tangibilidade. Este fenômeno, conhecido pelo nome de bicorporeidade, foi que deu azo às histórias de homens duplos, isto é, de indivíduos cuja presença simultânea em dois lugares diferentes se chegou a comprovar. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 130)

9. […]

Nota – […]

Temos, pois, como demonstrado que uma pessoa viva pode aparecer simultaneamente em dois lugares afastados um do outro: num, com o seu corpo real; no outro, com o seu perispírito momentaneamente condensado sob a aparência de suas formas materiais. Entretanto, de acordo nisto, como sempre, com Allan Kardec, não podemos admitir a ubiquidade, senão quando reconhecemos identidade perfeita nos modos por que se comporta o ser aparente. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos homens duplos e das aparições de pessoas vivas – p. 102-103)

É fato hoje comprovado e perfeitamente explicado que o Espírito, isolando-se de um corpo vivo, pode, com auxílio do seu envoltório fluido-perispirítico, aparecer em lugar diferente do em que está o corpo material. Até ao presente, porém, a teoria, de acordo com a experiência, parece demonstrar que essa separação somente durante o sono se dá, ou, pelo menos, durante a inatividade dos sentidos corpóreos. Se são exatos, os fatos seguintes provam que ela igualmente se produz no estado de vigília. Extraímo-las da obra alemã: Os Fenômenos Místicos da Vida Humana, por Maximiliano Perty, professor da Universidade de Berne, publicada em 1861.

1. “Um camponês proprietário foi visto, pelo seu cocheiro, na cavalariça, com o olhar dirigido para os animais, no momento mesmo em que estava a comungar na igreja. Narrando o fato, mais tarde, ao seu pastor, perguntou-lhe este em que pensava ele no momento da comunhão. — Para dizer a verdade, respondeu o camponês, pensava nos meus animais. — Aí está explicada a sua aparição, replicou o eclesiástico.”

Estava com a verdade o pastor, porquanto, sendo o pensamento atributo essencial do Espírito, tem este que se achar onde se ache o seu pensamento. A questão é saber se, no estado de vigília, pode o desprendimento do perispírito ser suficientemente grande para produzir uma aparição, o que implicaria um como desdobramento do Espírito, uma de cujas partes animaria o corpo fluídico e a outra o corpo material. Nada terá isto de impossível, se considerarmos que, quando o pensamento se concentra num ponto distante, o corpo apenas atua maquinalmente, por efeito de uma espécie de impulsão mecânica, o que se verifica, sobretudo, com as pessoas distraídas. A vida espiritual acompanha o Espírito. É, pois, provável que o homem de quem se trata haja tido, naquele momento, uma distração forte e que os seus animais o preocupavam mais do que a comunhão. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos homens duplos e das aparições de pessoas vivas – p. 93-94)

 

TELEGRAFIA HUMANA – Comunicação à distância entre duas pessoas vivas, que se evocam reciprocamente. Essa evocação provoca a emancipação da alma ou Espírito encarnado, que vem manifestar-se e pode comunicar o seu pensamento pela escrita ou por qualquer outro meio. Dizem-nos os Espíritos que a telegrafia humana será um dia um meio usual de comunicação, quando os homens forem mais moralizados, menos egoístas, menos ligados às coisas materiais. Enquanto esperam, ela será apenas um privilégio das almas de escol. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 35)

38ª Pode evocar-se o Espírito de uma pessoa viva?

“Pode-se, visto que se pode evocar um Espírito encarnado. O Espírito de um vivo também pode, em seus momentos de liberdade, se apresentar sem ser evocado; isto depende da simpatia que tenha pelas pessoas com quem se comunica.”

39ª Em que estado se acha o corpo da pessoa cujo Espírito é evocado?

“Dorme, ou cochila; é quando o Espírito está livre.”

a) Poderia o corpo despertar enquanto o Espírito está ausente?

“Não; o Espírito é forçado a reentrar na sua habitação; se, no momento, ele estiver confabulando convosco, deixa-vos e às vezes diz por que motivo.”

40ª Como, estando ausente do corpo, o Espírito é avisado da necessidade da sua presença?

“O Espírito jamais está completamente separado do corpo vivo em que habita; qualquer que seja a distância a que se transporte, a ele se conserva ligado por um laço fluídico que serve para chamá-lo, quando se torne preciso. Esse laço só a morte o rompe.”

Nota – Esse laço fluídico há sido muitas vezes percebido por médiuns videntes. É uma espécie de cauda fosforescente que se perde no Espaço e na direção do corpo. Alguns Espíritos hão dito que por aí é que reconhecem os que ainda se acham presos ao mundo corporal.

41ª Que sucederia se, durante o sono e na ausência do Espírito, o corpo fosse mortalmente ferido?

“O Espírito seria avisado e voltaria antes que a morte se consumasse.”

a) Assim, não poderá dar-se que o corpo morra na ausência do Espírito e que este, ao voltar, não possa entrar?

“Não; seria contrário à lei que rege a união da alma e do corpo.”

b) Mas se o golpe for dado subitamente e de improviso?

“O Espírito será prevenido antes que o golpe mortal seja vibrado.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV – p. 310)

43ª É absolutamente impossível evocar-se o Espírito de uma pessoa acordada?

“Ainda que difícil, não é absolutamente impossível, porquanto, se a evocação produz efeito, pode dar-se que a pessoa adormeça, mas o Espírito não pode comunicar-se, como Espírito, senão nos momentos em que a sua presença não é necessária à atividade inteligente do corpo.”

Nota – A experiência prova que a evocação feita durante o estado de vigília pode provocar o sono, ou, pelo menos, um torpor aproximado do sono, mas semelhante efeito não se pode produzir senão por ato de uma vontade muito enérgica e se existirem laços de simpatia entre as duas pessoas; de outro modo, a evocação nenhum resultado dá. Mesmo no caso de a evocação poder provocar o sono, se o momento é inoportuno, a pessoa, não querendo dormir, oporá resistência e, se sucumbir, seu Espírito ficará perturbado e dificilmente responderá. Segue-se daí que o momento mais favorável para a evocação de uma pessoa viva é o do sono natural, porque, estando livre, seu Espírito pode vir ter com aquele que o chama, do mesmo modo que poderá ir algures.

Quando a evocação é feita com consentimento da pessoa e esta procura dormir para esse efeito, pode acontecer que essa preocupação retarde o sono e perturbe o Espírito. Por isso, o sono não forçado é sempre preferível. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV  – p. 311)

45ª Evocado o Espírito de uma pessoa viva, responde ele como Espírito ou com as ideias que tem no estado de vigília?

“Isso depende da sua elevação; porém, sempre julga com mais ponderação e tem menos prejuízos, exatamente como os sonâmbulos; é um estado quase semelhante.”

46ª Se fosse evocado no estado de sono magnético, o Espírito de um sonâmbulo seria mais lúcido do que o de qualquer outra pessoa?

“Responderia sem dúvida mais facilmente, por estar mais desprendido; tudo decorre do grau de independência do Espírito com relação ao corpo.”

a) Poderia o Espírito de um sonâmbulo responder a uma pessoa que o evocasse a distância, ao mesmo tempo que respondesse verbalmente a outra pessoa?

“A faculdade de se comunicar simultaneamente em dois pontos diferentes só a têm os Espíritos completamente desprendidos da matéria.”

47ª Poder-se-iam modificar as ideias de uma pessoa em estado de vigília, atuando-se sobre o seu Espírito durante o sono?

“Algumas vezes, será possível. Não estando o Espírito então preso à matéria por laços tão estreitos, mais acessível se acha às impressões morais e essas impressões podem influir sobre a sua maneira de ver no estado ordinário. Infelizmente, acontece com frequência que, ao despertar ele, a natureza corpórea predomina e lhe faz esquecer as boas resoluções que haja tomado.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV – p. 312)

419. Que é o que dá causa a que uma ideia, a de uma descoberta, por exemplo, surja em muitos pontos ao mesmo tempo?

“Já dissemos que durante o sono os Espíritos se comunicam entre si. Ora bem! Quando se dá o despertar, o Espírito se lembra do que aprendeu e o homem julga ser isso um invento de sua autoria. Assim é que muitos podem simultaneamente descobrir a mesma coisa. Quando dizeis que uma ideia paira no ar, usais de uma figura de linguagem mais exata do que supondes. Todos, sem o suspeitarem, contribuem para propagá-la.”

Nota – Desse modo, o nosso próprio Espírito revela muitas vezes, a outros Espíritos, mau grado nosso, o que constituía objeto de nossas preocupações no estado de vigília. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 222)

416. Pode o homem, pela sua vontade, provocar as visitas espíritas? Pode, por exemplo, dizer, quando está para dormir: Quero esta noite encontrar-me em Espírito com fulano, quero falar-lhe para dizer isto?

“O que se dá é o seguinte: Adormecendo o homem, seu Espírito desperta e, muitas vezes, nada disposto se mostra a fazer o que o homem resolvera, porque a vida deste pouco interessa ao seu Espírito, uma vez desprendido da matéria. Isto com relação a homens já bastante elevados espiritualmente. Os outros passam de modo muito diverso a fase espiritual de sua existência terrena. Entregam-se às paixões que os escravizaram, ou se mantêm inativos. Pode, pois, suceder, tais sejam os motivos que a isso o induzem, que o Espírito vá visitar aqueles com quem deseja encontrar-se, mas não constitui razão, para que semelhante coisa se verifique, o simples fato de ele o querer quando desperto.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 221)

57ª […]

Nota – […] A evocação das pessoas vivas, feita em boas condições, prova, da maneira menos contestável, a ação do Espírito distinta da do corpo e, por conseguinte, a existência de um princípio inteligente independente da matéria. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV – p. 315)

Da possibilidade de evocar os Espíritos encarnados resulta a de evocar o Espírito de uma pessoa viva. Então responderá ele como Espírito e não como homem e frequentemente suas ideias não serão as mesmas. Esta espécie de evocação requer prudência, porque circunstâncias há em que poderiam ter inconvenientes. A emancipação da alma, como se sabe, quase sempre se dá durante o sono. Ora, a evocação o provoca, se a pessoa não estiver dormindo ou, ao menos, produzirá um entorpecimento e uma suspensão momentânea das faculdades sensitivas. Assim, haveria perigo se nesse momento a pessoa se achasse numa posição em que necessitasse inteiramente de sua consciência. Outro inconveniente seria se estivesse doente porque o mal poderia agravar-se. O perigo, aliás, é atenuado no sentido em que o Espírito conhece as necessidades de seu corpo e a isto se conforma, não ficando ausente mais que o tempo necessário. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo VIII – p. 84)

113. […]

b) Poder-se-ão considerar como aparições as figuras e outras imagens que se apresentam a certas pessoas, quando estão meio adormecidas, ou quando apenas fecham os olhos?

“Desde que os sentidos entram em torpor, o Espírito se desprende e pode ver longe, ou perto, aquilo que lhe não seria possível ver com os olhos. Muito frequentemente, tais imagens são visões, mas também podem ser efeito das impressões que a vista de certos objetos deixou no cérebro, que lhes conserva os vestígios, como conserva os dos sons. Desprendido, o Espírito vê no seu próprio cérebro as impressões que aí se fixaram como numa chapa daguerreotípica. A variedade e o baralhamento das impressões formam os conjuntos estranhos e fugidios, que se apagam quase imediatamente, ainda que se façam os maiores esforços para retê-los. A uma causa idêntica se devem atribuir certas aparições fantásticas, que nada têm de reais e que muitas vezes se produzem durante uma enfermidade.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 125)

CHAPA DAGUERREOTÍPICA: Relativo a antigo aparelho fotográfico inventado por Daguerre [inventor e pintor francês (1787-1851)], que fixava as imagens obtidas na câmara escura numa folha de prata sobre uma placa de cobre. [Nota da editora FEB]

418. Uma pessoa que julgasse morto um de seus amigos, sem que tal fosse a realidade, poderia encontrar-se com ele, em Espírito, e verificar que continuava vivo? E, dado o fato, poderia, ao despertar, ter dele a intuição?

“Como Espírito, a pessoa que figuras pode ver o seu amigo e conhecer-lhe a sorte. Se lhe não houver sido imposto, por prova, crer na morte desse amigo, poderá ter um pressentimento da sua existência, como poderá tê-lo de sua morte.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII –  p. 222)

1.2.1.1 DO SONO E DOS SONHOS

24. Durante o sono, apenas o corpo repousa; o Espírito, esse não dorme; aproveita-se do repouso do primeiro e dos momentos em que a sua presença não é necessária para atuar isoladamente e ir aonde quiser, no gozo então da sua liberdade e da plenitude das suas faculdades. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 64)

SONO NATURAL – Suspensão momentânea da vida de relação. Entorpecimento dos sentidos durante o qual se interrompem as relações da alma com o mundo exterior por meio dos órgãos. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 34)

402. Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?

“Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire maior potencialidade e pode pôr-se em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo, quer do outro. Dizes frequentemente: Tive um sonho extravagante, um sonho horrível, mas absolutamente inverossímil. Enganas-te. É amiúde uma recordação dos lugares e das coisas que viste ou que verás em outra existência ou em outra ocasião. Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar seus grilhões e de investigar no passado ou no futuro.

Pobres homens, que mal conheceis os mais vulgares fenômenos da vida! Julgais-vos muito sábios e as coisas mais comezinhas vos confundem. Nada sabeis responder a estas perguntas que todas as crianças formulam: Que fazemos quando dormimos? Que são os sonhos?

O sono liberta a alma parcialmente do corpo. Quando dorme, o homem se acha por algum tempo no estado em que fica permanentemente depois que morre. Tiveram sonos inteligentes os Espíritos que, desencarnando, logo se desligam da matéria. Esses Espíritos, quando dormem, vão para junto dos seres que lhes são superiores. Com estes viajam, conversam e se instruem. Trabalham mesmo em obras que se lhes deparam concluídas, quando volvem, morrendo na Terra, ao mundo espiritual. Ainda esta circunstância é de molde a vos ensinar que não deveis temer a morte, pois que todos os dias morreis, como disse um santo.

Isto, pelo que concerne aos Espíritos elevados. Pelo que respeita ao grande número de homens que, morrendo, têm que passar longas horas na perturbação, na incerteza de que tantos já vos falaram, esses vão, enquanto dormem, ou a mundos inferiores à Terra, onde os chamam velhas afeições, ou em busca de gozos quiçá mais baixos do que os em que aqui tanto se deleitam. Vão beber doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis, mais funestas do que as que professam entre vós. E o que gera a simpatia na Terra é o fato de sentir-se o homem, ao despertar, ligado pelo coração àqueles com quem acaba de passar oito ou nove horas de ventura ou de prazer. Também as antipatias invencíveis se explicam pelo fato de sentirmos em nosso íntimo que os entes com quem antipatizamos têm uma consciência diversa da nossa. Conhecemo-los sem nunca os termos visto com os olhos. É ainda o que explica a indiferença de muitos homens. Não cuidam de conquistar novos amigos, por saberem que muitos têm que os amam e lhes querem.

Numa palavra: o sono influi mais do que supondes na vossa vida. Graças ao sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos. Por isso é que os Espíritos superiores assentem, sem grande repugnância, em encarnar entre vós. Quis Deus que, tendo de estar em contato com o vício, pudessem eles ir retemperar-se na fonte do bem, a fim de igualmente não falirem, quando se propõem a instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu, para que possam ir ter com seus amigos do Céu; é o recreio depois do trabalho, enquanto esperam a grande libertação, a libertação final, que os restituirá ao meio que lhes é próprio.

O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono. Notai, porém, que nem sempre sonhais. Que quer isso dizer? Que nem sempre vos lembrais do que vistes, ou de tudo o que havias visto, enquanto dormíeis. É que não tendes então a alma no pleno desenvolvimento de suas faculdades. Muitas vezes, apenas vos fica a lembrança da perturbação que o vosso Espírito experimenta à sua partida ou no seu regresso, acrescida da que resulta do que fizestes ou do que vos preocupa quando despertos. A não ser assim, como explicaríeis os sonhos absurdos, que tanto os sábios, quanto as mais humildes e simples criaturas têm? Acontece também que os maus Espíritos se aproveitam dos sonhos para atormentar as almas fracas e pusilânimes.

Em suma, dentro em pouco vereis vulgarizar-se outra espécie de sonhos. Conquanto tão antiga como a de que vimos falando, vós a desconheceis. Refiro-me aos sonhos de Joana, ao de Jacó, aos dos profetas judeus e aos de alguns adivinhos indianos. São recordações guardadas por almas que se desprendem quase inteiramente do corpo, recordações dessa segunda vida a que ainda há pouco aludíamos.

Tratai de distinguir essas duas espécies de sonhos nos de que vos lembrais, do contrário cairíeis em contradições e em erros funestos à vossa fé.”

Nota – Os sonhos são efeito da emancipação da alma, que mais independente se torna pela suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de clarividência indefinida que se alonga até aos mais afastados lugares e até mesmo a outros mundos. Daí também a lembrança que traz à memória acontecimentos da precedente existência ou das existências anteriores. As singulares imagens do que se passa ou se passou em mundos desconhecidos, entremeados de coisas do mundo atual, é que formam esses conjuntos estranhos e confusos, que nenhum sentido ou ligação parecem ter.

A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas que apresenta a recordação incompleta que conservamos do que nos apareceu quando sonhávamos. É como se a uma narração se truncassem frases ou trechos ao acaso. Reunidos depois, os fragmentos restantes nenhuma significação racional teriam. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 215-218)

INVEROSSÍMIL: que ou aquilo que não é ou não parece verdadeiro. [Definição do Dicionário Online do Google]

COMEZINHO: fácil de entender; simples. [Definição do Dicionário Online do Google]

PUSILÂNIME: que revela pusilanimidade, fraqueza moral; covarde, medroso, fraco. [Definição do Dicionário  Online do Google]

24. […]

“Durante o sono, a alma se liberta parcialmente do corpo. Quando dormimos, ficamos, temporariamente, no estado em que nos acharemos de maneira definitiva após a morte. Os Espíritos que depois da morte de seus corpos se desligaram da matéria, tiveram sonos inteligentes; aqueles, quando dormem, juntam-se à sociedade de outros seres que lhes são superiores; viajam, conversam e se instruem com eles, trabalham mesmo em obras que, quando morrem, acham inteiramente acabadas. Isto deve ensinar-vos a não temer a morte, pois que morreis todos os dias, como o disse um santo.

Assim é com relação aos Espíritos elevados. Quanto à massa geral dos homens que, por ocasião da morte, têm de passar por aquela perturbação, por aquela incerteza de que eles próprios vos hão falado, esses vão ou a mundos inferiores à Terra, aonde os chamam antigas afeições, ou em busca de prazeres ainda mais degradantes, talvez, do que os de sua predileção neste mundo. Vão à cata de doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis, mais nocivas do que as que entre vós professam. O que gera na Terra a simpatia é apenas o fato de que o Espírito, ao despertar, se sente vinculado, pelo coração, àqueles em cuja companhia acaba de passar oito ou nove horas de ventura ou de prazer. Por outro lado, o que também explica essas invencíveis antipatias que uma criatura às vezes experimenta é que ela sente, dentro do seu coração, que os que lhe são antipáticos possuem uma consciência diversa da sua, pois que ela os conhece sem jamais os ter visto. É também o que explica a indiferença, que nasce da circunstância de não nos interessar o granjeio de novos amigos, quando sabemos que outros contamos que nos amam e nos querem. Numa palavra: o sono influi mais do que supondes na vossa vida.” (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 64-65)

24. […]

O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono. Notai, porém, que nem sempre sonhais, pois que nem sempre vos lembrais do que vistes, ou de tudo o que vistes. É que a vossa alma não se acha em todo o desenvolvimento de suas faculdades; não é, muitas vezes, mais do que a lembrança da perturbação que experimenta à partida ou à volta, à qual se junta a do que fizestes ou do que vos preocupa no estado de vigília. Se assim não fosse, como explicaríeis os sonhos absurdos, que tanto os mais sábios, como os mais simples têm? Também os maus Espíritos se servem dos sonhos para atormentar as almas fracas ou pusilânimes.

A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas resultantes da recordação incompleta do que durante eles foi visto. Dá-se então o que se daria com uma narrativa da qual se truncassem frases ao acaso: reunidos, os fragmentos que restassem nenhuma significação racional apresentariam. (Allan Kardec – Obras Póstumas –  Manifestações dos Espíritos – p. 66)

PUSILÂNIME: que revela pusilanimidade, fraqueza moral; covarde, medroso, fraco. [Definição do Dicionário  Online do Google]

24. […]

Em suma, dentro em pouco vereis desenvolver-se outra espécie de sonhos, tão antigos como os que conheceis, mas que ainda ignorais. O sonho de Joana d’Arc, o sonho de Jacob, os sonhos dos profetas judeus e de alguns adivinhos indianos são lembranças que a alma, inteiramente desprendida do corpo, conserva dessa outra vida de que eu ainda não há muito vos falava. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 66)

24. […]

“Por meio do sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos e é isso o que faz que os Espíritos superiores consintam, sem grande repugnância, em encarnar entre vós. Deus quer que, enquanto se achem em contato com o vício, eles possam ir retemperar-se na fonte do bem, para não suceder que também venham a falir, quando o que lhes cabe é instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu para irem ter com seus amigos do céu; é o recreio após o trabalho, enquanto aguardam a grande libertação, a libertação final que os restituirá ao meio que lhes é próprio.” (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 65-66)

38. […] O sono tem por fim dar repouso ao corpo; o Espírito, porém, não precisa de repousar. Enquanto os sentidos físicos se acham entorpecidos, a alma se desprende, em parte, da matéria e entra no gozo das faculdades do Espírito. O sono foi dado ao homem para reparação das forças orgânicas e também para a das forças morais. Enquanto o corpo recupera os elementos que perdeu por efeito da atividade da vigília, o Espírito vai retemperar-se entre os outros Espíritos. Haure, no que vê, no que ouve e nos conselhos que lhe dão, ideias que, ao despertar, lhe surgem em estado de intuição. É a volta temporária do exilado à sua verdadeira pátria. É o prisioneiro restituído por momentos à liberdade.

Como se dá com o presidiário perverso, acontece que nem sempre o Espírito aproveita dessa hora de liberdade para seu adiantamento. Se conserva instintos maus, em vez de procurar a companhia de Espíritos bons, busca a de seus iguais e vai visitar os lugares onde possa dar livre curso aos seus pendores.

Eleve, pois, aquele que se ache compenetrado desta verdade, o seu pensamento a Deus, quando sinta aproximar-se o sono, e peça o conselho dos bons Espíritos e de todos cuja memória lhe seja cara, a fim de que venham juntar-se-lhe, nos curtos instantes de liberdade que lhe são concedidos, e, ao despertar, sentir-se-á mais forte contra o mal, mais corajoso diante da adversidade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo  XXVIII – p. 346-347)

136. Qual o estado da alma durante o sono?

No sono é só o corpo que repousa, mas o Espírito não dorme. As observações práticas provam que, nessas condições, o Espírito goza de toda a liberdade e da plenitude das suas faculdades; aproveita-se do repouso do corpo, dos momentos em que este lhe dispensa a presença, para agir separadamente e ir aonde quer. Durante a vida, qualquer que seja a distância a que se transporte, o Espírito fica sempre preso ao corpo por um cordão fluídico, que serve para chamá-lo, quando a sua presença se torna necessária. Só a morte rompe esse laço. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p.166)

SONHO – Efeito da emancipação da alma durante o sono. Quando os sentidos estão entorpecidos, os laços que unem alma e corpo se afrouxam; tornando-se mais livre, a alma recobra parcialmente as suas faculdades de Espírito e entra mais facilmente em comunicação com os seres do mundo incorpóreo. A lembrança que conserva, ao despertar, daquilo que viu em outros lugares e em outros mundos ou em existências passadas constitui o sonho propriamente dito. Sendo apenas parcial, quase sempre incompleta e misturada às lembranças da véspera, a consequência é que, no encadeamento dos fatos há soluções de continuidade que rompem a ligação e produzem esses conjuntos bizarros, que parecem sem sentido, mais ou menos como uma história na qual, aqui e ali truncassem linhas e frases. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 34)

TRUNCAR: separar do tronco; cortar. [Definição do Dicionário Online do Google]

SOLUÇÃO DE CONTINUIDADE: separação das partes de um todo, divisão, interrupção, dissolução. [Definição do Dicionário Online Língua Brasil]

137. Qual a causa dos sonhos?

Os sonhos são o resultado da liberdade do Espírito durante o sono; às vezes, são a recordação dos lugares e das pessoas que o Espírito viu ou visitou nesse estado. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 166)

[…]

Nota – Enquanto o corpo repousa, o Espírito se desprende dos laços materiais; fica mais livre e pode mais facilmente ver os outros Espíritos, entrando com eles em comunicação. O sonho não é senão a recordação desse estado. Quando de nada nos lembramos, diz-se que não sonhamos, mas nem por isso a alma deixou de ver e de gozar da sua liberdade. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 109)

403. Por que não nos lembramos sempre dos sonhos?

“Em o que chamas sono, só há o repouso do corpo, visto que o Espírito está constantemente em atividade. Recobra, durante o sono, um pouco da sua liberdade e se corresponde com os que lhe são caros, quer neste mundo, quer em outros. Mas, como é pesada e grosseira a matéria que o compõe, o corpo dificilmente conserva as impressões que o Espírito recebeu, porque a este não chegaram por intermédio dos órgãos corporais.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Segunda Parte – Capítulo VIII – p. 218)

404. Que se deve pensar das significações atribuídas aos sonhos?

“Os sonhos não são verdadeiros como o entendem os ledores de buena-dicha, pois fora absurdo crer-se que sonhar com tal coisa anuncia tal outra. São verdadeiros no sentido de que apresentam imagens que para o Espírito têm realidade, porém que, frequentemente, nenhuma relação guardam com o que se passa na vida corporal. São também, como atrás dissemos, um pressentimento do futuro, permitido por Deus, ou a visão do que no momento ocorre em outro lugar a que a alma se transporta. Não se contam por muitos os casos de pessoas que em sonho aparecem a seus parentes e amigos, a fim de avisá-los do que a elas está acontecendo? Que são essas aparições senão as almas ou Espíritos de tais pessoas a se comunicarem com entes caros? Quando tendes certeza de que o que vistes realmente se deu, não fica provado que a imaginação nenhuma parte tomou na ocorrência, sobretudo se o que observastes não vos passava pela mente quando em vigília?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Segunda Parte – Capítulo VIII  – p. 218)

 

As manifestações aparentes mais ordinárias dão-se no sono, pelos sonhos: são as visões. Jamais foram os sonhos explicados pela ciência. Julga ela tudo haver dito, atribuindo-os a um efeito da imaginação. Mas não diz o que é a imaginação, nem como produz ela essas imagens tão claras e tão límpidas que, por vezes, nos aparecem. É explicar uma causa desconhecida por outra que não o é menos. A questão permanece, assim, por inteiro. Dizem que é uma lembrança das preocupações da vigília, mas, mesmo admitindo tal solução, que não é única, restaria saber qual é esse espelho mágico que assim conserva a impressão das coisas; como explicar sobretudo essas visões de coisas reais, que jamais foram vistas no estado de vigília e nas quais jamais se pensou? Só o Espiritismo nos poderia dar a chave desse fenômeno bizarro, que passa inapercebido por força de sua mesma vulgaridade, como todas as maravilhas da natureza que calcamos aos nossos pés. Não cabe no nosso plano examinar todas as particularidades que podem os sonhos apresentar; cingimo-nos a dizer o que podem eles ser; uma visão atual das coisas presentes ou ausentes; uma visão retrospectiva do passado e, nalguns casos excepcionais, um pressentimento do futuro. Por vezes são quadros alegóricos, que os Espíritos fazem passar aos nossos olhos, a fim de nos darem avisos úteis e conselhos salutares, quando se trata de bons Espíritos, ou para induzir-nos em erro e lisonjear as nossas paixões se, se trata de Espíritos imperfeitos.

As pessoas que vemos em sonho são verdadeiras visões. Se sonhamos mais frequentemente com as que preocupam a nossa mente, é que o pensamento é um modo de evocação e por ele nós chamamos a nós o Espírito dessas pessoas, sejam elas vivas ou mortas.

Seria uma injúria ao bom senso de nossos leitores refutar tudo quanto existe de absurdo e de ridículo naquilo que vulgarmente é apresentado como interpretação dos sonhos. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo II – p. 47)

3. José, diz o Evangelho, foi avisado por um anjo, que lhe apareceu em sonho e que lhe aconselhou fugisse para o Egito com o Menino. (Mateus, 2:19 a 23.)

Os avisos por meio de sonhos desempenham grande papel nos livros sagrados de todas as religiões. Sem garantir a exatidão de todos os fatos narrados e sem os discutir, o fenômeno em si mesmo nada tem de anormal, sabendo-se, como se sabe, que, durante o sono, é quando o Espírito, desprendido dos laços da matéria, entra momentaneamente na vida espiritual, onde se encontra com os que lhe são conhecidos. É com frequência essa a ocasião que os Espíritos protetores aproveitam para se manifestar a seus protegidos e lhes dar conselhos mais diretos. São numerosos os casos de avisos em sonho, porém, não se deve inferir daí que todos os sonhos são avisos, nem, ainda menos, que tem uma significação tudo o que se vê em sonho. Cumpre se inclua entre as crenças supersticiosas e absurdas a arte de interpretar os sonhos. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XV – p. 275)

 

405. Acontece com frequência verem-se em sonho coisas que parecem um pressentimento, que, afinal, não se confirma. A que se deve atribuir isto?

“Pode suceder que tais pressentimentos venham a confirmar-se apenas para o Espírito. Quer dizer que este viu aquilo que desejava, foi ao seu encontro. É preciso não esquecer que, durante o sono, a alma está mais ou menos sob a influência da matéria e que, por conseguinte, nunca se liberta completamente de suas ideias terrenas, donde resulta que as preocupações do estado de vigília podem dar ao que se vê a aparência do que se deseja, ou do que se teme. A isto é que, em verdade, cabe chamar-se efeito da imaginação. Sempre que uma ideia nos preocupa fortemente, tudo o que vemos se nos mostra ligado a essa ideia. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 219)

406. Quando em sonho vemos pessoas vivas, muito nossas conhecidas, a praticarem atos de que absolutamente não cogitam, não é isso puro efeito de imaginação?

“De que absolutamente não cogitam, dizes. Que sabes a tal respeito? Os Espíritos dessas pessoas vêm visitar o teu, como o teu os vai visitar, sem que saibas sempre o em que eles pensam. Ademais, não é raro atribuirdes, de acordo com o que desejais, a pessoas que conheceis, o que se deu ou se está dando em outras existências.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 219)

42ª O Espírito de uma pessoa evocada durante o sono é tão livre de se comunicar como o de uma pessoa morta?

“Não; a matéria sempre o influencia mais ou menos.”

Nota – Uma pessoa que se achava nesse estado e a quem foi feita essa pergunta respondeu: Estou sempre ligada à grilheta que arrasto comigo. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXV – p. 311)

 

343. Os que vemos, em sonho, que nos testemunham afeto e que se nos apresentam com desconhecidos semblantes, são alguma vez os Espíritos amigos que nos seguem os passos na vida?

“Muito frequentemente são eles que vos vêm visitar, como ides visitar um encarcerado.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p.194)

401. Durante o sono, a alma repousa como o corpo?

“Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo Espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 215)

414. Podem duas pessoas que se conhecem visitar-se durante o sono?

“Certo e muitos que julgam não se conhecerem costumam reunir-se e falar-se. Podes ter, sem que o suspeites, amigos em outro país. É tão habitual o fato de irdes encontrar-vos, durante o sono, com amigos e parentes, com os que conheceis e que vos podem ser úteis, que quase todas as noites fazeis essas visitas.”

415. Que utilidade podem elas ter, se as olvidamos?

“De ordinário, ao despertardes, guardais a intuição desse fato, do qual se originam certas ideias que vos vêm espontaneamente, sem que possais explicar como vos acudiram. São ideias que adquiristes nessas confabulações.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 221)

CONFABULAÇÃO: ação ou efeito de tramar algo com outros; trama. [Definição do Dicionário Online do Google]

1.2.1.2 DO SONAMBULISMO

SONAMBULISMO – do lat. somnus, o sono e ambulare, andar, passear. Estado de emancipação da alma mais completo do que no sonho. O sonho é um sonambulismo imperfeito. No sonambulismo a lucidez da alma, isto é, a sua faculdade de ver, que é um dos atributos de sua natureza, é mais desenvolvida: ela vê as coisas com mais precisão e clareza; o corpo pode agir sob o impulso da vontade da alma.

O esquecimento absoluto no momento de despertar é um dos sinais característicos do verdadeiro sonambulismo, porque a independência da alma e do corpo é mais completa do que no sonho.

Sonambulismo magnético ou artificial é aquele que é provocado pela ação que uma pessoa exerce sobre outra, por meio do fluido magnético que derrama sobre esta.

Sonambulismo natural, o que é espontâneo e se produz sem provocação e sem a influência de um agente exterior. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 33-34)

174. A lucidez sonambúlica é uma faculdade que se radica no organismo e que independe, em absoluto, da elevação, do adiantamento e mesmo do estado moral do indivíduo. Pode, pois, um sonâmbulo ser muito lúcido e ao mesmo tempo incapaz de resolver certas questões, desde que seu Espírito seja pouco adiantado. O que fala por si próprio pode, portanto, dizer coisas boas ou más, exatas ou falsas, demonstrar mais ou menos delicadeza e escrúpulo nos processos de que use, conforme o grau de elevação ou de inferioridade do seu próprio Espírito. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIV – p. 181)

RADICAR: arraigar, enraizar. [Definição do Dicionário Online do Google]

172. […] o Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita essa comunicação. Muitos sonâmbulos vêem perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes. Podem confabular com eles e transmitir-nos seus pensamentos. O que dizem, fora do âmbito de seus conhecimentos pessoais, lhes é com frequência sugerido por outros Espíritos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIV – p.181)

Sendo de natureza diversa das que ocorrem no estado de vigília, as percepções que se verificam no estado sonambúlico não podem ser transmitidas pelos mesmos órgãos. É sabido que neste caso a visão não se efetua por meio dos olhos que, aliás, se conservam, em geral, fechados e que até podem ser abrigados dos raios luminosos, de maneira a afastar todo motivo de suspeita. Ao demais, a visão a distância e através dos corpos opacos exclui a possibilidade do uso dos órgãos ordinários da vista. Forçoso é, pois, se admita que no estado de sonambulismo um sentido novo se desenvolve, como sede de faculdades e de percepções novas, que desconhecemos e das quais não nos podemos aperceber, senão por analogia e pelo raciocínio. Bem se vê que nada de impossível há nisso; mas, qual a sede desse novo sentido? Não é fácil determiná-la com exatidão. Nem mesmo os sonâmbulos fornecem a tal respeito qualquer indicação precisa. Uns há que, para verem melhor, aplicam os objetos sobre o epigastro, outros sobre a fronte, outros no occipital. O sentido de que se trata não parece, portanto, circunscrito a um lugar determinado; é, todavia, certo que a sua maior atividade reside nos centros nervosos. O que é positivo é que o sonâmbulo vê. Por onde e como? É o que nem ele mesmo pode explicar.

Notemos, porém, que, no estado sonambúlico, os fenômenos da visão e as sensações que o acompanham são essencialmente diferentes do que se passa no estado ordinário, pelo que não nos serviremos do termo ver, senão por comparação e por nos faltar naturalmente um com que designemos uma coisa desconhecida. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Causa e natureza da clarividência sonambúlica – p. 115-116)

OCCIPITAL: Osso que forma a parede posterior e inferior do crânio. [Definição do Dicionário Online de Português: Dicio]

435. Pode o sonâmbulo ver os outros Espíritos?

“A maioria deles os vê muito bem, dependendo do grau e da natureza da lucidez de cada um. É muito comum, porém, não perceberem, no primeiro momento, que estão vendo Espíritos e os tomarem por seres corpóreos. Isso acontece principalmente aos que, nada conhecendo do Espiritismo, ainda não compreendem a essência dos Espíritos. O fato os espanta e fá-los supor que têm diante da vista seres terrenos.”

Nota – O mesmo se dá com os que, tendo morrido, ainda se julgam vivos. Nenhuma alteração notando ao seu derredor e parecendo-lhes que os Espíritos têm corpos iguais aos nossos, tomam por corpos reais os corpos aparentes com que os mesmos Espíritos se lhes apresentam. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 227)

428. Qual a causa da clarividência sonambúlica?

“Já o dissemos: é a alma que vê.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 225)

429. Como pode o sonâmbulo ver através dos corpos opacos?

“Não há corpos opacos senão para os vossos grosseiros órgãos. Já precedentemente não dissemos que a matéria nenhum obstáculo oferece ao Espírito, que livremente a atravessa? Frequentemente ouvis o sonâmbulo dizer que vê pela fronte, pelo punho etc., porque, achando-vos inteiramente presos à matéria, não compreendeis lhe seja possível ver sem o auxílio dos órgãos. Ele próprio, pelo desejo que manifestais, julga precisar dos órgãos. Se, porém, o deixásseis livre, compreenderia que vê por todas as partes do seu corpo, ou, melhor falando, que vê de fora do seu corpo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 225)

430. Pois que a sua clarividência é a de sua alma ou de seu Espírito, por que o sonâmbulo não vê tudo e tantas vezes se engana?

“Primeiramente, aos Espíritos imperfeitos não é dado verem tudo e tudo saberem. Não ignoras que ainda partilham dos vossos erros e prejuízos. Depois, quando unidos à matéria, não gozam de todas as suas faculdades de Espírito. Deus outorgou ao homem a faculdade sonambúlica para fim útil e sério, não para que se informe do que não deva saber. Eis por que os sonâmbulos nem tudo podem dizer.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 226)

432. Como se explica a visão a distância em certos sonâmbulos?

“Durante o sono, a alma não se transporta? O mesmo se dá no sonambulismo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 227)

436. O sonâmbulo que vê, a distância, vê do ponto em que se acha o seu corpo, ou do em que está sua alma?

“Por que esta pergunta, desde que sabes ser a alma quem vê e não o corpo?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 227)

437. Posto que o que se dá, nos fenômenos sonambúlicos, é que a alma se transporta, como pode o sonâmbulo experimentar no corpo as sensações do frio e do calor existentes no lugar onde se acha sua alma, muitas vezes bem distante do seu invólucro?

“A alma, em tais casos, não tem deixado inteiramente o corpo; conserva-se-lhe presa pelo laço que os liga e que então desempenha o papel de condutor das sensações. Quando duas pessoas se comunicam de uma cidade para outra, por meio da eletricidade, esta constitui o laço que lhes liga os pensamentos. Daí vem que confabulam como se estivessem ao lado uma da outra.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 227-228)

Na visão a distância, o sonâmbulo não distingue um objeto ao longe, como o faríamos nós com o auxílio de uma luneta. Não é que o objeto, por uma ilusão de ótica, se aproxime dele, ELE É QUE SE APROXIMA DO OBJETO. O sonâmbulo vê o objeto exatamente como se este se achasse a seu lado; vê-se a si mesmo no lugar que ele observa; numa palavra: transporta-se para esse lugar. Seu corpo, no momento, parece extinto, a palavra lhe sai mais surda, o som da sua voz apresenta qualquer coisa de singular; a vida animal também parece que se lhe extingue; a vida espiritual está toda no lugar aonde o transporta o seu próprio pensamento: somente a matéria permanece onde estava. Há pois uma certa porção do ser que se lhe separa do corpo e se transporta instantaneamente através do espaço, conduzida pelo pensamento e pela vontade. Evidentemente, é imaterial essa porção; a não ser assim, produziria alguns dos efeitos que a matéria produz. É a essa parcela de nós mesmos que chamamos: a alma.

É a alma que confere ao sonâmbulo as maravilhosas faculdades de que ele goza. A alma é quem, dadas certas circunstâncias, se manifesta, isolando-se em parte e temporariamente do seu invólucro corpóreo. Para quem quer que haja observado com atenção os fenômenos do sonambulismo em toda a sua pureza, é patente a existência da alma, tornando-se-lhe uma insensatez demonstrada até à evidência a ideia de que tudo em nós acaba com a vida animal. Pode-se, pois, dizer com alguma razão que o magnetismo e o materialismo são incompatíveis. Se alguns magnetizadores se afastam desta regra e professam as doutrinas materialistas, é sem dúvida que se hão cingido a um estudo muito superficial dos fenômenos físicos do Magnetismo e não procuram seriamente a solução do problema da visão a distância. Como quer que seja, nunca vimos um único sonâmbulo que não se mostrasse penetrado de profundo sentimento religioso, fossem quais fossem suas opiniões no estado vígil. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Causa e natureza da clarividência sonambúlica – p. 117-118)

455. […]

Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno psicológico, é uma luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta se mostra a descoberto. Ora, um dos fenômenos que a caracterizam é o da clarividência independente dos órgãos ordinários da vista. Fundam-se os que contestam este fato em que o sonâmbulo nem sempre vê, e à vontade do experimentador, como com os olhos. […] A alma tem suas propriedades, como os olhos têm as suas. Cumpre julgá-las em si mesmas e não por analogia.

De uma causa única se originam a clarividência do sonâmbulo magnético e a do sonâmbulo natural. É um atributo da alma, uma faculdade inerente a todas as partes do ser incorpóreo que existe em nós e cujos limites não são outros senão os assinados à própria alma. O sonâmbulo vê em todos os lugares em que sua alma possa transportar-se, qualquer que seja a longitude.

No caso de visão a distância, o sonâmbulo não vê as coisas de onde está o seu corpo, como por meio de um telescópio. Vê as presentes, como se se achasse no lugar onde elas existem, porque sua alma, em realidade, lá está. Por isso é que seu corpo fica como que aniquilado e privado de sensação, até que a alma volte a habitá-lo novamente. Essa separação parcial da alma e do corpo constitui um estado anormal, suscetível de duração mais ou menos longa, porém, não indefinida. Daí a fadiga que o corpo experimenta após certo tempo, mormente quando aquela se entrega a um trabalho ativo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 232-233)

433. O desenvolvimento maior ou menor da clarividência sonambúlica depende da organização física ou só da natureza do Espírito encarnado?

“De uma e outra. Há disposições físicas que permitem ao Espírito desprender-se mais ou menos facilmente da matéria.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 227)

Quanto à questão proposta: — “Nos fenômenos espíritas ou sonambúlicos, qual o limite onde cessa a ação própria da alma e começa a dos Espíritos?” — diremos que semelhante limite não existe, ou, melhor, que nada tem de absoluto. Desde que não há espécies distintas, que a alma é apenas um Espírito encarnado, e o Espírito apenas uma alma desprendida dos liames terrenos; que uma e outro são um mesmo ser em meios diferentes, as faculdades e aptidões têm que ser as mesmas. O sonambulismo é um estado transitório entre a encarnação e a desencarnação, um estado de desprendimento parcial, um pé antecipadamente posto no mundo espiritual.

A alma encarnada, ou, se o preferirem o próprio Espírito do sonâmbulo ou do médium, pode, portanto, fazer quase o que fará a alma desencarnada e até mais, se for mais adiantado, com a única diferença, todavia, de que, estando mais livre pelo seu desprendimento completo, a alma tem percepções especiais inerentes ao seu estado. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Causa e natureza da clarividência sonambúlica – p. 113)

426. O chamado sonambulismo magnético tem alguma relação com o sonambulismo natural?

“É a mesma coisa, com a só diferença de ser provocado.”

427. De que natureza é o agente que se chama fluido magnético?

“Fluido vital, eletricidade animalizada, que são modificações do fluido universal.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p. 224-225)

O fluido magnético não é a alma; é um liame, um intermediário entre a alma e o corpo. Atuando mais ou menos sobre a matéria é que ele torna mais ou menos livre a alma, donde a diversidade das faculdades sonambúlicas. O sonâmbulo é o homem despojado apenas de uma parte das suas vestiduras e cujos movimentos são embaraçados pelo que lhe resta dessas vestiduras.

Somente quando tem alijado de si os últimos restos da ganga terrena, como a borboleta que abandona a sua crisálida, encontra-se a alma na plenitude de si mesma e goza de liberdade completa no uso de suas faculdades. Se houvesse um magnetizador bastante poderoso para dar liberdade absoluta à alma, romper-se-ia o liame terrestre e a morte imediata se seguiria. O sonambulismo, portanto, fez que puséssemos o pé na vida futura; ergueu uma ponta do véu sob que se ocultam as verdades que o Espiritismo nos faz hoje entrever. Não na conheceremos, todavia, em sua essência, senão quando nos houvermos desembaraçado por completo da cobertura material que neste mundo a obscurece. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Causa e natureza da clarividência sonambúlica – p. 120)

455. Os fenômenos do sonambulismo natural se produzem espontaneamente e independem de qualquer causa exterior conhecida. Em certas pessoas dotadas de especial organização, porém, podem ser provocados artificialmente, pela ação do agente magnético.

O estado que se designa pelo nome de sonambulismo magnético apenas difere do sonambulismo natural em que um é provocado, enquanto o outro é espontâneo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 231)

434. As faculdades de que goza o sonâmbulo são as que tem o Espírito depois da morte?

“Somente até certo ponto, pois cumpre se atenda à influência da matéria a que ainda se acha ligado.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 227)

438. O uso que um sonâmbulo faz da sua faculdade influi no estado do seu Espírito depois da morte?

“Muito, como o bom ou mau uso que o homem faz de todas as faculdades com que Deus o dotou.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 228)

425. O sonambulismo natural tem alguma relação com os sonhos? Como explicá-lo?

“É um estado de independência do Espírito, mais completo do que no sonho, estado em que maior amplitude adquirem suas faculdades. A alma tem então percepções de que não dispõe no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito.

Nota – No sonambulismo, o Espírito está na posse plena de si mesmo. Os órgãos materiais, achando-se de certa forma em estado de catalepsia, deixam de receber as impressões exteriores. Esse estado se apresenta principalmente durante o sono, ocasião em que o Espírito pode abandonar provisoriamente o corpo, por se encontrar este gozando do repouso indispensável à matéria. Quando se produzem os fatos do sonambulismo, é que o Espírito, preocupado com uma coisa ou outra, se aplica a uma ação qualquer, para cuja prática necessita de utilizar-se do corpo. Serve-se então deste, como se serve de uma mesa ou de outro objeto material no fenômeno das manifestações físicas, ou mesmo como se utiliza da mão do médium nas comunicações escritas. Nos sonhos de que se tem consciência, os órgãos, inclusive os da memória, começam a despertar. Recebem imperfeitamente as impressões produzidas por objetos ou causas externas e as comunicam ao Espírito, que, então, também em repouso, só experimenta, do que lhe é transmitido, sensações confusas e, amiúde, desordenadas, sem nenhuma aparente razão de ser, mescladas que se apresentam de vagas recordações, quer da existência atual, quer de anteriores. Facilmente, portanto, se compreende por que os sonâmbulos nenhuma lembrança guardam do que se passou quando estiveram no estado sonambúlico e por que os sonhos, de que se conserva memória, as mais das vezes não têm sentido. Digo — as mais das vezes, porque também sucede serem a consequência de lembrança exata de acontecimentos de uma vida anterior e até, não raro, uma espécie de intuição do futuro. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 224-225)

431. Qual a origem das ideias inatas do sonâmbulo e como pode falar com exatidão de coisas que ignora quando desperto, de coisas que estão mesmo acima de sua capacidade intelectual?

“É que o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que os que lhe supões. Apenas, tais conhecimentos dormitam, porque, por demasiado imperfeito, seu invólucro corporal não lhe consente rememorá-lo. Que é, afinal, um sonâmbulo? Espírito, como nós, e que se encontra encarnado na matéria para cumprir a sua missão, despertando dessa letargia quando cai em estado sonambúlico. Já te temos dito, repetidamente, que vivemos muitas vezes. Esta mudança é que, ao sonâmbulo, como a qualquer Espírito, ocasiona a perda material do que haja aprendido em precedente existência. Entrando no estado que chamas crise, lembra-se do que sabe, mas sempre de modo incompleto. Sabe, mas não poderia dizer donde lhe vem o que sabe, nem como possui os conhecimentos que revela. Passada a crise, toda recordação se apaga e ele volve à obscuridade.”

Nota – Mostra a experiência que os sonâmbulos também recebem comunicações de outros Espíritos, que lhes transmitem o que devam dizer e suprem à incapacidade que denotam. Isto se verifica principalmente nas prescrições médicas. O Espírito do sonâmbulo vê o mal, outro lhe indica o remédio. Essa dupla ação é às vezes patente e se revela, além disso, por estas expressões muito frequentes: dizem-me que diga, ou proíbem-me que diga tal coisa. Neste último caso, há sempre perigo em insistir-se por uma revelação negada, porque se dá azo a que intervenham Espíritos levianos, que falam de tudo sem escrúpulo e sem se importarem com a verdade. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 226)

Nota – […]

O que se passou neste fato isolado [sono sonambúlico], pelo espaço de alguns minutos, durante a breve excursão que o Espírito da moça realizou pelo mundo espiritual, é análogo ao que se dá no intervalo de uma existência a outra, quando o Espírito que encarna possui luzes sobre um assunto qualquer. Ele se apropria sem dificuldade de todas as ideias referentes a esse assunto, se bem que, como homem, não se recorde da maneira por que as adquiriu. Ao contrário, as ideias, para cuja assimilação ainda não se acha maduro, dificilmente lhe entram no cérebro.

Assim se explica a facilidade com que certas pessoas assimilam as ideias espíritas. Em tais pessoas, essas ideias nada mais fazem que despertar as que já elas possuíam. As criaturas a que nos referimos são espíritas de nascença, como outros são poetas, músicos ou matemáticos. Logo às primeiras palavras, compreendem e não necessitam de fatos materiais para se convencerem. É, não há duvidar, um sinal de adiantamento moral e de desenvolvimento espiritual. (Allan Kardec – Obras Póstumas –  A música celeste – p. 213-214)

455. […]

A vista da alma ou do Espírito não é circunscrita e não tem sede determinada. Eis por que os sonâmbulos não lhe podem marcar órgão especial. Veem porque veem, sem saberem o motivo nem o modo, uma vez que, para eles, na condição de Espíritos, a vista carece de foco próprio. Se se reportam ao corpo, esse foco lhes parece estar nos centros em que maior é a atividade vital, principalmente no cérebro, na região do epigástrio, ou no órgão que considerem o ponto de ligação mais forte entre o Espírito e o corpo.

O poder da lucidez sonambúlica não é ilimitado. O Espírito, mesmo quando completamente livre, tem restringidos seus conhecimentos e faculdades, conforme o grau de perfeição que haja alcançado. Ainda mais restringidos os tem quando ligado à matéria, a cuja influência está sujeito. É o que motiva não ser universal, nem infalível, a clarividência sonambúlica. E tanto menos se pode contar com a sua infalibilidade, quanto mais desviada seja do fim visado pela natureza e transformada em objeto de curiosidade e de experimentação.

No estado de desprendimento em que fica colocado, o Espírito do sonâmbulo entra em comunicação mais fácil com os outros Espíritos encarnados ou não encarnados, comunicação que se estabelece pelo contato dos fluidos, que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico. O sonâmbulo não precisa, portanto, que se lhe exprimam os pensamentos por meio da palavra articulada. Ele os sente e adivinha. É o que o torna eminentemente impressionável e sujeito às influências da atmosfera moral que o envolva.

Essa também a razão por que uma assistência muito numerosa e a presença de curiosos mais ou menos malevolentes lhe prejudicam de modo essencial o desenvolvimento das faculdades que, por assim dizer, se contraem, só se desdobrando com toda a liberdade num meio íntimo ou simpático. A presença de pessoas mal-intencionadas ou antipáticas lhe produz efeito idêntico ao do contato da mão na sensitiva.

O sonâmbulo vê ao mesmo tempo o seu próprio Espírito e o seu corpo, os quais constituem, por assim dizer, dois seres que lhe representam a dupla existência corpórea e espiritual, existências que, entretanto, se confundem, mediante os laços que as unem. Nem sempre o sonâmbulo se apercebe de tal situação e essa dualidade faz que muitas vezes fale de si, como se falasse de outra pessoa. É que ora é o ser corpóreo que fala ao ser espiritual, ora é este que fala àquele. 

Em cada uma de suas existências corporais, o Espírito adquire um acréscimo de conhecimentos e de experiência. Esquece-os parcialmente, quando encarnado em matéria por demais grosseira, porém, deles se recorda como Espírito. Assim é que certos sonâmbulos revelam conhecimentos acima do grau da instrução que possuem e mesmo superiores às suas aparentes capacidades intelectuais. Portanto, da inferioridade intelectual e científica do sonâmbulo, quando desperto, nada se pode inferir com relação aos conhecimentos que porventura revele no estado de lucidez. Conforme as circunstâncias e o fim que se tenha em vista, ele os pode haurir da sua própria experiência, da sua clarividência relativa às coisas presentes, ou dos conselhos que receba de outros Espíritos. Podendo o seu próprio Espírito ser mais ou menos adiantado, possível lhe é dizer coisas mais ou menos certas.

Pelos fenômenos do sonambulismo, quer natural, quer magnético, a Providência nos dá a prova irrecusável da existência e da independência da alma e nos faz assistir ao sublime espetáculo da sua emancipação. Abre-nos, dessa maneira, o livro do nosso destino. Quando o sonâmbulo descreve o que se passa a distância, é evidente que vê, mas não com os olhos do corpo. Vê-se a si mesmo e se sente transportado ao lugar onde vê o que descreve. Lá se acha, pois, alguma coisa dele e, não podendo essa alguma coisa ser o seu corpo, necessariamente é sua alma ou Espírito. Enquanto o homem se perde nas sutilezas de uma metafísica abstrata e ininteligível, em busca das causas da nossa existência moral, Deus cotidianamente nos põe sob os olhos e ao alcance da mão os mais simples e patentes meios de estudarmos a psicologia experimental. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 233-234)

1.2.1.3 DO ÊXTASE

3.3.3 DO ÊXTASE

ÊXTASE – do. gr. ekstasis, transbordamento do Espírito, do verbo existemi, ferir a admiração. Paroxismo da emancipação da alma durante a vida corpórea, de onde resulta a suspensão momentânea das faculdades perceptivas e sensitivas dos órgãos. Em tal estado a alma não se prende mais ao corpo senão por frágeis laços, que procura romper; pertence mais ao mundo dos Espíritos, que entrevê, do que ao mundo material.

Por vezes o êxtase é natural e espontâneo. Também pode ser provocado pela ação magnética e, neste caso, é um grau superior do sonambulismo. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 15-16)

PAROXISMO: 1. espasmo agudo ou convulsão. 2. momento de maior intensidade de uma dor ou de um acesso. [Definição do Dicionário Online do Google]

439. Que diferença há entre o êxtase e o sonambulismo?

“O êxtase é um sonambulismo mais apurado. A alma do extático ainda é mais independente.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 228)

440. O Espírito do extático penetra realmente nos mundos superiores?

“Vê esses mundos e compreende a felicidade dos que os habitam, donde lhe nasce o desejo de lá permanecer. Há, porém, mundos inacessíveis aos Espíritos que ainda não estão bastante purificados.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 228)

441. Quando o extático manifesta o desejo de deixar a Terra, fala sinceramente, não o retém o instinto de conservação?

“Isso depende do grau de purificação do Espírito. Se verifica que a sua futura situação será melhor do que a sua vida presente, esforça-se por desatar os laços que o prendem à Terra.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 228)

442. Se se deixasse o extático entregue a si mesmo, poderia sua alma abandonar definitivamente o corpo?

“Perfeitamente, poderia morrer. Por isso é que preciso se torna chamá-lo a voltar, apelando para tudo o que o prende a este mundo, fazendo-lhe sobretudo compreender que a maneira mais certa de não ficar lá, onde vê que seria feliz, consistiria em partir a cadeia que o tem preso ao planeta terreno.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 228)

444. Que confiança se pode depositar nas revelações dos extáticos?

“O extático está sujeito a enganar-se muito frequentemente, sobretudo quando pretende penetrar no que deva continuar a ser mistério para o homem, porque, então, se deixa levar pela corrente das suas próprias ideias, ou se torna joguete de Espíritos mistificadores, que se aproveitam da sua exaltação para fasciná-lo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 229)

455. […]

O êxtase é o estado em que a independência da alma, com relação ao corpo, se manifesta de modo mais sensível e se torna, de certa forma, palpável.

No sonho e no sonambulismo, o Espírito anda em giro pelos mundos terrestres. No êxtase, penetra em um mundo desconhecido, o dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem que, todavia, lhe seja lícito ultrapassar certos limites, porque, se os transpusesse, totalmente se partiriam os laços que o prendem ao corpo. Cerca-o então resplendente e desusado fulgor, inebriam-no harmonias que na Terra se desconhecem, indefinível bem-estar o invade: goza antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que pousa um pé no limiar da eternidade.

No estado de êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo. Fica-lhe somente, pode-se dizer, a vida orgânica. Sente-se que a alma se lhe acha presa unicamente por um fio, que mais um pequenino esforço quebraria sem remissão.

Nesse estado, desaparecem todos os pensamentos terrestres, cedendo lugar ao sentimento apurado, que constitui a essência mesma do nosso ser imaterial. Inteiramente entregue a tão sublime contemplação, o extático encara a vida apenas como paragem momentânea. Considera os bens e os males, as alegrias grosseiras e as misérias deste mundo quais incidentes fúteis de uma viagem, cujo termo tem a dita de avistar.

Dá-se com os extáticos o que se dá com os sonâmbulos: mais ou menos perfeita podem ter a lucidez e o Espírito mais ou menos apto a conhecer e compreender as coisas, conforme seja mais ou menos elevado. Muitas vezes, porém, há neles mais excitação do que verdadeira lucidez, ou, melhor, muitas vezes a exaltação lhes prejudica a lucidez. Daí o serem, frequentemente, suas revelações um misto de verdades e erros, de coisas grandiosas e coisas absurdas, até ridículas. Dessa exaltação, que é sempre uma causa de fraqueza, quando o indivíduo não sabe reprimi-la, Espíritos inferiores costumam aproveitar-se para dominar o extático, tomando, com tal intuito, aos seus olhos, aparências que mais o aferram às ideias que nutre no estado de vigília. Há nisso um escolho, mas nem todos são assim. Cabe-nos tudo julgar friamente e pesar-lhes as revelações na balança da razão. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 235-236)

DESUSADO: que caiu em desuso; fora de uso; não usado. [Definição do Dicionário Online do Google]

INEBRIANTE: que embriaga, entontece; embriagador. [Definição do Dicionário Online do Google]

LIMIAR: o primeiro momento; começo, início. [Definição do Dicionário Online do Google]

29. O êxtase é a emancipação da alma no grau máximo. “No sonho e no sonambulismo, a alma erra pelos mundos terrestres; no êxtase, penetra num mundo desconhecido, no mundo dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem, todavia, poder ultrapassar certos limites, que ela não poderia transpor sem quebrar totalmente os laços que a prendem ao corpo. Cercam-na um brilho resplandecente e desusado fulgor, elevam-na harmonias que na Terra se desconhecem, invade-a indefinível bem-estar; dado lhe é gozar antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que põe um pé no limiar da eternidade. No êxtase, é quase completo o aniquilamento do corpo; já não resta, por assim dizer, senão a vida orgânica e percebe-se que a alma lhe está presa apenas por um fio, que mais um pequeno esforço faria partir-se”.

30. Como em nenhum dos outros graus de emancipação da alma, o êxtase não é isento de erros, pelo que as revelações dos extáticos longe estão de exprimir sempre a verdade absoluta. A razão disso reside na imperfeição do espírito humano; somente quando ele há, chegado ao cume da escala pode julgar das coisas lucidamente; antes não lhe é dado ver tudo, nem tudo compreender. Se, após o fenômeno da morte, quando o desprendimento é completo, ele nem sempre vê com justeza; se muitos há que se conservam imbuídos dos prejuízos da vida, que não compreendem as coisas do mundo visível, onde se encontram, com mais forte razão o mesmo há de suceder com o Espírito ainda retido na carne.

Há por vezes, nos extáticos, mais exaltação que verdadeira lucidez, ou, melhor, a exaltação lhes prejudica a lucidez, razão por que suas revelações são com frequência mistura de verdades e erros, de coisas sublimes e outras ridículas. Também Espíritos inferiores se aproveitam dessa exaltação, que é sempre uma causa de fraqueza quando não há quem saiba governá-la, para dominar o extático, e, para conseguirem seus fins, assumem aos olhos deste aparências que o aferram às suas ideias e preconceitos, de modo que suas visões e revelações não vêm a ser mais do que reflexos de suas crenças. É um escolho a que só escapam os Espíritos de ordem elevada, escolho diante do qual o observador deve manter-se em guarda. (Allan Kardec – Obras Póstumas- Manifestações dos Espíritos – p. 68-69)

2. DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO DO ESPÍRITO

114. Os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou são eles mesmos que se melhoram?

“São os próprios Espíritos que se melhoram e, melhorando-se, passam de uma ordem inferior para outra mais elevada.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 98)

115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus?

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi destinada. Outros só a suportam lamentando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade.”

a) Segundo o que acabais de dizer, os Espíritos, em sua origem, seriam como as crianças, ignorantes e inexperientes, só adquirindo pouco a pouco os conhecimentos de que carecem com o percorrerem as diferentes fases da vida?

“Sim, a comparação é boa. A criança rebelde se conserva ignorante e imperfeita. Seu aproveitamento depende da sua maior ou menor docilidade. Mas a vida do homem tem termo, ao passo que a dos Espíritos se prolonga ao infinito.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 98-99)

116. Haverá Espíritos que se conservem eternamente nas ordens inferiores?

“Não; todos se tornarão perfeitos. Mudam de ordem, mas demoradamente, porquanto, como já doutra vez dissemos, um pai justo e misericordioso não pode banir seus filhos para sempre. Pretenderias que Deus, tão grande, tão bom, tão justo, fosse pior do que vós mesmos?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 99)

6. Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas dotados de aptidão para tudo conhecerem e para progredirem, em virtude do seu livre-arbítrio. Pelo progresso adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções e, conseguintemente, novos gozos desconhecidos dos Espíritos inferiores; eles veem, ouvem, sentem e compreendem o que os Espíritos atrasados não podem ver, sentir, ouvir ou compreender. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – p. 27)

32º) […]

[…] a Justiça divina patenteia-se na igualdade absoluta que preside à criação dos Espíritos; todos têm o mesmo ponto de partida e nenhum se distingue em sua formação por melhor aquinhoado; nenhum cuja marcha progressiva se facilite por exceção: os que chegam ao fim, têm passado, como quaisquer outros, pelas fases de inferioridade e respectivas provas. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VII – p. 90)

12. […]

As almas ou Espíritos são criados simples e ignorantes, isto é, sem conhecimentos nem consciência do bem e do mal, porém, aptos para adquirir o que lhes falta. O trabalho é o meio de aquisição, e o fim — que é a perfeição — é para todos o mesmo. Conseguem-no mais ou menos prontamente em virtude do livre-arbítrio e na razão direta dos seus esforços; todos têm os mesmos degraus a franquear, o mesmo trabalho a concluir. Deus não aquinhoa melhor a uns do que a outros, porquanto é justo, e, visto serem todos seus filhos, não tem predileções. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VIII – p. 102)

118. Podem os Espíritos degenerar?

“Não; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição. Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 99)

125. Os Espíritos que enveredaram pela senda do mal poderão chegar ao mesmo grau de superioridade que os outros?

“Sim; mas as eternidades lhes serão mais longas.”

Nota – Por estas palavras – as eternidades – se deve entender a ideia que os Espíritos inferiores fazem da perpetuidade de seus sofrimentos, cujo termo não lhes é dado ver, ideia que revive todas as vezes que sucumbem numa prova. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 101)

126. Chegados ao grau supremo da perfeição, os Espíritos que andaram pelo caminho do mal têm, aos olhos de Deus, menos mérito do que os outros?

“Deus olha de igual maneira para os que se transviaram e para os outros e a todos ama com o mesmo coração. Aqueles são chamados maus, porque sucumbiram. Antes, não eram mais que simples Espíritos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 101)

127. Os Espíritos são criados iguais quanto às faculdades intelectuais?

“São criados iguais, porém, não sabendo donde vêm, preciso é que o livre-arbítrio siga seu curso. Eles progridem mais ou menos rapidamente em inteligência como em moralidade.”

Nota – Os Espíritos que desde o princípio seguem o caminho do bem nem por isso são Espíritos perfeitos. Não têm, é certo, maus pendores, mas precisam adquirir a experiência e os conhecimentos indispensáveis para alcançar a perfeição. Podemos compará-los a crianças que, seja qual for a bondade de seus instintos naturais, necessitam de se desenvolver e esclarecer e que não passam, sem transição, da infância à madureza. Simplesmente, assim como há homens que são bons e outros que são maus desde a infância, também há Espíritos que são bons ou maus desde a origem, com a diferença capital de que a criança tem instintos já inteiramente formados, enquanto o Espírito, ao formar-se, não é nem bom nem mau; tem todas as tendências e toma uma ou outra direção, por efeito do seu livre-arbítrio. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 101-102)

2. […]

[…] a alma tem também a sua infância, a sua adolescência e virilidade como o corpo humano, mas para compreender o abstrato, quantas evoluções não tem ela de experimentar na humanidade! Por quantas existências não deve ela passar! (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo IX – p. 106)

14. Criando os mundos materiais, também criou Deus seres inteligentes a que damos o nome de Espíritos.

15. Desconhecemos a origem e o modo de criação dos Espíritos; apenas sabemos que eles são criados simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, porém perfectíveis e com igual aptidão para tudo adquirirem e tudo conhecerem, com o tempo. A princípio, eles se encontram numa espécie de infância, carentes de vontade própria e sem consciência perfeita de sua existência.

16. À medida que o Espírito se distancia do ponto de partida, desenvolvem-se-lhe as ideias, como na criança, e, com as ideias, o livre-arbítrio, isto é, a liberdade de fazer ou não fazer, de seguir este ou aquele caminho para seu adiantamento, o que é um dos atributos essenciais do Espírito.

17. O objetivo final de todos os Espíritos consiste em alcançar a perfeição de que é suscetível a criatura. O resultado dessa perfeição está no gozo da suprema felicidade que lhe é consequente e a que chegam mais ou menos rapidamente, conforme o uso que fazem do livre-arbítrio. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de Fé Espírita Raciocinada – p. 46)

129. Os anjos hão percorrido todos os graus da escala?

“Percorreram todos os graus, mas do modo que havemos dito: uns, aceitando sem murmurar suas missões, chegaram depressa; outros, gastaram mais ou menos tempo para chegar à perfeição.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 102)

13. Entretanto, a alma, qual criança, é inexperiente nas primeiras fases da existência, e daí o ser falível. Não lhe dá Deus essa experiência, mas dá-lhe meios de adquiri-la. Assim, um passo em falso na senda do mal é um atraso para a alma, que, sofrendo-lhe as consequências, aprende à sua custa o que importa evitar.

Deste modo, pouco a pouco, se desenvolve, aperfeiçoa e adianta na hierarquia espiritual até o estado de puro Espírito ou anjo. Os anjos são, pois, as almas dos homens chegados ao grau de perfeição que a criatura comporta, fruindo em sua plenitude a prometida felicidade. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VIII – p. 102)

9. Progredir é condição normal dos seres espirituais e a perfeição relativa o fim que lhes cumpre alcançar. Ora, havendo Deus criado desde toda a eternidade, e criando incessantemente, também desde toda a eternidade tem havido seres que atingiram o ponto culminante da escala.

Antes que existisse a Terra, mundos sem conta haviam sucedido a mundos e, quando a Terra saiu do caos dos elementos, o espaço estava povoado de seres espirituais em todos os graus de adiantamento, desde os que surgiam para a vida até os que, desde toda a eternidade, haviam tomado lugar entre os puros Espíritos, vulgarmente chamados anjos. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XI – p. 186)

24. Nos seres inferiores da Criação, naqueles a quem ainda falta o senso moral, nos quais a inteligência ainda não substituiu o instinto, a luta não pode ter por móvel senão a satisfação de uma necessidade material. Ora, uma das mais imperiosas dessas necessidades é a da alimentação. Eles, pois, lutam unicamente para viver, isto é, para fazer ou defender uma presa, visto que nenhum móvel mais elevado os poderia estimular. É nesse primeiro período que a alma se elabora e ensaia para a vida.

No homem, há um período de transição em que ele mal se distingue do bruto. Nas primeiras idades, domina o instinto animal e a luta ainda tem por móvel a satisfação das necessidades materiais. Mais tarde, contrabalançam-se o instinto animal e o sentimento moral; luta então o homem, não mais para se alimentar, porém, para satisfazer à sua ambição, ao seu orgulho, a sua necessidade de dominar. Para isso, ainda lhe é preciso destruir. Todavia, à medida que o senso moral prepondera, desenvolve-se a sensibilidade, diminui a necessidade de destruir, acaba mesmo por desaparecer, por se tornar odiosa essa necessidade. O homem ganha horror ao sangue.

Contudo, a luta é sempre necessária ao desenvolvimento do Espírito, pois, mesmo chegando a esse ponto, que nos parece culminante, ele ainda está longe de ser perfeito. Só à custa de sua atividade que o Espírito adquire conhecimento, experiência e se despoja dos últimos vestígios da animalidade. Mas, nessa ocasião, a luta, de sangrenta e brutal que era, se torna puramente intelectual. O homem luta contra as dificuldades, não mais contra os seus semelhantes. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo III – p. 74)

139. Por que há na Terra selvagens e homens civilizados?

Sem a preexistência da alma, esta questão é insolúvel, a menos que admitamos tenha Deus criado almas selvagens e almas civilizadas, o que seria a negação da sua justiça. Além disso, a razão recusa admitir que, depois da morte, a alma do selvagem fique perpetuamente em estado de inferioridade, bem como se ache na mesma elevação que a do homem esclarecido.

Admitindo para as almas um mesmo ponto de partida — única doutrina compatível com a Justiça de Deus —, a presença simultânea da selvageria e da civilização, na Terra, é um fato material que prova o progresso que uns já fizeram e que os outros têm de fazer.

A alma do selvagem atingirá, pois, com o tempo, o mesmo grau da alma esclarecida, mas como todos os dias morrem selvagens, essa alma não pode atingir esse grau senão em encarnações sucessivas, cada vez mais aperfeiçoadas e apropriadas ao seu adiantamento, seguindo todos os graus intermediários a esses dois extremos. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p.166-167)

365. Por que alguns homens muito inteligentes, o que indica acharem-se encarnados neles Espíritos superiores, são ao mesmo tempo profundamente viciosos?

“É que não são ainda bastante puros os Espíritos encarnados nesses homens, que, então, e por isso, cedem à influência de outros Espíritos mais imperfeitos. O Espírito progride em insensível marcha ascendente, mas o progresso não se efetua simultaneamente em todos os sentidos. Durante um período da sua existência, ele se adianta em ciência; durante outro, em moralidade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p. 199)

É, pois, certo dizermos, não que somos mais belos, porém que nos aproximamos cada vez mais da beleza real, à medida que nos elevamos para a perfeição.

Todos os tipos se unem harmonicamente no perfeito. Daí o ser este o belo absoluto. — Nós que progredimos possuímos apenas uma beleza relativa, debilitada e combatida pelos elementos desarmônicos da nossa natureza. Lavater (Allan Kardec – Obras Póstumas – Teoria da Beleza – p. 210)

Colocaria o outro trecho sobre a beleza, em seguida desse.

Concordo.

A seguinte comparação é de molde a tornar compreensíveis as peripécias da vida da alma:

Suponhamos uma estrada longa, em cuja extensão se encontram, de distância em distância, mas com intervalos desiguais, florestas que se tem de atravessar e, à entrada de cada uma, a estrada, larga e magnífica, se interrompe, para só continuar à saída. O viajor segue por essa estrada e penetra na primeira floresta. Aí, porém, não dá com caminho aberto; depara-se-lhe, ao contrário, um dédalo inextricável em que ele se perde. A claridade do Sol há desaparecido sob a espessa ramagem das árvores. Ele vagueia, sem saber para onde se dirige. Afinal, depois de inauditas fadigas, chega aos confins da floresta, mas extenuado, dilacerado pelos espinhos, machucado pelos pedrouços. Lá, descobre de novo a estrada e prossegue a sua jornada, procurando curar-se das feridas.

Mais adiante, segunda floresta se lhe antolha, onde o esperam as mesmas dificuldades. Mas, ele já possui um pouco de experiência e dela sai menos contundido. Noutra, topa com um lenhador que lhe indica a direção que deve seguir para se não transviar. A cada nova travessia, aumenta a sua habilidade, de maneira que transpõe cada vez mais facilmente os obstáculos. Certo de que à saída encontrará de novo a boa estrada, firma-se nessa certeza; depois, já sabe orientar-se para achá-la com mais facilidade. A estrada finaliza no cume de uma montanha altíssima, donde ele descortina todo o caminho que percorreu desde o ponto de partida. Vê também as diferentes florestas que atravessou e se lembra das vicissitudes por que passou, mas essa lembrança não lhe é penosa, porque chegou ao termo da caminhada. É qual velho soldado que, na calma do lar doméstico, recorda as batalhas a que assistiu. Aquelas florestas que pontilhavam a estrada lhe são como que pontos negros sobre uma fita branca e ele diz a si mesmo: “Quando eu estava naquelas florestas, nas primeiras, sobretudo, como me pareciam longas de atravessar! Figurava-se-me que nunca chegaria ao fim; tudo ao meu derredor me parecia gigantesco e intransponível. E quando penso que, sem aquele bondoso lenhador que me pôs no bom caminho, talvez eu ainda lá estivesse! Agora, que contemplo essas mesmas florestas do ponto onde me acho, como se me apresentam pequeninas! Afigura-se-me que de um passo teria podido transpô-las; ainda mais, a minha vista as penetra e lhes distingo os menores detalhes; percebo até os passos em falso que dei.”

Diz-lhe então um ancião: — “Meu filho, eis-te chegado ao termo da viagem; mas, um repouso indefinido causar-te-á tédio mortal e tu te porias a ter saudades das vicissitudes que experimentaste e que te davam atividade aos membros e ao Espírito. Vês daqui grande número de viajantes na estrada que percorreste e que, como tu, correm o risco de transviar-se; tens experiência, nada mais temas: vai-lhes ao encontro e procura com teus conselhos guiá-los, a fim de que cheguem depressa.”

— Irei com alegria, replica o nosso homem; entretanto, pergunto: por que não há uma estrada direta desde o ponto de partida até aqui? Isso forraria aos viajantes o terem de atravessar aquelas abomináveis florestas.

— Meu filho, retruca o ancião, atenta bem e verás que muitos evitam a travessia de algumas delas: são os que, tendo adquirido mais de pronto a experiência necessária, sabem tomar um caminho mais direto e mais curto para chegarem aqui. Essa experiência, porém, é fruto do trabalho que as primeiras travessias lhes impuseram, de sorte que eles aqui aportam em virtude do mérito próprio. Que é o que saberias, se por lá não houvesses passado? A atividade que houveste de desenvolver, os recursos de imaginação que precisaste empregar para abrir caminho aumentaram os teus conhecimentos e desenvolveram a tua inteligência. Sem que tal se desse, serias tão noviço quanto o eras à partida. Ao demais, procurando safar-te dos tropeços, contribuíste para o melhoramento das florestas que atravessaste. O que fizeste foi pouca coisa, imperceptível mesmo; pensa, contudo, nos milhares de viajores que fazem outro tanto e que, trabalhando para si mesmos, trabalham, sem o perceberem, para o bem comum. Não é justo que recebam o salário de suas penas no repouso de que gozam aqui? Que direito lhes caberia a esse repouso, se nada houvessem feito?

— Meu pai, responde o viajor, numa das florestas, encontrei um homem que me disse: “Na orla há um imenso abismo a ser transposto de um salto; mas, de mil, apenas um só o consegue; todos os outros lhe caem no fundo, numa fornalha ardente e ficam perdidos sem remissão. Esse abismo eu não o vi.”

— Meu filho, é que ele não existe, pois, do contrário, seria uma cilada abominável, armada a todos os que para cá se dirigem. Bem sei que lhes cabe vencer dificuldades, mas igualmente sei que cedo ou tarde as vencerão. Se eu houvera criado impossibilidades para um só que fosse, sabendo que esse sucumbiria, teria praticado uma crueldade, que avultaria imenso, se atingisse a maioria dos viajores. Esse abismo é uma alegoria, cuja explicação vais receber. Olha para a estrada e observa os intervalos das florestas. Entre os viajantes, alguns vês que caminham com passo lento e semblante jovial; vê aqueles amigos, que se tinham perdido de vista nos labirintos da floresta, como se sentem ditosos, por se haverem de novo encontrado ao deixarem-na. Mas, a par deles, outros há que se arrastam penosamente; estão estropiados e imploram a compaixão dos que passam, pois que sofrem atrozmente das feridas de que, por culpa própria, se cobriram, atravessando os espinheiros. Curar-se-ão, no entanto, e isso lhes constituirá uma lição da qual tirarão proveito na floresta seguinte, donde sairão menos machucados. O abismo simboliza os males que eles experimentam e, dizendo que de mil apenas um o transpõe, aquele homem teve razão, porquanto enorme é o número dos imprudentes; errou, porém, quando disse que aquele que ali cair não mais sairá. Para chegar a mim, o que tombou encontra sempre uma saída. Vai, meu filho, vai mostrar essa saída aos que estão no fundo do abismo; vai amparar os feridos que se arrastam pela estrada e mostrar o caminho aos que se embrenharam pelas florestas.

A estrada é a imagem da vida espiritual da alma e em cujo percurso esta é mais ou menos feliz. As florestas são as existências corpóreas, em que ela trabalha pelo seu adiantamento, ao mesmo tempo que na obra geral. O caminheiro que chega ao fim e que volta para ajudar os que vêm atrasados figura os anjos guardiães, os missionários de Deus, que se sentem venturosos em vê-lo, como, também, no desdobrarem suas atividades para fazer o bem e obedecer ao supremo Senhor. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O Caminho da Vida – p. 232-236)

Para que o orgulhoso deixe de crer na sua superioridade, cumpre se lhe prove que ele não é mais do que os outros e que estes são tanto quanto ele; que a igualdade é um fato e não apenas uma bela teoria filosófica; que estas verdades ressaltam da preexistência da alma e da reencarnação.

Sem a preexistência da alma, o homem é induzido a acreditar que Deus, dado creia em Deus, lhe conferiu vantagens excepcionais; quando não crê em Deus, rende graças ao acaso e ao seu próprio mérito. Iniciando-o na vida anterior da alma, a preexistência lhe ensina a distinguir, da vida corporal, transitória, a vida espiritual, infinita; ele fica sabendo que as almas saem todas iguais das mãos do Criador; que todas têm o mesmo ponto de partida e a mesma finalidade, que todas hão de alcançar, em mais ou menos tempo, conforme os esforços que empreguem; que ele próprio não chegou a ser o que é, senão depois de haver, por longo tempo e penosamente, vegetado, como os outros, nos degraus inferiores da evolução; que, entre os mais atrasados e os mais adiantados, não há senão uma questão de tempo; que as vantagens do nascimento são puramente corpóreas e independem do Espírito; que o simples proletário pode, noutra existência, nascer num trono e o maior potentado renascer proletário. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O Egoísmo e o Orgulho – p. 282)

PROLETÁRIO: cidadão pobre que só tem para viver a remuneração insuficiente da sua força de trabalho. [Definição do dicionário online do Google]

POTENTADO: indivíduo poderoso, influente e/ou rico. [Definição do dicionário online do Google]

Se [o homem] levar em conta unicamente a vida planetária, ele vê apenas as desigualdades sociais do momento, que são as que o impressionam; se, porém, deitar os olhos sobre o conjunto da vida do Espírito, sobre o passado e o futuro, desde o ponto de partida até o de chegada, aquelas desigualdades se somem e ele reconhece que Deus nenhuma vantagem concedeu a qualquer de seus filhos em prejuízo dos outros; que deu parte igual a todos e não achanou o caminho mais para uns do que para outros; que o que se apresenta menos adiantado do que ele na Terra pode tomar-lhe a dianteira, se trabalhar mais do que ele por aperfeiçoar-se; reconhecerá, finalmente, que, nenhum chegando ao termo senão por seus esforços, o princípio da igualdade é um princípio de justiça e uma lei da Natureza, perante a qual cai o orgulho do privilégio. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O Egoísmo e o Orgulho – p. 283)

ACHANOU: tornar(-se) plano, chato; nivelar, aplanar. [Definição do dicionário online do Google]

Gravitar para a unidade divina, eis o fim da humanidade. Para atingi-lo, três coisas são necessárias: a justiça, o amor e a ciência. Três coisas lhe são opostas e contrárias: a ignorância, o ódio e a injustiça. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 451)

607. Dissestes (190) que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do seu desenvolvimento?

“Numa série de existências que precedem o período a que chamais humanidade.”

a) Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não?

“Já não dissemos que tudo na Natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da infância se segue a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Sentir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes nas entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para lhe sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na Natureza. Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da sua bondade, que se estende por sobre todas as suas criaturas.”

b) Esse período de humanização principia na Terra?

“A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período da humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto, entretanto, não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Não é frequente o caso; constitui antes uma exceção.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 288-289)

609. Uma vez no período da humanidade, conserva o Espírito traços do que era precedentemente, quer dizer: do estado em que se achava no período a que se poderia chamar anti-humano?

“Conforme a distância que medeie entre os dois períodos e o progresso realizado. Durante algumas gerações, pode ele conservar vestígios mais ou menos pronunciados do estado primitivo, porquanto nada se opera na Natureza por brusca transição.

Há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia dos seres e dos acontecimentos. Aqueles vestígios, porém, se apagam com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Os primeiros progressos só muito lentamente se efetuam, porque ainda não têm a secundá-los a vontade. Vão em progressão mais rápida, à medida que o Espírito adquire mais perfeita consciência de si mesmo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 289-290)

916. Longe de diminuir, o egoísmo cresce com a civilização, que, até, parece, o excita e mantém. Como poderá a causa destruir o efeito?

“Quanto maior é o mal, mais hediondo se torna. Era preciso que o egoísmo produzisse muito mal, para que compreensível se fizesse a necessidade de extirpá-lo. Os homens, quando se houverem despojado do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, sem se fazerem mal algum, auxiliando-se reciprocamente, impelidos pelo sentimento mútuo da solidariedade. Então, o forte será o amparo e não o opressor do fraco e não mais serão vistos homens a quem falte o indispensável, porque todos praticarão a lei de justiça. Esse o reinado do bem, que os Espíritos estão incumbidos de preparar.”  (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 405)

634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições?

“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes. Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. Se não existissem montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir e descer; se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso, portanto, que conheça o bem e o mal. Eis por que se une ao corpo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 300-301)

691. Qual, do ponto de vista físico, o caráter distintivo e dominante das raças primitivas?

“Desenvolvimento da força bruta, à custa da força intelectual. Agora, dá-se o contrário: o homem faz mais pela inteligência do que pela força do corpo. Todavia, faz cem vezes mais, porque soube tirar proveito das forças da Natureza, o que não conseguem os animais.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IV – p. 322)

897. Merecerá reprovação aquele que faz o bem, sem visar a qualquer recompensa na Terra, mas esperando que lhe seja levado em conta na outra vida e que lá venha a ser melhor a sua situação? E essa preocupação lhe prejudicará o progresso?

“O bem deve ser feito caritativamente, isto é, com desinteresse.”

a) Contudo, todos alimentam o desejo muito natural de progredir, para forrar-se à penosa condição desta vida. Os próprios Espíritos nos ensinam a praticar o bem com esse objetivo. Será, então, um mal pensarmos que, praticando o bem, podemos esperar coisa melhor do que temos na Terra?

“Não, certamente; mas aquele que faz o bem, sem ideia preconcebida, pelo só prazer de ser agradável a Deus e ao seu próximo que sofre, já se acha num certo grau de progresso, que lhe permitirá alcançar a felicidade muito mais depressa do que seu irmão que, mais positivo, faz o bem por cálculo e não impelido pelo ardor natural do seu coração.”

b) Não haverá aqui uma distinção a estabelecer-se entre o bem que podemos fazer ao nosso próximo e o cuidado que pomos em corrigir-nos dos nossos defeitos? Concebemos que seja pouco meritório fazermos o bem com a ideia de que nos seja levado em conta na outra vida; mas será igualmente indício de inferioridade emendarmo-nos, vencermos as nossas paixões, corrigirmos o nosso caráter, com o propósito de nos aproximarmos dos bons Espíritos e de nos elevarmos?

“Não, não. Quando dizemos — fazer o bem, queremos significar — ser caridoso. Procede como egoísta todo aquele que calcula o que lhe possa cada uma de suas boas ações render na vida futura, tanto quanto na vida terrena. Nenhum egoísmo, porém, há em querer o homem melhorar-se, para se aproximar de Deus, pois que é o fim para o qual devem todos tender.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 399)

898. Sendo a vida corpórea apenas uma estada temporária neste mundo e devendo o futuro constituir objeto da nossa principal preocupação, será útil nos esforcemos por adquirir conhecimentos científicos que só digam respeito às coisas e às necessidades materiais?

“Sem dúvida. Primeiramente, isso vos põe em condições de auxiliar os vossos irmãos; depois, o vosso Espírito subirá mais depressa, se já houver progredido em inteligência. Nos intervalos das encarnações, aprendereis numa hora o que na Terra vos exigiria anos de aprendizado. Nenhum conhecimento é inútil; todos mais ou menos contribuem para o progresso, porque o Espírito, para ser perfeito, tem que saber tudo, e porque, cumprindo que o progresso se efetue em todos os sentidos, todas as ideias adquiridas ajudam o desenvolvimento do Espírito.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 399-400)

702. É Lei da Natureza o instinto de conservação?

“Sem dúvida. Todos os seres vivos o possuem, qualquer que seja o grau de sua inteligência. Nuns é puramente maquinal, raciocinado em outros.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 327)

733. Entre os homens da Terra existirá sempre a necessidade da destruição?

“Essa necessidade se enfraquece no homem, à medida que o Espírito sobrepuja a matéria. Assim é que, como podeis observar, o horror à destruição cresce com o desenvolvimento intelectual e moral.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 336)

780. O progresso moral acompanha sempre o progresso intelectual?

“Decorre deste, mas nem sempre o segue imediatamente.”

a) Como pode o progresso intelectual engendrar progresso moral?

“Fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos.”

b) Como é, nesse caso, que, muitas vezes, sucede serem os povos mais instruídos os mais pervertidos também?

“O progresso completo constitui o objetivo. Os povos, porém, como os indivíduos, só passo a passo o atingem. Enquanto não se lhes haja desenvolvido o senso moral, pode mesmo acontecer que se sirvam da inteligência para a prática do mal. O moral e a inteligência são duas forças que só com o tempo chegam a equilibrar-se.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 352)

783. Segue sempre marcha progressiva e lenta o aperfeiçoamento da Humanidade?

“Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas. Quando, porém, um povo não progride tão depressa quanto devera, Deus o sujeita, de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma.”

Nota – O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinalou. Ele se instrui pela força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram nas ideias pouco a pouco; germinam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações.

Nessas comoções, o homem quase nunca percebe senão a desordem e a confusão momentâneas que o ferem nos seus interesses materiais. Aquele, porém, que eleva o pensamento acima da sua própria personalidade, admira os desígnios da Providência, que do mal faz sair o bem. São a procela, a tempestade que saneiam a atmosfera, depois de a terem agitado violentamente. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 353)

PROCELA: forte tempestade no mar com vento intenso e grandes ondas; tormenta, borrasca, temporal. [Definição do dicionário online do Google]

787. Não há raças rebeldes, por sua natureza, ao progresso?

“Há, mas vão aniquilando-se corporalmente, todos os dias.”

a) Qual será a sorte futura das almas que animam essas raças?

“Chegarão, como todas as demais, à perfeição, passando por outras existências. Deus a ninguém deserda.”

b) Assim, pode dar-se que os homens mais civilizados tenham sido selvagens e antropófagos?

“Tu mesmo o foste mais de uma vez, antes de seres o que és.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 355)

35. O Espírito só se depura com o tempo, sendo as diversas encarnações o alambique em cujo fundo deixa de cada vez algumas impurezas. Com o abandonar o seu invólucro corpóreo, os Espíritos não se despojam instantaneamente de suas imperfeições, razão por que, depois da morte, não veem a Deus mais do que o viam quando vivos; mas, à medida que se depuram, têm dele uma intuição mais clara. Não o veem, mas compreendem-no melhor; a luz é menos difusa. Quando, pois, alguns Espíritos dizem que Deus lhes proíbe respondam a uma dada pergunta não é que Deus lhes apareça, ou dirija a palavra, para lhes ordenar ou proibir isto ou aquilo, não; eles, porém, o sentem; recebem os eflúvios do seu pensamento, como nos sucede com relação aos Espíritos que nos envolvem em seus fluidos, embora não os vejamos. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo II – p. 60)

— O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que vence esta influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos bons Espíritos, em cuja companhia um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução, VI – p. 25)

23º) […] Também não basta que um Espírito tenha sido na Terra um grande homem, para que, no mundo espírita, se ache de posse da soberana ciência. Só a virtude pode, purificando-o, aproximá-lo de Deus e dilatar-lhe os conhecimentos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 283)

O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem. Ora, este não chega a Deus senão quando se torna perfeito.

[…]

Não basta se tenham as aparências da pureza; acima de tudo, é preciso ter a do coração. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 127-128)

Bebei na fonte viva do amor e preparai-vos, cativos da vida, a lançar-vos um dia, livres e alegres, no seio daquele que vos criou fracos para vos tornar perfectíveis e que quer modeleis vós mesmos a vossa maleável argila, a fim de serdes os artífices da vossa imortalidade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VI – p. 108)

Dizendo que o Reino dos Céus é dos simples, quis Jesus significar que a ninguém é concedida entrada nesse Reino, sem a simplicidade de coração e humildade de espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será preferido ao sábio que mais crê em si do que em Deus. Em todas as circunstâncias, Jesus põe a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que dele afastam a criatura, e isso por uma razão muito natural: a de ser a humildade um ato de submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra Ele. Mais vale, pois, que o homem, para felicidade do seu futuro, seja pobre em espírito, conforme o entende o mundo, e rico em qualidades morais. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VII – p. 112)

Ai do espírito preguiçoso, ai daquele que cerra o seu entendimento! Ai dele! porquanto nós, que somos os guias da Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos a vontade rebelde, por meio da dupla ação do freio e da espora. Toda resistência orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida. Bem-aventurados, no entanto, os que são brandos, pois prestarão dócil ouvido aos ensinos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IX – p. 138)

22. O aperfeiçoamento do Espírito é fruto do seu próprio labor; ele avança na razão da sua maior ou menor atividade ou da sua boa vontade em adquirir as qualidades que lhe falecem. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de Fé Espírita Raciocinada – p. 47)

8. O amor resume a doutrina de Jesus inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais. Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos em sofrimento! Ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria da alma, nem a do corpo. Tem ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina palavra — amor —, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.

[…]

Disse eu que em seus começos o homem só instintos possuía. Mais próximo, portanto, ainda se acha do ponto de partida do que da meta, aquele em quem predominam os instintos. A fim de avançar para a meta, tem a criatura que vencer os instintos, em proveito dos sentimentos, isto é, que aperfeiçoar estes últimos, sufocando os germens latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões do sentimento; trazem consigo o progresso, como a glande encerra em si o carvalho, e os seres menos adiantados são os que, emergindo pouco a pouco de suas crisálidas, se conservam escravizados aos instintos. O Espírito precisa ser cultivado, como um campo. Toda a riqueza futura depende do labor atual, que vos granjeará muito mais do que bens terrenos: a elevação gloriosa. É então que, compreendendo a lei de amor que liga todos os seres, buscareis nela os gozos suavíssimos da alma, prelúdios das alegrias celestes. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XI – p. 156-157)

Aquelas palavras [Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai Celestial], portanto, devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a de que a Humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade. Em que consiste essa perfeição? Jesus o diz: “Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem.” Mostra Ele desse modo que a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla acepção, porque implica a prática de todas as outras virtudes. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVII – p. 231-232)

3. Se Deus houvesse isentado do trabalho do corpo o homem, seus membros se teriam atrofiado; se o houvesse isentado do trabalho da inteligência, seu espírito teria permanecido na infância, no estado de instinto animal. Por isso é que lhe fez do trabalho uma necessidade e lhe disse: Procura e acharás; trabalha e produzirás. Dessa maneira serás filho das tuas obras, terás delas o mérito e serás recompensado de acordo com o que hajas feito.

4. Em virtude desse princípio é que os Espíritos não acorrem a poupar o homem ao trabalho das pesquisas, trazendo-lhe, já feitas e prontas a ser utilizadas, descobertas e invenções, de modo a não ter ele mais do que tomar o que lhe ponham nas mãos, sem o incômodo, sequer, de abaixar-se para apanhar, nem mesmo o de pensar. Se assim fosse, o mais preguiçoso poderia enriquecer-se e o mais ignorante tornar-se sábio à custa de nada e ambos se atribuírem o mérito do que não fizeram. Não, os Espíritos não vêm isentar o homem da lei do trabalho: vêm unicamente mostrar-lhe a meta que lhe cumpre atingir e o caminho que a ela conduz, dizendo-lhe: Anda e chegarás. Toparás com pedras; olha e afasta-as tu mesmo. Nós te daremos a força necessária, se a quiseres empregar. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXV – p. 300)

Uma vez que o reino do bem é incompatível com o egoísmo, é preciso que o egoísmo seja destruído. Ora, quem o pode destruir? A predominância do sentimento do amor, que leva os homens a se tratarem como irmãos e não como inimigos. A caridade é a base, a pedra angular de todo o edifício social; sem ela o homem só construirá sobre a areia. Que os esforços e, sobretudo, os exemplos de todos os homens de bem concorram, pois, para propagá-la; que não se desencorajem se virem uma recrudescência das más paixões. Elas são os inimigos do bem e, vendo o seu avanço, investem contra ele; mas Deus permitiu que, por seus próprios excessos, elas se destruíssem. O paroxismo de um mal é sempre o sinal de que chega ao seu fim. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 25-26)

PAROXISMO: momento de maior intensidade de uma dor ou de um acesso. [Definição do dicionário online do Google]

Sem a caridade, não há instituição humana estável; e não pode haver caridade nem fraternidade possíveis, na verdadeira acepção da palavra, sem a crença. Aplicai-vos, pois a desenvolver esses sentimentos que, engrandecendo-se, destruirão o egoísmo que vos mata. Quando a caridade tiver penetrado as massas, quando se tiver transformado na fé, na religião da maioria, então vossas instituições se tornarão melhores pela força mesma das coisas; os abusos, oriundos do personalismo, desaparecerão. Ensinai, pois, a caridade e, sobretudo, pregai pelo exemplo: é a âncora de salvação da sociedade. Só ela pode realizar o reino do bem na Terra, que é o reino de Deus; sem ela, o que quer que façais, só criareis utopias, das quais só vos resultarão decepções. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 27)

785. Qual o maior obstáculo ao progresso?

“O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual reduplica a atividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, que, a seu turno, incitam o homem a empreender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. Assim é que tudo se prende, no mundo moral, como no mundo físico, e que do próprio mal pode nascer o bem. Curta, porém, é a duração desse estado de coisas, que mudará à proporção que o homem compreender melhor que, além da que o gozo dos bens terrenos proporciona, uma felicidade existe maior e infinitamente mais duradoura.”

Nota – Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam mútuo apoio, mas que, no entanto, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro tem recebido, no correr deste século, todos os incentivos. Por isso mesmo atingiu um grau a que ainda não chegara antes da época atual. Muito falta para que o segundo se ache no mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes sociais de hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o progresso realizado. Ora, sendo assim, por que haveria essa marcha ascendente de parar, com relação, de preferência, ao moral, do que com relação ao intelectual? Por que será impossível que entre o século XIX e o século XXIV haja, a esse respeito, tanta diferença quanta entre o século XIV e o século XIX? Duvidar fora pretender que a humanidade está no apogeu da perfeição, o que seria absurdo, ou que ela não é perfectível moralmente, o que a experiência desmente. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 354)

914. Fundando-se o egoísmo no sentimento do interesse pessoal, bem difícil parece extirpá-lo inteiramente do coração humano. Chegar-se-á a consegui-lo?

“À medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais. Depois, necessário é que se reformem as instituições humanas que o entretêm e excitam. Isso depende da educação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 404)

917. Qual o meio de destruir-se o egoísmo?

“De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde libertar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas. Quando, bem compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais. O egoísmo assenta na importância da personalidade. Ora, o Espiritismo, bem compreendido, repito, mostra as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante da imensidade. Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a às suas legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo.

O choque, que o homem experimenta, do egoísmo dos outros é o que muitas vezes o faz egoísta, por sentir a necessidade de colocar-se na defensiva. Notando que os outros pensam em si próprios e não nele, ei-lo levado a ocupar-se consigo, mais do que com os outros. Sirva de base às instituições sociais, às relações legais de povo a povo e de homem a homem, o princípio da caridade e da fraternidade e cada um pensará menos na sua pessoa, assim veja que outros nela pensaram. Todos experimentarão a influência moralizadora do exemplo e do contato. Em face do atual extravasamento de egoísmo, grande virtude é verdadeiramente necessária, para que alguém renuncie à sua personalidade em proveito dos outros, que, de ordinário, absolutamente lhe não agradecem. Principalmente para os que possuem essa virtude, é que o Reino dos Céus se acha aberto. A esses, sobretudo, é que está reservada a felicidade dos eleitos, pois em verdade vos digo que, no dia da justiça, será posto de lado e sofrerá pelo abandono, em que se há de ver, todo aquele que em si somente houver pensado.” Fénelon (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 405-406)

917. […]

Nota – louváveis esforços indubitavelmente se empregam para fazer que a humanidade progrida. Os bons sentimentos são animados, estimulados e honrados mais do que em qualquer outra época. Entretanto, o egoísmo, verme roedor, continua a ser a chaga social. É um mal real, que se alastra por todo o mundo e do qual cada homem é mais ou menos vítima. Cumpre, pois, combatê-lo, como se combate uma enfermidade epidêmica. Para isso, deve-se proceder como procedem os médicos: ir à origem do mal. Procurem-se em todas as partes do organismo social, da família aos povos, da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências que, ostensiva ou ocultamente, excitam, alimentam e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará então destruí-las, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação. É grave erro pensar-se que, para exercê-la com proveito, baste o conhecimento da Ciência. Quem acompanhar assim o filho do rico, como o do pobre, desde o instante do nascimento, e observar todas as influências perniciosas que sobre eles atuam, em consequência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que os dirigem, observando igualmente com quanta frequência falham os meios empregados para moralizá-los, não poderá espantar-se de encontrar pelo mundo tantas esquisitices. Faça-se com o moral o que se faz com a inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refratárias, muito maior do que se julga é o número das que apenas reclamam boa cultura, para produzir bons frutos.

O homem deseja ser feliz e natural é o sentimento que dá origem a esse desejo. Por isso é que trabalha incessantemente para melhorar a sua posição na Terra, que pesquisa as causas de seus males para remediá-los. Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada momento o magoam, a que perturba todas as relações sociais, provoca as dissensões, aniquila a confiança, a que o obriga a se manter constantemente na defensiva contra o seu vizinho, enfim, a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidade e, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança. E quanto mais haja sofrido por efeito desse vício, mais sentirá a necessidade de combatê-lo, como se combatem a peste, os animais nocivos e todos os outros flagelos. O seu próprio interesse a isso o induzirá.

O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 406-407)

674. A necessidade do trabalho é Lei da Natureza?

“O trabalho é lei da Natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo III – p. 317)

675. Por trabalho só se devem entender as ocupações materiais?

“Não; o Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo III – p. 317)

676. Por que o trabalho se impõe ao homem?

“Por ser uma consequência da sua natureza corpórea. É expiação e, ao mesmo tempo, meio de aperfeiçoamento da sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria sempre na infância, quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade. Em compensação, ao extremamente fraco de corpo outorgou Deus a inteligência, mas é sempre um trabalho.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo III – p. 317)

679. Achar-se-á isento da lei do trabalho o homem que possua bens suficientes para lhe assegurarem a existência?

“Do trabalho material, talvez; não, porém, da obrigação de tornar-se útil, conforme os meios de que disponha, nem de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que também é trabalho. Aquele a quem Deus facultou a posse de bens suficientes a lhe garantirem a existência não está, é certo, constrangido a alimentar-se com o suor do seu rosto, mas tanto maior lhe é a obrigação de ser útil aos seus semelhantes, quanto mais ocasiões de praticar o bem lhe proporciona o adiantamento que lhe foi feito.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo III – p. 318)

682. Sendo uma necessidade para todo aquele que trabalha, o repouso não é também uma Lei da Natureza?

“Sem dúvida. O repouso serve para a reparação das forças do corpo e também é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, a fim de que se eleve acima da matéria.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo III -p. 319)

683. Qual o limite do trabalho?

“O das forças. Em suma, a esse respeito Deus deixa inteiramente livre o homem.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo III – p. 319)

685. […]

Nota – Não basta se diga ao homem que lhe corre o dever de trabalhar. É preciso que aquele que tem de prover à sua existência por meio do trabalho encontre em que se ocupar, o que nem sempre acontece. Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assume as proporções de um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Esse equilíbrio, porém, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências, durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo III – p. 319-320)

Paris, 4 de fevereiro de 1869.

(Médium: Sra. Malet)

Ponderastes com acerto que a fonte primária de toda bondade e de toda inteligência é também a fonte de toda beleza. — O amor gera a beleza de todas as coisas, sendo, ele próprio, a perfeição. — O Espírito tem por dever adquirir essa perfeição, que é a sua essência e o seu destino. Ele tem que se aproximar, por seu trabalho, da inteligência soberana e da bondade infinita; tem, pois, também que revestir a forma cada vez mais perfeita, que caracteriza os seres perfeitos.

Se, nas vossas sociedades infelizes, no vosso globo ainda mal equilibrado, a espécie humana está tão longe dessa beleza física, é porque a beleza moral ainda está em começo de desenvolvimento. A conexão entre essas duas belezas é fato certo, lógico e do qual já neste mundo a alma tem a intuição. Com efeito, sabeis todos quão penoso é o aspecto de uma encantadora fisionomia, cujo encanto, porém, o caráter desmente. Se ouvis falar de uma pessoa de mérito comprovado, logo lhe atribuís os mais simpáticos traços e ficais dolorosamente impressionados, quando verificais que a realidade desmente as vossas previsões.

Que concluir daí, senão que, como todas as coisas que o futuro guarda de reserva, a alma tem a presciência da beleza, à medida que a Humanidade progride e se aproxima do seu tipo divino. Não busqueis tirar, da aparente decadência em que se acha a raça mais adiantada deste globo, argumentos contrários a essa afirmação. Sim, é verdade que a espécie parece degenerar, abastardar-se; sobre vós se abatem as enfermidades antes da velhice; mesmo a infância sofre as moléstias que habitualmente só se manifestam noutra idade da vida. É isso, no entanto, simples transição. A vossa época é má; ela acaba e gera: acaba um período doloroso e gera uma época de regeneração física, de adiantamento moral, de progresso intelectual. A nova raça, de que já falei, terá mais faculdades, mais recursos para os serviços do espírito; será maior, mais forte, mais bela. Desde o princípio, pôr-se-á de harmonia com as riquezas da Criação que a vossa raça, descuidosa e fatigada, desdenha ou ignora. Ter-lhe-eis feito grandes coisas, das quais ela aproveitará, avançando pela estrada das descobertas e dos aperfeiçoamentos, com um ardor febril cujo poder desconheceis.

Mais adiantados também em bondade, os vossos descendentes farão desta infeliz terra o que não haveis sabido fazer: um mundo ditoso, onde o pobre não será repelido, nem desprezado, mas socorrido por vastas e liberais instituições. Já desponta a aurora dessas ideias; chega-nos, por momentos, a claridade delas.

Amigos, eis afinal o dia em que a luz brilhará na Terra obscura e miserável, em que a raça será boa e bela, de acordo com o grau de adiantamento que haja alcançado, em que o sinal posto na fronte do homem já não será o da reprovação, mas um sinal de alegria e de esperança. Então, os Espíritos adiantados virão, em multidões, tomar lugar entre os colonos deste globo; estarão em maioria e tudo lhes cederá ao passo. Far-se-á a renovação e a face do globo será mudada, porquanto essa raça será grande e poderosa e o momento em que ela vier assinalará o começo dos tempos venturosos.

Pamphile [Espírito] (Allan Kardec – Obras Póstumas – Teoria da Beleza – p. 207-208)

132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?

“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da Criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus.

É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.”

Nota – A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Deus, porém, na sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar dele. Deste modo, por uma admirável lei da Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo II – p. 105)

— Os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a absoluta perfeição moral. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução, VI – p. 24)

10. Os Espíritos não podem aspirar à completa felicidade, até que não se tenham tornado puros: qualquer mácula lhes interdita a entrada nos mundos ditosos. São como os passageiros de um navio onde há pestosos, aos quais se veda o acesso à cidade a que aportem, até que se hajam expurgado. Mediante as diversas existências corpóreas é que os Espíritos se vão expungindo, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provações da vida os fazem adiantar-se, quando bem suportadas. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 85)

189. Desde o início de sua formação, goza o Espírito da plenitude de suas faculdades? “Não, pois que para o Espírito, como para o homem, também há infância. Em sua origem, a vida do Espírito é apenas instintiva. Ele mal tem consciência de si mesmo e de seus atos. A inteligência só pouco a pouco se desenvolve.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 130-131)

190. Qual o estado da alma na sua primeira encarnação?

“O da infância na vida corporal. A inteligência então apenas desabrocha: a alma se ensaia para a vida.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 131)

191. As dos nossos selvagens são almas no estado de infância?

“De infância relativa, pois já são almas desenvolvidas, visto que já nutrem paixões.”

a) Então, as paixões são um sinal de desenvolvimento?

“De desenvolvimento, sim; de perfeição, porém, não. São sinal de atividade e de consciência do eu, porquanto, na alma primitiva, a inteligência e a vida se acham no estado de germe.”

Nota – A vida do Espírito, em seu conjunto, apresenta as mesmas fases que observamos na vida corporal. Ele passa gradualmente do estado de embrião ao de infância, para chegar, percorrendo sucessivos períodos, ao de adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que para o Espírito não há declínio, nem decrepitude, como na vida corporal; que a sua vida, que teve começo, não terá fim; que imenso tempo lhe é necessário, do nosso ponto de vista, para passar da infância espírita ao completo desenvolvimento; e que o seu progresso se realiza, não num único mundo, mas vivendo ele em mundos diversos. A vida do Espírito, pois, se compõe de uma série de existências corpóreas, cada uma das quais representa para ele uma ocasião de progredir, do mesmo modo que cada existência corporal se compõe de uma série de dias, em cada um dos quais o homem obtém um acréscimo de experiência e de instrução. Mas, assim como, na vida do homem, há dias que nenhum fruto produzem, na do Espírito, há existências corporais de que ele nenhum resultado colhe, porque não as soube aproveitar. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 131)

25. […]

A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes  necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência. Sendo soberanamente justo, Deus tem de distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de proceder. Qualquer privilégio seria uma preferência, e toda preferência, uma injustiça; mas a encarnação, para todos os Espíritos, é apenas um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como primeira experiência do uso que farão do livre-arbítrio. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IV – p. 76)

26. […]

Para o Espírito do selvagem, que está apenas no início da vida espiritual, a encarnação é um meio de ele desenvolver a sua inteligência; contudo, para o homem esclarecido, em quem o senso moral se acha largamente desenvolvido e que é obrigado a percorrer de novo as etapas de uma vida corpórea cheia de angústias, quando já poderia ter chegado ao fim, é um castigo, pela necessidade em que se vê de prolongar sua permanência em mundos inferiores e desgraçados. Aquele que, ao contrário, trabalha ativamente pelo seu progresso moral, além de abreviar o tempo da encarnação material, pode também transpor de uma só vez os degraus intermédios que o separam dos mundos superiores. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IV – p. 77)

8. A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – p. 28)

Uma só existência corporal é manifestamente insuficiente para o Espírito adquirir todo o bem que lhe falta e eliminar o mal que lhe sobra.

[…] Mas Deus, que é soberanamente justo e bom, concede ao Espírito tantas encarnações quantas as necessárias para atingir seu objetivo — a perfeição.

Para cada nova existência entra o Espírito com o cabedal adquirido nas anteriores em aptidões, conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade. Cada existência é assim um passo avante no caminho do progresso.

A encarnação é inerente à inferioridade dos Espíritos, deixando de ser necessária desde que estes, transpondo-lhe os limites, ficam aptos para progredir no estado espiritual, ou nas existências corporais de mundos superiores, que nada têm da materialidade terrestre. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – p. 29)

23. Não podendo o Espírito, numa só existência, adquirir todas as qualidades morais e intelectuais que hão de conduzi-lo à meta, ele chega a essa aquisição por meio de uma série de existências, em cada uma das quais dá alguns passos para a frente na senda do progresso e se escoima de algumas imperfeições.

24. Para cada nova existência, o Espírito traz o que ganhou em inteligência e em moralidade nas suas existências pretéritas, assim como os germens das imperfeições de que ainda se não expungiu. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de Fé Espírita Raciocinada – p. 47-48)

24. A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover ao alimento do corpo, à sua segurança, ao seu bem-estar, o força a empregar suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil, portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria. Daí o constituir uma necessidade a encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e o progresso material do globo que lhe serve de habitação. É assim que, progredindo, colabora na obra do Criador, da qual se torna fator inconsciente.

25. Todavia, a encarnação do Espírito não é constante, nem perpétua: é transitória. Deixando um corpo, ele não retoma imediatamente outro. Durante mais ou menos considerável lapso de tempo, vive da vida espiritual, que é sua vida normal, de tal sorte que insignificante vem a ser o tempo que lhe duram as encarnações, se comparado ao que passa no estado de Espírito livre. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XI – p. 192)

20. A vida espiritual é a vida normal do Espírito: é eterna; a vida corporal é transitória e passageira: não é mais do que um instante na eternidade.

21. A encarnação dos Espíritos está nas leis da Natureza; é necessária ao adiantamento deles e à execução das obras de Deus. Pelo trabalho, que a existência corpórea lhes impõe, eles aperfeiçoam a inteligência e adquirem, cumprindo a lei de Deus, os méritos que os conduzirão à felicidade eterna.

Daí resulta que, concorrendo para a obra geral da criação, os Espíritos trabalham pelo seu próprio progresso. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de Fé Espírita Raciocinada – p. 47)

168. É limitado o número das existências corporais, ou o Espírito reencarna perpetuamente?

“A cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do progresso. Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 124)

169. É invariável o número das encarnações para todos os Espíritos?

“Não; aquele que caminha depressa, a muitas provas se forra. Todavia, as encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porquanto o progresso é quase infinito.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 124)

177. Para chegar à perfeição e à suprema felicidade, destino final de todos os homens, tem o Espírito que passar pela fieira de todos os mundos existentes no Universo?

“Não, porquanto muitos são os mundos correspondentes a cada grau da respectiva escala e o Espírito, saindo de um deles, nenhuma coisa nova aprenderia nos outros do mesmo grau.”

a) Como se explica então a pluralidade de suas existências em um mesmo globo?

“De cada vez poderá ocupar posição diferente das anteriores e nessas diversas posições se lhe deparam outras tantas ocasiões de adquirir experiência.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 126)

26. Devendo o Espírito, em cada existência corpórea, adquirir alguma coisa no sentido do bem e despojar-se de alguma coisa no sentido do mal, segue-se que, após certo número de encarnações, ele se acha depurado e alcança o estado de puro Espírito. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de Fé Espírita Raciocinada – p. 48)

27. É indeterminado o número das existências corpóreas; depende da vontade do Espírito reduzir esse número, trabalhando ativamente pelo seu progresso moral. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de Fé Espírita Raciocinada – p. 48)

26. Normalmente, a encarnação não é uma punição para o Espírito, conforme pensam alguns, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de ele progredir.

À medida que progride moralmente, o Espírito se desmaterializa, isto é, depura-se, com o subtrair-se à influência da matéria; sua vida se espiritualiza, suas faculdades e percepções se ampliam; sua felicidade se torna proporcional ao progresso realizado. Entretanto, como atua em virtude do seu livre-arbítrio, pode ele, por negligência ou má vontade, retardar o seu avanço; prolonga, conseguintemente, a duração de suas encarnações materiais, que, então, se lhe tornam uma punição, pois que, por falta sua, ele permanece nas categorias inferiores, obrigado a recomeçar a mesma tarefa. Depende, pois, do Espírito abreviar, pelo trabalho de depuração executado sobre si mesmo, a extensão do período das encarnações. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XI – p. 193)

133. Têm necessidade de encarnação os Espíritos que, desde o princípio, seguiram o caminho do bem?

“Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, conseguintemente sem mérito.”

a) Mas, então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isso não os isenta dos sofrimentos da vida corporal?

“Chegam mais depressa ao fim. Demais, as aflições da vida são muitas vezes a consequência da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeições, tanto menos tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro, nem ambicioso, não sofrerá as torturas que se originam desses defeitos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo II – p. 105-106)

O Espiritismo aponta-nos outra aplicação do mesmo princípio nas encarnações sucessivas, mediante as quais os que, numa existência, ocuparam as mais elevadas posições, descem, em existência seguinte, às mais ínfimas condições, desde que os tenham dominado o orgulho e a ambição. Não procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar mais humilde e mais modesto, porquanto Deus saberá dar-vos um mais elevado no céu, se o merecerdes. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VII – p. 114)

A pluralidade das existências, segundo o Espiritismo, difere essencialmente da metempsicose, em não admitir aquele a encarnação da alma humana nos corpos de animais, mesmo como castigo. Os Espíritos ensinam que a alma não retrograda, mas progride sempre. Suas diferentes existências corpóreas se cumprem na humanidade, sendo cada uma um passo que a alma dá na senda do progresso intelectual e moral; o que é coisa muito diversa da metempsicose.

Não podendo adquirir um desenvolvimento completo em uma só existência, muitas vezes abreviada por causas acidentais, Deus lhe permite continuar, em nova encarnação, o que ela não pôde acabar em outra, ou recomeçar o que fez errado. A expiação na vida corporal consiste nas tribulações que nela sofremos. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo I – p. 116)

192. Pode alguém, por um proceder impecável na vida atual, transpor todos os graus da escala do aperfeiçoamento e tornar-se Espírito puro, sem passar por outros graus intermédios?

“Não, pois o que o homem julga perfeito longe está da perfeição. Há qualidades que lhe são desconhecidas e incompreensíveis. Poderá ser tão perfeito quanto o comporte a sua natureza terrena, mas isso não é a perfeição absoluta. Dá-se com o Espírito o que se verifica com a criança que, por mais precoce que seja, tem de passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza; e também com o enfermo que, para recobrar a saúde, tem que passar pela convalescença. Demais, ao Espírito cumpre progredir em ciência e em moral. Se somente se adiantou num sentido, importa se adiante no outro, para atingir o extremo superior da escala. Contudo, quanto mais o homem se adiantar na sua vida atual, tanto menos longas e penosas lhe serão as provas que se seguirem.”

a) Pode ao menos o homem, na vida presente, preparar com segurança, para si, uma existência futura menos prenhe de amarguras?

“Sem dúvida. Pode reduzir a extensão e as dificuldades do caminho. Só o descuidoso permanece sempre no mesmo ponto.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 131-132)

196. Não podendo os Espíritos aperfeiçoar-se, a não ser por meio das tribulações da existência corpórea, segue-se que a vida material seja uma espécie de crisol ou de depurador, por onde têm que passar todos os seres do mundo espírita para alcançarem a perfeição?

“Sim, é exatamente isso. Eles se melhoram nessas provas, evitando o mal e praticando o bem; porém, somente ao cabo de mais ou menos longo tempo, conforme os esforços que empreguem; somente após muitas encarnações ou depurações sucessivas, atingem a finalidade para que tendem.”

a) É o corpo que influi sobre o Espírito para que este se melhore, ou o Espírito que influi sobre o corpo?

“Teu Espírito é tudo; teu corpo é simples veste que apodrece: eis tudo.”

Nota – O suco da vide nos oferece um símile material dos diferentes graus da depuração da alma. Ele contém o licor que se chama espírito ou álcool, mas enfraquecido por uma imensidade de matérias estranhas, que lhe alteram a essência. Esta só chega à pureza absoluta depois de múltiplas destilações, em cada uma das quais se despoja de algumas impurezas.

O corpo é o alambique em que a alma tem que entrar para se purificar.

Às matérias estranhas se assemelha o perispírito, que também se depura, à medida que o Espírito se aproxima da perfeição. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p.133-134)

16. Com a ideia de que a atividade e a cooperação individuais na obra geral da civilização se limitam à vida presente, que, antes, a criatura nada foi e nada será depois, em que interessa ao homem o progresso ulterior da humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam mais bem governados, mais ditosos, mais esclarecidos, melhores uns para com os outros? Não fica perdido para ele todo o progresso, pois que deste nenhum proveito tirará? De que lhe serve trabalhar para os que hão de vir depois, se nunca lhe será dado conhecê-los, se os seus pósteros serão criaturas novas, que pouco depois voltarão por sua vez ao nada? Sob o domínio da negação do futuro individual, tudo forçosamente se amesquinha às insignificantes proporções do momento e da personalidade.

Entretanto, que amplitude, ao contrário, dá ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade do seu ser espiritual! Que de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do Criador do que a lei segundo a qual a vida espiritual e a vida corpórea são apenas dois modos de existência, que se alternam para a realização do progresso! Que de mais justo há e de mais consolador do que a ideia de estarem os mesmos seres a progredir incessantemente, primeiro, pelas gerações de um mesmo mundo, de mundo em mundo depois, até a perfeição, sem solução de continuidade! Todas as ações têm, então, uma finalidade, porquanto, trabalhando para todos, cada um trabalha para si e reciprocamente, de sorte que nunca se podem considerar infecundos nem o progresso individual, nem o progresso coletivo. De ambos esses progressos aproveitarão as gerações e as individualidades porvindouras, que outras não virão a ser senão as gerações e as individualidades passadas, em mais alto grau de adiantamento. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVIII – p. 364-365)

Nota – Sabemos que os nossos antropófagos não se acham no último degrau da escala espiritual e que mundos há onde a bruteza e a ferocidade não têm analogia na Terra. Os Espíritos que aí encarnam são, portanto, inferiores aos mais ínfimos que no nosso mundo encarnam. Para eles, pois, nascer entre os nossos selvagens representa um progresso, como progresso seria, para os antropófagos terrenos, exercerem entre nós uma profissão que os obrigasse a fazer correr sangue. Não podem pôr mais alto suas vistas, porque sua inferioridade moral não lhes permite compreender maior progresso. O Espírito só gradativamente avança. Não lhe é dado transpor de um salto a distância que da civilização separa a barbárie e é esta uma das razões que nos mostram ser necessária a reencarnação, que verdadeiramente corresponde à Justiça de Deus. De outro modo, que seria desses milhões de criaturas que todos os dias morrem na maior degradação, se não tivessem meios de alcançar a superioridade? Por que os privaria Deus dos favores concedidos aos outros homens? (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 175)

133. Por que vemos tantas vezes o mau prosperar, enquanto o homem de bem vive em aflição?

Para aquele cujo pensamento não transpõe as raias da vida presente, para quem a acredita única, isto deve parecer clamorosa injustiça. Não se dá, porém, o mesmo com quem admite a pluralidade das existências e pensa na brevidade de cada uma delas, em relação à eternidade.

O estudo do Espiritismo prova que a prosperidade do mau tem terríveis consequências em suas seguintes existências; que as aflições do homem de bem são, pelo contrário, seguidas de uma felicidade, tanto maior e duradoura, quanto mais resignadamente ele soube suportá-las; não lhe será mais que um dia mau em uma existência próspera. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 164)

140. Não será admissível, segundo pensam algumas pessoas, que a alma, não encarnando mais que uma vez, faça o seu progresso no estado de Espírito ou em outras esferas?

Esta proposição seria admissível, se todos os habitantes da Terra se achassem no mesmo nível moral e intelectual; caso em que se poderia dizer ser a Terra destinada a determinado grau; ora, quantas vezes temos diante de nós a prova do contrário!

Com efeito, não é compreensível que o selvagem não pudesse conseguir civilizar-se aqui na Terra, quando vemos almas mais adiantadas encarnadas ao lado dele; do que resulta a possibilidade da pluralidade das existências terrenas, demonstrada por exemplos que temos à vista.

Se fosse de outro modo, era preciso explicar: 1º, por que só a Terra teria o monopólio das encarnações; 2º, por que, tendo esse monopólio, nela se apresentam almas encarnadas de todos os graus. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 167)

143. Como progridem e como degeneram os povos?

Se a alma é criada juntamente com o corpo, as dos homens de hoje são tão novas, tão primitivas, como a dos homens da Idade Média, e, desde então, pergunta-se por que têm elas costumes mais brandos e inteligência mais desenvolvida?

Se na morte do corpo a alma deixa definitivamente a Terra, pergunta-se, ainda, qual seria o fruto do trabalho feito para melhoramento de um povo, se este tivesse de ser recomeçado com as almas novas que diariamente chegam?

Os Espíritos encarnam em um meio simpático e em relação com o grau do seu adiantamento.

Um chinês, por exemplo, que progredisse suficientemente e não encontrasse mais na sua raça um meio correspondente ao grau que atingiu, encarnará entre um povo mais adiantado. À medida que uma geração dá um passo para frente, atrai por simpatia Espíritos mais avançados, os quais são, talvez, os mesmos que já haviam vivido no mesmo país e que, por seu progresso, dele se tinham afastado; é assim que, passo a passo, uma nação avança. Se a maioria dos seus novos habitantes fosse de natureza inferior e os antigos emigrassem diariamente e não mais descessem a um meio inferior, o povo acabaria por degenerar, e, afinal, por extinguir-se. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 168)

O Espírito progride no estado corporal e no estado espiritual. O estado corpóreo é necessário ao Espírito, até que haja galgado um certo grau de perfeição. Ele aí se desenvolve pelo trabalho a que é submetido pelas suas próprias necessidades e adquire conhecimentos práticos especiais. Sendo insuficiente uma só existência corporal para que adquira todas as perfeições, retoma um corpo tantas vezes quantas lhe forem necessárias e de cada vez encarna com o progresso que haja realizado em suas existências precedentes e na vida espiritual. Quando, num mundo, alcança tudo o que aí pode obter, deixa-o para ir a outros mundos, intelectual e moralmente mais adiantados, cada vez menos materiais, e assim por diante, até à perfeição de que é suscetível a criatura. (Allan Kardec – Obras Póstumas – As Cinco Alternativas da Humanidade – p. 245)

53. […] Somente depois de terem passado pelas provas da vida corpórea, chegam à perfeição os Espíritos. Os que se encontram na erraticidade aguardam que Deus lhes permita volver a uma existência que lhes proporcione meios de progredir, quer pela expiação de suas faltas passadas, mediante as vicissitudes a que fiquem sujeitos, quer desempenhando uma missão proveitosa para a Humanidade. O seu adiantamento e a sua felicidade futura serão proporcionados à maneira por que empreguem o tempo que hajam de estar na Terra. O encargo de lhes guiar os primeiros passos e de os encaminhar para o bem cabe a seus pais, que responderão perante Deus pelo desempenho que derem a esse mandato. Para lhos facilitar, foi que Deus fez do amor paterno e do amor filial uma Lei da Natureza, lei que jamais se transgride impunemente. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 353)

Dizem-nos os Espíritos que uma única existência, por vezes abreviada pelos acidentes, não passa de um ponto na eternidade, não basta à alma para se purificar e que, em sua justiça, Deus não condena sem remissão aquele de quem não dependeu ser suficientemente esclarecido sobre o bem a fim de o praticar. Sua doutrina deixa à alma a faculdade de realizar numa série de existências aquilo que não pode fazer numa única. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 31-32)

8. A fim de atender aos objetivos da Criação, os Espíritos se revestem temporariamente de corpos materiais. Dessa maneira, aperfeiçoam a sua inteligência e, se obedecerem às leis de Deus, adquirem os méritos para alcançarem a felicidade plena. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 32)

9. A encarnação é necessária à evolução do Espírito e para execução das leis de Deus. Bons e maus Espíritos passam pela lei de encarnação. Avançam mais aqueles que seguem a lei do bem, levam menos tempo a alcançar o alvo e a ele chegam em condições menos trabalhosas. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 32)

12. O aperfeiçoamento do Espírito corresponde ao resultado de seu próprio trabalho. Por esse fato, não pode ele em uma só existência corporal adquirir todas as qualidades morais e intelectuais necessárias à sua perfeição; o que ocorre através de uma sucessão de existências. Em cada uma delas ele avança na senda do progresso. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 32)

27. Durante as suas encarnações sucessivas, o Espírito vai pouco a pouco se aperfeiçoando pelo seu trabalho, alcança o final de suas existências corporais entrando na ordem de Espíritos puros. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 37)

638. Parece, às vezes, que o mal é uma consequência da força das coisas. Tal, por exemplo, a necessidade em que o homem se vê, nalguns casos, de destruir, até mesmo o seu semelhante. Poder-se-á dizer que há, então, infração da Lei de Deus?

“Embora necessário, o mal não deixa de ser o mal. Essa necessidade desaparece, entretanto, à medida que a alma se depura,  passando de uma a outra existência. Então, mais culpado é o homem, quando o pratica, porque melhor o compreende.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 301-302)

756. A sociedade dos homens de bem se verá algum dia expurgada dos seres malfazejos?

“A humanidade progride. Esses homens, em quem o instinto do mal domina e que se acham deslocados entre pessoas de bem, desaparecerão gradualmente, como o mau grão se separa do bom, quando este é joeirado, mas desaparecerão para renascer sob outros invólucros. Como então terão mais experiência, compreenderão melhor o bem e o mal. Tens disso um exemplo nas plantas e nos animais que o homem há conseguido aperfeiçoar, desenvolvendo neles qualidades novas. Pois bem! Só ao cabo de muitas gerações o desenvolvimento se torna completo. É a imagem das diversas existências do homem.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 342)

993. Não há homens que só têm o instinto do mal e são inacessíveis ao arrependimento?

“Já te disse que todo Espírito tem que progredir incessantemente. Aquele que, nesta vida, só tem o instinto do mal, terá noutra o do bem e é para isso que renasce muitas vezes, pois preciso é que todos progridam e atinjam a meta. A diferença está somente em que uns gastam mais tempo do que outros, porque assim o querem. Aquele, que só tem o instinto do bem, já se purificou, visto que talvez tenha tido o do mal em anterior existência.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 444)

10. […]

O Espírito progride igualmente na erraticidade, adquirindo conhecimentos especiais que não poderia obter na Terra, e modificando as suas ideias. O estado corporal e o espiritual constituem a fonte de dois gêneros de progresso, pelos quais o Espírito tem de passar alternadamente, nas existências peculiares a cada um dos dois mundos. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – p. 30)

Pergunta (a São Luís). — Qual a causa de a educação moral dos desencarnados ser mais fácil que a dos encarnados? As relações pelo Espiritismo estabelecidas entre homens e Espíritos dão azo a que estes últimos se corrijam mais rapidamente sob a influência dos conselhos salutares, mais do que acontece em relação aos encarnados, como se vê na cura das obsessões.

Resposta (Sociedade de Paris). — O encarnado, em virtude da própria natureza, está numa luta incessante devido aos elementos contrários de que se compõe e que devem conduzi-lo ao seu fim providencial, reagindo um sobre o outro.

A matéria facilmente sofre o predomínio de um fluido exterior; se a alma, com todo o poder moral de que é capaz, não reagir, deixar-se-á dominar pelo intermediário do seu corpo, seguindo o impulso das influências perversas que o rodeiam, e isso com facilidade tanto maior quanto os invisíveis, que a subjugavam, atacam de preferência os pontos mais vulneráveis, as tendências para a paixão dominante.

Outro tanto se não dá com o desencarnado, que, posto sob a influência semimaterial, não se compara por seu estado ao encarnado. O respeito humano, tão preponderante no homem, não existe para aquele, e só este pensamento é bastante para compeli-lo a não resistir longamente às razões que o próprio interesse lhe aponta como boas.

Ele pode lutar, e o faz mesmo geralmente com mais violência do que o encarnado, visto ser mais livre. Nenhuma cogitação de interesse material, de posição social se lhe antepõe ao raciocínio. Luta por amor do mal, porém cedo adquire a convicção da sua impotência, em face da superioridade moral que o domina; a perspectiva de melhor futuro lhe é mais acessível, por se reconhecer na mesma vida em que se deve completar esse futuro; e essa visão não se turva no turbilhão dos prazeres humanos. Em uma palavra, a independência da carne é que facilita a conversão, principalmente quando se tem adquirido um tal ou qual desenvolvimento pelas provações cumpridas.

Um Espírito inteiramente primitivo seria pouco acessível ao raciocínio, o que aliás não se dá com o que já tem experiência da vida. Ademais, no encarnado como no desencarnado, é sobre a alma, é sobre o sentimento que se faz mister atuar.

Toda ação material pode sustar momentaneamente os sofrimentos do homem vicioso, mas o que ela não pode é destruir o princípio mórbido residente na alma; todo e qualquer ato que não vise aperfeiçoar a alma, não poderá desviá-la do mal. São Luís (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 260-261)

156. Progridem as almas, intelectualmente, depois da morte?

Progridem mais ou menos, segundo sua vontade, e algumas se adiantam muito; porém, têm necessidade de pôr em prática, durante a vida corporal, o que adquiriram em ciência e moralidade. As que ficaram estacionárias, recomeçam uma existência análoga à que deixaram; as que progrediram, alcançam uma encarnação de ordem mais elevada.

Sendo o progresso proporcionado à vontade do Espírito, há muitos que, por longo tempo, conservam os gostos e as inclinações que tinham durante a vida, e prosseguem nas mesmas ideias. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 173)

333. Se se considerasse bastante feliz, numa condição mediana entre os Espíritos errantes e, conseguintemente, não ambicionasse elevar-se, poderia um Espírito prolongar indefinidamente esse estado?

“Indefinidamente, não. Cedo ou tarde, o Espírito sente a necessidade de progredir. Todos têm que se elevar; esse o destino de todos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p.192)

6. […] Ora, o desejo do bem-estar força o homem a tudo melhorar, impelido que é pelo instinto do progresso e da conservação, que está nas Leis da Natureza. Ele, pois, trabalha por necessidade, por gosto e por dever, obedecendo, desse modo, aos desígnios da Providência que, para tal fim, o pôs na Terra. Simplesmente, aquele que se preocupa com o futuro não liga ao presente mais do que relativa importância e facilmente se consola dos seus insucessos, pensando no destino que o aguarda. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo II – p. 54)

193. Pode um homem, nas suas novas existências, descer mais baixo do que esteja na atual?

“Com relação à posição social, sim; como Espírito, não.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 132)

194. É possível que, em nova encarnação, a alma de um homem de bem anime o corpo de um celerado?

“Não, visto que não pode degenerar.”

a) A alma de um homem perverso pode tornar-se a de um homem de bem?

“Sim, se se arrependeu. Isso constitui então uma recompensa.”

Nota – A marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrógrada. Eles se elevam gradualmente na hierarquia e não descem da categoria a que ascenderam. Em suas diferentes existências corporais, podem descer como homens, não como Espíritos. Assim, a alma de um potentado da Terra pode mais tarde animar o mais humilde obreiro e vice-versa, por isso que, entre os homens, as categorias estão, frequentemente, na razão inversa da elevação das qualidades morais. Herodes era rei e Jesus, carpinteiro. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p.132)

POTENTADO: indivíduo poderoso, influente e/ou rico. [Definição do dicionário online do Google]

4. […]

Dá-se com os homens, em geral, o que se dá em particular com os indivíduos. As gerações têm sua infância, sua juventude e sua maturidade. Cada coisa tem de vir na época própria; a semente lançada à terra, fora da estação, não germina; mas o que a prudência manda calar, momentaneamente, cedo ou tarde será descoberto, porque, chegados a certo grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz viva; pesa-lhes a obscuridade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXIV – p. 292)

2. Do ponto de vista terreno, a máxima: Buscai e achareis é análoga a esta outra: Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho e, por conseguinte, da lei do progresso, porquanto o progresso é filho do trabalho, visto que este põe em ação as forças da inteligência.

Na infância da Humanidade, o homem só aplica a inteligência à cata do alimento, dos meios de se preservar das intempéries e de se defender dos seus inimigos. Deus, porém, lhe deu, a mais do que outorgou ao animal, o desejo incessante do melhor, e é esse desejo que o impele à pesquisa dos meios de melhorar a sua posição, que o leva às descobertas, às invenções, ao aperfeiçoamento da Ciência, porquanto é a Ciência que lhe proporciona o que lhe falta. Pelas suas pesquisas, a inteligência se lhe engrandece, o moral se lhe depura. Às necessidades do corpo sucedem as do espírito: depois do alimento material, precisa ele do alimento espiritual. É assim que o homem passa da selvageria à civilização.

Mas bem pouca coisa é, imperceptível mesmo, em grande número deles, o progresso que cada um realiza individualmente no curso da vida. Como poderia então progredir a Humanidade, sem a preexistência e a reexistência da alma? Se as almas se fossem todos os dias, para não mais voltarem, a Humanidade se renovaria incessantemente com os elementos primitivos, tendo de fazer tudo, de aprender tudo. Não haveria, nesse caso, razão para que o homem se achasse hoje mais adiantado do que nas primeiras idades do mundo, uma vez que a cada nascimento todo o trabalho intelectual teria de recomeçar. Ao contrário, voltando com o progresso que já realizou e adquirindo de cada vez alguma coisa a mais, a alma passa gradualmente da barbárie à civilização material e desta à civilização moral. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXV – p. 299-300)

Para o Espiritismo, a solidariedade é um fato que assenta numa lei universal da Natureza, que liga todos os seres do passado, do presente e do futuro e a cujas consequências ninguém pode subtrair-se. É esta uma coisa que todo homem pode compreender, por menos instruído que seja.

Quando todos os homens compreenderem o Espiritismo, compreenderão também a verdadeira solidariedade e, conseguintemente, a verdadeira fraternidade. Uma e outra então deixarão de ser simples deveres circunstanciais, que cada um prega as mais das vezes no seu próprio interesse e não no de outrem. O reinado da solidariedade e da fraternidade será forçosamente o da justiça para todos e o da justiça será o da paz e da harmonia entre os indivíduos, as famílias, os povos e as raças. Virá esse reinado? Duvidar do seu advento seria negar o progresso. Se compararmos a sociedade atual, nas nações civilizadas, com o que era na Idade Média, reconheceremos grande a diferença. Ora, se os homens avançaram até aqui, por que haveriam de parar? Observando-se o percurso que eles hão feito apenas de um século para cá, poder-se-á avaliar o que farão daqui a mais outro século. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Questões e Problemas – p. 270)

É que o Espiritismo lhes ensinará que, se as faltas coletivamente cometidas são expiadas solidariamente, os progressos realizados em comum são igualmente solidários, princípio em virtude do qual desaparecerão as dissensões de raças, de famílias e de indivíduos e a Humanidade, livre das faixas da infância, avançará, célere e virilmente, para a conquista de seus verdadeiros destinos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Questões e Problemas – p. 275)

Seguir-se-á daí que, enquanto os homens não se acharem imbuídos do sentimento de fraternidade, será necessário tê-los em servidão? Dar-se-á sejam inaptas as instituições fundadas sobre os princípios de igualdade e de liberdade? Semelhante opinião fora mais que errônea; seria absurda. Ninguém espera que uma criança se ache com o seu crescimento completo para lhe ensinar a andar. Quem, ao demais, os tem sob tutela? Serão homens de ideias elevadas e generosas, guiados pelo amor do progresso? Serão homens que se aproveitem da submissão dos seus inferiores para lhes desenvolver o senso moral e elevá-los pouco a pouco à condição de homens livres? Não; são, em sua maioria, homens ciosos do seu poder, a cuja ambição e cupidez outros homens servem de instrumentos mais inteligentes do que animais e que, então, em vez de emancipá-los, os conservam, por todo o tempo que for possível, subjugados e na ignorância.

Mas, esta ordem de coisas muda de si mesma, pelo poder irresistível do progresso. A reação é não raro violenta e tanto mais terrível, enquanto o sentimento da fraternidade, imprudentemente sufocado, não logra interpor o seu poder moderador; a luta se empenha entre os que querem tomar e os que querem reter; daí um conflito que se prolonga às vezes por séculos. Afinal, um equilíbrio fictício se estabelece; há qualquer coisa de melhor. Sente-se, porém, que as bases sociais não estão sólidas; a cada passo o solo treme, por isso que ainda não reinam a liberdade e a igualdade, sob a égide da fraternidade, porque o orgulho e o egoísmo continuam empenhados em fazer se malogrem os esforços dos homens de bem. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – p. 290-291)

Será possível a destruição do orgulho e do egoísmo? Responderemos alto e terminantemente: SIM. Do contrário, forçoso seria determinar um ponto de parada ao progresso da Humanidade. Que o homem cresce em inteligência, é fato incontestável; terá ele chegado ao ponto culminante, além do qual não possa ir? Quem ousaria sustentar tão absurda tese? Progride ele em moralidade? Para responder a esta questão, basta se comparem as épocas de um mesmo país. Por que teria ele atingido o limite do progresso moral e não o do progresso intelectual? Sua aspiração por uma melhor ordem de coisas é indício da possibilidade de alcançá-la. Aos que são progressistas cabe acelerar esse movimento por meio do estudo e da utilização dos meios mais eficientes. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – p. 292)

Já hoje a inteligência domina; é soberana, ninguém o pode contestar. É tão verdade isto, que já se vê o homem do povo chegar aos cargos de primeira ordem. Essa aristocracia não será mais justa, mais lógica, mais racional, do que a da força bruta, do nascimento, ou do dinheiro? Por que, então, seria impossível que se lhe juntasse a moralidade? — Porque, dizem os pessimistas, o mal domina sobre a Terra. — Quem ousará dizer que o bem nunca o sobrepujará? Os costumes e, por conseguinte, as instituições sociais, não valem cem vezes mais hoje do que na Idade Média? Cada século não se assinala por um progresso? Por que, então, a Humanidade pararia, quando ainda tem tanto que fazer? Por instinto natural, os homens procuram o seu bem-estar; se não o acharem completo no reino da inteligência, procurá-lo-ão algures, e onde poderão encontrá-lo, senão no reino da moralidade? Para isso, torna-se preciso que a moralidade sobrepuje numericamente. Não há contestar que muitíssimo se tem que fazer; mas, ainda uma vez, fora tola pretensão dizer-se que a Humanidade chegou ao apogeu, quando é vista a avançar continuamente pela senda do progresso. (Allan Kardec – Obras Póstumas – As Aristocracias – p. 297-298)

Há progresso do selvagem ao homem civilizado? Não se procura, diariamente, abrandar os costumes dos selvagens? Mas, com que finalidade, se o homem é incorrigível? Estranha bizarria! Esperais corrigir selvagens e pensais que o homem civilizado não pode melhorar-se! Se o homem civilizado tivesse a pretensão de haver atingido o último limite do progresso acessível à espécie humana, bastaria comparar os costumes, o caráter, a legislação, as instituições sociais de hoje com as de outrora. E, no entanto, os homens de outrora, também eles, acreditavam ter alcançado o último degrau. Que teria respondido um grão-senhor do tempo de Luís XIV se lhe tivessem dito que poderia dispor de uma ordem de coisas melhor, mais equitativa, mais humana do que a então vigente? Que esse regime mais equitativo seria a abolição dos privilégios de castas e a igualdade do grande e do pequeno diante da lei? O audacioso que assim falasse talvez pagasse caro sua temeridade.

Disso concluímos que o homem é eminentemente perfectível, e que os mais adiantados hoje poderão parecer tão atrasados dentro de alguns séculos quanto o são os da Idade Média em relação a nós. Negar o fato seria negar o progresso, que é uma lei da Natureza. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 25)

Perguntais por que Deus não impede os erros. Perguntai-Lhe por que não criou perfeitos os homens, de imediato, em vez de lhes deixar o trabalho e o mérito de se aperfeiçoarem; por que não fez a criança já nascer adulta, dotada de raciocínio, esclarecida, em vez de deixá-la adquirir a experiência pela vivência; por que a árvore só atinge o pleno desenvolvimento após longos anos e o fruto só amadurece quando a estação propícia é chegada? Perguntai-Lhe por que o Cristianismo, que é sua lei e sua obra, sofreu tantas flutuações desde o seu nascimento; por que permitiu que os homens se servissem de seu nome sagrado para cometer tantos abusos, mesmo crimes e derramar tanto sangue? Nada se faz bruscamente em a Natureza; tudo marcha gradualmente conforme as leis imutáveis do Criador e essas leis conduzem sempre ao objetivo que Ele se propôs. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 37)

1007. Haverá Espíritos que nunca se arrependem?

“Há os de arrependimento muito tardio; porém, pretender-se que nunca se melhorarão fora negar a lei do progresso e dizer que a criança não pode tornar-se homem.” São Luís (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 448)

995. Haverá Espíritos que, sem serem maus, se conservem indiferentes à sua sorte?

“Há Espíritos que de coisa alguma útil se ocupam. Estão na expectativa, mas nesse caso sofrem proporcionalmente. Devendo em tudo haver progresso, neles o progresso se manifesta pela dor.”

a) Não desejam esses Espíritos abreviar seus sofrimentos?

“Desejam-no, sem dúvida, mas falta-lhes energia bastante para quererem o que os pode aliviar. Quantos indivíduos se contam, entre vós, que preferem morrer de miséria a trabalhar?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 444-445)

619. A todos os homens facultou Deus os meios de conhecerem sua Lei?

“Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem. Os homens de bem e os que se decidem a investigá-la são os que melhor a compreendem. Todos, entretanto, a compreenderão um dia, porquanto forçoso é que o progresso se efetue.”

Nota – A justiça das diversas encarnações do homem é uma consequência deste princípio, pois que, em cada nova existência, sua inteligência se acha mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é bem e o que é mal. Se numa só existência tudo lhe devesse ficar ultimado, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem todos os dias no embrutecimento da selvageria, ou nas trevas da ignorância, sem que deles tenha dependido o se instruírem? (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 296)

776. Serão coisas idênticas o estado de natureza e a lei natural?

“Não, o estado de natureza é o estado primitivo. A civilização é incompatível com o estado de natureza, ao passo que a lei natural contribui para o progresso da humanidade.”

Nota – O estado de natureza é a infância da humanidade e o ponto de partida do seu desenvolvimento intelectual e moral. Sendo perfectível e trazendo em si o gérmen do seu aperfeiçoamento, o homem não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza, como não o foi a viver eternamente na infância. Aquele estado é transitório para o homem, que dele sai por virtude do progresso e da civilização. A lei natural, ao contrário, rege a humanidade inteira e o homem se melhora à medida que melhor a compreende e pratica. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 351)

777. Tendo o homem, no estado de natureza, menos necessidades, isento se acha das tribulações que para si mesmo cria, quando num estado de maior adiantamento. Diante disso, que se deve pensar da opinião dos que consideram aquele estado como o da mais perfeita felicidade na Terra?

“Que queres! É a felicidade do bruto. Há pessoas que não compreendem outra. É ser feliz à maneira dos animais. As crianças também são mais felizes do que os homens feitos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 351-352)

778. Pode o homem retrogradar para o estado de natureza?

“Não, o homem tem que progredir incessantemente e não pode volver ao estado de infância. Desde que progride, é porque Deus assim o quer. Pensar que possa retrogradar à sua primitiva condição fora negar a lei do progresso.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 352)

779. A força para progredir, haure-a o homem em si mesmo, ou o progresso é apenas fruto de um ensinamento?

“O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 352)

781. Tem o homem o poder de paralisar a marcha do progresso?

“Não, mas tem, às vezes, o de embaraçá-la.”

a) Que se deve pensar dos que tentam deter a marcha do progresso e fazer que a Humanidade retrograde?

“Pobres seres, que Deus castigará! Serão levados de roldão pela torrente que procuram deter.”

Nota – Sendo o progresso uma condição da natureza humana, não está no poder do homem opor-se-lhe. É uma força viva, cuja ação pode ser retardada, porém não anulada, por leis humanas más. Quando estas se tornam incompatíveis com ele, despedaça-as juntamente com os que se esforcem por mantê-las. Assim será, até que o homem tenha posto suas leis em concordância com a Justiça divina, que quer que todos participem do bem e não a vigência de leis feitas pelo forte em detrimento do fraco. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 352-353)

782. Não há homens que de boa-fé obstam ao progresso, acreditando favorecê-lo, porque, do ponto de vista em que se colocam, o veem onde ele não existe?

“Assemelham-se a pequeninas pedras que, colocadas debaixo da roda de uma grande viatura, não a impedem de avançar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 353)

OBSTAR: criar embaraço ou obstáculo (a); servir de obstáculo. [Definição do dicionário online do Google]

Crede que esta sábia exortação: “Amai bastante, para serdes amados”, abrirá caminho; revolucionária, ela segue sua rota, que é determinada, invariável. Mas já ganhastes muito, vós que me ouvis, pois que já sois infinitamente melhores do que éreis há cem anos. Mudastes tanto, em proveito vosso, que aceitais de boa mente, sobre a liberdade e a fraternidade, uma imensidade de ideias novas, que outrora rejeitaríeis. Ora, daqui a cem anos, sem dúvida aceitareis com a mesma facilidade as que ainda vos não puderam entrar no cérebro. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XI – p. 159)

252. São sensíveis, os Espíritos, às magnificências da Natureza?

“Tão diferentes são as belezas naturais dos mundos, que longe estamos de as conhecer. Sim, os Espíritos são sensíveis a essas belezas, de acordo com as aptidões que tenham para as apreciar e compreender. Para os Espíritos elevados, há belezas de conjunto que, por assim dizer, apagam as das particularidades.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 161)

9. A vingança é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. É, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos hábitos selvagens sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da Era Cristã, razão por que a vingança constitui indício certo do estado de atraso dos homens que a ela se dão e dos Espíritos que ainda as inspirem. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XII – p. 170)

118. Qual a origem das ideias inatas, das disposições precoces, das aptidões instintivas para uma arte ou ciência, abstração feita da instrução?

As ideias inatas não podem ter senão duas fontes: a criação das almas mais perfeitas umas que as outras, no caso de serem criadas ao mesmo tempo que o corpo, ou um progresso por elas adquirido anteriormente à encarnação.

Sendo a primeira hipótese incompatível com a Justiça de Deus, só fica de pé a segunda.

As ideias inatas são o resultado dos conhecimentos adquiridos nas existências anteriores, são ideias que se conservaram no estado de intuição, para servirem de base à aquisição de outras novas. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 161)

119. Como se podem revelar gênios nas classes da sociedade inteiramente privadas de cultura intelectual?

É um fato que prova serem as ideias inatas independentes do meio em que o homem foi educado. O ambiente e a educação desenvolvem as ideias inatas, mas não no-las podem dar. O homem de gênio é a encarnação de um Espírito adiantado que muito houvera já progredido. A educação pode fornecer a instrução que falta, mas não o gênio, quando este não exista. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 161)

7. […]

Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente de naturezas retardatárias. As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascerem, a intuição do que souberam: estão com a educação feita; as segundas tudo têm de aprender: estão com a educação por fazer. Ela, entretanto, se fará e, se não ficar concluída nesta existência, ficará em outra. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIX – p. 255)

Dizem que as pessoas que fazem o bem sem desígnio premeditado e, a bem dizer, sem se darem conta do fato, não têm mérito algum, desde que não se esforçaram por fazê-lo. É um erro. O homem não chega a nada sem esforço. Aquele que o faz espontaneamente nesta existência, teve de lutar na precedente, e o bem acabou por se identificar com ele; daí por que tudo lhe parece natural; o bem está neles como em outras pessoas estão as ideias, que, também elas, tiveram sua fonte num trabalho anterior. É ainda um dos problemas que o Espiritismo vem resolver. Os homens de bem tiveram também o mérito da luta; para eles a vitória já está alcançada; os outros ainda têm que conquistá-la. Eis por que, como as crianças, precisam de um estimulante, isto é, de uma meta a alcançar, ou, se o quiserdes, de um prêmio a conquistar. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 28)

24. A diversidade das aptidões inatas, morais e intelectuais, é a prova de que a alma já viveu; se tivesse sido criada com seu corpo atual isso não corresponderia à bondade de Deus, que teria feito umas mais avançadas do que as outras. Por qual razão há homens civilizados, bons e maus, ignorantes e homens inteligentes? Quando se diz que uns viveram mais que os outros e mais adquiriram, tudo se explica. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 36)

894. Há pessoas que fazem o bem espontaneamente, sem que precisem vencer quaisquer sentimentos que lhes sejam opostos. Terão tanto mérito, quanto as que se veem na contingência de lutar contra a natureza que lhes é própria e a vencem?

“Só não têm que lutar aqueles em quem já há progresso realizado. Esses lutaram outrora e triunfaram. Por isso é que os bons sentimentos nenhum esforço lhes custam e suas ações lhes parecem simplíssimas. O bem se lhes tornou um hábito. Devidas lhes são as honras que se costuma tributar a velhos guerreiros que conquistaram seus altos postos.

Como ainda estais longe da perfeição, tais exemplos vos espantam pelo contraste com o que tendes à vista e tanto mais os admirais, quanto mais raros são. Ficai sabendo, porém, que, nos mundos mais adiantados do que o vosso, constitui a regra o que entre vós representa a exceção. Em todos os pontos desses mundos, o sentimento do bem é espontâneo, porque somente bons Espíritos os habitam. Lá, uma só intenção maligna seria monstruosa exceção. Eis por que neles os homens são ditosos. O mesmo se dará na Terra, quando a humanidade se houver transformado, quando compreender e praticar a caridade na sua verdadeira acepção.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 397-398)

19ª) Como o Espírito tem sempre o livre-arbítrio, o progresso por vezes se lhe torna lento, e tenaz a sua obstinação no mal. Nesse estado pode persistir anos e séculos, vindo por fim um momento em que a sua contumácia se modifica pelo sofrimento, e, a despeito da sua jactância, reconhece o poder superior que o domina.

Então, desde que se manifestam os primeiros vislumbres de arrependimento, Deus lhe faz entrever a esperança. Nem há Espírito incapaz de nunca progredir, votado a eterna inferioridade, o que seria a negação da lei de progresso, que providencialmente rege todas as criaturas. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VII – p. 86)

JACTÂNCIA: atitude de alguém que se manifesta com arrogância e tem alta opinião de si mesmo; vaidade, orgulho, arrogância. [Definição do dicionário online do Google]

6º Todos [Espíritos] estão submetidos à lei do progresso e podem todos chegar à perfeição, mas, como têm livre-arbítrio, lá chegam em tempo mais ou menos longo, conforme seus esforços e vontade;

7º São felizes ou infelizes, de acordo com o bem ou o mal que praticaram durante a vida e com o grau de adiantamento que alcançaram. A felicidade perfeita e sem mescla é partilha unicamente dos Espíritos que atingiram o grau supremo da perfeição. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – p. 57)

21. […] Segundo o Espiritismo os demônios são Espíritos imperfeitos, suscetíveis de regeneração e que, colocados na base da escala, hão de nela graduar-se. Os que por apatia, negligência, obstinação ou má vontade persistem em ficar, por mais tempo, nas classes inferiores, sofrem as consequências dessa atitude, e o hábito do mal dificulta-lhes a regeneração. Chega-lhes, porém, um dia a fadiga dessa vida penosa e das suas respectivas consequências; eles comparam a sua situação à dos bons Espíritos e compreendem que o seu interesse está no bem, procurando então melhorarem-se, mas por ato de espontânea vontade, sem que haja nisso o mínimo constrangimento. Submetidos à lei geral do progresso, em virtude da sua aptidão para o mesmo, não progridem, ainda assim, contra a vontade. Deus fornece-lhes constantemente os meios, porém, com a faculdade de aceitá-los ou recusá-los. Se o progresso fosse obrigatório não haveria mérito, e Deus quer que todos tenhamos o mérito de nossas obras. Ninguém é colocado em primeiro lugar por privilégio, mas o primeiro lugar a todos é franqueado à custa do esforço próprio.

Os anjos mais elevados conquistaram a sua graduação, passando, como os demais, pela rota comum. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo IX – p. 119)

10. Perguntar-se-á: não poderia Deus tocá-los pessoalmente, por meio de manifestações retumbantes, diante das quais se inclinassem os mais obstinados incrédulos? É fora de toda dúvida que o poderia; mas, então, que mérito teriam eles e, ademais, de que serviria? Não se veem todos os dias criaturas que não cedem nem à evidência, chegando até a dizer: “Ainda que eu visse, não acreditaria, porque sei que é impossível?” Esses, se se negam assim a reconhecer a verdade, é que ainda não trazem maduro o espírito para compreendê-la, nem o coração para senti-la. O orgulho é a catarata que lhes tolda a visão. De que vale apresentar a luz a um cego? Necessário é que, antes, se lhe destrua a causa do mal. Daí vem que, médico hábil, Deus primeiramente corrige o orgulho. Ele não deixa ao abandono aqueles de seus filhos que se acham perdidos, porquanto sabe que cedo ou tarde os olhos se lhes abrirão. Quer, porém, que isso se dê de moto-próprio, quando, vencidos pelos tormentos da incredulidade, eles venham de si mesmos lançar-se-lhe nos braços e pedir-lhe perdão, quais filhos pródigos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VII – p. 115-116)

195. A possibilidade de se melhorarem noutra existência não será de molde a fazer que certas pessoas perseverem no mau caminho, dominadas pela ideia de que poderão corrigir-se mais tarde?

“Aquele que assim pensa em nada crê e a ideia de um castigo eterno não o refrearia mais do que qualquer outra, porque sua razão a repele, e semelhante ideia induz à incredulidade a respeito de tudo. Se unicamente meios racionais se tivessem empregado para guiar os homens, não haveria tantos céticos. De fato, um Espírito imperfeito poderá, durante a vida corporal, pensar como dizes; mas, liberto que se veja da matéria, pensará de outro modo, pois logo verificará que fez cálculo errado e, então, sentimento oposto a esse trará ele para a sua nova existência. É assim que se efetua o progresso e essa a razão por que, na Terra, os homens são desigualmente adiantados. Uns já dispõem de experiência que a outros falta, mas que adquirirão pouco a pouco. Deles depende o acelerar-se-lhes o progresso ou retardar-se indefinidamente.”

Nota – O homem, que ocupa uma posição má, deseja trocá-la o mais depressa possível. Aquele, que se acha persuadido de que as tribulações da vida terrena são consequência de suas imperfeições, procurará garantir para si uma nova existência menos penosa e esta ideia o desviará mais depressa da senda do mal do que a do fogo eterno, em que não acredita. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV –  p.132-133)

[Espíritos Endurecidos – Um espírito aborrecido]

6. Podeis dizer-me algo da vossa existência terrena?

— R. Oh! Deveis compreender que pouco me é dado dizer, visto como o tédio, a nulidade e a inação provêm da preguiça, que, por sua vez, é mãe da ignorância.

7. E não vos aproveitaram as existências anteriores?

— R. Sim, todas, porém, parcamente, visto serem reflexos umas das outras. O progresso existe sempre, porém tão insensível que se nos torna inapreciável.

[…]

9. Podeis dizer-nos por que tão frequentemente varia a vossa caligrafia?

— R. Porque interrogais muito, o que aliás me fatiga, quando tenho necessidade de auxílio.

O guia do médium. — O trabalho intelectual é que o fatiga, obrigando-nos a prestar o nosso concurso para que possa dar resposta às tuas perguntas. Este é um ocioso no mundo espiritual, assim como o foi no planeta. Trouxemo-lo a ti para que tentasses arrancá-lo dessa apatia, desse tédio que constitui verdadeiro sofrimento, às vezes mais doloroso que os sofrimentos agudos, por se poder prolongar indefinidamente.

Imagina a perspectiva de um tédio sem-fim. A maior parte das vezes são os Espíritos dessa categoria que buscam as vidas terrestres apenas como passatempo e para interromper a monotonia da vida espiritual. Assim acontece aí chegarem frequentemente sem resoluções definidas para o bem, obrigados a recomeçarem sucessivamente, até atingirem a compreensão do verdadeiro progresso. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 331)

Essencialmente positivo em suas crenças, ele [o Espiritismo] repele todo misticismo, desde que não se estenda esta denominação, como o fazem os que em nada crêem, à crença em Deus, na alma e na vida futura. Induz, é certo, os homens a se ocuparem seriamente com a vida espiritual, mas porque essa é a vida normal, sendo nela que se têm de cumprir os nossos destinos, pois que a vida terrestre é transitória, passageira. Pelas provas que apresenta da realidade da vida espiritual, ensina aos homens a não atribuírem mais que relativa importância às coisas deste mundo, dando-lhes assim força e coragem para suportar com paciência as vicissitudes da vida terrena. Ensina-lhes que, morrendo, não deixam para sempre este mundo; que podem a ele voltar, a fim de aperfeiçoarem sua educação intelectual e moral, a menos que já estejam bastante adiantados para merecerem passar a um mundo melhor; que os trabalhos e progressos que realizem, ou para cuja realização contribuam, lhes aproveitarão, concorrendo para que melhorada se lhes torne a posição futura. Mostra-lhes dessa forma que é de todo o interesse deles não o desprezarem. Se lhes repugna voltar aqui, uma vez que possuem o livre-arbítrio, deles depende o fazerem o que é necessário a se tornarem habitantes de outros orbes; mas, que não se iludam sobre as condições que devem preencher para merecerem uma mudança de residência! Não será por meio de algumas fórmulas, expressas em palavras ou atos, que o conseguirão, sim por efeito de uma reforma séria e radical de suas imperfeições, modificando-se, despojando-se das paixões más, adquirindo dia a dia novas qualidades, ensinando a todos, pelo exemplo, a linha de proceder que levará solidariamente todos os homens à ventura, pela fraternidade, pela tolerância, pelo amor. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Questões e Problemas – p. 272-273)

6. Desenvolvendo-se o livre-arbítrio nos Espíritos, ao mesmo tempo que as ideias, Deus lhes diz: “Vocês podem todos pretenderem alcançar a suprema felicidade, assim que adquirirem o conhecimento que lhes falta e depois de completada a tarefa que cada um tem que realizar. Trabalhem pois em favor do seu adiantamento; esse é o alvo que alcançarão seguindo as leis que gravei em sua consciência.”

Seguindo o seu livre-arbítrio, uns tomam o caminho mais curto, que é o do bem, outros, o mais longo, que é o do mal. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 31)

849. Qual a faculdade predominante no homem em estado de selvageria: o instinto ou o livre-arbítrio?

“O instinto, o que não o impede de agir com inteira liberdade, no tocante a certas coisas. Mas, aplica, como a criança, essa liberdade às suas necessidades e ela se amplia com a inteligência. Conseguintemente, tu, que és mais esclarecido do que um selvagem, também és mais responsável pelo que fazes do que um selvagem o é pelos seus atos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 376-377)

11. O meio está sempre em relação com a natureza dos seres que têm de nele viver: os peixes, na água; os seres terrestres, no ar; os seres espirituais no fluido espiritual ou etéreo, mesmo que estejam na Terra. O fluido etéreo está para as necessidades do Espírito, como a atmosfera para as dos encarnados. Ora, do mesmo modo que os peixes não podem viver no ar; que os animais terrestres não podem viver numa atmosfera muito rarefeita para seus pulmões, os Espíritos inferiores não podem suportar o brilho e a impressão dos fluidos mais etéreos. Não morreriam no meio desses fluidos, porque o Espírito não morre, mas uma força instintiva os mantêm afastados dali, como a criatura terrena se afasta de um fogo muito ardente ou de uma luz muito deslumbrante. Eis aí por que não podem sair do meio que lhes é apropriado à natureza; para mudarem de meio, precisam antes mudar de natureza, despojar-se dos instintos materiais que os retêm nos meios materiais; numa palavra, que se depurem e moralmente se transformem. Então, gradualmente se identificam com um meio mais depurado, que se lhes torna uma necessidade, como os olhos, para quem viveu longo tempo nas trevas, insensivelmente se habituam à luz do dia e ao fulgor do Sol. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 249)

[Espíritos sofredores – Claire]

Em nós e conosco trazemos o Céu e o inferno; as nossas faltas, gravadas na consciência, são lidas correntemente no dia da ressurreição. E uma vez que o estado da alma nos abate ou eleva, somos nós os juízes de nós mesmos. Explico-me: um Espírito impuro e sobrecarregado de culpas não pode conceber nem anelar uma elevação que lhe seria insuportável. Assim como as diferentes espécies de seres vivem, cada qual, na esfera que lhes é própria, assim os Espíritos, segundo o grau de adiantamento, movem-se no meio adequado às suas faculdades e não concebem outro senão quando o progresso (instrumento da lenta transformação das almas) lhes subtrai as baixas tendências, despojando-os da crisálida do pecado, a fim de que possam adejar antes de se lançarem, rápidos quais flechas, para o fim único e almejado […]. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 256)

ANELAR: desejar ardentemente; ansiar, almejar, aspirar. [Definição do dicionário online do Google]

ADEJAR: agitar as asas para se manter no ar durante voo; voar; dar pequenos e repetidos voos sem direção definida; esvoaçar, pairar. [Definição do dicionário online do Google]

[Espíritos sofredores – Estudo sobre as comunicações de Claire]

Admiramo-nos de ver como alguns deles [Espíritos obstinados na prática do mal] são insensíveis à ideia e mesmo ao espetáculo da felicidade dos bons Espíritos. É exatamente a situação dos homens degradados que se deleitam na depravação como nas práticas grosseiramente sensuais. Esses homens estão, por assim dizer, no seu elemento; não concebem os prazeres delicados, preferindo farrapos andrajosos a vestes limpas e brilhantes, por se acharem naqueles mais à vontade. Daí a preterição de boas companhias por orgias báquicas e deboches. E de tal modo esses Espíritos se identificam com esse modo de vida, que ela chega a constituir-lhes uma segunda natureza, acreditando-se incapazes mesmo de se elevarem acima da sua esfera. E assim se conservam até que radical transformação do ser lhes reavive a inteligência, lhes desenvolva o senso moral e os torne acessíveis às mais sutis sensações.

Esses Espíritos, quando desencarnados, não podem prontamente adquirir a delicadeza dos sentimentos, e, durante um tempo mais ou menos longo, ocuparão as camadas inferiores do mundo espiritual, tal como acontece na Terra; assim permanecerão, rebeldes ao progresso, mas, com o tempo, a experiência, as tribulações e misérias das sucessivas encarnações, chegará o momento de conceberem algo de melhor do que até então possuíam. Elevam-se-lhes por fim as aspirações, começam a compreender o que lhes falta e principiam os esforços da regeneração.

Uma vez nesse caminho, a marcha desses espíritos é rápida, visto como experimentaram de uma satisfação que lhes parece bem superior, e perto da qual as outras não passam de grosseiras sensações que acabam por inspirar-lhes repugnância. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 257-258)

O hábito de se verem desde a infância, em todas as circunstâncias ordinárias da vida, estabelece entre os homens uma espécie de igualdade material que, muitas vezes, faz que a maioria deles se negue a reconhecer superioridade moral num de quem foram companheiros ou comensais, que saiu do mesmo meio que eles e cujas primeiras fraquezas todos testemunharam. Sofre-lhes o orgulho com o terem de reconhecer o ascendente do outro. Quem quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com o ciúme e a inveja. Os que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo arruído que promovem. Tal foi e será a História da humanidade, enquanto os homens não houverem compreendido a sua natureza espiritual e alargado seu horizonte moral. Por aí se vê que semelhante preconceito é próprio dos espíritos acanhados e vulgares, que tomam suas personalidades por ponto de aferição de tudo.

Doutro lado, toda gente, em geral, faz dos homens apenas conhecidos pelo espírito um ideal que cresce à medida que os tempos e os lugares se vão distanciando. Eles são como que despojados de todo cunho de humanidade; parece que não devem ter falado, nem sentido como os demais; que a linguagem de que usaram e seus pensamentos hão de ter ressoado constantemente no diapasão da sublimidade, sem se lembrarem, os que tal imaginam, que o espírito não poderia permanecer constantemente em estado de tensão e de perpétua superexcitação. No contato da vida privada, vê-se por demais que o homem material em nada se distingue do vulgo. O homem corpóreo, que os sentidos humanos percebem, quase que apaga o homem espiritual, do qual somente o espírito se percebe. De longe, apenas se veem os relâmpagos do gênio; de perto, veem-se as paradas do espírito.

Depois da morte, nenhuma comparação mais sendo possível, unicamente o homem espiritual subsiste e tanto maior parece, quanto mais longínqua se torna a lembrança do homem corporal. É por isso que aqueles cuja passagem pela Terra se assinalou por obras de real valor são mais apreciados depois de mortos do que quando vivos. São julgados com mais imparcialidade, porque, já tendo desaparecido os invejosos e os ciosos, cessaram os antagonismos pessoais. A posteridade é juiz desinteressado no apreciar a obra do espírito; aceita-a sem entusiasmo cego, se é boa, e a rejeita sem rancor, se é má, abstraindo da individualidade que a produziu. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVII – p. 328-329)

8. […]

“Mas a matéria orgânica, a seu turno, reage sobre o Espírito. Este, pelo seu contato e sua ligação íntima com os elementos materiais, também sofre influências que lhe modificam as disposições, sem, no entanto, privá-lo do livre-arbítrio, que lhe sobre-excitam ou atenuam a atividade e que, pois, contribuem para o seu desenvolvimento. A efervescência que por vezes se manifesta em toda uma população, entre os homens de uma mesma raça, não é coisa fortuita, nem resultado de um capricho; tem sua causa nas leis da natureza. Essa efervescência, inconsciente a princípio, não passando de vago desejo, de aspiração indefinida por alguma coisa melhor, de certa necessidade de mudança, traduz-se por uma surda agitação, depois por atos que levam às revoluções sociais, que, acreditai-o, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas, pois que tudo se encadeia. Se não tivésseis a visão espiritual limitada pelo véu da matéria, veríeis as correntes fluídicas que, como milhares de fios condutores, ligam as coisas do mundo espiritual às do mundo material.” (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVIII – p. 360)

9. Sim, decerto, a humanidade se transforma, como já se transformou noutras épocas, e cada transformação se assinala por uma crise que é, para o gênero humano, o que são, para os indivíduos, as crises de crescimento. Aquelas se tornam, muitas vezes, penosas, dolorosas, e arrebatam consigo as gerações e as instituições, mas, são sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral.

A humanidade terrestre, tendo chegado a um desses períodos de crescimento, está em cheio, há quase um século, no trabalho da sua transformação, pelo que a vemos agitar-se de todos os lados, presa de uma espécie de febre e como que impelida por invisível força. Assim continuará, até que se haja outra vez estabilizado em novas bases. Quem a observar, então, achá-la-á muito mudada em seus costumes, em seu caráter, nas suas leis, em suas crenças, numa palavra: em todo o seu estado social.

“Uma coisa que vos parecerá estranhável, mas que por isso não deixa de ser rigorosa verdade, é que o mundo dos Espíritos, mundo que vos rodeia, experimenta o contrachoque de todas as comoções que abalam o mundo dos encarnados. Digo mesmo que aquele toma parte ativa nessas comoções. Nada tem isto de surpreendente, para quem sabe que os Espíritos fazem corpo com a humanidade; que eles saem dela e a ela têm de voltar, sendo, pois, natural se interessem pelos movimentos que se operam entre os homens. Ficai, portanto, certos de que, quando uma revolução social se produz na Terra, abala igualmente o mundo invisível, onde todas as paixões, boas e más, se exacerbam, como entre vós. Indizível efervescência entra a reinar na coletividade dos Espíritos que ainda pertencem ao vosso mundo e que aguardam o momento de a ele volver.

“À agitação dos encarnados e desencarnados se juntam às vezes, e frequentemente mesmo, já que tudo se conjuga em a natureza, as perturbações dos elementos físicos. Dá-se então, durante algum tempo, verdadeira confusão geral, mas que passa como furacão, após o qual o céu volta a estar sereno, e a humanidade, reconstituída sobre novas bases, imbuída de novas ideias, começa a percorrer nova etapa de progresso.

“É no período que ora se inicia que o Espiritismo florescerá e dará frutos. Trabalhais, portanto, mais para o futuro, do que para o presente. Era, porém, necessário que esses trabalhos se preparassem antecipadamente, porque eles traçam as sendas da regeneração, pela unificação e racionalidade das crenças. Ditosos os que deles aproveitam desde já. Tantas penas se pouparão esses, quantos forem os proveitos que deles aufiram.” Doutor Barry (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVIII – p. 360-361)

14. Tornada adulta, a humanidade tem novas necessidades, aspirações mais vastas e mais elevadas; compreende o vazio com que foi embalada, a insuficiência de suas instituições para lhe dar felicidade; já não encontra, no estado das coisas, as satisfações legítimas a que se sente com direito. Despoja-se, em consequência, das faixas infantis e se lança, impelida por irresistível força, para as margens desconhecidas, em busca de novos horizontes menos limitados.

É a um desses períodos de transformação, ou, se o preferirem, de crescimento moral, que ora chega a humanidade. Da adolescência chega ao estado viril. O passado já não pode bastar às suas novas aspirações, às suas novas necessidades; ela já não pode ser conduzida pelos mesmos métodos; não mais se deixa levar por ilusões, nem fantasmagorias; sua razão amadurecida reclama alimentos mais substanciosos. É demasiado efêmero o presente; ela sente que mais amplo é o seu destino e que a vida corpórea é excessivamente restrita para encerrá-lo inteiramente. Por isso, mergulha o olhar no passado e no futuro, a fim de descobrir num ou noutro o mistério da sua existência e de adquirir uma consoladora certeza.

E é no momento em que ela se encontra muito apertada na esfera material, em que transbordante se encontra de vida intelectual, em que o sentimento da espiritualidade lhe desabrocha no seio, que homens que se dizem filósofos pretendem encher o vazio com as doutrinas do niilismo e do materialismo! Singular aberração! Esses mesmos homens, que intentam impelir para a frente a humanidade, se esforçam por circunscrevê-la no acanhado círculo da matéria, donde ela anseia por escapar-se. Velam-lhe o aspecto da vida infinita e lhe dizem, apontando para o túmulo: Nec plus ultra! [Nada mais além!] (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVIII – p. 363-364)

A regeneração da humanidade, portanto, não exige absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Essa modificação se opera em todos quantos lhe estão predispostos, desde que sejam subtraídos à influência perniciosa do mundo. Assim, nem sempre os que voltam são outros Espíritos; são com frequência os mesmos Espíritos, mas pensando e sentindo de outra maneira.

Quando insulado e individual, esse melhoramento passa despercebido e nenhuma influência ostensiva alcança sobre o mundo. Muito outro é o efeito, quando a melhora se produz simultaneamente sobre grandes massas, porque, então, conforme as proporções que assuma, numa geração, pode modificar profundamente as ideias de um povo ou de uma raça.

É o que quase sempre se nota depois dos grandes choques que dizimam as populações. Os flagelos destruidores apenas destroem corpos, não atingem o Espírito; ativam o movimento de vaivém entre o mundo corporal e o mundo espiritual e, por conseguinte, o movimento progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados. É de notar-se que em todas as épocas da História, às grandes crises sociais se seguiu uma era de progresso. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVIII – p. 372)

Com o desenvolvimento das ideias, tudo tem que progredir em torno do homem, porque tudo se liga, tudo é solidário em a Natureza: ciências, crenças, cultos, legislações, meios de ação. O movimento para a frente é irresistível, porque é lei da existência dos seres. O que quer que fique para trás, abaixo do nível social, é posto de lado, como vestuário que se tornou imprestável e, finalmente, arrastado pela onda que se avoluma. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Vida Futura – p. 260)

A Humanidade se compõe de personalidades, que constituem as existências individuais, e das gerações, que constituem as existências coletivas. Umas e outras avançam na senda do progresso, por variadas fases de provações que, portanto, são individuais para as pessoas e coletivas para as gerações. Do mesmo modo que, para o encarnado, cada existência é um passo à frente, cada geração marca um grau de progresso para o conjunto. É irresistível esse progresso do conjunto e arrasta as massas, ao mesmo tempo que modifica e transforma em instrumento de regeneração os erros e prejuízos de um passado que tem de desaparecer. Ora, como as gerações se compõem dos indivíduos que já viveram nas gerações precedentes, segue-se que o progresso delas é a resultante do progresso dos indivíduos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Questões e Problemas – p. 273)

Ele [o Espiritismo] tomou o homem em meio da vida, no fogo das paixões, em plena força dos preconceitos e se, em tais circunstâncias, operou prodígios, que não será quando o tomar ao nascer, ainda virgem de todas as impressões malsãs; quando a criatura sugar com o leite a caridade e tiver a fraternidade a embalá-lo; quando, enfim, toda uma geração for educada e alimentada com ideias que a razão, desenvolvendo-se, fortalecerá, em vez de falsear? Sob o domínio destas ideias, a cimentarem a fé comum a todos, não mais esbarrando o progresso no egoísmo e no orgulho, as instituições se reformarão por si mesmas e a Humanidade avançará rapidamente para os destinos que lhe estão prometidos na Terra, aguardando os do céu. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O Egoísmo e o Orgulho – p. 285-286)

Em nenhum tempo, nem no seio de nenhum povo, os homens, em sociedade, hão podido prescindir de chefes; com estes deparamos nas tribos mais selvagens. Decorre isto de que, em razão da diversidade das aptidões e dos caracteres inerentes à espécie humana, há por toda parte homens incapazes, que precisam ser dirigidos, homens fracos que reclamam proteção, paixões que exigem repressão. Daí a necessidade imperiosa de uma autoridade. É sabido que, nas sociedades primitivas, essa autoridade foi conferida aos chefes de família, aos antigos, aos anciãos; numa palavra: aos patriarcas. Essa a primeira de todas as aristocracias.

Tornando-se numerosas as sociedades, a autoridade patriarcal veio a ficar impotente em certas circunstâncias. As querelas entre povoações vizinhas deram lugar a combates; fez-se mister, para dirigi-las, não mais os velhos, porém homens fortes, vigorosos e inteligentes; daí os chefes militares. Vitoriosos, estes chefes foram investidos da autoridade, esperando os seus comandados que com a valentia deles estariam garantidos contra os ataques dos inimigos. Muitos, abusando da posição a que tinham sido elevados, se apossavam dela por si mesmos. Depois, os vencedores passaram a impor-se aos vencidos, ou os reduziram à escravidão. Daí a autoridade da força bruta, que foi a segunda aristocracia.

Os fortes, com os bens que possuíam, transmitiriam muito naturalmente a seus filhos a autoridade de que desfrutavam; e os fracos, nada ousando dizer, se habituaram pouco a pouco a ter esses filhos por herdeiros dos direitos que os pais haviam conquistado e a considerá-los seus superiores. Veio assim a divisão da sociedade em duas classes: a dos superiores e a dos inferiores, a dos que mandam e a dos que obedecem. Estabeleceu-se de tal modo a aristocracia do nascimento, que tão poderosa e preponderante se tornou, quanto a da força, visto que, se não tinha por si a força, como nos primeiros tempos, em que importava fizesse cada um o sacrifício da sua pessoa, dispunha de uma força mercenária. Na posse de todo o poder, ela naturalmente se arrogou todos os privilégios.

Para conservação destes, era necessário lhes dessem o prestígio da legalidade; ela então fez leis em seu próprio proveito, o que lhe era fácil, pois que ninguém mais as fazia. Como isto, entretanto, não bastasse, juntou aos privilégios o prestígio do direito divino, para torná-los respeitáveis e invioláveis. A fim de lhes assegurar o respeito das classes submetidas, que cada vez mais numerosas se faziam e mais difíceis de ser contidas, mesmo pela força, um único meio havia: impedi-las de ver claro, isto é, conservá-las na ignorância.

Se a classe superior houvesse podido manter a classe inferior sem se ocupar com coisa alguma, tê-la-ia governado facilmente durante ainda longo tempo; mas, como a segunda fosse obrigada a trabalhar para viver, e trabalhar tanto mais quanto mais premida se achava, resultou que a necessidade de encontrar incessantemente novos recursos, de lutar contra uma concorrência invasora, de procurar novos mercados para os produtos, lhe desenvolveu a inteligência e fez com que as próprias causas, de que os da classe superior se serviam para trazê-la sujeita, a esclarecessem. Não se patenteia aí o dedo da Providência?

A classe submetida viu com clareza as coisas; viu a fraca consistência que lhe opunham e, sentindo-se forte pelo número, aboliu os privilégios e proclamou a igualdade perante a lei. Este princípio, no seio de alguns povos, marcou o fim do reinado da aristocracia de nascimento, que passou a ser apenas nominal e honorífica, porquanto já não confere direitos legais.

Elevou-se então uma nova potência, a do dinheiro, porque com dinheiro se dispõe dos homens e das coisas. Era um sol nascente e diante do qual todos se inclinaram, como outrora se curvavam diante de um brasão. O que não se concedia ao título, concedia-se à riqueza e a riqueza teve igualmente seus privilégios. Logo, porém, se aperceberam de que, para conseguir a riqueza, certa dose de inteligência era necessária, não sendo necessária muita para herdá-la, e de que os descendentes são quase sempre mais hábeis em a consumir, do que em ganhá-la, de que os próprios meios de enriquecimento nem sempre são irreprocháveis, donde resultou ir o dinheiro perdendo pouco a pouco o seu prestígio moral e tender essa potência a ser substituída por outra, por uma aristocracia mais justa: a da inteligência, diante da qual todos podem curvar-se, sem se envilecerem, porque ela pertence tanto ao pobre quanto ao rico.

Será a última? Será a mais alta expressão da Humanidade civilizada? Não.

A inteligência nem sempre constitui penhor de moralidade e o homem mais inteligente pode fazer péssimo uso de suas faculdades. Doutro lado, a moralidade, isolada, pode, muita vez, ser incapaz. A reunião dessas duas faculdades, inteligência e moralidade, é, pois, necessária a criar uma preponderância legítima, a que a massa se submeterá cegamente, porque lhe inspirará plena confiança, pelas suas luzes e pela sua justiça.

Será essa a última aristocracia, a que se apresentará como consequência, ou, antes, como sinal do advento do reinado do bem na Terra. Ela se erguerá muito naturalmente pela força mesma das coisas. Quando os homens de tal categoria forem bastante numerosos para formarem uma maioria imponente, a massa lhes confiará seus interesses. (Allan Kardec – Obras Póstumas – As Aristocracias – p. 293-296)

A sociedade em geral, ou, a bem dizer, a reunião de seres, tanto encarnados como desencarnados, que compõem a população flutuante de um mundo, numa palavra — a Humanidade —, mais não é que uma grande criança coletiva que, como todo ser dotado de vida, passa por todas as fases que se sucedem em cada um, desde o nascimento até a mais avançada idade. Do mesmo modo que o desenvolvimento do indivíduo é acompanhado de certas perturbações físicas e intelectuais, peculiares, particularmente, a determinados períodos da vida, também a Humanidade tem suas crises de crescimento, seus transtornos morais e intelectuais. Atravessais uma dessas grandes épocas, que encerram um período e dão começo a outro. Participando simultaneamente das coisas do passado e das do futuro, dos sistemas que ruem e das verdades que se fundam, tende o cuidado, meus amigos, de colocar-vos do lado da solidez, da progressividade e da lógica, se não quiserdes ser arrastados ao sabor das ondas; tende o de abandonar palácios suntuosos na aparência, mas vacilantes em suas bases e que não tardarão a sepultar nas suas ruínas os infelizes que insensatamente não quiserem deles sair, a despeito dos avisos de toda sorte que lhes são prodigalizados. (Allan Kardec – Obras Póstumas – p. 399-400)

No estado de ignorância, o homem é incapaz de captar as abstrações e abarcar as generalidades; nada concebe que não seja localizado e circunscrito; materializa as coisas imateriais; rebaixa até a majestade divina. Mas, à medida que o progresso da ciência positiva vem esclarecê-lo, reconheceu seu próprio erro: suas ideias, de mesquinhas e acanhadas que eram, crescem e o horizonte do infinito se desenrola aos seus olhos. É assim que, segundo a doutrina espírita, as penas de além-túmulo não podem ser senão morais e são inerentes à natureza impura e imperfeita dos Espíritos inferiores; não há inferno localizado no sentido vulgar ligado ao termo: cada um o tem em si, pelos sofrimentos que suporta e que não são menos cruciantes pelo fato de não serem físicos. O Inferno está em toda parte onde há Espíritos imperfeitos. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – A Minha Primeira Iniciação no Espiritismo – p. 19)

Por melhor que seja uma instituição social, sendo maus os homens, eles a falsearão e lhe desfigurarão o espírito para a explorarem em proveito próprio. Quando os homens forem bons, organizarão boas instituições, que serão duráveis, porque todos terão interesse em conservá-las. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo Espírita – p. 462)

A questão social não tem, pois, por ponto de partida a forma de tal ou qual instituição; ela está toda no melhoramento moral dos indivíduos e das massas. Aí é que se acha o princípio, a verdadeira chave da felicidade do gênero humano, porque então os homens não mais cogitarão de se prejudicarem reciprocamente. Não basta se cubra de verniz a corrupção, é indispensável extirpar a corrupção. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo Espírita – p. 462)

O progresso geral é a resultante de todos os progressos individuais; mas, o progresso individual não consiste apenas no desenvolvimento da inteligência, na aquisição de alguns conhecimentos. Nisso mais não há do que uma parte do progresso, que não conduz necessariamente ao bem, pois que há homens que usam mal do seu saber. O progresso consiste, sobretudo, no melhoramento moral, na depuração do Espírito, na extirpação dos maus germens que em nós existem. Esse o verdadeiro progresso, o único que pode garantir a felicidade ao gênero humano, por ser o oposto mesmo do mal. Muito mal pode fazer o homem de inteligência mais cultivada; aquele que se houver adiantado moralmente só o bem fará. É, pois, do interesse de todos o progresso moral da Humanidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo Espírita – p. 464)

A crença na vida futura é, pois, elemento de progresso, porque estimula o Espírito; somente ela pode dar ao homem coragem nas suas provas, porque lhe fornece a razão de ser dessas provas, perseverança na luta contra o mal, porque lhe assina um objetivo. A formar essa crença no espírito das massas é, portanto, o em que devem aplicar-se os que a possuem.

Entretanto, ela é inata no homem. Todas as religiões a proclamam. Por que, então, não deu, até hoje, os resultados que se deviam esperar? É que, em geral, a apresentam em condições que a razão não pode aceitar. Conforme a pintam, ela rompe todas as relações com o presente; desde que tenha deixado a Terra, a criatura se torna estranha à Humanidade: nenhuma solidariedade existe entre os mortos e os vivos; o progresso é puramente individual; cada um, trabalhando para o futuro, unicamente para si trabalha, só em si pensa e isso mesmo para uma finalidade vaga, que nada tem de definido, nada de positivo, sobre que o pensamento se firme com segurança; enfim, porque é mais uma esperança que uma certeza material. Daí resulta, para uns, a indiferença, para outros, uma exaltação mística que, isolando da Terra o homem, é essencialmente prejudicial ao progresso real da Humanidade, porquanto negligencia os cuidados que reclama o progresso material, para o qual a Natureza lhe impõe o dever de contribuir.

Todavia, por muito incompletos que sejam os resultados, não deixam de ser efetivos. Quantos homens não se sentiram encorajados e sustentados na senda do bem por essa vaga esperança! Quantos não se detiveram no declive do mal, pelo temor de comprometer o seu futuro! Quantas virtudes nobres essa crença não desenvolveu! Não desdenhemos as crenças do passado, por imperfeitas que sejam, quando conduzem ao bem: elas estavam em correspondência com o grau de adiantamento da Humanidade.

Mas, tendo progredido, a Humanidade reclama crenças em harmonia com as novas ideias. Se os elementos da fé permanecem estacionários e ficam distanciados pelo espírito, perdem toda influência; e o bem que hajam produzido, em certo tempo, não pode prosseguir, porque aqueles elementos já não se acham à altura das circunstâncias. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo Espírita – p. 465-467)

500. Momentos haverá em que o Espírito deixe de precisar, de então por diante, do seu protetor?

“Sim, quando ele atinge o ponto de poder guiar-se a si mesmo, como sucede ao estudante, para o qual um momento chega em que não mais precisa de mestre. Isso, porém, não se dá na Terra.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 250)

Mas, não basta lançar uma ideia ao mundo para que ela crie raízes; não, certamente. Não se criam à vontade opiniões ou hábitos. Dá-se o mesmo com as invenções e as descobertas: a mais útil fracassa se vem antes do tempo ou se a necessidade que está destinada a satisfazer ainda não existe. E assim com as doutrinas filosóficas, políticas, religiosas ou sociais; é preciso que os espíritos estejam amadurecidos para as aceitar; vindas muito cedo, ficam em estado latente e, como frutos plantados fora da estação, não se desenvolvem. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 22)

Embora o homem tenha progredido do ponto de vista moral, deve-se convir que esse progresso se realizou principalmente no sentido intelectual. Por quê? Eis ainda um desses problemas que só ao Espiritismo estava dado explicar, mostrando-nos que a moral e a inteligência raramente caminham lado a lado; enquanto o homem dá alguns passos num deles, se retarda no outro. Mais tarde, porém, torna a ganhar o terreno que havia perdido, e as duas forças acabam por se equilibrar nas encarnações sucessivas. O homem chegou a um período em que as ciências, as artes e a indústria atingiram um limite até hoje desconhecido; se os gozos que delas tira satisfazem à vida material, deixam um vazio na alma; o homem aspira a algo melhor: sonha com melhores instituições; quer a vida, a felicidade, a igualdade, a justiça para todos. Mas, como atingir tudo isso com os vícios da sociedade e, sobretudo, com o egoísmo? O homem sente, pois, a necessidade do bem para ser feliz; compreende que só o reino do bem pode dar a felicidade a que tanto aspira. Esse reinado ele o pressente, porquanto, instintivamente, tem fé na justiça de Deus e uma voz secreta lhe diz que uma nova era vai iniciar-se. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 25)

IV

O progresso da humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, de amor e de caridade, lei que se funda na certeza do futuro. Tirai-lhe essa certeza e lhe tirareis a pedra fundamental. Dessa lei derivam todas as outras, porque ela encerra todas as condições da felicidade do homem. Só ela pode curar as chagas da sociedade. Comparando as idades e os povos, pode ele avaliar quanto a sua condição melhora, à medida que essa lei vai sendo mais bem compreendida e melhor praticada. Ora, se, aplicando-a parcial e incompletamente, aufere o homem tanto bem, que não conseguirá quando fizer dela a base de todas as suas instituições sociais! Será isso possível? Certo, porquanto, desde que ele já deu dez passos, possível lhe é dar vinte e assim por diante. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Conclusão – p. 464)

IV

[…]

Desde que é incontestável o movimento progressivo, não há que duvidar do progresso vindouro. O homem quer ser feliz e é natural esse desejo. Ora, buscando progredir, o que ele procura é aumentar a soma da sua felicidade, sem o que o progresso careceria de objeto. Em que consistiria para ele o progresso, se lhe não devesse melhorar a posição?

Quando, porém, conseguir a soma de gozos que o progresso intelectual lhe pode proporcionar, verificará que não está completa a sua felicidade. Reconhecerá ser esta impossível, sem a segurança nas relações sociais, segurança que somente no progresso moral lhe será dado achar. Logo, pela força mesma das coisas, ele próprio dirigirá o progresso para essa senda e o Espiritismo lhe oferecerá a mais poderosa alavanca para alcançar tal objetivo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Conclusão – p. 465)

966. Por que das penas e gozos da vida futura faz o homem, às vezes, tão grosseira e absurda ideia?

“Inteligência que ainda se não desenvolveu bastante. Compreende a criança as coisas como o adulto? Isso, ademais, depende também do que se lhe ensinou: aí é que há necessidade de uma reforma.

Muitíssimo incompleta é a vossa linguagem, para exprimir o que está fora de vós. Teve-se então que recorrer a comparações e tomastes como realidade as imagens e figuras que serviram para essas comparações. À medida, porém, que o homem se instrui, melhor vai compreendendo o que a sua linguagem não pode exprimir.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 434)

628. Por que a verdade não foi sempre posta ao alcance de toda gente?

“Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado.

Jamais permitiu Deus que o homem recebesse comunicações tão completas e instrutivas como as que hoje lhe são dadas. Havia, como sabeis, na Antiguidade alguns indivíduos possuidores do que eles próprios consideravam uma ciência sagrada e da qual faziam mistério para os que, aos seus olhos, eram tidos por profanos. Pelo que conheceis das leis que regem estes fenômenos, deveis compreender que esses indivíduos apenas recebiam algumas verdades esparsas, dentro de um conjunto equívoco e, na maioria dos casos, emblemático. Entretanto, para o estudioso, não há nenhum sistema antigo de filosofia, nenhuma tradição, nenhuma religião, que seja desprezível, pois em tudo há germens de grandes verdades que, se bem pareçam contraditórias entre si, dispersas que se acham em meio de acessórios sem fundamento, facilmente coordenáveis se vos apresentam, graças à explicação que o Espiritismo dá de uma imensidade de coisas que até agora se vos afiguraram sem razão alguma e cuja realidade está hoje irrecusavelmente demonstrada. Não desprezeis, portanto, os objetos de estudo que esses materiais oferecem. Ricos eles são de tais objetos e podem contribuir grandemente para vossa instrução.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 299)

689. Os homens atuais formam uma criação nova, ou são descendentes aperfeiçoados dos seres primitivos?

“São os mesmos Espíritos que voltaram, para se aperfeiçoar em novos corpos, mas que ainda estão longe da perfeição. Assim, a atual raça humana, que, pelo seu crescimento, tende a invadir toda a Terra e a substituir as raças que se extinguem, terá sua fase de decrescimento e de desaparição. Substituí-la-ão outras raças mais aperfeiçoadas, que descenderão da atual, como os homens civilizados de hoje descendem dos seres brutos e selvagens dos tempos primitivos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IV – p. 322)

875. Como se pode definir a justiça?

“A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.”

a) Que é o que determina esses direitos?

“Duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens formulado leis apropriadas a seus costumes e caracteres, elas estabeleceram direitos mutáveis com o progresso das luzes. Vede se hoje as vossas leis, aliás imperfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Entretanto, esses direitos antiquados, que agora se vos afiguram monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. Nem sempre, pois, é acorde com a justiça o direito que os homens prescrevem. Ademais, este direito regula apenas algumas relações sociais, quando é certo que, na vida particular, há uma imensidade de atos unicamente da alçada do tribunal da consciência.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XI – p. 390)

695. Será contrário à Lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de dois seres?

“É um progresso na marcha da Humanidade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IV – p. 324)

696. Que efeito teria sobre a sociedade humana a abolição do casamento?

“Seria uma regressão à vida dos animais.”

Nota – O estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos. O casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se observa entre todos os povos, se bem que em condições diversas. A abolição do casamento seria, pois, regredir à infância da humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de certos animais que lhe dão o exemplo de uniões constantes. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IV – p. 324)

737. Com que fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos destruidores?

“Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 337)

751. Como se explica que entre alguns povos, já adiantados sob o ponto de vista intelectual, o infanticídio seja um costume e esteja consagrado pela legislação?

“O desenvolvimento intelectual não implica a necessidade do bem. Um Espírito, superior em inteligência, pode ser mau. Isso se dá com aquele que muito tem vivido sem se melhorar: apenas sabe.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 341)

760. Desaparecerá algum dia, da legislação humana, a pena de morte?

“Incontestavelmente desaparecerá e a sua supressão assinalará um progresso da humanidade. Quando os homens estiverem mais esclarecidos, a pena de morte será completamente abolida na Terra. Não mais precisarão os homens de ser julgados pelos homens. Refiro-me a uma época ainda muito distante de vós.”

Nota – Sem dúvida, o progresso social ainda muito deixa a desejar, mas seria injusto para com a sociedade moderna, no seio dos povos mais adiantados, quem não visse um progresso nas restrições postas à pena de morte e à natureza dos crimes a que a sua aplicação se acha limitada. Se, entre esses mesmos povos, compararmos as garantias de que a justiça procura cercar o acusado, a humanidade de que usa para com ele, mesmo quando o reconhece culpado, com o que se praticava em tempos que ainda não vão muito longe, não poderemos negar o avanço do gênero humano na senda do progresso. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 343-344)

762. A pena de morte, que pode vir a ser banida das sociedades civilizadas, não terá sido de necessidade em épocas menos adiantadas?

“Necessidade não é o termo. O homem julga necessária uma coisa, sempre que não descobre outra melhor. À proporção que se instrui, vai compreendendo melhor o que é justo e o que é injusto e repudia os excessos cometidos, nos tempos de ignorância, em nome da justiça.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 344)

763. Será um indício de progresso da civilização a restrição dos casos em que se aplica a pena de morte?

“Podes duvidar disso? Não se revolta o teu Espírito, quando lês a narrativa das carnificinas humanas que outrora se faziam em nome da justiça e, não raro, em honra da Divindade; das torturas que se infligiam ao condenado e até ao simples acusado, para lhe arrancar, pela agudeza do sofrimento, a confissão de um crime que muitas vezes não cometera? Pois bem! Se houvesses vivido nessas épocas, terias achado tudo isso natural e talvez mesmo, se foras juiz, fizesses outro tanto. Assim é que o que pareceu justo, numa época, parece bárbaro em outra. Só as leis divinas são eternas; as humanas mudam com o progresso e continuarão a mudar, até que tenham sido postas de acordo com aquelas.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 344)

784. Bastante grande é a perversidade do homem. Não parece que, pelo menos do ponto de vista moral, ele, em vez de avançar, caminha aos recuos?

“Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que o homem se adianta, pois que melhor compreende o que é mal, e vai dia a dia reprimindo os abusos. Faz-se mister que o mal chegue ao excesso, para tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 354)

788. Os povos são individualidades coletivas que, como os indivíduos, passam pela infância, pela idade da madureza e pela decrepitude. Esta verdade, que a História comprova, não será de molde a fazer supor que os povos mais adiantados deste século terão seu declínio e sua extinção, como os da Antiguidade?

“Os povos, que apenas vivem a vida do corpo, aqueles cuja grandeza unicamente assenta na força e na extensão territorial, nascem, crescem e morrem, porque a força de um povo se exaure, como a de um homem. Aqueles, cujas leis egoísticas obstam ao progresso das luzes e da caridade, morrem, porque a luz mata as trevas e a caridade mata o egoísmo. Mas, para os povos, como para os indivíduos, há a vida da alma. Aqueles, cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador, viverão e servirão de farol aos outros povos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 355-356)

789. O progresso fará que todos os povos da Terra se achem um dia reunidos, formando uma só nação?

“Uma nação única, não; seria impossível, visto que da diversidade dos climas se originam costumes e necessidades diferentes, que constituem as nacionalidades, tornando indispensáveis sempre leis apropriadas a esses costumes e necessidades. A caridade, porém, desconhece latitudes e não distingue a cor dos homens. Quando, por toda parte, a lei de Deus servir de base à lei humana, os povos praticarão entre si a caridade, como os indivíduos. Então, viverão felizes e em paz, porque nenhum cuidará de causar dano ao seu vizinho, nem de viver a expensas dele.”

Nota – A Humanidade progride, por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e instruem. Quando estes preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos a tempos, surgem no seio dela homens de gênio que lhe dão um impulso; vêm depois, como instrumentos de Deus, os que têm autoridade e, nalguns anos, fazem-na adiantar-se de muitos séculos.

O progresso dos povos também realça a justiça da reencarnação. Louváveis esforços empregam os homens de bem para conseguir que uma nação se adiante, moral e intelectualmente. Transformada, a nação será mais ditosa neste mundo e no outro, concebe-se, mas, durante a sua marcha lenta através dos séculos, milhares de indivíduos morrem todos os dias. Qual a sorte de todos os que sucumbem ao longo do trajeto? Privá-los-á, a sua relativa inferioridade, da felicidade reservada aos que chegam por último? Ou também relativa será a felicidade que lhes cabe? Não é possível que a Justiça divina haja consagrado semelhante injustiça. Com a pluralidade das existências, é igual para todos o direito à felicidade, porque ninguém fica privado do progresso. Podendo, os que viveram ao tempo da barbaria, voltar, na época da civilização, a viver no seio do mesmo povo, ou de outro, é claro que todos tiram proveito da marcha ascensional.

[…]

As almas vindas no tempo da civilização tiveram sua infância, como todas as outras, mas já tinham vivido antes e vêm adiantadas por efeito do progresso realizado anteriormente. Vêm atraídas por um meio que lhes é simpático e que se acha em relação com o estado em que atualmente se encontram. De sorte que, os cuidados dispensados à civilização de um povo não têm como consequência fazer que, de futuro, se criem almas mais perfeitas; têm, sim, o de atrair as que já progrediram, quer tenham vivido no seio do povo que se figura, ao tempo da sua barbaria, quer venham de outra parte. Aqui se nos depara igualmente a chave do progresso da Humanidade inteira. Quando todos os povos estiverem no mesmo nível, no tocante ao sentimento do bem, a Terra será ponto de reunião exclusivamente de bons Espíritos, que viverão fraternalmente unidos. Os maus, sentindo-se aí repelidos e deslocados, irão procurar, em mundos inferiores, o meio que lhes convém, até que sejam dignos de volver ao nosso, então transformado. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 356-357)

790. É um progresso a civilização ou, como o entendem alguns filósofos, uma decadência da Humanidade?

“Progresso incompleto. O homem não passa subitamente da infância à madureza.”

a) Será racional condenar-se a civilização?

“Condenai antes os que dela abusam e não a obra de Deus.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 358)

791. Apurar-se-á algum dia a civilização, de modo a fazer que desapareçam os males que haja produzido?

“Sim, quando o moral estiver tão desenvolvido quanto a inteligência. O fruto não pode surgir antes da flor.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 358)

793. Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa?

“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque tendes feito grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos alojais e vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.”

Nota – A civilização, como todas as coisas, apresenta gradações diversas. Uma civilização incompleta é um estado transitório, que gera males especiais, desconhecidos do homem no estado primitivo. Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural, necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral.

De duas nações que tenham chegado ao ápice da escala social, somente pode considerar-se a mais civilizada, na legítima acepção do termo, aquela em que exista menos egoísmo, menos cobiça e menos orgulho; em que os hábitos sejam mais intelectuais e morais do que materiais; em que a inteligência possa desenvolver-se com maior liberdade; em que haja mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas; em que menos enraizados se mostrem os preconceitos de casta e de nascimento, por isso que tais preconceitos são incompatíveis com o verdadeiro amor do próximo; em que as leis nenhum privilégio consagrem e sejam as mesmas, assim para o último, como para o primeiro; em que com menos parcialidade se exerça a justiça; em que o fraco encontre sempre amparo contra o forte; em que a vida do homem, suas crenças e opiniões sejam melhormente respeitadas; em que exista menor número de desgraçados; enfim, em que todo homem de boa vontade esteja certo de lhe não faltar o necessário. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 358-359)

794. Poderia a sociedade reger-se unicamente pelas leis naturais, sem o concurso das leis humanas?

“Poderia, se todos as compreendessem bem. Se os homens as quisessem praticar, elas bastariam. A sociedade, porém, tem suas exigências. São-lhe necessárias leis especiais.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 359)

795. Qual a causa da instabilidade das leis humanas?

“Nas épocas de barbaria, são os mais fortes que fazem as leis e eles as fizeram para si. À proporção que os homens foram compreendendo melhor a justiça, indispensável se tornou a modificação delas. Quanto mais se aproximam da vera justiça, tanto menos instáveis são as leis humanas, isto é, tanto mais estáveis se vão tornando, conforme vão sendo feitas para todos e se identificam com a lei natural.”

Nota – A civilização criou necessidades novas para o homem, necessidades relativas à posição social que ele ocupe. Tem-se então que regular, por meio de leis humanas, os direitos e deveres dessa posição. Influenciado, porém, pelas suas paixões, o homem não raro há criado direitos e deveres imaginários, que a lei natural condena e que os povos riscam de seus códigos à medida que progridem. A lei natural é imutável e a mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva. Na infância das sociedades, esta só pôde consagrar o direito do mais forte. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 359-360)

796. No estado atual da sociedade, a severidade das leis penais não constitui uma necessidade?

“Uma sociedade depravada certamente precisa de leis severas. Infelizmente, essas leis mais se destinam a punir o mal depois de feito, do que a lhe secar a fonte. Só a educação poderá reformar os homens, que, então, não precisarão mais de leis tão rigorosas.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 360)

797. Como poderá o homem ser levado a reformar suas leis?

“Isso ocorre naturalmente, pela força mesma das coisas e da influência das pessoas que o guiam na senda do progresso. Muitas ele já reformou e muitas outras reformará. Espera!” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 360)

800. Não será de temer que o Espiritismo não consiga triunfar da negligência dos homens e do seu apego às coisas materiais?

“Conhece bem pouco os homens quem imagine que uma causa qualquer os possa transformar como que por encanto. As ideias só pouco a pouco se modificam, conforme os indivíduos, e preciso é que algumas gerações passem, para que se apaguem totalmente os vestígios dos velhos hábitos. A transformação, pois, somente com o tempo, gradual e progressivamente, se pode operar. Para cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo vem rasgá-lo de alto a baixo. Entretanto, conseguisse ele unicamente corrigir num homem um único defeito que fosse e já o haveria forçado a dar um passo. Ter-lhe-ia feito, só com isso, grande bem, pois esse primeiro passo lhe facilitará os outros.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 361)

801. Por que não ensinaram os Espíritos, em todos os tempos, o que ensinam hoje?

“Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não dais ao recém-nascido um alimento que ele não possa digerir. Cada coisa tem seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou adulteraram, mas que podem compreender agora. Com seus ensinos, embora incompletos, prepararam o terreno para receber a semente que vai frutificar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 362)

806. É Lei da Natureza a desigualdade das condições sociais?

“Não; é obra do homem e não de Deus.”

a) Algum dia essa desigualdade desaparecerá?

“Eternas somente as leis de Deus o são. Não vês que dia a dia ela gradualmente se apaga? Desaparecerá quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar. Restará apenas a desigualdade do merecimento. Dia virá em que os membros da grande família dos filhos de Deus deixarão de considerar-se como de sangue mais ou menos puro. Só o Espírito é mais ou menos puro e isso não depende da posição social.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IX – p. 364)

2.1 DAS DIFERENTES CATEGORIAS DOS ESPÍRITOS

ESCALA ESPÍRITA – quadro das várias ordens de Espíritos, indicando os degraus que devem percorrer a fim de chegarem à perfeição. Compreende três ordens principais: os Espíritos imperfeitos, os bons Espíritos e os puros Espíritos, subdivididos em nove classes caracterizadas pela progressão dos sentimentos morais e das ideias intelectuais.

Os próprios Espíritos nos ensinam que pertencem a diferentes categorias, conforme seu grau de depuração, mas também nos dizem que essas categorias não constituem espécies distintas e que os Espíritos são chamados a percorrê-las sucessivamente. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 13)

De todos os princípios fundamentais da doutrina espírita, um dos mais importantes é, incontrastavelmente, aquele que estabelece as diferentes ordens de Espíritos. No começo das manifestações pensou-se que um ser, por isso mesmo que é Espírito, deveria ter a ciência infusa e a suprema sabedoria e muita gente se julgou de posse de meios infalíveis de adivinhação. Esse erro ocasionou muitos equívocos. Em breve a experiência demonstrou que o mundo invisível está longe de encerrar apenas Espíritos superiores: eles próprios nos informam que não são iguais nem em saber nem em moralidade, e que sua elevação depende do grau de perfeição a que tenham atingido. Traçaram eles os caracteres distintivos desses diversos graus que constituem o que denominamos a Escala Espírita. Desde logo a diversidade e as contradições de sua linguagem foram explicadas e se compreendeu que, entre os Espíritos, como entre os homens, para saber uma coisa não nos devemos dirigir ao primeiro que nos aparecer.

Dá-nos assim essa escala a chave de uma porção de fenômenos e anomalias aparentes, das quais seria difícil, quiçá impossível, darmo-nos conta sem o seu auxílio. Além disso ela nos interessa pessoalmente, porque, por nossa alma, pertencemos ao mundo espírita, no qual entramos ao deixar a vida corpórea e, ainda, porque ela nos mostra o caminho a seguir a fim de chegar à perfeição e ao supremo bem.

Do ponto de vista da ciência prática ela nos dá o meio de julgar os Espíritos que se apresentam nas manifestações e de apreciar o grau de confiança, que sua linguagem nos deve inspirar. Esse estudo requer uma observação atenta e constante: são precisos tempo e experiência para aprender a conhecer os homens; e não são necessários menos para aprender a conhecer os Espíritos.

A escala espírita compreende três ordens principais, indicadas pelos Espíritos e perfeitamente caracterizadas. Como essas ordens apresentam cada uma várias nuanças, nós as dividimos em várias classes designadas pelo caráter dominante dos Espíritos que delas fazem parte. Aliás essa classificação nada tem de absoluto: cada categoria só oferece um caráter marcante no seu conjunto; mas de um a outro grau a nuança se apaga, como nos reinos da natureza, como nas cores dei arco-íris ou, ainda, como nos vários períodos da vida. De vinte a quarenta anos o homem experimenta uma notável mudança. Aos vinte é um homem moço; aos quarenta, um homem feito. Mas entre essas duas fases da vida seria impossível estabelecer uma linha de demarcação e dizer onde termina uma e começa a outra. Dá-se o mesmo nos graus da escala espírita. Além disso observamos que os Espíritos não pertencem sempre e exclusivamente a esta ou àquela classe: seu progresso só se realiza gradualmente e, muitas vezes, mais num sentido do que no outro, com o que podem reunir caracteres de várias categorias, o que é fácil de reconhecer-se por sua linguagem e por suas ações. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Escala espírita – p. 39-40)

CIÊNCIA INFUSA: Que nasce naturalmente: conhecimento infuso. [Definição do Dicio – Dicionário  Online de Português]

96. São iguais os Espíritos, ou há entre eles qualquer hierarquia?

“São de diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 90)

97. As ordens ou graus de perfeição dos Espíritos são em número determinado?

“São ilimitadas em número, porque entre elas não há linhas de demarcação traçadas como barreiras, de sorte que as divisões podem ser multiplicadas ou restringidas livremente. Todavia, considerando-se os caracteres gerais dos Espíritos, elas podem reduzir-se a três principais.

Na primeira, colocar-se-ão os que atingiram a perfeição máxima: os puros Espíritos. Formam a segunda, os que chegaram ao meio da escala: o desejo do bem é o que neles predomina. Pertencerão à terceira os que ainda se acham na parte inferior da escala: os Espíritos imperfeitos. A ignorância, o desejo do mal e todas as paixões más que lhes retardam o progresso, eis o que os caracteriza.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 90)

– Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou puros Espíritos. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria, eivados das nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho etc. Comprazem-se no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons nem muito maus, antes perturbadores e enredadores, do que perversos. A malícia e as inconsequências parecem ser o que neles predomina. São os Espíritos estúrdios ou levianos;

– Os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a absoluta perfeição moral; (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução – p. 24)

ENREDAR: emaranhar(-se) em rede; enlear(-se). [Definição do Dicionário Online do Google]

ESTÚRDIO: que denota estranheza, esquisitice (diz-se de qualquer coisa); incomum, esquisito. [Definição do Dicionário Online do Google]

100. Observações preliminares. – A classificação dos Espíritos se baseia no grau de adiantamento deles, nas qualidades que já adquiriram e nas imperfeições de que ainda terão de despojar-se. Esta classificação, aliás, nada tem de absoluta. Apenas no seu conjunto cada categoria apresenta caráter definido. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte  Segunda – Capítulo I – p. 91)

V. — Por que não são perfeitos todos os Espíritos? Tê-los-á Deus assim criado em tão diversas categorias?

A. K. — É o mesmo que perguntar por que todos os alunos de um colégio não estão cursando a aula de Filosofia.

Todos os Espíritos têm a mesma origem e o mesmo destino; as diferenças que os separam não constituem espécies distintas, mas exprimem diversos graus de adiantamento. Os Espíritos não são perfeitos, porque não são mais do que as almas dos homens, que não atingiram também a perfeição; e, pela mesma razão, os homens não são perfeitos por serem encarnações de Espíritos mais ou menos adiantados. O mundo corporal e o mundo espiritual estão em contínuo revezamento; pela morte do corpo, o mundo corporal fornece seu contingente ao espiritual; pelos nascimentos, este alimenta a humanidade.

Em cada nova existência, o Espírito dá maior ou menor passo no caminho do progresso, e, quando adquiriu na Terra a soma de conhecimentos e a elevação moral que o nosso globo comporta, ele o deixa, para ir viver em mundo mais elevado onde vai aprender novas coisas.

Os Espíritos que formam a população invisível da Terra são, de alguma sorte, o reflexo do mundo corporal; neles se encontram os mesmos vícios e as mesmas virtudes; há entre eles sábios, ignorantes e charlatães, prudentes e levianos, filósofos, raciocinadores, sistemáticos; como se não se despissem de seus prejuízos, todas as opiniões políticas e religiosas têm entre eles representantes; cada um fala segundo suas ideias, e o que eles dizem é, muitas vezes, apenas a sua opinião pessoal; eis o motivo por que se não deve crer cegamente em tudo o que dizem os Espíritos. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo I – p. 86-87)

20. Segundo o Espiritismo, nem anjos nem demônios são entidades distintas, por isso que a criação de seres inteligentes é uma só. Unidos a corpos materiais, esses seres constituem a humanidade que povoa a Terra e as outras esferas habitadas; uma vez libertos do corpo material, constituem o mundo espiritual ou dos Espíritos, que povoam os Espaços. Deus criou-os perfectíveis e deu-lhes por escopo a perfeição, com a felicidade que dela decorre. Não lhes deu, contudo, a perfeição, pois quis que a obtivessem por seu próprio esforço, a fim de que também e realmente lhes pertencesse o mérito. Desde o momento da sua criação que os seres progridem, quer encarnados, quer no estado espiritual. Atingido o apogeu, tornam-se puros Espíritos ou anjos segundo a expressão vulgar, de sorte que, a partir do embrião do ser inteligente até o anjo, há uma cadeia na qual cada um dos elos assinala um grau de progresso.

Do exposto resulta que há Espíritos em todos os graus de adiantamento, moral e intelectual, conforme a posição em que se acham, na imensa escala do progresso.

Em todos os graus existe, portanto, ignorância e saber, bondade e maldade. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo IX – p. 118-119)

Nota – […] O Espiritismo, pois, revela a unidade, a harmonia e a justiça na Criação. Segundo ele, os demônios são as almas atrasadas, ainda prenhes dos vícios da Humanidade; os anjos são essas mesmas almas depuradas e desmaterializadas; entre esses dois pontos extremos, a multidão das almas nos diferentes graus da escala progressiva. Estabelece desse modo a solidariedade entre o mundo espiritual e o mundo corpóreo. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Controvérsias sobre a ideia da existência de seres intermediários entre o homem e Deus – p. 113)

PRENHE: que foi enchido ao máximo; abarrotado, repleto, cheio. [Definição do Dicionário Online do Google]

26. Da diversidade nas qualidades e nas aptidões dos Espíritos, resulta que não basta se dirigir a um Espírito qualquer para obter uma resposta justa a toda pergunta, porque, sobre muitas coisas, não podem dar senão a sua opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa. Se ele for sábio, confessará a sua ignorância sobre o que não sabe; se for leviano ou mentiroso, responderá sobre tudo sem se importar com a verdade; se for orgulhoso, dará a sua ideia como verdade absoluta. Haveria, pois, imprudência e leviandade em aceitar, sem controle, tudo o que vem dos Espíritos. Por isso, é essencial estar esclarecido quanto à natureza daqueles com os quais se ocupe. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestações Espíritas – p. 14-15)

317. Após a morte, conservam os Espíritos o amor da pátria?

“O princípio é sempre o mesmo. Para os Espíritos elevados, a pátria é o Universo. Na Terra, a pátria, para eles, está onde se ache o maior número das pessoas que lhes são simpáticas.”

Nota – As condições dos Espíritos e as maneiras por que vêem as coisas variam ao infinito, de conformidade com os graus de desenvolvimento moral e intelectual em que se achem. Geralmente, os Espíritos de ordem elevada só por breve tempo se aproximam da Terra. Tudo o que aí se faz é tão mesquinho em comparação com as grandezas do infinito, tão pueris são, aos olhos deles, as coisas a que os homens mais importância ligam, que quase nenhum atrativo lhes oferece o nosso mundo, a menos que para aí os leve o propósito de concorrerem para o progresso da humanidade.

Os Espíritos de ordem intermédia são os que mais frequentemente baixam a este planeta, se bem considerem as coisas de um ponto de vista mais alto do que quando encarnados. Os Espíritos vulgares, esses são os que aí mais se comprazem e constituem a massa da população invisível do globo terráqueo. Conservam quase que as mesmas ideias, os mesmos gostos e as mesmas inclinações que tinham quando revestidos do invólucro corpóreo. Metem-se em nossas reuniões, negócios, divertimentos, nos quais tomam parte mais ou menos ativa, segundo seus caracteres. Não podendo satisfazer às suas paixões, gozam na companhia dos que a elas se entregam e os excitam a cultivá-las. Entre eles, no entanto, muitos há, sérios, que vêem e observam para se instruírem e aperfeiçoarem. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 185-186)

9. […] Como há homens de todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de maldade, ocorre o mesmo com os Espíritos. Há os que são apenas levianos e traquinas, outros são mentirosos, trapaceiros, hipócritas, maus, vingativos; outros, ao contrário, possuem as mais sublimes virtudes e o saber num grau desconhecido na Terra. Essa diversidade na qualidade dos Espíritos é um dos pontos mais importantes a se considerar, porque explica a natureza boa ou má das comunicações que se recebem; é em distingui-las que é preciso, sobretudo, se aplicar. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Espíritos – p. 7)

– Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou puros Espíritos. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria, eivados das nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho etc. Comprazem-se no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons nem muito maus, antes perturbadores e enredadores, do que perversos. A malícia e as inconsequências parecem ser o que neles predomina. São os Espíritos estúrdios ou levianos;

– Os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a absoluta perfeição moral; (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução – p. 24)

ENREDAR: emaranhar(-se) em rede; enlear(-se). [Definição do Dicionário Online do Google]

ESTÚRDIO: que denota estranheza, esquisitice (diz-se de qualquer coisa); incomum, esquisito. [Definição do Dicionário Online do Google]

[Espíritos Endurecidos – Um espírito aborrecido]

2. Qual a vossa posição entre os Espíritos?

— R. Estou entre os entediados.

— P. Mas isso não forma categoria…

— R. Entre nós, tudo forma categoria. Cada sensação encontra suas semelhantes, ou suas simpatias que se reúnem. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 330)

[…] os próprios Espíritos nos ensinam não haver entre eles igualdade de conhecimentos nem de qualidades morais, e que não se deve tomar ao pé da letra tudo quanto dizem. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução – p. 33)

143. Por que todos os Espíritos não definem do mesmo modo a alma?

“Os Espíritos não se acham todos esclarecidos igualmente sobre estes assuntos. Há Espíritos de inteligência ainda limitada, que não compreendem as coisas abstratas. São como as crianças entre vós. Também há Espíritos pseudossábios, que fazem alarde de palavras, para se imporem, ainda como sucede entre vós. Depois, os próprios Espíritos esclarecidos podem exprimir-se em termos diferentes, cujo valor, entretanto, é, substancialmente, o mesmo, sobretudo quando se trata de coisas que a vossa linguagem se mostra impotente para traduzir com clareza. Recorrem então a figuras, a comparações, que tomais como realidade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo II – p. 109)

60. […] De há muito, a experiência há demonstrado ser errôneo atribuir-se aos Espíritos todo o saber e toda a sabedoria, e que bastaria dirigir-se ao primeiro Espírito que se apresente para conhecer todas as coisas. Saídos da humanidade, os Espíritos constituem uma de suas faces. Assim como na Terra, entre eles há os superiores e os vulgares; muitos deles, pois, científica e filosoficamente, sabem menos do que certos homens; eles dizem o que sabem, nem mais, nem menos. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo I – p. 45)

873. O sentimento da justiça está na natureza, ou é resultado de ideias adquiridas?

“Está de tal modo na natureza, que vos revoltais à simples ideia de uma injustiça. É fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pôs no coração do homem. Daí vem que, frequentemente, em homens simples e incultos se vos deparam noções mais exatas da justiça do que nos que possuem grande cabedal de saber.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XI – p. 389)

874. Sendo a justiça uma Lei da Natureza, como se explica que os homens a entendam de modos tão diferentes, considerando uns justo o que a outros parece injusto?

“É porque a esse sentimento se misturam paixões que o alteram, como sucede à maior parte dos outros sentimentos naturais, fazendo que os homens vejam as coisas por um prisma falso.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Terceira – Capítulo XI – p. 389)

49. […] 5ª Há Espíritos de todos os graus de bondade e de malícia, de saber e de ignorância; (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo IV – p. 57)

13. As atribuições dos Espíritos são proporcionadas ao seu progresso, às luzes que possuem, às suas capacidades, experiência e grau de confiança inspirada ao Senhor soberano. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – p. 31)

28. Quando, em um mundo, os Espíritos hão realizado a soma de progresso que o estado desse mundo comporta, deixam-no para encarnar em outro mais adiantado, onde adquiram novos conhecimentos e assim por diante, até que, não lhes sendo mais de proveito algum a encarnação em corpos materiais, passam a viver exclusivamente da vida espiritual, na qual continuam a progredir, mas noutro sentido e por outros meios. Chegados ao ponto culminante do progresso, gozam da suprema felicidade. Admitidos nos conselhos do Onipotente, conhecem-lhe o pensamento e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos no governo dos mundos, tendo sob suas ordens os Espíritos de todos os graus de adiantamento.

Assim, qualquer que seja o grau em que se achem na hierarquia espiritual, do mais ínfimo ao mais elevado, têm eles suas atribuições no grande mecanismo do universo; todos são úteis ao conjunto, ao mesmo tempo que a si próprios. Aos menos adiantados, como a simples serviçais, incumbe o desempenho, a princípio inconsciente, depois, cada vez mais inteligente, de tarefas materiais. Por toda parte, no mundo espiritual, atividade, em nenhum ponto a ociosidade inútil. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XI – p. 193-194)

536. São devidos a causas fortuitas, ou, ao contrário, têm todos um fim providencial, os grandes fenômenos da Natureza, os que se consideram como perturbação dos elementos?

“Tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus.”

a) Objetivam sempre o homem esses fenômenos?

“Às vezes têm, como imediata razão de ser, o homem. Na maioria dos casos, entretanto, têm por único motivo o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia das forças físicas da Natureza.”

b) Concebemos perfeitamente que a vontade de Deus seja a causa primária, nisto como em tudo; porém, sabendo que os Espíritos exercem ação sobre a matéria e que são os agentes da vontade de Deus, perguntamos se alguns dentre eles não exercerão certa influência sobre os elementos para os agitar, acalmar ou dirigir?

“Evidentemente. Nem poderia ser de outro modo. Deus não exerce ação direta sobre a matéria. Ele encontra agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX –  p. 262)

537. A mitologia dos antigos se fundava inteiramente em ideias espíritas, com a única diferença de que consideravam os Espíritos como divindades. Representavam esses deuses ou esses Espíritos com atribuições especiais. Assim, uns eram encarregados dos ventos, outros do raio, outros de presidir ao fenômeno da vegetação etc. Semelhante crença é totalmente destituída de fundamento?

“Tão pouco destituída é de fundamento, que ainda está muito aquém da verdade.”

a) Poderá então haver Espíritos que habitem o interior da Terra e presidam aos fenômenos geológicos?

“Tais Espíritos não habitam positivamente a Terra. Presidem aos fenômenos e os dirigem de acordo com as atribuições que têm. Dia virá em que recebereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 262-263)

538. Formam categoria especial no mundo espírita os Espíritos que presidem aos fenômenos da Natureza? Serão seres à parte ou Espíritos que foram encarnados como nós?

“Que foram ou que o serão.”

a) Pertencem esses Espíritos às ordens superiores ou às inferiores da hierarquia espírita?

“Isso é conforme seja mais ou menos material, mais ou menos inteligente o papel que desempenhem. Uns mandam, outros executam. Os que executam coisas materiais são sempre de ordem inferior, assim entre os Espíritos, como entre os homens.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 263)

539. A produção de certos fenômenos, das tempestades, por exemplo, é obra de um só Espírito, ou muitos se reúnem, formando grandes massas, para produzi-los?

“Reúnem-se em massas inumeráveis.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 263)

540. Os Espíritos que exercem ação nos fenômenos da Natureza operam com conhecimento de causa, usando do livre-arbítrio, ou por efeito de instintivo ou irrefletido impulso?

“Uns sim, outros não. Estabeleçamos uma comparação. Considera essas miríades de animais que, pouco a pouco, fazem emergir do mar ilhas e arquipélagos. Julgas que não há aí um fim providencial e que essa transformação da superfície do globo não seja necessária à harmonia geral? Entretanto, são animais de ínfima ordem que executam essas obras, provendo às suas necessidades e sem suspeitarem de que são instrumentos de Deus. Pois bem, do mesmo modo, os Espíritos mais atrasados oferecem utilidade ao conjunto. Enquanto se ensaiam para a vida, antes que tenham plena consciência de seus atos e estejam no gozo pleno do livre-arbítrio, atuam em certos fenômenos, de que inconscientemente se constituem os agentes. Primeiramente, executam. Mais tarde, quando suas inteligências já houverem alcançado um certo desenvolvimento, ordenarão e dirigirão as coisas do mundo material. Depois, poderão dirigir as do mundo moral. É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode apreender em seu conjunto!” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 263-264)

MIRÍADE: quantidade indeterminada, porém considerada imensa. [Definição do Dicionário Online do Google]

561. São permanentes para cada um e estão nas atribuições exclusivas de certas classes as funções que os Espíritos desempenham na ordem das coisas?

“Todos têm que percorrer os diferentes graus da escala, para se aperfeiçoarem. Deus, que é justo, não poderia ter dado a uns a ciência sem trabalho, destinando outros a só a adquirirem com esforço.”

Nota – É o que sucede entre os homens, onde ninguém chega ao supremo grau de perfeição numa arte qualquer, sem que tenha adquirido os conhecimentos necessários, praticando os rudimentos dessa arte. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 272)

563. São incessantes as ocupações dos Espíritos?

“Incessantes, sim, atendendo-se a que sempre ativos são os seus pensamentos, porquanto vivem pelo pensamento. Importa, porém, não identifiqueis as ocupações dos Espíritos com as ocupações materiais dos homens. Essa mesma atividade lhes constitui um gozo, pela consciência que têm de ser úteis.”

a) Concebe-se isto com relação aos bons Espíritos. Dar-se-á, entretanto, o mesmo com os Espíritos inferiores?

“A estes cabem ocupações apropriadas à sua natureza. Confiais, porventura, ao obreiro manual e ao ignorante trabalhos que só o homem instruído pode executar?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Segunda – Capítulo X –  p. 272)

1012. Haverá no Universo lugares circunscritos para as penas e gozos dos Espíritos, segundo seus merecimentos?

“Já respondemos a esta pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado existe especialmente destinado a uma ou outra coisa. Quanto aos encarnados, esses são mais ou menos felizes ou desgraçados, conforme é mais ou menos adiantado o mundo em que habitam.”

a) De acordo, então, com o que vindes de dizer, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina?

“São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e inditosos. Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia; mas podem reunir-se onde queiram, quando são perfeitos.”

Nota – A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 456)

124. Por que encontramos em certas pessoas, nascidas em condição servil, instintos de dignidade e grandeza, enquanto outras, nascidas nas classes superiores, só apresentam instintos de baixeza?

É uma reminiscência intuitiva da posição social que o Espírito já ocupou, e do seu caráter na existência precedente. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 162)

361. Qual a origem das qualidades morais, boas ou más, do homem?

“São as do Espírito nele encarnado. Quanto mais puro é esse Espírito, tanto mais propenso ao bem é o homem.”

a) Seguir-se-á daí que o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito e o homem vicioso a de um Espírito mau?

“Sim, mas, dize antes que o homem vicioso é a encarnação de um Espírito imperfeito, pois, do contrário, poderias fazer crer na existência de Espíritos sempre maus, a que chamais demônios.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p. 198)

962. Como pode haver céticos, uma vez que a alma traz ao homem o sentimento das coisas espirituais?

“Eles são em número muito menor do que se julga. Muitos se fazem de espíritos fortes, durante a vida, somente por orgulho. No momento da morte, porém, deixam de ser tão fanfarrões.”

Nota – A responsabilidade dos nossos atos é a consequência da realidade da vida futura. Dizem-nos a razão e a justiça que, na partilha da felicidade a que todos aspiram, não podem estar confundidos os bons e os maus. Não é possível que Deus queira que uns gozem, sem trabalho, de bens que outros só alcançam com esforço e perseverança.

A ideia que, mediante a sabedoria de suas leis, Deus nos dá de sua justiça e de sua bondade não nos permite acreditar que o justo e o mau estejam na mesma categoria a seus olhos, nem duvidar de que recebam, algum dia, um a recompensa, o castigo o outro, pelo bem ou pelo mal que tenham feito. Por isso é que o sentimento inato que temos da justiça nos dá a intuição das penas e recompensas futuras. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 432-433)

275. O poder e a consideração de que um homem gozou na Terra lhe dão supremacia no mundo dos Espíritos?

“Não; pois que os pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. Lê os salmos.”

a) Como devemos entender essa elevação e esse rebaixamento?

“Não sabes que os Espíritos são de diferentes ordens, conforme seus méritos? Pois bem! O maior da Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos, ao passo que o seu servo pode estar na primeira. Compreendes isto? Não disse Jesus: aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se exalçar será humilhado?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 176)

Podemos admirar-nos de ver o Espírito dos mais ilustres homens, daqueles aos quais mal ousaríamos falar em vida, responder ao apelo das mais vulgares criaturas. Isto não surpreenderá senão os que não conhecem a natureza do mundo espírita. Quem quer que o tenha estudado, sabe que a posição ocupada na Terra não dá ali nenhuma supremacia e que lá o poderoso talvez esteja abaixo do que foi o seu criado. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Os grandes serão humilhados e os pequenos serão exaltados”. E, ainda: “Aquele que se humilha será exaltado e aquele que se eleva será humilhado”. Assim, um Espírito pode não ocupar entre os seus semelhantes a posição que lhe atribuímos; mas se for verdadeiramente superior deve ter-se despojado de todo orgulho e de toda vaidade e, desde então, olha o sentimento e não as exterioridades. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Das relações com os Espíritos – p. 84-85)

274. Da existência de diferentes ordens de Espíritos, resulta para estes alguma hierarquia de poderes? Há entre eles subordinação e autoridade?

“Muito grande. Os Espíritos têm uns sobre os outros a autoridade correspondente ao grau de superioridade que hajam alcançado, autoridade que eles exercem por um ascendente moral irresistível.”

a) Podem os Espíritos inferiores subtrair-se à autoridade dos que lhes são superiores?

“Eu disse: irresistível.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 176)

[…]

“Demais, o ascendente que o homem pode exercer sobre os Espíritos está na razão da sua superioridade moral. Ele não domina os Espíritos superiores, nem mesmo os que, sem serem superiores, são bons e benevolentes, mas pode dominar os que lhe são inferiores em moralidade.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIII – p. 270)

O grau de superioridade ou de inferioridade dos Espíritos indica naturalmente o tom que com eles devemos manter. É evidente que quanto mais elevados, tanto mais fazem jus ao nosso respeito, à nossa consideração e à nossa submissão. Não lhes devemos testemunhar menos deferência do que lhes faríamos em vida; mas por outros motivos. Se na Terra o considerávamos pela posição social, no mundo dos Espíritos nosso respeito só se dirige à superioridade moral. Sua própria elevação os coloca acima das puerilidades de nossas formas de adulação. Não será pelas palavras que lhes captaremos a benevolência, mas pela sinceridade dos sentimentos. Seria, pois, ridículo lhes dar títulos que os nossos costumes consagram à distinção das classes e que, em vida lhes teria talvez lisonjeado a vaidade. Se forem realmente superiores, não só não ligam importância, mas sentirão desagrado. Um bom pensamento lhes é mais agradável que os mais lisonjeiros epítetos. Do contrário não estariam acima da humanidade. O Espírito de um venerável eclesiástico, que na Terra foi um príncipe da Igreja, homem de bem e praticante da lei de Jesus, respondeu um dia a alguém que o evocava, dando-lhe o título de Monsenhor: “Devias dizer ao menos ex-monsenhor, porque aqui só Deus é Senhor. Fica sabendo que aqui encontro criaturas que na Terra se prosternavam à minha frente e diante das quais eu mesmo me inclino”. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Da relação com os Espíritos – p. 85)

EPÍTETO: qualificação elogiosa ou injuriosa dada a alguém; alcunha, qualificativo. [Definição do Dicionário Online do Google]

463. Diz-se comumente ser sempre bom o primeiro impulso. É exato?

“Pode ser bom ou mau, conforme a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom naquele que atende às boas inspirações.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 239)

464. Como distinguirmos se um pensamento sugerido procede de um bom Espírito ou de um Espírito mau?

“Estudai o caso. Os bons Espíritos só para o bem aconselham. Compete-vos discernir.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 239)

267. […]

7º) Os bons Espíritos só dizem o que sabem; calam-se ou confessam a sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus falam de tudo com desassombro, sem se preocuparem com a verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o bom senso, aponta a fraude, desde que o Espírito se dê por ser um Espírito esclarecido. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 281)

40. Os Espíritos superiores não se ocupam senão de comunicações inteligentes que nos instruam; as manifestações físicas ou puramente materiais são, mais especialmente, obra dos Espíritos inferiores, vulgarmente designados sob o nome de Espíritos batedores, como, entre nós, as provas de grande força são executadas por saltimbancos, e não por sábios. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo II – p. 134)

36. Da diversidade de qualidades e aptidões dos Espíritos, resulta que não basta dirigirmo-nos a um Espírito qualquer para obtermos uma resposta segura a qualquer questão; porque, acerca de muitas coisas, ele não nos pode dar mais que a sua opinião pessoal, a qual pode ser justa ou errônea. Se ele é prudente, não deixará de confessar sua ignorância sobre o que não conhece; se é frívolo ou mentiroso, responderá de qualquer forma, sem se importar com a verdade; se é orgulhoso, apresentará suas ideias como verdades absolutas.

É por isso que João, o Evangelista, diz:

“Não creais em todos os Espíritos, mas examinai se eles são de Deus.”

A experiência demonstra a sabedoria desse conselho. Há imprudência e leviandade em aceitar sem exame tudo o que vem dos Espíritos. É de necessidade que bem conheçamos o caráter daqueles que estão em relação conosco.

37. Reconhece-se a qualidade dos Espíritos por sua linguagem; a dos Espíritos verdadeiramente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica e isenta de contradições; nela se respira a sabedoria, a benevolência, a modéstia e a mais pura moral; ela é concisa e despida de redundâncias. Na dos Espíritos inferiores, ignorantes ou orgulhosos, o vácuo das ideias é quase sempre preenchido pela abundância de palavras. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo II –  p. 133)

10º Reconhecem-se a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos pela linguagem que usam; os bons só aconselham o bem e só dizem coisas proveitosas; tudo neles lhes atesta a elevação; os maus enganam e todas as suas palavras trazem o cunho da imperfeição e da ignorância. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo IV – p. 58)

27. Reconhece-se a qualidade dos Espíritos por sua linguagem; a dos Espíritos verdadeiramente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica, isenta de contradições; anuncia a sabedoria, a benevolência, a modéstia e a mais pura moral; é concisa e sem palavras inúteis. Entre os Espíritos inferiores, ignorantes ou orgulhosos, o vazio das ideias, quase sempre, é compensado pela abundância das palavras. Todo pensamento evidentemente falso, toda a máxima contrária à sã moral, todo conselho ridículo, toda expressão grosseira, trivial ou simplesmente frívola, enfim, toda marca de malevolência, de presunção ou de arrogância, são sinais incontestáveis de inferioridade em um Espírito. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestações dos Espíritos – p. 15)

A linguagem revela sempre a sua origem, quer pelo pensamento que traduz, quer pela forma que o reveste; assim, mesmo que um Espírito nos quisesse iludir quanto à sua pretensa superioridade, basta conversar um pouco com ele para lhe conhecer o estofo. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Comunicações espíritas – p. 52)

ESTOFO: tecido encorpado de algodão, lã, seda etc. us. em decoração, como tapete, para cobrir assentos etc.; estofa. [Definição do Dicionário Online do Google]

Ora, o Espiritismo diz expressamente que os papéis indignos não cabem aos Espíritos superiores, como se infere dos seguintes preceitos:

13. A categoria do Espírito se reconhece por sua linguagem: os verdadeiramente bons e superiores têm-na sempre digna, nobre, lógica, imune de qualquer contradição; ressumbra sabedoria, modéstia, benevolência e a mais pura moral.

Além disso é concisa, clara, sem redundâncias inúteis. Os Espíritos inferiores, ignorantes ou orgulhosos, é que suprem a vacuidade das ideias com abundância de frases. Todo pensamento implicitamente falso, toda máxima contrária à sã moral, todo conselho ridículo, toda expressão grosseira, trivial ou simplesmente frívola, qualquer sinal de malevolência, de presunção ou de arrogância, são indícios incontestáveis da inferioridade de um Espírito. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo X – p. 131)

263. […] Pode estabelecer-se como regra invariável e sem exceção que — a linguagem dos Espíritos está sempre em relação com o grau de elevação a que já tenham chegado. Os Espíritos realmente superiores não só dizem unicamente coisas boas, como também as dizem em termos isentos, de modo absoluto, de toda trivialidade. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 278)

Toda manifestação que revela uma intenção ou uma vontade é, por isso mesmo, conforme dissemos, inteligente num grau qualquer. É, pois, uma qualificação genérica, que distingue essas espécies de manifestações daquelas puramente materiais. Quando o desenvolvimento dessa inteligência permite uma troca continuada de ideias, obtêm-se comunicações regulares, cujo caráter permite julgar o Espírito que se manifesta. Segundo sua natureza e seu objetivo, serão elas frívolas, grosseiras, ou instrutivas. Esta distinção é de grande importância, porque é por ela que os Espíritos nos revelam a sua superioridade ou a sua inferioridade. Conhecem-se os homens por sua linguagem: dá-se o mesmo com os Espíritos. Ora, quem quer que esteja bem compenetrado das qualidades distintivas de cada uma das classes da escala espírita, poderá sem dificuldade assinar a cada Espírito que se apresenta a classe que lhe convém, bem como o grau de estima e de confiança que merece. Se a experiência não viesse em apoio a esse princípio, bastaria o simples bom senso para o demonstrar. Assim, estabelecemos como regra invariável e sem exceção que a linguagem dos Espíritos sempre está na razão de seu grau de elevação. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Comunicações espíritas – p. 52)

25. As comunicações inteligentes, que se recebem dos Espíritos, podem ser boas ou más, justas ou falsas, profundas ou levianas, segundo a natureza dos Espíritos que se manifestam. Os que provam a sabedoria e o saber são Espíritos avançados que progrediram; os que provam a ignorância e as más qualidades são Espíritos ainda atrasados, mas que progredirão com o tempo.

Os Espíritos não podem responder senão sobre o que sabem, segundo seu adiantamento, e, ademais, sobre o que lhes é permitido dizerem, porque há coisas que não devem revelar, uma vez que ainda não é dado ao homem tudo conhecer. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestação dos Espíritos – p. 14)

267. […] 

4º) Os Espíritos superiores usam sempre de uma linguagem digna, nobre, elevada, sem eiva de trivialidade; tudo dizem com simplicidade e modéstia, jamais se vangloriam, nem se jactam de seu saber, ou da posição que ocupam entre os outros. A dos Espíritos inferiores ou vulgares sempre algo refletem das paixões humanas. Toda expressão que denote baixeza, pretensão, arrogância, fanfarronice, acrimônia é indício característico de inferioridade e de embuste, se o Espírito se apresenta com um nome respeitável e venerado. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 280)

EIVA: fenda, greta, rachadura em vidro, cerâmica ou porcelana. [Definição do Dicionário Online do Google]

JACTÂNCIA: atitude de alguém que se manifesta com arrogância e tem alta opinião de si mesmo; vaidade, orgulho, arrogância. [Definição do Dicionário Online do Google]

ACRIMÔNIA: estado ou qualidade do que é acre, azedo; acridão, acridez, acritude. [Definição do Dicionário Online do Google]

267. […]

9º) Os Espíritos superiores se exprimem com simplicidade, sem prolixidade. Têm o estilo conciso, sem exclusão da poesia das ideias e das expressões, claro, inteligível a todos, sem demandar esforço para ser compreendido. Têm a arte de dizer muitas coisas em poucas palavras, porque cada palavra é empregada com exatidão. Os Espíritos inferiores, ou falsos sábios, ocultam sob o empolamento, ou a ênfase, o vazio de suas ideias. Usam de uma linguagem pretensiosa, ridícula ou obscura, à força de quererem pareça profunda. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 281)

PROLIXO: que usa palavras em demasia ao falar ou escrever; que não sabe sintetizar o pensamento. [Definição do Dicionário Online do Google]

EMPOLAR: tornar(-se) pomposo, exagerado. [Definição do Dicionário Online do Google]

267. […]

8º) Reconhecem-se ainda os Espíritos levianos pela facilidade com que predizem o futuro e precisam fatos materiais de que não nos é dado ter conhecimento. Os bons Espíritos fazem que as coisas futuras sejam pressentidas, quando esse pressentimento convenha; nunca, porém, determinam datas. A previsão de qualquer acontecimento para uma época determinada é indício de mistificação. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 281)

29. Seria fazer uma ideia bem falsa dos Espíritos, vendo neles apenas os auxiliares dos ledores de sorte; os Espíritos sérios recusam-se ocupar de coisas fúteis; os Espíritos levianos e zombeteiros se ocupam de tudo, respondem a tudo, predizem tudo o que se quer, sem se inquietarem com a verdade, e sentem um prazer maligno ao mistificarem as pessoas muito crédulas; é por isso que é essencial estar perfeitamente fixado sobre a natureza das perguntas que se podem dirigir aos Espíritos. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestações dos Espíritos – p. 16)

267. […]

10º) Os bons Espíritos nunca ordenam; não se impõem, aconselham e, se não são escutados, retiram-se. Os maus são imperiosos; dão ordens, querem ser obedecidos e não se afastam, haja o que houver. Todo Espírito que impõe trai a sua inferioridade. São exclusivistas e absolutos em suas opiniões; pretendem ter o privilégio da verdade. Exigem crença cega e jamais apelam para a razão, por saberem que a razão os desmascararia. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 281)

267. […]

11º) Os bons Espíritos não lisonjeiam; aprovam o bem que é feito, mas sempre com reserva. Os maus prodigalizam exagerados elogios, estimulam o orgulho e a vaidade, mesmo pregando a humildade, e procuram exaltar a importância pessoal daqueles a quem desejam captar. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 281)

267. […]

12º) Os Espíritos superiores desprezam, em tudo, as puerilidades da forma. Só os Espíritos vulgares ligam importância a particularidades mesquinhas, incompatíveis com ideias verdadeiramente elevadas. Toda prescrição meticulosa é sinal certo de inferioridade e de fraude, da parte de um Espírito que tome um nome imponente. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 281)

267. […]

15º) Os bons Espíritos são muito escrupulosos no tocante às atitudes que hajam de aconselhar. Elas, qualquer que seja o caso, nunca deixam de objetivar um fim sério e eminentemente útil. Devem, pois, ter-se por suspeitas todas as que não apresentam este caráter, ou sejam condenáveis perante a razão, e cumpre refletir maduramente antes de tomá-las, a fim de evitarem-se mistificações desagradáveis. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 282)

O que, ao contrário, distingue os Espíritos atrasados é, primeiramente, a revolta contra Deus, pela negação da Providência e de qualquer poder acima da Humanidade; depois, pela propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos antifraternais do orgulho, do ódio, do ciúme, da cupidez, enfim, a predominância de apego a tudo o que é material. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A minha primeira iniciação no  Espiritismo – p. 391)

100. […] Os Espíritos, em geral, admitem três categorias principais, ou três grandes divisões. Na última, a que fica na parte inferior da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão para o mal. Os da segunda se caracterizam pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem: são os bons Espíritos. A primeira, finalmente, compreende os Espíritos puros, os que atingiram o grau supremo da perfeição. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 92)

101. [Sobre a terceira ordem – Espíritos imperfeitos] Caracteres gerais. – Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhes são consequentes.

Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem.

Nem todos são essencialmente maus. Em alguns há mais leviandade, irreflexão e malícia do que verdadeira maldade. Uns não fazem o bem nem o mal; mas, pelo simples fato de não fazerem o bem, já denotam a sua inferioridade. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e rejubilam quando uma ocasião se lhes depara de praticá-lo.

A inteligência pode achar-se neles aliada à maldade ou à malícia; seja, porém, qual for o grau que tenham alcançado de desenvolvimento intelectual, suas ideias são pouco elevadas e mais ou menos abjetos seus sentimentos.

Restritos conhecimentos têm das coisas do mundo espírita e o pouco que sabem se confunde com as ideias e preconceitos da vida corporal. Não nos podem dar mais do que noções errôneas e incompletas; entretanto, nas suas comunicações, mesmo imperfeitas, o observador atento encontra a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos superiores.

Na linguagem de que usam se lhes revela o caráter. Todo Espírito que, em suas comunicações, trai um mau pensamento, pode ser classificado na terceira ordem. Conseguintemente, todo mau pensamento que nos é sugerido vem de um Espírito desta ordem. Eles veem a felicidade dos bons e esse espetáculo lhes constitui incessante tormento, porque os faz experimentar todas as angústias que a inveja e o ciúme podem causar.

Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea e essa impressão é muitas vezes mais penosa do que a realidade. Sofrem, pois, verdadeiramente, pelos males de que padeceram em vida e pelos que ocasionam aos outros. E, como sofrem por longo tempo, julgam que sofrerão para sempre. Deus, para puni-los, quer que assim julguem.

Podem compor cinco classes principais. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 93-94)

ABJETO: que ou o que é desprezível, baixo, ignóbil. [Definição do Dicionário Online do Google]

147. Se Deus está em toda parte, por que nem todos os Espíritos podem vê-lo?

Deus está em toda parte, porque em toda parte Ele irradia, podendo dizer-se que o universo está mergulhado na divindade, como nós o estamos na luz solar; os Espíritos atrasados, porém, estão envolvidos numa espécie de nevoeiro que o oculta a seus olhos, e que se não dissipa senão à medida que eles se desmaterializam e se purificam. Os Espíritos inferiores são, pela vista, em relação a Deus, o que os encarnados são em relação aos Espíritos: verdadeiros cegos. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 170)

38. Os Espíritos inferiores são, mais ou menos, ignorantes; seu horizonte moral é limitado, perspicácia restrita; eles não têm das coisas senão uma ideia muitas vezes falsa e incompleta, e, além disso, conservam-se ainda sob o império dos prejuízos terrestres, que eles tomam, às vezes, por verdades; por isso, são incapazes de resolver certas questões. E podem induzir-nos em erro, voluntária ou involuntariamente, sobre aquilo que nem eles mesmos compreendem. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo II – p. 134)

362. Qual o caráter dos indivíduos em que encarnam Espíritos desassisados e levianos?

“São indivíduos estúrdios, maliciosos e, não raro, criaturas malfazejas.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p. 198)

DESASSISADO: que ou quem não tem siso, juízo; desatinado, dessisudo, desvairado, doido. [Definição do Dicionário Online do Google]

75. […] Os maus Espíritos são aqueles que ainda não foram tocados de arrependimento; que se deleitam no mal e nenhum pesar por isso sentem; que são insensíveis às reprimendas, repelem a prece e muitas vezes blasfemam do nome de Deus. São essas almas endurecidas que, após a morte, se vingam nos homens dos sofrimentos que suportam, e perseguem com o seu ódio aqueles a quem odiaram durante a vida, quer obsidiando-os, quer exercendo sobre eles qualquer influência funesta. (003 – Capítulo XXVIII – p. 363)

141. Por que, no meio das sociedades civilizadas, se mostram seres de ferocidade comparável à dos mais bárbaros selvagens?

São Espíritos muito inferiores, saídos das raças bárbaras, que experimentam reencarnar em meio que não é o seu, e onde estão deslocados, como estaria um rústico colocado de repente numa cidade adiantada.

Observação – Não é possível admitir-se, sem negar a Deus os atributos de bondade e justiça, que a alma do criminoso endurecido tenha, na vida atual, o mesmo ponto de partida que a de um homem cheio de virtudes.

Se a alma não é anterior ao corpo, a do criminoso e a do homem de bem são tão novas uma como a outra; por que razão, então, uma delas é boa e a outra má? (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p.167)

742. Que é o que impele o homem à guerra?

“Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem — o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas, fazendo-a com humanidade, quando a sente necessária.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI p. 339-340)

20. […] 

[…] Nas classes inferiores destacam-se Espíritos ainda profundamente propensos ao mal e comprazendo-se com o mal. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo IX – p. 119)

752. Poder-se-á ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição?

“É o instinto de destruição no que tem de pior, porquanto, se, algumas vezes, a destruição constitui uma necessidade, com a crueldade jamais se dá o mesmo. Ela resulta sempre de uma natureza má.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 341)

753. Por que razão a crueldade forma o caráter predominante dos povos primitivos?

“Nos povos primitivos, como lhes chamas, a matéria prepondera sobre o Espírito. Eles se entregam aos instintos do bruto e, como não experimentam outras necessidades além das da vida do corpo, só da conservação pessoal cogitam e é o que os torna, em geral, cruéis. Ademais, os povos de imperfeito desenvolvimento se conservam sob o império de Espíritos também imperfeitos, que lhes são simpáticos, até que povos mais adiantados venham destruir ou enfraquecer essa influência.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 341)

755. Como pode dar-se que, no seio da mais adiantada civilização, se encontrem seres às vezes tão cruéis quanto os selvagens?

“Do mesmo modo que numa árvore carregada de bons frutos se encontram verdadeiros abortos. São, se quiseres, selvagens que da civilização só têm o exterior, lobos extraviados em meio de cordeiros. Espíritos de ordem inferior e muito atrasados podem encarnar entre homens adiantados, na esperança de também se adiantarem, mas desde que a prova é por demais pesada predomina a natureza primitiva.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 342)

75. […] 

Duas categorias há bem distintas de Espíritos perversos: a dos que são francamente maus e a dos hipócritas. Infinitamente mais fácil é reconduzir ao bem os primeiros do que os segundos. Aqueles, as mais das vezes, são naturezas brutas e grosseiras, como se nota entre os homens; praticam o mal mais por instinto do que por cálculo e não procuram passar por melhores do que são. Há neles, entretanto, um gérmen latente que é preciso fazer desabrochar, o que se consegue quase sempre por meio da perseverança, da firmeza aliada à benevolência, dos conselhos, do raciocínio e da prece. Por meio da mediunidade, a dificuldade que eles encontram para escrever o nome de Deus é sinal de um temor instintivo, de uma voz íntima da consciência que lhes diz serem indignos de fazê-lo. Nesse ponto estão a pique de converter-se e tudo se pode esperar deles: basta se lhes encontre o ponto vulnerável do coração.

Os Espíritos hipócritas quase sempre são muito inteligentes, mas nenhuma fibra sensível possuem no coração; nada os toca; simulam todos os bons sentimentos para captar a confiança, e felizes se sentem quando encontram tolos que os aceitam como santos Espíritos, pois que possível se lhes torna governá-los à vontade. O nome de Deus, longe de lhes inspirar o menor temor, serve-lhes de máscara para encobrirem suas torpezas. No mundo invisível, como no mundo visível, os hipócritas são os seres mais perigosos, porque atuam na sombra, sem que ninguém disso desconfie; têm apenas as aparências da fé, mas fé sincera, jamais. (003 – Capítulo XXVIII – p. 363-364)

[Criminosos Arrependidos – O Espírito de Castelnaudary]

6. Donde vinha esse Espírito antes da sua encarnação?

— R. Tivera uma existência entre tribos das mais ferozes e selvagens, e, precedentemente, em planeta inferior à Terra.

7. Severamente punido agora por esse crime, sê-lo-ia igualmente pelos que porventura tivesse cometido, como é de supor, quando vivendo entre selvagens?

— R. Sim, porém não tanto, visto como, em ser mais ignorante, menos alcançava a extensão do delito.

8. O estado em que se vê esse Espírito é o dos seres vulgarmente designados por danados?

— R. Absolutamente não, pois há condições ainda mais horrorosas. Os sofrimentos estão longe de ser os mesmos para todos, variando conforme seja o culpado mais ou menos acessível ao arrependimento. Para este, aquela casa é o seu inferno, outros trazem esse inferno em si mesmos, pelas paixões que os atormentam sem que possam saciá-las. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 304)

669. […]

“[…] Nos povos primitivos, a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral ainda não se acha desenvolvido. […]” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 312)

997. Veem-se Espíritos, de notória inferioridade, acessíveis aos bons sentimentos e sensíveis às preces que por eles se fazem. Como se explica que outros Espíritos, que devêramos supor mais esclarecidos, revelem um endurecimento e um cinismo, dos quais coisa alguma consegue triunfar?

“A prece só tem efeito sobre o Espírito que se arrepende. Com relação aos que, impelidos pelo orgulho, se revoltam contra Deus e persistem nos seus desvarios, chegando mesmo a exagerá-los, como o fazem alguns desgraçados Espíritos, a prece nada pode e nada poderá, senão no dia em que um clarão de arrependimento se produza neles.”

Nota – Não se deve perder de vista que o Espírito não se transforma subitamente, após a morte do corpo. Se viveu vida condenável, é porque era imperfeito. Ora, a morte não o torna imediatamente perfeito. Pode, pois, persistir em seus erros, em suas falsas opiniões, em seus preconceitos, até que se haja esclarecido pelo estudo, pela reflexão e pelo sofrimento. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 445)

CINISMO: atitude ou caráter de pessoa que revela descaso pelas convenções sociais e pela moral vigente; impudência, desfaçatez, descaramento. [Definição do Dicionário Online do Google] 

970. Em que consistem os sofrimentos dos Espíritos inferiores?

“São tão variados como as causas que os determinam e proporcionados ao grau de inferioridade, como os gozos o são ao de superioridade. Podem resumir-se assim: Invejarem o que lhes falta para ser felizes e não obterem; verem a felicidade e não na poderem alcançar; pesar, ciúme, raiva, desespero, motivados pelo que os impede de ser ditosos; remorsos, ansiedade moral indefinível. Desejam todos os gozos e não os podem satisfazer: eis o que os tortura.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 436)

DEMÔNIO – do lat. daemo; do gr. daimon, gênio, sorte, destino, manes. Daemones, tanto em latim quanto em grego, se diz de todos os seres incorpóreos, bons ou maus e supostamente com conhecimentos e poderes superiores aos do homem. Nas línguas modernas o vocábulo é geralmente tomado em sentido pejorativo e sua acepção se restringe aos gênios do mal. Conforme a crença vulgar, os demônios são seres essencialmente maus por natureza. Ensinam-nos os Espíritos que Deus, sendo soberanamente bom e justo, não poderia ter criado seres votados ao mal e infelizes por toda a eternidade. Conforme eles, não há demônios, no sentido absoluto e restrito do vocábulo: existem apenas Espíritos imperfeitos, podendo todos melhorar-se pelos próprios esforços e por sua própria vontade. Os Espíritos da nona classe seriam os verdadeiros demônios, se este vocábulo não implicasse a ideia de uma natureza perpetuamente má. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 12)

[Terceira ordem – Espíritos imperfeitos]

102. Décima classe. Espíritos impuros. – São inclinados ao mal, de que fazem o objeto de suas preocupações. Como Espíritos, dão conselhos pérfidos, sopram a discórdia e a desconfiança e se mascaram de todas as maneiras para melhor enganar. Ligam-se aos homens de caráter bastante fraco para cederem às suas sugestões, a fim de induzi-los à perdição, satisfeitos com o conseguirem retardar-lhes o adiantamento, fazendo-os sucumbir nas provas por que passam.

Nas manifestações, os Espíritos se dão a conhecer pela linguagem. A trivialidade e a grosseria das expressões, neles, como nos homens, é sempre indício de inferioridade moral, mas também intelectual. Suas comunicações exprimem a baixeza de seus pendores e, se tentam iludir, falando com sensatez, não conseguem sustentar por muito tempo o papel e acabam sempre por se traírem.

Alguns povos os arvoraram em divindades maléficas; outros os designam pelos nomes de demônios, maus gênios, Espíritos do mal.

Quando encarnados, os seres vivos que eles constituem se mostram propensos a todos os vícios geradores das paixões vis e degradantes: a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia, a cupidez, a avareza sórdida. Fazem o mal por prazer, as mais das vezes sem motivo, e, por ódio ao bem, quase sempre escolhem suas vítimas entre as pessoas honestas. São flagelos para a Humanidade, pouco importando a categoria social a que pertençam, e o verniz da civilização não os forra ao opróbrio e à ignomínia. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 94)

PÉRFIDO: que falta à fé jurada; desleal, traidor. [Definição do Dicionário Online do Google]

ARVORAR: elevar (alguém ou a si mesmo) a nível de maior importância; converter em. [Definição do Dicionário Online do Google]

OPRÓBRIO: grande desonra pública; degradação social; ignomínia, vergonha, vexame. [Definição do Dicionário Online do Google]

[Terceira ordem – Espíritos imperfeitos]

103. Nona classe. Espíritos levianos. – São ignorantes, maliciosos, irrefletidos e zombeteiros. Metem-se em tudo, a tudo respondem, sem se incomodarem com a verdade. Gostam de causar pequenos desgostos e ligeiras alegrias, de intrigar, de induzir maldosamente em erro, por meio de mistificações e de espertezas. A esta classe pertencem os Espíritos vulgarmente tratados de duendes, trasgos, gnomos, diabretes. Acham-se sob a dependência dos Espíritos superiores, que muitas vezes os empregam, como fazemos com os nossos servidores.

Em suas comunicações com os homens, a linguagem de que se servem é, amiúde, espirituosa e faceta, mas quase sempre sem profundeza de ideias. Aproveitam-se das esquisitices e dos ridículos humanos e os apreciam, mordazes e satíricos. Se tomam nomes supostos, é mais por malícia do que por maldade. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 94-95)

TRASGO: demônio caseiro que supostamente derruba objetos, móveis, louças, vidros, faz ruídos e outras diabruras; duende, fradinho da mão furada. [Definição do Dicionário Online do Google]

[Terceira ordem – Espíritos imperfeitos]

104. Oitava classe. Espíritos pseudossábios. – Dispõem de conhecimentos bastante amplos, porém, crêem saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado alguns progressos sob diversos pontos de vista, a linguagem deles aparenta um cunho de seriedade, de natureza a iludir com respeito às suas capacidades e luzes. Mas, em geral, isso não passa de reflexo dos preconceitos e ideias sistemáticas que nutriam na vida terrena. É uma mistura de algumas verdades com os erros mais absurdos, nos quais penetram a presunção, o orgulho, o ciúme e a obstinação, de que ainda não puderam despir-se. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 95)

[Terceira ordem – Espíritos imperfeitos]

105. Sétima classe. Espíritos neutros. – Nem bastante bons para fazerem o bem, nem bastante maus para fazerem o mal. Pendem tanto para um como para o outro e não ultrapassam a condição comum da Humanidade, quer no que concerne ao moral, quer no que toca à inteligência. Apegam-se às coisas deste mundo, de cujas grosseiras alegrias sentem saudades. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 95)

[Terceira ordem – Espíritos imperfeitos]

106. Sexta classe. Espíritos batedores e perturbadores. – Estes Espíritos, propriamente falando, não formam uma classe distinta pelas suas qualidades pessoais. Podem caber em todas as classes da terceira ordem. Manifestam geralmente sua presença por efeitos sensíveis e físicos, como pancadas, movimento e deslocamento anormal de corpos sólidos, agitação do ar etc. Afiguram-se, mais do que outros, presos à matéria. Parecem ser os agentes principais das vicissitudes dos elementos do Globo, quer atuem sobre o ar, a água, o fogo, os corpos duros, quer nas entranhas da terra. Reconhece-se que esses fenômenos não derivam de uma causa fortuita ou física, quando denotam caráter intencional e inteligente. Todos os Espíritos podem produzir tais fenômenos, mas os de ordem elevada os deixam, de ordinário, como atribuições dos subalternos, mais aptos para as coisas materiais do que para as coisas da inteligência; quando julgam úteis as manifestações desse gênero, lançam mão destes últimos como seus auxiliares. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Segunda – Capítulo I – p. 95-96)

ESPÍRITO BATEDOR – aquele que manifesta sua presença por meio de batidas. Pertencem eles às classes inferiores. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 14)

99. Os da terceira ordem são todos essencialmente maus?

“Não; uns há que não fazem nem o mal nem o bem; outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando se lhes depara ocasião de praticá-lo. Há também os levianos ou estouvados, mais perturbadores do que malignos, que se comprazem antes na malícia do que na malvadez e cujo prazer consiste em mistificar e causar pequenas contrariedades, de que se riem.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 90)

ESTOUVADO: que ou aquele que é imprudente, leviano, inconsequente. [Definição do Dicionário Online do Google]

13. […] 

[…] os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes, tendo muito limitados o seu horizonte moral e perspicácia, de feição a terem das coisas uma ideia muita vez falsa e incompleta, incapazes de resolver certas questões […].  (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo X – p. 132)

38. Os Espíritos inferiores são, mais ou menos, ignorantes; seu horizonte moral é limitado, perspicácia restrita; eles não têm das coisas senão uma ideia muitas vezes falsa e incompleta, e, além disso, conservam-se ainda sob o império dos prejuízos terrestres, que eles tomam, às vezes, por verdades; por isso, são incapazes de resolver certas questões. E podem induzir-nos em erro, voluntária ou involuntariamente, sobre aquilo que nem eles mesmos compreendem. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo II – p. 134)

39. Os Espíritos inferiores não são todos, por isso, essencialmente maus; alguns há que são apenas ignorantes e levianos; outros pilhéricos, espirituosos e divertidos, sabendo manejar a sátira fina e mordaz. Ao lado desses encontram-se, no mundo espiritual, como na Terra, todos os gêneros de perversidade e todos os graus de superioridade intelectual e moral. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo II – p. 134)

PILHÉRIA: que faz ironias, chistes; zombeteiro. [Definição do Dicionário Online do Google]

Pelo fato de não pertencer a uma ordem superior nem sempre um Espírito é mau: por vezes é apenas leviano. Se nos divertirmos com suas facécias, ele as multiplicará de bom grado e nos dará entrada para o sal dos epigramas que não nos assentam bem e, sob uma forma jovial muitas vezes nos dão lições picantes. São os vaudevilistas [alguém que produz um entretenimento fraco] do mundo espírita, assim como os Espíritos superiores são os seus cientistas e filósofos. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas -Influência do meio nas manifestações – p. 77)

FACÉCIAS: dito chistoso; chacota, gracejo, pilhéria. [Definição do Dicionário Online do Google]

EPIGRAMA: composição poética, breve e satírica, que expressa, de forma incisiva, um pensamento ou um conceito malicioso; sátira. [Definição do Dicionário Online do Google]

VAUDEVILLE: Comédia ligeira, baseada na intriga e no equívoco. [Definição do Dicio, Dicio – Dicionário Online de Português]

[…] Não há culpados que se não possam regenerar por meio da persuasão e do exemplo, visto como os Espíritos, por mais perversos, acabam por corrigir-se com o tempo. O fato de muitas vezes ser impossível regenerá-los prontamente, não importa na inutilidade de tais esforços. Mesmo a contragosto, as ideias sugeridas a tais Espíritos fazem-nos refletir. São como sementes que, cedo ou tarde, tivessem de frutificar. Não se arrebenta a pedra com a primeira marretada.

[…]

Nota – Entre os Espíritos endurecidos, não há só perversos e maus. Grande é o número dos que, sem fazer o mal, estacionam por orgulho, indiferença ou apatia. Estes, nem por isso, são menos infelizes, pois tanto mais os aflige a inércia quanto mais se veem privados das mundanas compensações.

Intolerável, por certo, se lhes torna a perspectiva do infinito, porém eles não têm nem a força nem a vontade para romper com essa situação. Referimo-nos a esses indivíduos que levam uma existência ociosa, inútil a si como ao próximo, acabando muita vez no suicídio, sem motivos sérios, por aborrecimento da vida.

Em regra, tais Espíritos são menos passíveis de imediata regeneração, do que os positivamente maus, visto como estes ao menos dispõem de energia, e, uma vez doutrinados, votam-se ao bem com o mesmo ardor que lhes inspirava o mal.

Aos outros, muitas encarnações se fazem precisas para que progridam, e isto pouco a pouco, domados pelo tédio, procurando, para se distraírem, qualquer ocupação que mais tarde venha transformar-se em necessidade. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 335-336)

6. […] 

Outrora, sacrificavam-se vítimas sangrentas para aplacar os deuses infernais, que não eram senão os maus Espíritos. Aos deuses infernais sucederam os demônios, que são a mesma coisa. O Espiritismo demonstra que esses demônios mais não são do que as almas dos homens perversos, que ainda se não despojaram dos instintos materiais; que ninguém logra aplacá-los, senão mediante o sacrifício do ódio existente, isto é, pela caridade; que esta não tem por efeito, unicamente, impedi-los de praticar o mal, e sim também o de os reconduzir ao caminho do bem e de contribuir para a salvação deles. É assim que o mandamento: Amai os vossos inimigos não se circunscreve ao âmbito acanhado da Terra e da vida presente; antes, faz parte da grande lei da solidariedade e da fraternidade universais. (003 – Capítulo XII – p. 168-169)

[…] Regra geral: O Espírito é tanto menos perfeito quanto menos desprendido da matéria. Toda vez, pois, que se reconhece nele a persistência das ideias falsas que o preocupavam em vida, sejam elas de ordem física ou de ordem moral, temos um sinal infalível de que ele não está completamente desmaterializado. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Comunicações espíritas – p. 53)

73. […] Fora injusto incluir na categoria dos Espíritos maus os sofredores e penitentes que pedem preces. Podem eles ter sido maus, porém, já não o são, desde que reconhecem suas faltas e as deploram; são apenas infelizes. Já alguns começam mesmo a gozar de relativa felicidade. (003 – Capítulo XXVIII – p. 362)

Impossível, dir-se-á, destruir o orgulho e o egoísmo, porque são vícios inerentes à espécie humana. Se fosse assim, houvéramos de desesperar de todo progresso moral; entretanto, desde que se considere o homem nas diferentes épocas transcorridas, não há negar que evidente progresso se efetuou. Ora, se ele progrediu, ainda naturalmente progredirá. Por outro lado, não se encontrará homem nenhum sem orgulho, nem egoísmo? Não se vêem, ao contrário, criaturas de índole generosa, em quem parecem inatos os sentimentos do amor ao próximo, da humildade, do devotamento e da abnegação? O número delas, positivamente, é menor do que o dos egoístas; se assim não fosse, não seriam estes últimos os fautores da lei. Há muito mais criaturas dessas do que se pensa e, se parecem tão pouco numerosas, é porque o orgulho se põe em evidência, ao passo que a virtude modesta se conserva na obscuridade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O egoísmo  e o orgulho – p. 279-280)

FAUTOR: que ou o que favorece. [Definição do  Dicionário Online do Google]

144. […] O termo alma é tão elástico que cada um o interpreta ao sabor de suas fantasias. Também à Terra hão atribuído uma alma. Por alma da Terra se deve entender o conjunto dos Espíritos abnegados, que dirigem para o bem as vossas ações, quando os escutais, e que, de certo modo, são os lugares-tenentes de Deus com relação ao vosso planeta.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo II – p. 109)

967. Em que consiste a felicidade dos bons Espíritos?

“Em conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a desgraça dos homens. O amor que os une lhes é fonte de suprema felicidade. Não experimentam as necessidades, nem os sofrimentos, nem as angústias da vida material. São felizes pelo bem que fazem. Contudo, a felicidade dos Espíritos é proporcional à elevação de cada um. Somente os puros Espíritos gozam, é exato, da felicidade suprema, mas nem todos os outros são infelizes. Entre os maus e os perfeitos há uma infinidade de graus em que os gozos são relativos ao estado moral. Os que já estão bastante adiantados compreendem a ventura dos que os precederam e aspiram a alcançá-la, mas esta aspiração lhes constitui uma causa de emulação, não de ciúme. Sabem que deles depende o consegui-la e para a conseguirem trabalham, porém com a calma da consciência tranquila e ditosos se consideram por não terem que sofrer o que sofrem os maus.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 434-435)

EMULAR: procurar emparelhar(-se), imitar, seguir o exemplo de. [Definição do Dicionário Online do  Google]

968. Citais, entre as condições da felicidade dos bons Espíritos, a ausência das necessidades materiais; mas a satisfação dessas necessidades não representa para o homem uma fonte de gozos?

“Sim, gozos do animal. Quando não podes satisfazer a essas necessidades, passas por uma tortura.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 435)

264. A bondade e a afabilidade são atributos essenciais dos Espíritos depurados. Não têm ódio, nem aos homens, nem aos outros Espíritos. Lamentam as fraquezas, criticam os erros, mas sempre com moderação, sem fel e sem animosidade. Admita-se que os Espíritos verdadeiramente bons não podem querer senão o bem e dizer senão coisas boas e se concluirá que tudo o que denote, na linguagem dos Espíritos, falta de bondade e de benignidade não pode provir de um bom Espírito. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 278-279)

A bondade e a benevolência ainda são atributos essenciais dos Espíritos depurados: não têm ódio aos homens, nem aos outros Espíritos; lamentam as fraquezas, criticam os erros, mas sempre com moderação, sem azedume nem animosidade. Isto quanto à moral. Podemos igualmente julgá-las pela natureza de sua inteligência. Um Espírito pode ser bom, benevolente, só ensinar o bem e ter conhecimentos limitados, porque nele o desenvolvimento ainda é incompleto. Não falamos dos Espíritos notoriamente inferiores: com estes seria uma perda de tempo pedir explicações sobre certas coisas; seria o mesmo que perguntar a um colegial o que pensa de Aristóteles ou do sistema do universo. Mas alguns há que, sob certos pontos de vista, parecem esclarecidos, ao passo que sobre outras questões acusam uma ignorância absoluta pelas mais absurdas heresias científicas. Este raciocinará muito sensatamente sobre um ponto, mas será desarrazoado sobre outro. É ainda como entre nós: um astrônomo é sábio no que concerne aos astros e pode ser muito ignorante em arquitetura, em música, em pintura, em agricultura, etc. Evidentemente tudo isto denota um desenvolvimento imperfeito, o que não quer dizer que se trate de um Espírito mau. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Comunicações espíritas – p. 53)

DESARRAZOADO: não racional; dominado pela emoção. [Definição do Dicionário Online do Google] 

15. […] O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar às grandes almas; o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade. (003 – Capítulo X – p. 148)

507. Pertencem todos os Espíritos protetores à classe dos Espíritos elevados? Podem contar-se entre os de classe média? Um pai, por exemplo, pode tornar-se o Espírito protetor de seu filho?

“Pode, mas a proteção pressupõe certo grau de elevação e um poder ou uma virtude a mais, concedidos por Deus. O pai, que protege seu filho, também pode ser assistido por um Espírito mais elevado.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 252)

98. Os Espíritos da segunda ordem, para os quais o bem constitui a preocupação dominante, têm o poder de praticá-lo?

“Cada um deles dispõe desse poder, de acordo com o grau de perfeição a que chegou. Assim, uns possuem a ciência, outros a sabedoria e a bondade. Todos, porém, ainda têm que sofrer provas.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 90)

107. [Sobre a segunda ordem – Bons Espíritos] Caracteres gerais. – Predominância do Espírito sobre a matéria; desejo do bem. Suas qualidades e poderes para o bem estão em relação com o grau de adiantamento que hajam alcançado; uns têm a ciência, outros a sabedoria e a bondade. Os mais adiantados reúnem o saber às qualidades morais. Não estando ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou menos, conforme a categoria que ocupem, os traços da existência corporal, assim na forma da linguagem, como nos hábitos, entre os quais se descobrem mesmo algumas de suas manias. De outro modo, seriam Espíritos perfeitos.

Compreendem Deus e o infinito e já gozam da felicidade dos bons. São felizes pelo bem que fazem e pelo mal que impedem. O amor que os une lhes é fonte de inefável ventura, que não tem a perturbá-la nem a inveja, nem os remorsos, nem nenhuma das más paixões que constituem o tormento dos Espíritos imperfeitos. Todos, entretanto, ainda têm que passar por provas, até que atinjam a perfeição.

Como Espíritos, suscitam bons pensamentos, desviam os homens da senda do mal, protegem na vida os que se lhes mostram dignos de proteção e neutralizam a influência dos Espíritos imperfeitos sobre aqueles a quem não lhes é grato sofrê-la.

Quando encarnados, são bondosos e benevolentes com os seus semelhantes. Não os movem o orgulho, nem o egoísmo, ou a ambição. Não experimentam ódio, rancor, inveja ou ciúme e fazem o bem pelo bem.

A esta ordem pertencem os Espíritos designados, nas crenças vulgares, pelos nomes de bons gênios, gênios protetores, Espíritos do bem. Em épocas de superstições e de ignorância, eles hão sido elevados à categoria de divindades benfazejas.

Podem ser divididos em quatro grupos principais: (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 96)

[Segunda ordem – Bons Espíritos]

108. Quinta classe. Espíritos benévolos. – A bondade é neles a qualidade dominante. Apraz-lhes prestar serviço aos homens e protegê-los. Limitados, porém, são os seus conhecimentos. Hão progredido mais no sentido moral do que no sentido intelectual. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 97)

[Segunda ordem – Bons Espíritos]

109. Quarta classe. Espíritos sábios. – Distinguem-se especialmente pela amplitude de seus conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais, do que com as de natureza científica, para as quais têm maior aptidão. Entretanto, só encaram a ciência do ponto de vista da sua utilidade e jamais dominados por quaisquer paixões próprias dos Espíritos imperfeitos. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 97)

[Segunda ordem – Bons Espíritos]

110. Terceira classe. Espíritos de sabedoria. – As qualidades morais da ordem mais elevada são o que os caracteriza. Sem possuírem ilimitados conhecimentos, são dotados de uma capacidade intelectual que lhes faculta juízo reto sobre os homens e as coisas. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I –  p. 97)

[Segunda ordem – Bons Espíritos]

111. Segunda classe. Espíritos superiores. – Esses em si reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade. Da linguagem que empregam se exala sempre a benevolência; e uma linguagem invariavelmente digna, elevada e, muitas vezes, sublime. Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros a nos darem noções exatas sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber. Comunicam-se complacentemente com os que procuram de boa-fé a verdade e cuja alma já está bastante desprendida das ligações terrenas para compreendê-la. Afastam-se, porém, daqueles a quem só a curiosidade impele, ou que, por influência da matéria, fogem à prática do bem.

Quando, por exceção, encarnam na Terra, é para cumprir missão de progresso e então nos oferecem o tipo da perfeição a que a Humanidade pode aspirar neste mundo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 97)

A questão da identidade é, pois, como dissemos, quase indiferente, quando se trata de instruções gerais, uma vez que os melhores Espíritos podem substituir-se mutuamente, sem maiores consequências. Os Espíritos superiores formam, por assim dizer, um todo coletivo, cujas individualidades nos são, com exceções raras, desconhecidas. Não é a pessoa deles o que nos interessa, mas o ensino que nos proporcionam. Ora, desde que esse ensino é bom, pouco importa que aquele que o deu se chame Pedro ou Paulo. Deve ele ser julgado pela sua qualidade, e não pelas suas insígnias. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns –  Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 275)

9. […] A verdade absoluta é patrimônio unicamente de Espíritos da categoria mais elevada e a humanidade terrena não poderia pretender possuí-la, porque não lhe é dado saber tudo. Ela somente pode aspirar a uma verdade relativa e proporcionada ao seu adiantamento. (003 – Capítulo XV – p. 212)

[…] Os Espíritos superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para eles, o fundo do pensamento é tudo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução – p. 39)

267. […] 

6º) A linguagem dos Espíritos elevados é sempre idêntica, senão quanto à forma, pelo menos quanto ao fundo. Os pensamentos são os mesmos, em qualquer tempo e em todo lugar. Podem ser mais ou menos desenvolvidos, conforme as circunstâncias, as necessidades e as faculdades que encontrem para se comunicar; porém, jamais serão contraditórios. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 280)

[…] O Espírito realmente superior é sempre grave, digno e nobre; sublime, quando o assunto o exige; não só dizem apenas coisas boas – dizem-no em termos que excluem de modo absoluto toda trivialidade. Por melhores que sejam as coisas, se elas forem manchadas por uma única expressão que denote baixeza, temos um sinal inconteste de inferioridade, com mais forte razão, se o conjunto da comunicação fere as conveniências por sua grosseria. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Comunicações espíritas –  p. 52)

879. Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?

“O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porquanto praticaria também o amor do próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XI – p. 391)

624. Qual o caráter do verdadeiro profeta?

“O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podeis reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos seus atos. Impossível é que Deus se sirva da boca do mentiroso para ensinar a verdade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 297)

[…] Qual é, afinal, o caráter do verdadeiro profeta? O verdadeiro profeta é um enviado de Deus para advertir ou esclarecer a Humanidade. Ora, um enviado de Deus só pode ser um Espírito Superior e, como homem, um homem de bem. Será reconhecido por seus atos, que trarão o cunho de sua superioridade, e pelas grandes coisas que realizará pelo bem e para o bem, e que revelarão sua missão, sobretudo às gerações futuras, pois que, conduzido muitas vezes e sem o saber por uma força superior, quase sempre se ignora a si mesmo. Não será, pois, ele que se atribuirá essa qualidade: são os homens que o reconhecerão como tal, as mais das vezes após a sua morte.

Se, pois, um homem quisesse fazer-se passar pela encarnação de tal ou qual profeta, deveria prová-lo pela eminência de suas qualidades morais, que em nada deveriam ser inferiores às daquele cujo nome se atribui. Ora, esse papel não é fácil de ser sustentado e nem sempre é agradável, uma vez que pode impor penosas privações e duros sacrifícios, mesmo o da vida. Há, neste momento, espalhados pelo mundo, vários pretensos Elias, Jeremias, Ezequiéis e outros, que dificilmente se adaptariam à vida do deserto, e que acham muito cômodo viver a expensas de suas ingênuas vítimas, graças ao nome que tomaram indevidamente. Há mesmo vários Cristos, como houve vários Luises XVII, aos quais não falta senão uma coisa: a caridade, a abnegação, a humildade, a eminente superioridade moral; numa palavra, todas as virtudes do Cristo. Se, como ele, não tivessem onde repousar a cabeça, mas apenas uma cruz diante de si, bem depressa abdicariam de uma realeza tão pouco vantajosa neste mundo. Pela obra se reconhece o obreiro; que, pois, os que quiserem colocar-se acima da Humanidade, disso se mostrem dignos, caso não queiram ter a sorte do galo que se enfeitou com as penas de pavão, ou do asno que vestiu a pele do leão. Uma queda humilhante os espera neste mundo e um dissabor mais terrível no outro, pois é ali que o que se eleva será humilhado. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 40)

256. À medida que os Espíritos se purificam e elevam na hierarquia, os caracteres distintivos de suas personalidades se apagam, de certo modo, na uniformidade da perfeição; nem por isso, entretanto, conservam eles menos suas individualidades. É o que se dá com os Espíritos superiores e os Espíritos puros. Nessa culminância, o nome que tiveram na Terra, em uma das mil existências corporais efêmeras por que passaram, é coisa absolutamente insignificante. Notemos mais que os Espíritos são atraídos uns para os outros pela semelhança de suas qualidades e formam assim grupos, ou famílias, por simpatia. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIV – p. 274)

979. Não serão, para a alma, causa de penosa apreensão, que lhe altera a felicidade, as provas por que ainda tenha de passar para acabar a sua purificação?

“Para a alma ainda maculada, são. Daí vem que ela não pode gozar de felicidade perfeita, senão quando esteja completamente pura. Para aquela, porém, que já se elevou, nada tem de penoso o pensar nas provas que ainda haja de sofrer.”

Nota – Goza da felicidade a alma que chegou a um certo grau de pureza. Domina-a um sentimento de grata satisfação. Sente-se feliz por tudo o que vê, por tudo o que a cerca. Levanta-se-lhe o véu que encobria os mistérios e as maravilhas da Criação e as perfeições divinas em todo o esplendor lhe aparecem. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 439-440)

[Espíritos Felizes – A Sra. Anaïs Gourdon]

[…] — P. Sois feliz como Espírito?

R. Sou feliz. Amo e espero. Os céus não me infundem temor, e cheia de confiança aguardo que asas brancas me alcem até eles.

P. Que entendeis por asas brancas?

R. Tornar-me Espírito puro, resplandecer como os mensageiros celestes que me ofuscam.

Nota – As asas dos anjos, arcanjos, serafins, que não passam de Espíritos puros, são evidentemente apenas um atributo pelos homens imaginado para dar ideia da rapidez com que se transportam, visto como a sua natureza etérea os dispensa de qualquer amparo para fender os espaços. Contudo, eles podem aparecer aos homens com tal acessório para lhes corresponderem ao pensamento, assim como os Espíritos se revestem da aparência terrestre a fim de se fazerem cognoscíveis.

[…]

P. Como pode ser tão poética a vossa linguagem, e tão pouco em harmonia com a posição que tivestes na Terra?

R. É que a minha alma é quem fala. Sim, eu tinha conhecimentos adquiridos e Deus permite muitas vezes que Espíritos delicados encarnem entre os homens mais rústicos, para fazer-lhes pressentir as delicadezas ao seu alcance, que compreenderão mais tarde.

Nota – Sem esta explicação tão lógica, consentânea com a solicitude de Deus para com as criaturas, dificilmente se compreenderia o que à primeira vista parecerá anomalia. De fato, que pode haver de mais belo, poético e gracioso que a linguagem desta jovem educada entre rudes operários? Dá-se o contrário muitas vezes: Espíritos inferiores encarnam entre os mais adiantados homens, porém, com fito oposto. É visando o seu próprio adiantamento que Deus os põe em contato com um meio esclarecido, e, às vezes, também como instrumento de provação desse mundo. Que outra filosofia pode resolver tais problemas? (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo II – p. 214-215)

FENDER: separar(-se) em partes; dividir(-se), apartar(-se). [Definição do Dicionário  Online do Google]

COGNOSCÍVEL: que pode ser conhecido. [Definição do Dicionário  Online do Google]

[Espíritos Felizes – Um médico russo]

P. Em que consiste a vossa felicidade?

R. Isso é mais difícil de vos fazer compreender. Essa ventura que gozo é uma espécie de contentamento extremo de mim mesmo, não pelos meus merecimentos — o que seria orgulho — e este é predicado de Espíritos atrasados — mas contentamento como que saturado, imerso no amor de Deus, no reconhecimento da sua infinita bondade. Em suma, é a alegria que nos infunde o bem, podendo supor-se ter a seu arbítrio contribuído para o progresso de outros, que se elevaram até o Criador. Ficamos como que identificados com esse bem-estar, que é uma espécie de fusão do Espírito com a bondade divina. Temos o dom de ver os Espíritos mais adiantados, de compreender-lhes a missão, de saber que também nós a tanto chegaremos; no infinito incomensurável, entrevemos as regiões em que rútilo esplende o fogo divino, a ponto de deslumbrar-nos, mesmo através do véu que as envolve.

“Mas que digo? Compreendeis as minhas palavras? Acreditais ser esse fogo, a que me refiro, comparável ao Sol, por exemplo? Não, nunca. É uma coisa indizível ao homem, uma vez que as palavras só exprimem para ele coisas físicas ou metafísicas que conhece de memória ou intuitivamente. Desde que o homem não pode guardar na memória o que absolutamente desconhece, como insinuar-se-lhe a percepção? Ficai porém ciente de que é já uma grande ventura o pensar na possibilidade de progredir infinitamente.” (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo II – p. 195)

RÚTILO: Capaz de rutilar, resplandecer, brilhar intensamente. [Definição do Dicio, Dicionário Online de Português]

170. O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação?

“Espírito bem-aventurado; puro Espírito.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 124)

112. [Sobre a primeira ordem – Espíritos puros] Caracteres gerais. – Nenhuma influência da matéria. Superioridade intelectual e moral absoluta, com relação aos Espíritos das outras ordens. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 97)

PUREZA ABSOLUTA – Estado dos Espíritos da primeira ordem, ou puros Espíritos. Os que percorreram todos os graus da escala e que não devem mais passar pela reencarnação. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 31)

[Primeira ordem – Espíritos puros]

113. Primeira classe. Classe única. – Os Espíritos que a compõem percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não têm mais que sofrer provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.

Gozam de inalterável felicidade, porque não se acham submetidos às necessidades, nem às vicissitudes da vida material. Essa felicidade, porém, não é a de uma ociosidade monótona, a transcorrer em perpétua contemplação. Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos na obra de seu aperfeiçoamento e lhes designam as suas missões. Assistir os homens nas suas aflições, concitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os conservam distanciados da suprema felicidade, constitui para eles ocupação gravíssima. São designados às vezes pelos nomes de anjos, arcanjos ou serafins.

Podem os homens pôr-se em comunicação com eles, mas extremamente presunçoso seria aquele que pretendesse tê-los constantemente às suas ordens. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 98)

128. Os seres a que chamamos anjos, arcanjos, serafins, formam uma categoria especial, de natureza diferente da dos outros Espíritos?

“Não; são os Espíritos puros: os que se acham no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 102)

Segundo a doutrina espírita, os anjos não são seres à parte, de uma natureza especial: são Espíritos de primeira ordem, isto é, aqueles que chegaram ao estado de puros Espíritos, depois de terem passado por todas as provas.

Nosso mundo não existe de toda a eternidade, e muito antes que fosse formado, alguns Espíritos haviam atingido aquele grau supremo. Então, os homens pensaram que aqueles sempre tinham sido assim. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 10)

8. […]

Entre os degraus inferiores e os mais elevados, inúmeros outros há, e difícil é reconhecer-se nos Espíritos puros, desmaterializados e resplandecentes de glória, os que foram esses seres primitivos, do mesmo modo que no homem adulto se custa a reconhecer o embrião. (003 – Capítulo III – p. 60)

186. Haverá mundos em que o Espírito, deixando de revestir corpos materiais, só tenha por envoltório o perispírito?

“Há e mesmo esse envoltório se torna tão etéreo que para vós é como se não existisse. Esse o estado dos Espíritos puros.”

a) Parece resultar daí que, entre o estado correspondente às últimas encarnações e o de Espírito puro, não há linha divisória perfeitamente demarcada; não?

“Semelhante demarcação não existe. A diferença entre um e outro estado se vai apagando pouco a pouco e acaba por ser imperceptível, tal qual se dá com a noite às primeiras claridades do alvorecer.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 129)

188. Os Espíritos puros habitam mundos especiais, ou se acham no espaço universal, sem estarem mais ligados a um mundo do que a outros?

“Habitam certos mundos, mas não lhes ficam presos, como os homens à Terra; podem, melhor do que os outros, estar em toda parte.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 130)

10. Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la; mas, sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos e que existem muitos que se apresentem sob falsas aparências, o que levou João a dizer: “Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus.” (1ª Epístola, 4:1.) (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo I – p. 21)

29. Quando, num mundo, os Espíritos têm realizado a soma de progresso que o estado desse mundo lhe faculta efetuar, deixam-no e passam a encarnar noutro mais adiantado, onde entesouram novos conhecimentos e assim por diante, até que, de nenhuma utilidade mais lhe sendo a encarnação em corpos materiais, entram a viver exclusivamente a vida espiritual, em que também progridem noutro sentido e por outros meios. Galgando o ponto culminante do progresso, gozam da felicidade suprema. Admitidos nos Conselhos do Onipotente, identificam-se com o pensamento deste e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos para o governo dos mundos, tendo sob suas ordens os outros Espíritos ainda em diferentes graus de adiantamento. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de fé espírita raciocinada – p. 48-49)

12. […]

[…] Os puros Espíritos são os messias ou mensageiros de Deus pela transmissão e execução das suas vontades. Preenchem as grandes missões, presidem à formação dos mundos e à harmonia geral do universo, tarefa gloriosa a que se não chega senão pela perfeição. Os da ordem mais elevada são os únicos a possuírem os segredos de Deus, inspirando-se no seu pensamento, de que são diretos representantes. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – p. 31)

34. Sendo Deus a essência divina por excelência, unicamente os Espíritos que atingiram o mais alto grau de desmaterialização o podem perceber. Pelo fato de os Espíritos imperfeitos não verem a Deus, não se segue que eles estejam mais distantes de Deus do que os outros; esses Espíritos, como os demais, como todos os seres da natureza, se encontram mergulhados no fluido divino, do mesmo modo que nós o estamos na luz. O que há é que as imperfeições daqueles Espíritos são vapores que os impedem de vê-lo. Quando o nevoeiro se dissipar, vê-lo-ão resplandecer. Para isso, não lhes é preciso subir, nem procurá-lo nas profundezas do infinito. Desimpedida a visão espiritual das belidas que a obscureciam, eles o verão de todo lugar onde se achem, mesmo da terra, porquanto Deus está em toda parte. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo II – p. 60)

BELIDA: mancha permanente da córnea devido a traumatismos ou ulcerações; nefélio, nubécula. [Definição do Dicionário Online do Google]

147. Se Deus está em toda parte, por que nem todos os Espíritos podem vê-lo?

Deus está em toda parte, porque em toda parte Ele irradia, podendo dizer-se que o universo está mergulhado na divindade, como nós o estamos na luz solar; os Espíritos atrasados, porém, estão envolvidos numa espécie de nevoeiro que o oculta a seus olhos, e que se não dissipa senão à medida que eles se desmaterializam e se purificam. Os Espíritos inferiores são, pela vista, em relação a Deus, o que os encarnados são em relação aos Espíritos: verdadeiros cegos. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 170)

969. Que se deve entender quando é dito que os Espíritos puros se acham reunidos no seio de Deus e ocupados em lhe entoar louvores?

“É uma alegoria indicativa da inteligência que eles têm das perfeições de Deus, porque o veem e compreendem, mas que, como muitas outras, não se deve tomar ao pé da letra. Tudo na Natureza, desde o grão de areia, canta, isto é, proclama o poder, a sabedoria e a bondade de Deus. Não creias, todavia, que os Espíritos bem-aventurados estejam em contemplação por toda a eternidade. Seria uma bem-aventurança estúpida e monótona. Fora, além disso, a felicidade do egoísta, porquanto a existência deles seria uma inutilidade sem-termo. Estão isentos das tribulações da vida corpórea: já é um gozo. Depois, como dissemos, conhecem e sabem todas as coisas; dão útil emprego à inteligência que adquiriram, auxiliando os progressos dos outros Espíritos. Essa a sua ocupação, que ao mesmo tempo é um gozo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 435)

562. Já não tendo o que adquirir, os Espíritos da ordem mais elevada se acham em repouso absoluto, ou também lhes tocam ocupações?

“Que quererias que fizessem na eternidade? A ociosidade eterna seria um eterno suplício.”

a) De que natureza são as suas ocupações?

“Receber diretamente as ordens de Deus, transmiti-las ao Universo inteiro e velar por que sejam cumpridas.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 272)

9. […]  O que não padece dúvida é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e o grau a que chegaram de saber, esses podem tirar dos seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em nome de Deus, têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo I – p. 20)

625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?

“Jesus.”

Nota – Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo Ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito divino o animava. Quanto aos que, pretendendo instruir o homem na lei de Deus, o têm transviado, ensinando-lhe falsos princípios, isso aconteceu por haverem deixado que os dominassem sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regulam as condições da vida da alma, com as que regem a vida do corpo. Muitos hão apresentado como leis divinas simples leis humanas estatuídas para servir às paixões e dominar os homens. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 297-298)

2. Sem nada prejulgar quanto à natureza do Cristo, natureza cujo exame não entra no quadro desta obra, considerando-o apenas um Espírito superior, não podemos deixar de reconhecê-lo um dos de ordem mais elevada e colocado, por suas virtudes, muitíssimo acima da humanidade terrestre. Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para cumprimento de seus desígnios. Mesmo sem supor que ele fosse o próprio Deus, mas unicamente um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um Messias divino.

Como homem, tinha a organização dos seres carnais; porém, como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual, do que da vida corporal, de cujas fraquezas não era passível. A sua superioridade com relação aos homens não derivava das qualidades particulares do seu corpo, mas das do seu Espírito, que dominava de modo absoluto a matéria e da do seu perispírito, tirado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres. Sua alma, provavelmente, não se achava presa ao corpo, senão pelos laços estritamente indispensáveis. Constantemente desprendida, ela decerto lhe dava dupla vista, não só permanente, como de excepcional penetração e superior de muito à que de ordinário possuem os homens comuns. O mesmo havia de dar-se, nele, com relação a todos os fenômenos que dependem dos fluidos perispirituais ou psíquicos. A qualidade desses fluidos lhe conferia imensa força magnética, secundada pelo incessante desejo de fazer o bem.

Agiria como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, porquanto o médium é um intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados e o Cristo não precisava de assistência, pois que era ele quem assistia os outros. Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o podem fazer, em certos casos, os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito, ao demais, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir. Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XV – p. 274-275)

2.2 EXPIAÇÕES, PROVAS E MISSÕES – AÇÃO E REAÇÃO

33º) Em que pese à diversidade de gêneros e graus de sofrimentos dos Espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode resumir-se nestes três princípios:

1. O sofrimento é inerente à imperfeição.

2. Toda imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas consequências naturais e inevitáveis: assim, a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo.

3. Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade.

A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra — tal é a lei da Justiça divina. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VII – p. 91)

5. A lei humana atinge certas faltas e as pune. Pode, então, o condenado reconhecer que sofre a consequência do que fez. Mas a lei não atinge, nem pode atingir todas as faltas; incide especialmente sobre as que trazem prejuízo à sociedade e não sobre as que só prejudicam os que as cometem. Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis consequências, mais ou menos deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal. Dão-lhe experiência, fazem-lhe sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de amarguras; sem o que, motivo não haveria para que se emendasse. Confiante na impunidade, retardaria seu avanço e, consequentemente, a sua felicidade futura. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 81-82)

6. […] Todavia, por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente. Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na presente vida, tê-lo-emos feito noutra. É uma alternativa a que ninguém pode fugir e em que a lógica decide de que parte se acha a Justiça de Deus. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 83)

EXPIAÇÃO – pena que sofrem os Espíritos em punição de faltas cometidas durante a vida corpórea. Como sofrimento moral, a expiação se verifica no estado errante; como sofrimento físico, no estado de encarnado. As vicissitudes e os tormentos da vida corpórea são, ao mesmo tempo, provas para o futuro e expiação para o passado. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 15)

998. A expiação se cumpre no estado corporal ou no estado espiritual?

“A expiação se cumpre durante a existência corporal, mediante as provas a que o Espírito se acha submetido e, na vida espiritual, pelos sofrimentos morais, inerentes ao estado de inferioridade do Espírito.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 445)

1013. Que se deve entender por purgatório?

“Dores físicas e morais: o tempo da expiação. Quase sempre, na Terra é que fazeis o vosso purgatório e que Deus vos obriga a expiar as vossas faltas.”

Nota – O que o homem chama purgatório é igualmente uma alegoria, devendo-se entender como tal, não um lugar determinado, porém o estado dos Espíritos imperfeitos, que se acham em expiação até alcançarem a purificação completa, que os elevará à categoria dos Espíritos bem-aventurados. Operando-se essa purificação por meio das diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corporal. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 456-457)

633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, é inaplicável ao proceder pessoal do homem para consigo mesmo. Achará ele, na lei natural, a regra desse proceder e um guia seguro?

“Quando comeis em excesso, verificais que isso vos faz mal. Pois bem, é Deus quem vos dá a medida daquilo de que necessitais. Quando excedeis dessa medida, sois punidos. Em tudo é assim. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades. Se ele ultrapassa esse limite, é punido pelo sofrimento. Se atendesse sempre à voz que lhe diz — basta, evitaria a maior parte dos males, cuja culpa lança à Natureza.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 300)

639. Não sucede frequentemente resultar o mal, que o homem pratica, da posição em que os outros homens o colocam? Quais, nesse caso, os culpados?

“O mal recai sobre quem lhe foi o causador. Nessas condições, aquele que é levado a praticar o mal pela posição em que seus semelhantes o colocam tem menos culpa do que os que, assim procedendo, o ocasionaram. Porque, cada um será punido, não só pelo mal que haja feito, mas também pelo mal a que tenha dado lugar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 302)

640. Aquele que não pratica o mal, mas que se aproveita do mal praticado por outrem, é tão culpado quanto este?

“É como se o houvera praticado. Aproveitar do mal é participar dele. Talvez não fosse capaz de praticá-lo; mas, desde que, achando-o feito, dele tira partido, é que o aprova; é que o teria praticado, se pudera, ou se ousara.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 302)

641. Será tão repreensível, quanto fazer o mal, o desejá-lo?

“Conforme. Há virtude em resistir-se voluntariamente ao mal que se deseja praticar, sobretudo quando há possibilidade de satisfazer-se a esse desejo. Se apenas não o pratica por falta de ocasião, é culpado quem o deseja.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 302)

642. Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?

“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 302)

51. Os homens fortes e poderosos foram criados como amparo e defesa dos fracos. Ao forte que oprime o fraco cabe a advertência de que receberá ainda nesta vida a penalidade, independentemente do que passará no futuro. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 43)

Podem aplicar-se, sem medo de errar, as leis que regem o indivíduo à família, à nação, às raças, ao conjunto dos habitantes dos mundos, os quais formam individualidades coletivas. Há as faltas do indivíduo, as da família, as da nação; e cada uma, qualquer que seja o seu caráter, se expia em virtude da mesma lei. O algoz, relativamente à sua vítima, quer indo a encontrar-se em sua presença no espaço, quer vivendo em contato com ela numa ou em muitas existências sucessivas, até à reparação do mal praticado. O mesmo sucede quando se trata de crimes cometidos solidariamente por um certo número de pessoas. As expiações também são solidárias o que não suprime a expiação simultânea das faltas individuais. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Questões e problemas – p. 266)

357. Que consequências tem para o Espírito o aborto?

“É uma existência nulificada e que ele terá de recomeçar.” 

358. Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?

“Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, pois isso impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando.” 

359. Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda?

“Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p.197-198)

7. […] Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVII – p. 237)

21. […] Quando uma aflição não é consequência dos atos da vida presente, deve-se-lhe buscar a causa numa vida anterior. Tudo aquilo a que se dá o nome de caprichos da sorte mais não é do que efeito da Justiça de Deus, que não inflige punições arbitrárias, pois quer que a pena esteja sempre em correlação com a falta. Se, por sua bondade, lançou um véu sobre os nossos atos passados, por outro lado nos aponta o caminho, dizendo: “Quem matou à espada, pela espada perecerá”, palavras que se podem traduzir assim: “A criatura é sempre punida por aquilo em que pecou.” […] É possível que ele próprio, tomado de arrependimento, haja escolhido essa expiação, aplicando a si estas palavras de Jesus: “Se o teu olho for motivo de escândalo, arranca-o.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 133)

399. Sendo as vicissitudes da vida corporal expiação das faltas do passado e, ao mesmo tempo, provas com vistas ao futuro, seguir-se-á que da natureza de tais vicissitudes se possa deduzir de que gênero foi a existência anterior?

“Muito amiúde é isso possível, pois que cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não há que tirar daí uma regra absoluta. As tendências instintivas constituem indício mais seguro, visto que as provas por que passa o Espírito o são, tanto pelo que respeita ao passado, quanto pelo que toca ao futuro.”

Nota – […] As vicissitudes da vida corpórea constituem expiação das faltas do passado e, simultaneamente, provas com relação ao futuro. Depuram-nos e elevam-nos, se as suportamos resignados e sem murmurar.

A natureza dessas vicissitudes e das provas que sofremos também nos podem esclarecer acerca do que fomos e do que fizemos, do mesmo modo que neste mundo julgamos dos atos de um culpado pelo castigo que lhe inflige a lei. Assim, o orgulhoso será castigado no seu orgulho, mediante a humilhação de uma existência subalterna; o mau rico, o avarento, pela miséria; o que foi cruel para os outros, pelas crueldades que sofrerá; o tirano, pela escravidão; o mau filho, pela ingratidão de seus filhos; o preguiçoso, por um trabalho forçado etc. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p. 212-213)

921. Nota – […] Já nesta vida somos punidos pelas infrações que cometemos das leis que regem a existência corpórea, sofrendo os males consequentes dessas mesmas infrações e dos nossos próprios excessos. Se, gradativamente, remontarmos à origem do que chamamos as nossas desgraças terrenas, veremos que, na maioria dos casos, elas são a consequência de um primeiro afastamento nosso do caminho reto. Desviando-nos deste, enveredamos por outro, mau, e, de consequência em consequência, caímos na desgraça. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 413-414)

7. […] Em geral, o homem apenas vê o presente; ora, se o sofrimento é de utilidade para a sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma operação que lhe trará a cura. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVII – p. 313)

[Expiações terrestres – Antonio B… (Enterrado vivo — A pena de talião)]

Antonio B…, escritor de estimadíssimo merecimento, que exercera com distinção e integridade muitos cargos públicos na Lombardia, pelo ano de 1850 caiu aparentemente morto de um ataque apoplético.

Como algumas vezes sucede em casos tais, a sua morte foi considerada real, concorrendo ainda mais para o engano os vestígios da decomposição assinalados no corpo.

Quinze dias depois do enterro, uma circunstância fortuita determinou a exumação, a pedido da família. Tratava-se de um medalhão por acaso esquecido no caixão.

Qual não foi, porém, o espanto dos assistentes quando, ao abrir este, notaram que o corpo havia mudado de posição, voltando-se de bruços e — coisa horrível — que uma das mãos havia sido comida em parte pelo defunto.

[…]

7. Podeis descrever-nos as vossas sensações daquele momento?

— R. Que dolorosa provação sentir-me encerrado entre quatro tábuas, tolhido, absolutamente tolhido! Gritar! Impossível!

“A voz, por falta de ar, não tinha eco! Ah! que tortura a do infeliz que em vão se esforça para respirar num ambiente limitado! Eu era qual condenado à boca de um forno, abstração feita do calor. A ninguém desejo um fim rematado por semelhantes torturas. Não, não desejo a ninguém um tal fim! Oh! cruel punição de uma cruel e feroz existência! Não saberia dizer no que então pensava; apenas revendo o passado, vagamente entrevia o futuro.”

8. Dissestes: cruel punição de uma feroz existência… Como se pode conciliar esta afirmativa com a vossa reputação ilibada?

— R. Que vale uma existência diante da eternidade?! Certo, procurei ser honesto e bom na minha última encarnação, mas eu aceitara um tal epílogo previamente, isto é, antes de encarnar. Ah!… Por que interrogar-me sobre esse passado doloroso que só eu e os bons Espíritos enviados do Senhor conhecíamos? Mas, visto que assim é preciso, dir-vos-ei que numa existência anterior eu enterrara viva uma mulher — a minha mulher! Plena de vida e presa numa adega! A pena de talião devia ser-me aplicada. Olho por olho, dente por dente.

[…]

Instruções do guia do médium — Por essa comunicação podeis inferir a correlatividade e dependência imediata das vossas existências entre si; as tribulações, as vicissitudes, as dificuldades e dores humanas são sempre as consequências de uma vida anterior, culposa ou mal aproveitada.

[…]

Nota – Este fato não encerra um ensinamento terrível? A Justiça de Deus, às vezes tardia, nem por isso deixa de atingir o culpado, prosseguindo em seu aviso. É altamente moralizador o saber-se que, se grandes culpados acabam pacificamente na abundância de bens terrenos, nem por isso deixará de soar cedo ou tarde, para eles, a hora da expiação. Penas tais são compreensíveis, não só por estarem mais ou menos ao alcance das nossas vistas, como por serem lógicas. Cremos, porque a razão admite. Uma existência honrosa não exclui, portanto, as provações da vida, que são escolhidas e aceitas como complemento de expiação — o restante do pagamento de uma dívida saldada antes de receber o preço do progresso realizado.

Considerando quanto nos séculos passados eram frequentes, mesmo nas classes mais elevadas e esclarecidas, os atos de barbaria que hoje repugnam; quantos assassínios cometidos nesses tempos de menosprezo pela vida de outrem, esmagado o fraco pelos poderosos sem escrúpulo; então compreenderemos que muitos dos nossos contemporâneos têm de expungir máculas passadas, e tampouco nos admiraremos do número considerável de pessoas que sucumbem vitimadas por acidentes isolados ou por catástrofes coletivas.

O despotismo, o fanatismo, a ignorância e os prejuízos da Idade Média e dos séculos que se seguiram, legaram às gerações futuras uma dívida enorme, que ainda não está saldada.

Muitas desgraças nos parecem imerecidas, somente porque apenas vemos o presente. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VIII –  p. 354-357)

APOPLEXIA: acidente vascular cerebral. [Definição do Dicionário Online do Google]     

EPÍLOGO:  conclusão, a parte final de um evento; desfecho, remate.  [Definição do Dicionário Online do Google]   

  

O exemplo dos seres que retornam após a morte física para relatar sobre suas alegrias e suas dores, demonstra a realidade da vida futura e a justiça de Deus que não deixa vício algum impune, nem virtude alguma sem recompensa, e que em decorrência dos maléficos feitos, Deus nos concede novas oportunidades de praticar o bem. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 27)

No mundo dos Espíritos há compensações para todas as virtudes, mas há também penalidades para todas as faltas, e, destas, as que escaparam às leis dos homens são infalivelmente atingidas pelas Leis de Deus.

Devemos ainda notar que as mesmas faltas, ainda que cometidas em circunstâncias idênticas, são diversamente punidas, conforme o grau de adiantamento do Espírito delinquente. Aos Espíritos mais atrasados, de natureza mais grosseira, como este de que vimos de nos ocupar, são infligidos castigos de alguma sorte mais materiais que morais, ao passo que o contrário se dá para com aqueles cuja inteligência e sensibilidade estejam mais desenvolvidas. Aos primeiros impõe-se o castigo apropriado à rudeza do seu discernimento, para compreenderem o erro e dele se libertarem. Assim é que a vergonha, por exemplo, causando pouca ou nenhuma impressão para estes, torna-se para aqueles intolerável.” (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 307)

Deus não dá prova superior às forças daquele que a pede; só permite as que podem ser cumpridas. Se tal não sucede, não é que falte possibilidade: falta a vontade. Com efeito, quantos há que, em vez de resistirem aos maus pendores, se comprazem neles. A esses ficam reservados o pranto e os gemidos em existências posteriores. Admirai, no entanto, a bondade de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento. Vem um dia em que ao culpado, cansado de sofrer, com o orgulho afinal abatido, Deus abre os braços para receber o filho pródigo que se lhe lança aos pés. As provas rudes, ouvi-me bem, são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando aceitas com o pensamento em Deus. É um momento supremo, no qual, sobretudo, cumpre ao Espírito não falir murmurando, se não quiser perder o fruto de tais provas e ter de recomeçar. Em vez de vos queixardes, agradecei a Deus o ensejo que vos proporciona de vencerdes, a fim de vos deferir o prêmio da vitória. Então, saindo do turbilhão do mundo terrestre, quando entrardes no mundo dos Espíritos, sereis aí aclamados como o soldado que sai triunfante da refrega.

De todas as provas, as mais duras são as que afetam o coração. Um, que suporta com coragem a miséria e as privações materiais, sucumbe ao peso das amarguras domésticas, pungido da ingratidão dos seus. Oh! Que pungente angústia essa! Mas, em tais circunstâncias, que mais pode, eficazmente, restabelecer a coragem moral do que o conhecimento das causas do mal e a certeza de que, se bem haja prolongados despedaçamentos da alma, não há desesperos eternos, porque não é possível seja da vontade de Deus que a sua criatura sofra indefinidamente? Que de mais reconfortante, de mais animador do que a ideia que de cada um dos seus esforços é que depende abreviar o sofrimento, mediante a destruição, em si, das causas do mal? Para isso, porém, preciso se faz que o homem não retenha na Terra o olhar e só veja uma existência; que se eleve, a pairar no infinito do passado e do futuro. Então, a Justiça infinita de Deus se vos patenteia, e esperais com paciência, porque explicável se vos torna o que na Terra vos parecia verdadeiras monstruosidades. As feridas que aí se vos abrem, passais a considerá-las simples arranhaduras. Nesse golpe de vista lançado sobre o conjunto, os laços de família se vos apresentam sob seu aspecto real. Já não vedes, a ligar-lhes os membros, apenas os frágeis laços da matéria; vedes, sim, os laços duradouros do Espírito, que se perpetuam e consolidam com o depurarem-se, em vez de se quebrarem por efeito da reencarnação. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIV – p. 204-205)

No estado atual das coisas aqui na Terra, qual é o homem que não tem inimigos? Para não os ter, fora preciso não estar na Terra, por ser esta a consequência da inferioridade relativa do nosso globo e de sua destinação como mundo de expiação. Para isto, bastaria fazer o bem? Oh! não; o Cristo não está aí para o provar? Se, pois, o Cristo, a bondade por excelência, foi alvo de tudo quanto a maldade pôde imaginar, por que nos admirarmos de que assim suceda com aqueles que valem cem vezes menos?

O homem que pratica o bem – isto dito em tese geral – deve, pois, esperar contar com a ingratidão, ter contra ele aqueles que, não o praticando, são ciumentos da estima concedida aos que o praticam. Os primeiros, não se sentindo fortalecidos para se elevarem, procuram rebaixar os outros ao seu nível, pondo em xeque, pela maledicência ou pela calúnia, aqueles que os ofuscam.

Ouve-se constantemente dizer que a ingratidão com que somos pagos endurece o coração e nos torna egoístas; falar assim é provar que se tem o coração fácil de ser endurecido, porquanto esse temor não poderia deter o homem verdadeiramente bom. O reconhecimento já é uma remuneração do bem que se faz; praticá-lo tendo em vista esta remuneração, é fazê-lo por interesse. E, depois, quem sabe se aquele a quem se faz um favor, e do qual nada se espera, não será levado a melhores sentimentos por um reto proceder? É talvez um meio de levá-lo a refletir, de abrandar sua alma, de salvá-lo! Esta esperança é uma nobre ambição; se nos decepcionamos, não teremos realizado o que nos cabia realizar. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 16)

937. Para o homem de coração, as decepções oriundas da ingratidão e da fragilidade dos laços da amizade não são também uma fonte de amarguras?

“São, porém, deveis lastimar os ingratos e os infiéis; serão muito mais infelizes do que vós. A ingratidão é filha do egoísmo e o egoísta topará mais tarde com corações insensíveis, como o seu próprio o foi. Lembrai-vos de todos os que hão feito mais bem do que vós, que valeram muito mais do que vós e que tiveram por paga a ingratidão. Lembrai-vos de que o próprio Jesus foi, quando no mundo, injuriado e menosprezado, tratado de velhaco e impostor, e não vos admireis de que o mesmo vos suceda. Seja o bem que houverdes feito a vossa recompensa na Terra e não atenteis no que dizem os que hão recebido os vossos benefícios. A ingratidão é uma prova para a vossa perseverança na prática do bem; ser-vos-á levada em conta e os que vos forem ingratos serão tanto mais punidos, quanto maior lhes tenha sido a ingratidão.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo  I – p. 420-421)

964. Mas será necessário que Deus atente em cada um dos nossos atos, para nos recompensar ou punir? Esses atos não são, na sua maioria, insignificantes para Ele?

“Deus tem suas leis a regerem todas as vossas ações. Se as violais, vossa é a culpa. Indubitavelmente, quando um homem comete um excesso qualquer, Deus não profere contra ele um julgamento, dizendo-lhe, por exemplo: ‘foste guloso, vou punir-te.’ Ele traçou um limite; as enfermidades e muitas vezes a morte são a consequência dos excessos. Eis aí a punição: é o resultado da infração da lei. Assim em tudo.”

Nota – Todas as nossas ações estão submetidas às leis de Deus. Nenhuma há, por mais insignificante que nos pareça, que não possa ser uma violação daquelas leis. Se sofremos as consequências dessa violação, só nos devemos queixar de nós mesmos, que desse modo nos fazemos os causadores da nossa felicidade, ou da nossa infelicidade futuras.

Esta verdade se torna evidente por meio do apólogo seguinte:

“Um pai deu a seu filho educação e instrução, isto é, os meios de se guiar. Cede-lhe um campo para que o cultive e lhe diz: Aqui estão a regra que deves seguir e todos os instrumentos necessários a tornares fértil este campo e assegurares a tua existência. Dei-te a instrução para compreenderes esta regra. Se a seguires, teu campo produzirá muito e te proporcionará o repouso na velhice. Se a desprezares, nada produzirá e morrerás de fome. Dito isso, deixa-o proceder livremente”.

Não é verdade que esse campo produzirá na razão dos cuidados que forem dispensados à sua cultura e que toda negligência redundará em prejuízo da colheita? Na velhice, portanto, o filho será ditoso ou desgraçado, conforme haja seguido ou não a regra que seu pai lhe traçou. Deus ainda é mais previdente, pois que nos adverte, a cada instante, de que estamos fazendo bem ou mal. Envia-nos os Espíritos para nos inspirarem, porém não os escutamos. Há mais esta diferença: Deus faculta sempre ao homem, concedendo-lhe novas existências, recursos para reparar seus erros passados, enquanto ao filho de quem falamos, se empregou mal o seu tempo, nenhum recurso resta. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 433-434)

8. Tomemos um exemplo. Um homem se acha perdido no deserto. A sede o martiriza horrivelmente. Desfalecido, cai por terra. Pede a Deus que o assista, e espera. Nenhum anjo lhe virá dar de beber. Contudo, um bom Espírito lhe sugere a ideia de levantar-se e tomar um dos caminhos que tem diante de si. Por um movimento maquinal, reunindo todas as forças que lhe restam, ele se ergue, caminha e descobre ao longe um regato. Ao divisá-lo, ganha coragem. Se tem fé, exclamará: “Obrigado, meu Deus, pela ideia que me inspiraste e pela força que me deste.” Se lhe falta a fé, exclamará: “Que boa ideia tive! Que sorte a minha de tomar o caminho da direita, em vez do da esquerda; o acaso, às vezes, nos serve admiravelmente! Quanto me felicito pela minha coragem e por não me ter deixado abater!”

Mas dirão, por que o bom Espírito não lhe disse claramente: “Segue este caminho, que encontrarás o de que necessitas”? Por que não se lhe mostrou para o guiar e sustentar no seu desfalecimento? Dessa maneira tê-lo-ia convencido da intervenção da Providência. Primeiramente, para lhe ensinar que cada um deve ajudar a si mesmo e fazer uso das suas forças. Depois, pela incerteza, Deus põe à prova a confiança que nele deposita a criatura e a submissão desta à sua vontade. Aquele homem estava na situação de uma criança que cai e que, dando com alguém, se põe a gritar e fica à espera de que a venham levantar; se não vê pessoa alguma, faz esforços e se ergue sozinha. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVII –  p. 313-314)

A justiça humana não faz distinção de individualidades, quanto aos seres que castiga; medindo o crime pelo próprio crime, fere indistintamente os infratores, e a mesma pena atinge o paciente sem distinção de sexo, qualquer que seja a sua educação. De modo diverso procede a Justiça divina, cujas punições correspondem ao grau de progresso dos seres aos quais elas são infligidas. Igualdade de crimes não importa, de fato, igualdade individual, visto como dois homens culpados, sob o mesmo ponto de vista, podem separar-se pela dessemelhança de provações, imergindo um deles na opacidade intelectiva dos primeiros círculos iniciadores, enquanto o outro dispõe, por haver ultrapassado esses círculos, da lucidez que isenta o Espírito da perturbação. E nesse caso não são mais as trevas a puni-lo, mas a agudeza da luz espiritual que vara a inteligência terrena e lhe faz sentir as dores de uma chaga viva.

Os seres desencarnados que presenciam a representação material dos seus crimes, sofrem o choque da eletricidade física: padecem pelos sentidos. E aqueles que pelo Espírito estejam desmaterializados sofrem uma dor muito superior que lhes aniquila, por assim dizer, em seus amargores, a lembrança dos fatos, deixando subsistir a noção de suas respectivas causas.

Assim, pode o homem, a despeito da sua criminalidade, possuir um progresso interno e elevar-se acima da espessa atmosfera das baixas camadas, isto pelas faculdades intelectuais sutilizadas, embora tivesse, sob o jugo das paixões, procedido como um bruto. A ausência de ponderação, o desequilíbrio entre o progresso moral e o intelectual, produzem essas tão frequentes anomalias nas épocas de materialismo e transição. A luz que tortura o Espírito é, portanto e precisamente, o raio espiritual inundando de claridades os secretos recessos do seu orgulho e descobrindo-lhe a inanidade do seu fragmentário ser. Aí estão os primeiros sintomas e as primeiras angústias da agonia espiritual, que anunciam a separação ou dissolução dos elementos intelectuais e materiais componentes da primitiva dualidade humana, e que devem desaparecer na unidade grandiosa do ser acabado. Jean Reynaud (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 325-326)

945. Que se deve pensar do suicídio que tem como causa o desgosto da vida?

“Insensatos! Por que não trabalhavam? A existência não lhes teria sido tão pesada.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 424)

[…] Em regra, o homem não tem o direito de dispor da vida, por isso que esta lhe foi dada visando deveres a cumprir na Terra, razão bastante para que não a abrevie voluntariamente, sob pretexto algum. Mas ao homem — visto que tem o seu livre-arbítrio — ninguém impede a infração dessa lei. Sujeita-se, porém, às suas consequências. O suicídio mais severamente punido é o resultante do desespero que visa à redenção das misérias terrenas, misérias que são ao mesmo tempo expiações e provações. Furtar-se a elas é recuar ante a tarefa aceita e, às vezes, ante a missão que se devera cumprir. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo V – p. 267-268)

71. […] O suicida é qual prisioneiro que se evade da prisão, antes de cumprida a pena; quando preso de novo, é mais severamente tratado. O mesmo se dá com o suicida que julga escapar às misérias do presente e mergulha em desgraças maiores. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 361)

[Suicidas – Um ateu]

8. Donde provinham as vossas ideias materialistas de outrora?

— R. Em anterior encarnação eu fora mau e por isso condenei-me na seguinte aos tormentos da incerteza, e assim foi que me suicidei.

Nota – Aqui há todo um corolário de ideias. Muitas vezes nos perguntamos como pode haver materialistas quando, tendo eles passado pelo mundo espiritual, deveriam ter do mesmo a intuição; ora, é precisamente essa intuição que é recusada a alguns Espíritos que, conservando o orgulho, não se arrependeram das suas faltas. Para esses tais, a prova consiste na aquisição, durante a vida corporal e à custa do próprio raciocínio, da prova da existência de Deus e da vida futura que têm, por assim dizer, incessantemente sob os olhos. Muitas vezes, porém, a presunção de nada admitir, acima de si, os empolga e absorve. Assim, sofrem eles a pena até que, domado o orgulho, se rendem à evidência. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo V – p. 279-280)

COROLÁRIO: Situação que ocorre a partir de outras; resultado; verdade que é consequência de outra. [Definição do Dicio – Dicionário Online de Português]

[Suicidas – Antoine Bell]

6. (Ao guia do médium.) Um Espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio?

— R. Certamente, pois a obsessão que, de si mesma, é já um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpabilidade. O homem dispõe sempre do seu livre-arbítrio e, conseguintemente, está em si o ceder ou resistir às sugestões a que o submetem.

Assim é que, sucumbindo, o faz sempre por assentimento da sua vontade.

[…]

7. Como, apesar da prece e do arrependimento terem libertado esse Espírito da visão tormentosa da sua vítima, pôde ele ser atingido pela vingança de um obsessor na última encarnação?

— R. O arrependimento, bem o sabeis, é apenas a preliminar indispensável à reabilitação, mas não é o bastante para libertar o culpado de todas as penas. Deus não se contenta com promessas, sendo preciso a prova, por atos, do retorno ao bom caminho. Eis por que o Espírito é submetido a novas provações que o fortalecem, resultando-lhe um merecimento ainda maior quando delas sai triunfante.

O Espírito só arrosta com a perseguição dos maus, dos obsessores, enquanto estes o não encontram assaz forte para resistir-lhes. Encontrando resistência, eles o abandonam, certos da inutilidade dos seus esforços.

Nota – Estes dois últimos exemplos mostram-nos a renovação da mesma prova em sucessivas encarnações, e por tanto tempo quanto o da sua ineficácia. Antoine Bell patenteia-nos, enfim, o fato muito instrutivo do homem perseguido pela lembrança de um crime cometido em anterior existência, qual um remorso e um aviso.

Vemos ainda por aí que todas as existências são solidárias entre si; que a justiça e bondade divinas se ostentam na faculdade ao homem conferida de progredir gradualmente, sem jamais privá-lo do resgate das faltas; que o culpado é punido pela própria falta, sendo essa punição, em vez de uma vingança de Deus, o meio empregado para fazê-lo progredir. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo V – p. 290-291)

946. E do suicídio cujo fim é fugir, aquele que o comete, às misérias e às decepções deste mundo?

“Pobres Espíritos, que não têm a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda aos que sofrem e não aos que carecem de energia e de coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados! Ai, porém, daqueles que esperam a salvação do que, na sua impiedade, chamam acaso ou fortuna! O acaso, ou a fortuna, para me servir da linguagem deles, podem, com efeito, favorecê-los por um momento, mas para lhes fazer sentir mais tarde, cruelmente, a vacuidade dessas palavras.”

a) Os que hajam conduzido o desgraçado a esse ato de desespero sofrerão as consequências de tal proceder?

“Oh! esses, ai deles! Responderão como por um assassínio.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 424-425)

947. Pode ser considerado suicida aquele que, a braços com a maior penúria, se deixa morrer de fome?

“É um suicídio, mas os que lhe foram causa, ou que teriam podido impedi-lo, são mais culpados do que ele, a quem a indulgência espera. Todavia, não penseis que seja totalmente absolvido, se lhe faltaram firmeza e perseverança e se não usou de toda a sua inteligência para sair do atoleiro. Ai dele, sobretudo, se o seu desespero nasce do orgulho. Quero dizer: se for desses homens em quem o orgulho anula os recursos da inteligência, que corariam de dever a existência ao trabalho de suas mãos e que preferem morrer de fome a renunciar ao que chamam sua posição social! Não haverá mil vezes mais grandeza e dignidade em lutar contra a adversidade, em afrontar a crítica de um mundo fútil e egoísta, que só tem boa vontade para com aqueles a quem nada falta e que vos volta as costas assim precisais dele? Sacrificar a vida à consideração desse mundo é estultícia, porquanto ele a isso nenhum apreço dá.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 425)

ESTULTÍCIA: atributo, característica do que é ou se apresenta de modo estúpido; tolice, parvoíce, estupidez. [Definição do Dicionário Online do Google]

948. É tão reprovável, como o que tem por causa o desespero, o suicídio daquele que procura escapar à vergonha de uma ação má?

“O suicídio não apaga a falta. Ao contrário, em vez de uma, haverá duas. Quando se teve a coragem de praticar o mal, é preciso ter-se a de lhe sofrer as consequências. Deus, que julga, pode, conforme a causa, abrandar os rigores de sua justiça.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I –  p. 425)

949. Será desculpável o suicídio, quando tenha por fim obstar a que a vergonha caia sobre os filhos, ou sobre a família?

“O que assim procede não faz bem, mas como pensa que o faz, Deus lhe leva isso em conta, pois que é uma expiação que ele se impõe a si mesmo. A intenção lhe atenua a falta; entretanto, nem por isso deixa de haver falta. Ademais, eliminai da vossa sociedade os abusos e os preconceitos e deixará de haver desses suicídios.”

Nota – Aquele que tira a si mesmo a vida, para fugir à vergonha de uma ação má, prova que dá mais apreço à estima dos homens do que à de Deus, visto que volta para a vida espiritual carregado de suas iniquidades, tendo-se privado dos meios de repará-las durante a vida corpórea. Deus, geralmente, é menos inexorável do que os homens. Perdoa aos que sinceramente se arrependem e atende à reparação. O suicida nada repara. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 425-426)

OBSTAR: criar embaraço ou obstáculo (a); servir de obstáculo.  [Definição do Dicionário Online  do Google]

950. Que pensar daquele que se mata, na esperança de chegar mais depressa a uma vida melhor?

“Outra loucura! Que faça o bem e mais certo estará de lá chegar, pois, matando-se, retarda a sua entrada num mundo melhor e terá que pedir lhe seja permitido voltar, para concluir a vida a que pôs termo sob o influxo de uma ideia falsa. Uma falta, seja qual for, jamais abre a ninguém o santuário dos eleitos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 426)

952. Comete suicídio o homem que perece vítima de paixões que ele sabia lhe haviam de apressar o fim, porém a que já não podia resistir, por havê-las o hábito mudado em verdadeiras necessidades físicas?

“É um suicídio moral. Não percebeis que, nesse caso, o homem é duplamente culpado? há nele então falta de coragem e bestialidade, acrescidas do esquecimento de Deus.”

a) Será mais, ou menos, culpado do que o que tira a si mesmo a vida por desespero?

“É mais culpado, porque tem tempo de refletir sobre o seu suicídio. Naquele que o faz instantaneamente, há, muitas vezes, uma espécie de desvairamento, que alguma coisa tem da loucura. O outro será muito mais punido, por isso que as penas são proporcionadas sempre à consciência que o culpado tem das faltas que comete.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 426-427)

953. Quando uma pessoa vê diante de si um fim inevitável e horrível, será culpada se abreviar de alguns instantes os seus sofrimentos, apressando voluntariamente sua morte?

“É sempre culpado aquele que não aguarda o termo que Deus lhe marcou para a existência. E quem poderá estar certo de que, malgrado as aparências, esse termo tenha chegado; de que um socorro inesperado não venha no último momento?”

a) Concebe-se que, nas circunstâncias ordinárias, o suicídio seja condenável; mas estamos figurando o caso em que a morte é inevitável e em que a vida só é encurtada de alguns instantes.

“É sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador.”

b) Quais, nesse caso, as consequências de tal ato?

“Uma expiação proporcionada, como sempre, à gravidade da falta, de acordo com as circunstâncias.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 427)

956. Alcançam o fim objetivado aqueles que, não podendo conformar-se com a perda de pessoas que lhes eram caras, se matam na esperança de ir juntar-se-lhes?

“Muito diverso do que esperam é o resultado que colhem. Em vez de se reunirem ao que era objeto de suas afeições, dele se afastam por longo tempo, pois não é possível que Deus recompense um ato de covardia e o insulto que lhe fazem com o duvidarem da sua providência. Pagarão esse instante de loucura com aflições maiores do que as que pensaram abreviar e não terão, para compensá-las, a satisfação que esperavam.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 428)

398. Sendo os pendores instintivos uma reminiscência do seu passado, dar-se-á que, pelo estudo desses pendores, seja possível ao homem conhecer as faltas que cometeu?

“Até certo ponto, assim é. Preciso se torna, porém, levar em conta a melhora que se possa ter operado no Espírito e as resoluções que ele haja tomado na erraticidade. Pode suceder que a existência atual seja muito melhor que a precedente.”

a) Poderá também ser pior, isto é, poderá o Espírito cometer, numa existência, faltas que não praticou na precedente?

“Depende do seu adiantamento. Se não souber triunfar das provas, possivelmente será arrastado a novas faltas, consequentes, então, da posição que escolheu. Mas, em geral, estas faltas denotam mais um estacionamento que uma retrogradação, porquanto o Espírito é suscetível de se adiantar ou de parar, nunca, porém, de retroceder.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p. 212)

845. Não constituem obstáculos ao exercício do livre-arbítrio as predisposições instintivas que o homem traz consigo ao nascer?

“As predisposições instintivas são as do Espírito antes de encarnar. Conforme seja este mais ou menos adiantado, elas podem arrastá-lo à prática de atos repreensíveis, no que será secundado pelos Espíritos que simpatizam com essas disposições. Não há, porém, arrastamento irresistível, uma vez que se tenha a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte terceira – Capítulo X – p. 375)

14. Quando uma existência é mal empregada se torna sem muito proveito para o Espírito. Deverá ele recomeçá-la, porém, em condições mais dificultosas, por causa de sua negligência e de sua má vontade. Ocorre assim também na vida quando se está sujeito a refazer no dia seguinte o que não fora benfeito no precedente. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 33)

6º) O bem e o mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem quando podemos é, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida terrestre.

O Espírito sofre pelo mal que fez, de maneira que, sendo a sua atenção constantemente dirigida para as consequências desse mal, melhor compreende os seus inconvenientes e trata de corrigir-se. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VII – p. 83)

19. […] Meus atuais defeitos são restos das imperfeições que conservei das minhas precedentes existências; são o meu pecado original, de que me posso libertar pela ação da minha vontade e com a ajuda dos Espíritos bons. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 340)

É bem sabido que a maior parte das misérias da vida tem origem no egoísmo dos homens. Desde que cada um pensa em si antes de pensar nos outros e cogita antes de tudo de satisfazer aos seus desejos, cada um naturalmente cuida de proporcionar a si mesmo essa satisfação, a todo custo, e sacrifica sem escrúpulo os interesses alheios, assim nas mais insignificantes coisas, como nas maiores, tanto de ordem moral, quanto de ordem material. Daí todos os antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, visto que cada um só trata de despojar o seu próximo. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O egoísmo e o orgulho – p. 277)

Se, portanto, o orgulho e o egoísmo se contassem entre as condições necessárias da Humanidade, como a da alimentação para sustento da vida, não haveria exceções. O ponto essencial, pois, é conseguir que a exceção passe a constituir regra; para isso, trata-se, antes de tudo, de destruir as causas que produzem e entretêm o mal.

Dessas causas, a principal reside evidentemente na ideia falsa que o homem faz da sua natureza, do seu passado e do seu futuro. Por não saber donde vem, ele se crê mais do que é; e não sabendo para onde vai, concentra na vida terrena todo o seu pensar; acha-a tão agradável, quanto possível; anseia por todas as satisfações, por todos os gozos; essa a razão por que atropela sem escrúpulo o seu semelhante, se este lhe opõe alguma dificuldade. Mas, para isso, é preciso que ele predomine; a igualdade daria, a outros, direitos que ele só quer para si; a fraternidade lhe imporia sacrifícios em detrimento do seu bem-estar; a liberdade também ele só a quer para si e somente a concede aos outros quando não lhe fira de modo algum as prerrogativas. Alimentando todos as mesmas pretensões, têm resultado os perpétuos conflitos que os levam a pagar bem caro os raros gozos que logram obter. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O orgulho e o egoísmo – p. 280)

17. O Espírito que comete erros acarreta para si mesmo sofrimentos morais no mundo dos Espíritos, e quando encarnado, aflições físicas durante a vida corporal. Seus sofrimentos são consequências de suas faltas, isto é, da sua infração às leis de Deus, visto que elas representam, ao mesmo tempo, expiação do passado e provação para o futuro: é dessa maneira que o orgulhoso pode passar uma existência de humilhação, o tirano uma de servidão, o mau rico uma de miséria. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 34)

23. Supondo-se que a alma não tinha sido criada anteriormente e que aquela seja a sua primeira encarnação, é de perguntar-se como Deus, sendo sumamente justo e bom, pode atribuir-lhe responsabilidade pelos atos de seu pai, maculando-a com um pecado original que ela não tenha cometido? Agora, dizendo-se, ao contrário, que ela traz ao renascer o germe das imperfeições anteriores, que ela sofre na existência atual as consequências das suas faltas passadas, dá-se ao pecado original uma explicação lógica que todos podem compreender e admitir, porque o Espírito é responsável somente pelas suas próprias obras. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 36)

30. […] Quando um motivo de aflição nos advém, se lhe procurarmos a causa, amiúde reconheceremos estar numa imprudência ou imprevidência nossa, ou, quando não, em um ato anterior. Em qualquer desses casos, só de nós mesmos nos devemos queixar. Se a causa de um infortúnio independe completamente de qualquer ação nossa, é ou uma prova para a existência atual, ou expiação de falta de uma existência anterior, caso, este último, em que, pela natureza da expiação, poderemos conhecer a natureza da falta, visto que somos sempre punidos por aquilo em que pecamos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 344)

39. A importância que o homem dá aos bens materiais em detrimento da fé na vida espiritual, a dúvida sobre o futuro é que o leva a buscar exclusivamente os prazeres neste mundo, a satisfação de suas paixões, até mesmo à custa de seu próximo. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 41)

907. Será substancialmente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na natureza?

“Não; a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 402)

908. Como se poderá determinar o limite em que as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?

“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso desde que passe a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem.”

Nota – As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência. Se o homem, porém, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos, poderia produzir o bem, contra ele se volta e o esmaga.

Todas as paixões têm seu princípio num sentimento ou numa necessidade natural. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa e este excesso se torna um mal, quando tem como consequência um mal qualquer.

Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual.

Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 402-403)

7. A dor é uma bênção que Deus envia a seus eleitos; não vos aflijais, pois, quando sofrerdes; antes, bendizei de Deus onipotente que, pela dor, neste mundo, vos marcou para a glória no céu. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IX – p. 137)

40. As aflições, na Terra, são os remédios da alma, e garantia quanto ao futuro, da mesma maneira como uma dolorosa cirurgia salva a vida do doente e lhe restitui a saúde. Nesse sentido é que se deve entender as palavras do Cristo: “Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados.” (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 41)

12. […] “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados.” São ditosos porque se quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão livres. Se, porém, o homem, ao quitar-se de um lado, endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a sua libertação. Ora, cada nova falta aumenta a dívida, porquanto nenhuma há, qualquer que ela seja, que não acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será amanhã; se não for na vida atual, será noutra. Entre essas faltas, cumpre se coloque na primeira fiada a carência de submissão à vontade de Deus. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 87)

FIADA: uma porção de coisas ligadas por um fio, cordão etc. que as traspassa ou que as une. [Definição do Dicionário  Online do Google]

Mateus 5:4

18. Quando o Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, o Reino dos Céus lhes pertence”, não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao Reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade de Deus. Ele já muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em ombros fracos. O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 90)

OPULÊNCIA: imponência por grandiosidade, esplendor e beleza; esplendor, suntuosidade. [Definição do Dicionário Online do Google]

924. Há males que independem da maneira de proceder do homem e que atingem mesmo os mais justos. Nenhum meio terá ele de os evitar?

“Deve resignar-se e sofrê-los sem murmurar, se quer progredir. Sempre, porém, lhe é dado haurir consolação na própria consciência, que lhe proporciona a esperança de melhor futuro, se fizer o que é preciso para obtê-lo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 414)

18. […] Bem-aventurados os aflitos pode então traduzir-se assim: Bem-aventurados os que têm ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão centuplicada a alegria que lhes falta na Terra, porque depois do labor virá o repouso. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 91)

4. […] Disse o Cristo: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados.” Mas como há de alguém sentir-se ditoso por sofrer, se não sabe por que sofre? O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos nas existências anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Mostra o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares que produzem a cura e como meio de depuração que garante a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e acha justo o sofrimento. Sabe que este lhe auxilia o adiantamento e o aceita sem murmurar, como o obreiro aceita o trabalho que lhe assegurará o salário. O Espiritismo lhe dá fé inabalável no futuro e a dúvida pungente não mais se lhe apossa da alma. Dando-lhe a ver do alto as coisas, a importância das vicissitudes terrenas some-se no vasto e esplêndido horizonte que ele o faz descortinar, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem de ir até o termo do caminho. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VI – p. 106)

V. […] Constituem parte das nossas provas terrenas as perseguições que os maus nos infligem. Devemos, então, recebê-las sem nos queixarmos, como todas as outras provas, e não maldizer dos que, por suas maldades, nos rasgam o caminho da felicidade eterna, visto que nos disseste, por intermédio de Jesus: “Bem-aventurados os que sofrem pela justiça!” Bendigamos, portanto, a mão que nos fere e humilha, uma vez que as mortificações do corpo nos fortificam a alma e que seremos exalçados por efeito da nossa humildade. Bendito seja teu nome, Senhor, por nos teres ensinado que nossa sorte não está irrevogavelmente fixada depois da morte; que encontraremos, em outras existências, os meios de resgatar e de reparar nossas culpas passadas, de cumprir em nova vida o que não podemos fazer nesta, para nosso progresso.

Assim se explicam, afinal, todas as anomalias aparentes da vida. É luz que se projeta sobre o nosso passado e o nosso futuro, sinal evidente da tua justiça soberana e da tua infinita bondade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 330-331)

EXALÇAR: atribuir grandeza a; engrandecer, exaltar. [Definição do Dicionário Online do Google]

11. Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a inspirar-lhe ideias sãs. Ele adquire, desse modo, a força moral necessária a vencer as dificuldades e a volver ao caminho reto, se deste se afastou. Por esse meio, pode também desviar de si os males que atrairia pelas suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, vê arruinada a sua saúde, em consequência de excessos a que se entregou, e arrasta, até o termo de seus dias, uma vida de sofrimento: terá ele o direito de queixar-se, se não obtiver a cura que deseja? Não, pois que houvera podido encontrar na prece a força de resistir às tentações. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVII – p. 315)

7. […] O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante ideias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação. Ele assiste os que ajudam a si mesmos, de conformidade com esta máxima: “Ajuda-te, que o Céu te ajudará”; não assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das faculdades que possui. Entretanto, as mais das vezes, o que o homem quer é ser socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVII – p. 313)

26. […] Se não nos é concedido o que pedimos, não devemos por isso entregar-nos ao desânimo; devemos pensar, ao contrário, que a privação do que desejamos nos é imposta como prova, ou como expiação, e que a nossa recompensa será proporcionada à resignação com que a houvermos suportado. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 343)

42. […] O que de mais necessário há para aquele que se acha aflito, são a resignação e a coragem, sem as quais não lhe será possível sofrê-la [a prova] com proveito para si, porque terá de recomeçá-la. É, pois, para esse objetivo que nos cumpre, sobretudo, orientar os nossos esforços, quer pedindo lhe venham em auxílio os bons Espíritos, quer levantando-lhe o moral por meio de conselhos e encorajamentos, quer, enfim, assistindo-o materialmente, se for possível. A prece, neste caso, pode também ter efeito direto, dirigindo, sobre a pessoa por quem é feita, uma corrente fluídica com o intento de lhe fortalecer o moral. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 349)

77. […] As doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida terrena; são inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos. As paixões e os excessos de toda ordem semeiam em nós germens malsãos, às vezes hereditários. Nos mundos mais adiantados, física ou moralmente, o organismo humano, mais depurado e menos material, não está sujeito às mesmas enfermidades e o corpo não é minado surdamente pelo corrosivo das paixões. Temos, assim, de nos resignar às consequências do meio onde nos coloca a nossa inferioridade, até que mereçamos passar a outro. Isso, no entanto, não é de molde a impedir que, esperando tal se dê, façamos o que de nós depende para melhorar as nossas condições atuais. Se, porém, malgrado os nossos esforços, não o conseguirmos, o Espiritismo nos ensina a suportar com resignação os nossos passageiros males.

Se Deus não houvesse querido que os sofrimentos corporais se dissipassem ou abrandassem em certos casos, não houvera posto ao nosso alcance meios de cura. A esse respeito, a sua solicitude, em conformidade com o instinto de conservação, indica que é dever nosso procurar esses meios e aplicá-los.

A par da medicação ordinária, elaborada pela Ciência, o magnetismo nos dá a conhecer o poder da ação fluídica e o Espiritismo nos revela outra força poderosa na mediunidade curadora e a influência da prece. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII –  p. 365-366)

42. A desesperança é natural para quem acredita que tudo termina com a morte do corpo físico, porém, isso não faz sentido para aquele que crê no futuro. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 41)

81. […] Os Espíritos maus pululam em torno da Terra, em virtude da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja que eles desenvolvem faz parte dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão, como as enfermidades e todas as tribulações da vida, deve ser considerada prova ou expiação e como tal aceita. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 367)

10º) O Espírito sofre, quer no mundo corporal, quer no espiritual, a consequência das suas imperfeições. As misérias, as vicissitudes padecidas na vida corpórea, são oriundas das nossas imperfeições, são expiações de faltas cometidas na presente ou em precedentes existências.

Pela natureza dos sofrimentos e vicissitudes da vida corpórea, pode julgar-se a natureza das faltas cometidas em anterior existência, e das imperfeições que as originaram.  (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VII – p. 84)

983. Não experimenta sofrimentos materiais o Espírito que expia suas faltas em nova existência? Será então exato dizer-se que, depois da morte, só há para a alma sofrimentos morais?

“É bem verdade que, quando a alma está reencarnada, as tribulações da vida são-lhe um sofrimento; mas, só o corpo sofre materialmente.

Falando de alguém que morreu, costumais dizer que deixou de sofrer. Nem sempre isto exprime a realidade. Como Espírito, está isento de dores físicas; porém, tais sejam as faltas que tenha cometido, pode estar sujeito a dores morais mais agudas e pode vir a ser ainda mais desgraçado em nova existência. O mau rico terá que pedir esmola e se verá a braços com todas as privações oriundas da miséria; o orgulhoso, com todas as humilhações; o que abusa de sua autoridade e trata com desprezo e dureza os seus subordinados se verá forçado a obedecer a um superior mais ríspido do que ele o foi. Todas as penas e tribulações da vida são expiação das faltas de outra existência, quando não a consequência das da vida atual. Logo que daqui houverdes saído, compreendê-lo-eis.

O homem que se considera feliz na Terra, porque pode satisfazer às suas paixões, é o que menos esforços emprega para se melhorar. Muitas vezes começa a sua expiação já nessa mesma vida de efêmera felicidade, mas certamente expiará noutra existência tão material quanto aquela.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 441-442)

6. Devido às suas imperfeições, o Espírito culpado sofre primeiro na vida espiritual, sendo-lhe depois facultada a vida corporal como meio de reparação. É por isso que ele se acha nessa nova existência, quer com as pessoas a quem ofendeu, quer em meios análogos àqueles em que praticou o mal, quer ainda em situações opostas à sua vida precedente, como, por exemplo, na miséria, se foi mau rico, ou humilhado, se orgulhoso.

A expiação no mundo dos Espíritos e na Terra não constitui duplo castigo para o Espírito, porém um complemento, um desdobramento do trabalho efetivo a facilitar o progresso. Do Espírito depende aproveitá-lo. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo V – p. 59)

984. As vicissitudes da vida são sempre a punição das faltas atuais?

“Não; já dissemos: são provas impostas por Deus, ou que vós mesmos escolhestes como Espíritos, antes de encarnardes, para expiação das faltas cometidas em outra existência, porque jamais fica impune a infração das leis de Deus e, sobretudo, da lei de justiça. Se não for punida nesta existência, sê-lo-á necessariamente noutra. Eis por que um, que vos parece justo, muitas vezes sofre. É a punição do seu passado.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 442)

13. É preciso que haja escândalo no mundo, disse Jesus, porque, imperfeitos como são na Terra, os homens se mostram propensos a praticar o mal, e porque, árvores más, só maus frutos dão. Deve-se, pois, entender por essas palavras que o mal é uma consequência da imperfeição dos homens, e não que haja, para estes, a obrigação de praticá-lo.

14. É necessário que o escândalo venha, porque, estando em expiação na Terra, os homens se punem a si mesmos pelo contato de seus vícios, cujas primeiras vítimas são eles próprios e cujos inconvenientes acabam por compreender. Quando estiverem cansados de sofrer devido ao mal, procurarão remédio no bem. A reação desses vícios serve, pois, ao mesmo tempo, de castigo para uns e de provas para outros. É assim que do mal tira Deus o bem e que os próprios homens utilizam as coisas más ou as escórias. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 129)

ESCÓRIA: a parte mais desprezível. [Definição do Dicionário Online do Google]

12. Se em duas partes se dividirem os males da vida, uma constituída dos que o homem não pode evitar e a outra das tribulações de que ele se constituiu a causa primária, pela sua incúria ou por seus excessos, ver-se-á que a segunda, em quantidade, excede de muito à primeira. Faz-se, portanto, evidente que o homem é o autor da maior parte das suas aflições, às quais se pouparia, se sempre obrasse com sabedoria e prudência.

Não menos certo é que todas essas misérias resultam das nossas infrações às Leis de Deus e que, se as observássemos pontualmente, seríamos inteiramente ditosos. Se não ultrapassássemos o limite do necessário, na satisfação das nossas necessidades, não apanharíamos as enfermidades que resultam dos excessos, nem experimentaríamos as vicissitudes que as doenças acarretam. Se puséssemos freio à nossa ambição, não teríamos de temer a ruína; se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não teríamos de recear a queda; se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho abatido; se praticássemos a lei de caridade, não seríamos maldizentes, nem invejosos, nem ciosos, e evitaríamos as disputas e dissensões; se mal a ninguém fizéssemos, não houvéramos de temer as vinganças etc. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVII – p. 316)

745. Que se deve pensar daquele que suscita a guerra para proveito seu?

“Grande culpado é esse e muitas existências lhe serão necessárias para expiar todos os assassínios de que haja sido causa, porquanto responderá por todos os homens cuja morte tenha causado para satisfazer à sua ambição.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 340)

43. A infelicidade na Terra é, frequentemente, resultado da imprevidência, do orgulho, e da ambição do homem, e de sua transgressão às leis de Deus. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 42)

O estado ditoso ou inditoso dos Espíritos é inerente ao adiantamento moral deles; a punição que sofrem é consequência do seu endurecimento no mal, de sorte que, com o perseverarem no mal, eles se punem a si mesmos; mas, a porta do arrependimento nunca se lhes fecha e eles podem, desde que o queiram, volver ao caminho do bem e efetuar, com o tempo, todos os progressos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – As cinco alternativas da humanidade – p. 245-246)

16. Mas ai daquele por quem venha o escândalo. Quer dizer que o mal sendo sempre o mal, aquele que a seu mau grado servir de instrumento à Justiça divina, aquele cujos maus instintos foram utilizados, nem por isso deixou de praticar o mal e de merecer punição. Assim é, por exemplo, que um filho ingrato é uma punição ou uma prova para o pai que sofre com isso, porque esse pai talvez tenha sido também um mau filho que fez sofresse seu pai. Passa ele pela pena de talião, mas essa circunstância não pode servir de escusa ao filho que, a seu turno, terá de ser castigado em seus próprios filhos, ou de outra maneira. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 130)

764. Disse Jesus: Quem matou com a espada, pela espada perecerá. Estas palavras não consagram a pena de talião e, assim, a morte dada ao assassino não constitui uma aplicação dessa pena?

“Tomai cuidado! muito vos tendes enganado a respeito dessas palavras, como acerca de outras. A pena de talião é a Justiça de Deus. É Deus quem a aplica. Todos vós sofreis essa pena a cada instante, pois que sois punidos naquilo em que haveis pecado, nesta existência ou em outra. Aquele que foi causa do sofrimento para seus semelhantes virá a achar-se numa condição em que sofrerá o que tenha feito sofrer. Este o sentido das palavras de Jesus. Não vos disse Ele também: Perdoai aos vossos inimigos? E não vos ensinou a pedir a Deus que vos perdoe as ofensas como houverdes vós mesmos perdoado, isto é, na mesma proporção em que houverdes perdoado, compreendei-o bem?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 345)

770. Que se deve pensar dos que vivem em absoluta reclusão, fugindo ao pernicioso contato do mundo?

“Duplo egoísmo.”

a) Mas não será meritório esse retraimento, se tiver por fim uma expiação, impondo-se aquele que o busca uma privação penosa?

“Fazer maior soma de bem do que de mal constitui a melhor expiação. Evitando um mal, aquele que por tal motivo se insula cai noutro, pois esquece a lei de amor e de caridade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VII – p. 348)

771. Que pensar dos que fogem do mundo para se votarem ao mister de socorrer os desgraçados?

“Esses se elevam, rebaixando-se. Têm o duplo mérito de se colocarem acima dos gozos materiais e de fazerem o bem, obedecendo à lei do trabalho.”

a) E dos que buscam no retiro a tranquilidade que certos trabalhos reclamam?

“Isso não é retraimento absoluto do egoísta. Esses não se insulam da sociedade, porquanto para ela trabalham.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VII – p. 348)

INSULAR: semelhante a uma ilha; que tem características de ilha. [Definição do Dicionário Online do Google]

987. Que sucede ao homem que, não fazendo o mal, também nada faz para libertar-se da influência da matéria?

“Pois que nenhum passo dá para a perfeição, tem que recomeçar uma existência de natureza idêntica à precedente. Fica estacionário, podendo assim prolongar os sofrimentos da expiação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 443)

988. Há pessoas cuja vida se escoa em perfeita calma; que, nada precisando fazer por si mesmas, se conservam isentas de cuidados. Provará essa existência ditosa que elas nada têm que expiar de existência anterior?

“Conheces muitas dessas pessoas? Enganas-te, se pensas que as há em grande número. Não raro, a calma é apenas aparente. Talvez elas tenham escolhido tal existência, mas, quando a deixam, percebem que não lhes serviu para progredirem. Então, como o preguiçoso, lamentam o tempo perdido. Sabei que o Espírito não pode adquirir conhecimentos e elevar-se senão exercendo a sua atividade. Se adormece na indolência, não se adianta. Assemelha-se a um que (segundo os vossos usos) precisa trabalhar e que vai passear ou deitar-se, com a intenção de nada fazer. Sabei também que cada um terá que dar contas da inutilidade voluntária da sua existência, inutilidade sempre fatal à felicidade futura. Para cada um, o total dessa felicidade futura corresponde à soma do bem que tenha feito, estando o da infelicidade na proporção do mal que haja praticado e daqueles a quem haja desgraçado.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 443)

989. Pessoas há que, se bem não sejam positivamente más, tornam infelizes, pelos seus caracteres, todos os que as cercam. Que consequências lhes advirão disso?

“Inquestionavelmente, essas pessoas não são boas. Expiarão suas faltas, tendo sempre diante da vista aqueles a quem infelicitaram, valendo-lhes isso por uma exprobração. Depois, noutra existência, sofrerão o que fizeram sofrer.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 443)

EXPROBRAR: lançar censura a; repreender, criticar. [Definição do Dicionário Online do Google]

123. Por que há maus pais e maus filhos?

São Espíritos que não se ligaram na mesma família por simpatia, mas com o fim de servirem de instrumentos de provas uns aos outros e, muitas vezes, para punição do que foram em existência anterior; a um é dado um mau filho, porque também ele o foi; a outro, um mau pai, pelo mesmo motivo, a fim de que sofram a pena de talião. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 162)

940. Não constitui igualmente fonte de dissabores, tanto mais amargos quanto envenenam toda a existência, a falta de simpatia entre seres destinados a viver juntos?

“Amaríssimos, com efeito. Essa, porém, é uma das infelicidades de que sois, as mais das vezes, a causa principal. Em primeiro lugar, o erro é das vossas leis. Julgas, porventura, que Deus te constranja a permanecer junto dos que te desagradam? Depois, nessas uniões, ordinariamente buscais a satisfação do orgulho e da ambição, mais do que a ventura de uma afeição mútua. Sofreis então as consequências dos vossos prejuízos.”

a) Mas, nesse caso, não há quase sempre uma vítima inocente?

“Há e para ela é uma dura expiação, mas a responsabilidade da sua desgraça recairá sobre os que lhe tiverem sido os causadores. Se a luz da verdade já lhe houver penetrado a alma, em sua fé no futuro haurirá consolação. Todavia, à medida que os preconceitos se enfraquecerem, as causas dessas desgraças íntimas também desaparecerão.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 422-423)

28. Os Espíritos encarnados encontram-se em expiação sobre a Terra. Deus, qual um pai amoroso, não os entrega à sorte, sem um guia. Têm eles, primeiro, seus Espíritos protetores que se esforçam em conduzi-los no bom caminho; têm mais os Espíritos em missão na Terra. Espíritos superiores de tempo em tempo encarnado entre eles, para lhes iluminar o caminho por meio de seus trabalhos e fazer a humanidade avançar na senda do progresso. Se bem que tenha Deus gravado a sua lei na consciência, julgou melhor formá-la de maneira explícita; inicialmente, enviou Moisés, porém, as leis de Moisés estavam apropriadas apenas aos homens de seu tempo. Ele somente lhes falou das coisas da vida terrena, das penalidades e das recompensas temporais. O Cristo surge em seguida em complemento à lei de Moisés, apresentando ensinos mais elevados: a pluralidade das existências, a vida espiritual, as penas e as recompensas morais. Moisés os guiou pelo temor, o Cristo pelo amor e pela caridade. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 37-38)

9. Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta. Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores, somente pedindo a Deus que as possam suportar sem murmurar. Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 84-85)

1Allan Kardec – Viagem Espírita. […]

Quem é, com efeito, o culpado? é aquele que, por um desvio, por um falso movimento da alma, se afasta do objetivo da Criação, que consiste no culto harmonioso do belo, do bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo Homem-Deus, por Jesus Cristo.

Que é o castigo? A consequência natural, derivada desse falso movimento; uma certa soma de dores necessária a desgostá-lo da sua deformidade, pela experimentação do sofrimento. O castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a buscar o porto de salvação. O castigo só tem por fim a reabilitação, a redenção. Querê-lo eterno, por uma falta não eterna, é negar-lhe toda a razão de ser.

Oh! em verdade vos digo, cessai, cessai de pôr em paralelo, na sua eternidade, o Bem, essência do Criador, com o Mal, essência da criatura. Fora criar uma penalidade injustificável. Afirmai, ao contrário, o abrandamento gradual dos castigos e das penas pelas transmigrações e consagrareis a unidade divina, tendo unidos o sentimento e a razão.” Paulo, apóstolo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 451-452)

355. Há, de fato, como o indica a Ciência, crianças que já no seio materno não são vitais? Com que fim ocorre isso?

“Frequentemente isso se dá e Deus o permite como prova, quer para os pais do nascituro, quer para o Espírito designado a tomar lugar entre os vivos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p.197)

356. Entre os natimortos alguns haverá que não tenham sido destinados à encarnação de Espíritos?

“Alguns há, efetivamente, a cujos corpos nunca nenhum Espírito esteve destinado. Nada tinha que se efetuar para eles. Tais crianças então só vêm por seus pais.”

a) Pode chegar a termo de nascimento um ser dessa natureza?

“Algumas vezes; mas não vive.”

b) Segue-se daí que toda criança que vive após o nascimento tem forçosamente encarnado em si um Espírito?

“Que seria ela, se assim não acontecesse? Não seria um ser humano.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p.197)

As crianças que morrem em tenra idade podem ser Espíritos mais ou menos adiantados, porquanto já tiveram outras existências em que ou praticaram o bem ou cometeram ações más. A morte não os livra das provas que hajam de sofrer e, em tempo oportuno, eles voltam a uma nova existência na Terra, ou em mundos superiores, conforme o grau de elevação que tenham atingido. (Allan Kardec – Obras Póstumas – As cinco alternativas da humanidade – p. 246)

6. […] O homem, pois, nem sempre é punido, ou punido completamente, na sua existência atual; mas não escapa nunca às consequências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea; se ele não expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que sofre está expiando o seu passado. O infortúnio que, à primeira vista, parece imerecido tem sua razão de ser, e aquele que se encontra em sofrimento pode sempre dizer: “Perdoa-me, Senhor, porque pequei”. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 83)

[…] Os benefícios acabam por abrandar os mais empedernidos corações; podem ser olvidados neste mundo, mas, quando se desembaraçar do seu envoltório carnal, o Espírito que os recebeu se lembrará deles e essa lembrança será o seu castigo. Deplorará a sua ingratidão; desejará reparar a falta, pagar a dívida noutra existência, não raro buscando uma vida de dedicação ao seu benfeitor. Assim, sem o suspeitardes, tereis contribuído para o seu adiantamento moral e vireis a reconhecer a exatidão desta máxima: um benefício jamais se perde. Além disso, também por vós mesmos tereis trabalhado, porquanto granjeareis o mérito de haver feito o bem desinteressadamente e sem que as decepções vos desanimassem. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIII – p. 194-195)

Graças ao Espiritismo, compreendeis agora a justiça das provações que não decorrem dos atos da vida presente, porque reconheceis que elas são o resgate das dívidas do passado. Por que não haveria de ser assim com relação às provas coletivas? Dizeis que os infortúnios de ordem geral alcançam assim o inocente, como o culpado; mas, não sabeis que o inocente de hoje pode ser o culpado de ontem? Quer ele seja atingido individualmente, quer coletivamente, é que o mereceu. Depois, como já o dissemos, há as faltas do indivíduo e as do cidadão; a expiação de umas não isenta da expiação das outras, pois que toda dívida tem que ser paga até à última moeda. As virtudes da vida privada diferem das da vida pública. Um, que é excelente cidadão, pode ser péssimo pai de família; outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios, pode ser mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em crimes de lesa-sociedade. Essas faltas coletivas é que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se encontram de novo reunidos, para sofrerem juntos a pena de talião, ou para terem ensejo de reparar o mal que praticaram, demonstrando devotamento à causa pública, socorrendo e assistindo aqueles a quem outrora maltrataram. Assim, o que é incompreensível, inconciliável com a justiça de Deus, se torna claro e lógico mediante o conhecimento dessa lei. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Questões e problemas – p. 266-267)

[Espíritos Felizes – Samuel Philippe]

— P. Quereríeis, a bem da nossa instrução e do interesse que nos mereceis pela vossa vida exemplar, descrever como ocorreu o vosso trespasse da vida corporal para a espiritual?

— R. De bom grado, tanto mais quanto a narrativa não aproveitará somente a vós, mas a mim próprio, por isso que, dirigindo o meu pensamento para a Terra, a comparação faz-me apreciar melhor a bondade do Criador. Sabeis que de tribulações provei na vida; entretanto, jamais me faltou coragem na adversidade, graças a Deus! E hoje felicito-me! Quanta coisa perderia se houvesse desanimado! E ainda tremo ao pensar que tudo quanto sofri se anularia caso desfalecesse, tendo de recomeçar novamente as provações! Ó meus amigos, compenetrai-vos firmemente desta verdade, pois nela reside a felicidade do vosso futuro. Não é, por certo, comprar muito caro essa felicidade por alguns anos de sofrimento! Ah! Se soubésseis o que são alguns anos comparados ao infinito! Se de fato a minha última existência teve algum mérito aos vossos olhos, outro tanto não diríeis das que a precederam. E não foi senão à força de trabalho sobre mim mesmo, que me tornei o que ora sou. Para apagar os últimos traços das faltas anteriores, era-me preciso sofrer as últimas provas que voluntariamente aceitei. Foi na firmeza das minhas resoluções que escudei a resignação, a fim de sofrer sem me queixar. Hoje abençoo essas provações, pois a elas devo o ter rompido com o passado — simples recordação agora que me permite contemplar com legítima alegria o caminho percorrido.

Ó vós que me fizestes padecer na Terra, que fostes cruéis e malévolos para comigo, que me humilhastes e afligistes; vós, cuja má-fé tantas vezes me acarretou duras privações, não somente vos perdoo mas até vos agradeço. Intentando fazer mal, não suspeitáveis do bem que esse mal me proporcionaria. É verdade, portanto, que a vós devo uma grande parte da felicidade de que gozo, uma vez que me facultastes ocasião para perdoar e pagar o mal com o bem. Deus colocou-vos em meu caminho para aferir a minha paciência, exercitando-me igualmente na prática da mais difícil caridade: a de amar os inimigos. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo II – p. 174)

Não se pode duvidar de que haja famílias, cidades, nações, raças culpadas, porque, dominadas por instintos de orgulho, de egoísmo, de ambição, de cupidez, enveredam por mau caminho e fazem coletivamente o que um indivíduo faz insuladamente. Uma família se enriquece à custa de outra; um povo subjuga outro povo, levando-lhe a desolação e a ruína; uma raça se esforça por aniquilar outra raça. Essa a razão por que há famílias, povos e raças sobre os quais desce a pena de talião. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Questões e problemas – p. 269)

Os franceses de hoje são, pois, os do século passado, os da Idade Média, os dos tempos druídicos; são os exatores e as vítimas do feudalismo; os que submeteram outros povos e os que trabalharam pela emancipação deles, que se encontram na França transformada, onde uns expiam, na humilhação, o seu orgulho de raça e onde outros gozam o fruto de seus labores. Quando se consideram todos os crimes desses tempos em que a vida dos homens e a honra das famílias em nenhuma conta eram tidas, em que o fanatismo acendia fogueiras em honra da divindade; quando se pensa em todos os abusos de poder, em todas as injustiças que se cometiam com desprezo dos mais sagrados direitos, quem pode estar certo de não haver participado mais ou menos de tudo isso e admirar-se de assistir a grandes e terríveis expiações coletivas?

Mas, dessas convulsões sociais uma melhora sempre resulta; os Espíritos se esclarecem pela experiência; o infortúnio é o estimulante que os impele a procurar um remédio para o mal; na erraticidade, refletem, tomam novas resoluções e, quando voltam, fazem coisa melhor. É assim que, de geração em geração, o progresso se efetua. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Questões e problemas – p. 268-269)

DRUIDA: sacerdote celta, de grande influência política, que acumulava funções de educador e juiz. [Definição do Dicionário Online do Google]

EXATOR: que ou o que exige o que lhe é devido. [Definição do Dicionário Online do Google]

“Quem matou com a espada perecerá pela espada”, são palavras do Cristo, palavras que se podem traduzir assim: Aquele que fez correr sangue verá o seu também derramado; aquele que levou o facho do incêndio ao que era de outrem, verá o incêndio ateado no que lhe pertence; aquele que despojou será despojado; aquele que escraviza e maltrata o fraco será a seu turno escravizado e maltratado, quer se trate de um indivíduo, quer de uma nação, ou de uma raça, porque os membros de uma individualidade coletiva são solidários assim no bem como no mal que em comum praticaram. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Questões e problemas – p. 269)

Mateus 26:52

[Espíritos Sofredores – Lisbeth]

2. Pareceis sentir as falhas decorrentes de contrário procedimento… O arrependimento deverá dar-vos alívio?

— R. Não. O arrependimento é inútil quando apenas produzido pelo sofrimento. O arrependimento profícuo tem por base a mágoa de haver ofendido a Deus, e importa no desejo ardente de uma reparação. Ainda não possuo tanto, infelizmente. Recomendai-me às preces de quantos se interessam pelos sofrimentos alheios, porque delas tenho necessidade.

Nota – Este ensinamento é uma grande verdade; às vezes o sofrimento provoca um brado de arrependimento menos sincero, que não é a expressão de pesar pela prática do mal, visto como se o Espírito deixasse de sofrer, não duvidaria reencetá-la. Eis por que o arrependimento nem sempre acarreta a imediata libertação do Espírito. Predispõe-no, porém, para ela — eis tudo.

É-lhe preciso, além disso, provar a sinceridade e firmeza da resolução, por meio de novas provações reparadoras do mal praticado. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 241-242)

REENCETAR: Recomeçar, reatar: reencetar um discurso, um entendimento, uma conversação. [Definição  do Dicio – Dicionário Online de Português]

991. Qual a consequência do arrependimento no estado espiritual?

“Desejar o arrependido uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o privam de ser feliz e por isso aspira a uma nova existência em que possa expiar suas faltas.”

992. Que consequência produz o arrependimento no estado corporal?

“Fazer que, já na vida atual, o Espírito progrida, se tiver tempo de reparar suas faltas. Quando a consciência o exprobra e lhe mostra uma imperfeição, o homem pode sempre melhorar-se.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 444)

999. Basta o arrependimento durante a vida para que as faltas do Espírito se apaguem e ele ache graça diante de Deus?

“O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.”

a) Se, diante disto, um criminoso dissesse que, cumprindo-lhe, em todo caso, expiar o seu passado, nenhuma necessidade tem de se arrepender, que é o que daí lhe resultaria?

“Tornar-se mais longa e mais penosa a sua expiação, desde que ele se torne obstinado no mal.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 445-446)

550. Qual o sentido das lendas fantásticas em que figuram indivíduos que teriam vendido suas almas a Satanás para obterem certos favores?

“Todas as fábulas encerram um ensinamento e um sentido moral. O vosso erro consiste em tomá-las ao pé da letra. Isso a que te referes é uma alegoria, que se pode explicar desta maneira: aquele que chama em seu auxílio os Espíritos, para deles obter riquezas, ou qualquer outro favor, rebela-se contra a Providência; renuncia à missão que recebeu e às provas que lhe cumpre suportar neste mundo. Sofrerá na vida futura as consequências desse ato. Não quer isto dizer que sua alma fique para sempre condenada à desgraça, mas, desde que, em lugar de se desprender da matéria, nela cada vez se enterra mais, não terá, no mundo dos Espíritos, a satisfação de que haja gozado na Terra, até que tenha resgatado a sua falta, por meio de novas provas, talvez maiores e mais penosas. Coloca-se, por amor dos gozos materiais, na dependência dos Espíritos impuros. Estabelece-se assim, tacitamente, entre estes e ele, o Espírito delinquente, um pacto que o leva à sua perda, mas que lhe será sempre fácil romper, se o quiser firmemente, granjeando a assistência dos bons Espíritos.”

551. Pode um homem mau, com o auxílio de um mau Espírito que lhe seja dedicado, fazer mal ao seu próximo?

“Não; Deus não o permitiria.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 266-267)

[Criminosos Arrependidos – Latour]

[…] ao culpado não basta o arrependimento apenas, sendo este o primeiro passo para a reabilitação que atrai a divina Misericórdia. O arrependimento é o prelúdio do perdão, o alívio dos sofrimentos, mas porque Deus não absolve incondicionalmente, faz-se mister a expiação, e principalmente a reparação. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 320)

PRELÚDIO: ato preliminar, primeiro passo para (alguma coisa) [Definição do Dicionário Online do Google]

1Allan Kardec – O Livro dos Médiuns. Que deve fazer aquele que, em artigo de morte, reconhece suas faltas, quando já não tem tempo de as reparar? Basta-lhe nesse caso arrepender-se?

“O arrependimento lhe apressa a reabilitação, mas não o absolve. Diante dele não se desdobra o futuro, que jamais se lhe tranca?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 447)

27. […] Já vos temos dito e repetido muitíssimas vezes que estais nessa Terra de expiação para concluirdes as vossas provas e que tudo que vos sucede é consequência das vossas existências anteriores, são os juros da dívida que tendes de pagar. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 100)

663. Podem as preces, que por nós mesmos fizermos, mudar a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso?

“As vossas provas estão nas mãos de Deus e algumas há que têm de ser suportadas até o fim, mas Deus sempre leva em conta a resignação. A prece traz para junto de vós os bons Espíritos e, dando-vos estes a força de suportá-las corajosamente, menos rudes elas vos parecem. Hemos dito que a prece nunca é inútil quando benfeita, porque fortalece aquele que ora, o que já constitui grande resultado. Ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará, bem o sabes. Ademais, não é possível que Deus mude a ordem da natureza ao sabor de cada um, porquanto o que, do vosso ponto de vista mesquinho e do da vossa vida efêmera, vos parece um grande mal é quase sempre um grande bem na ordem geral do Universo. Além disso, de quantos males não se constitui o homem o próprio autor, pela sua imprevidência ou pelas suas faltas? Ele é punido naquilo em que pecou. Todavia, as súplicas justas são atendidas mais vezes do que supondes. Julgais, de ordinário, que Deus não vos ouve, porque não faz a vosso favor um milagre, enquanto vos assiste por meios tão naturais que vos parecem obra do acaso ou da força das coisas. Muitas vezes também, as mais das vezes mesmo, ele vos sugere a ideia que vos fará sair da dificuldade pelo vosso próprio esforço.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 309)

25. Quando um Espírito empregou mal uma existência, isto é, quando nenhum progresso realizou na senda do bem, essa existência lhe resulta sem proveito, ele tem que a recomeçar em condições mais ou menos penosas, por efeito da sua negligência ou má vontade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Profissão de fé espírita raciocinada – p. 48)

[Expiações terrestres – Pierre Jouty, pai do médium]

Instrução de um Espírito sobre os idiotas e os cretinos, dada na Sociedade de Paris

Os idiotas são os seres castigados pelo mau uso de poderosas faculdades; almas encarceradas em corpos cujos órgãos impotentes não podem exprimir seus pensamentos. Esse mutismo moral e físico constitui uma das mais cruéis punições terrenas, muitas vezes escolhidas por Espíritos arrependidos e desejosos de resgatar suas faltas. A provação nem por isso é improfícua, porque o Espírito não fica estacionário na prisão carnal; esses olhos estúpidos veem, esses cérebros deprimidos concebem, conquanto nada possam traduzir pela palavra e pelo olhar. Excetuada a mobilidade, o seu estado é o de letárgicos ou catalépticos, que veem e ouvem sem, contudo, poderem exprimir-se. Quando tendes esses horríveis pesadelos, durante os quais procurais fugir de um perigo, gritando, clamando, não obstante a imobilidade do vosso corpo como da vossa língua; quando tal sucede, dizemos, a vossa sensação é idêntica a dos idiotas. É a paralisia do corpo ligada à vida do Espírito.

[…]

A loucura não é das Leis divinas, pois resultando materialmente da ignorância, da sordidez e da miséria, pode o homem debelá-la. Os modernos recursos da higiene, que a Ciência hoje executa e a todos faculta, tende a destruí-la. Sendo o progresso condição expressa da humanidade, as provações tendem a modificar-se, acompanhando a evolução dos séculos. Dia virá em que as provações devam ser todas morais; e quando a Terra, nova ainda, houver preenchido todas as fases da sua existência, então se transformará em morada de felicidade, como se dá com os planetas mais adiantados. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VIII – p. 363-364)

SORDIDEZ: ambiente de degeneração moral. [Definição do Dicionário Online do Google]

DEBELAR: anular ação ou efeito de (algo considerado maléfico); extinguir, reprimir, suplantar.  [Definição do Dicionário Online do Google]

IDIOTAS E CRETINOS: Para Kardec, o cretino “[…] é um Espírito encarnado num corpo, cujos órgãos, atrofiados desde o princípio, jamais lhe permitiram manifestar livremente o pensamento; está na situação de um homem forte e vigoroso a quem tivessem tirado a liberdade de movimentos.” [Revista Espírita, Setembro de 1864 – Influência da Música sobre os Criminosos, os Loucos e os Idiotas – p. 355]

135. Por que há homens idiotas e imbecis?

A posição dos idiotas e dos imbecis seria a menos conciliável com a Justiça de Deus, na hipótese da unicidade da existência. Por miserável que seja a condição em que o homem nasça, ele poderá sair dela por sua inteligência e trabalho; o idiota e o imbecil, porém, são votados, desde o nascimento até a morte, ao embrutecimento e ao desprezo; para eles não há compensação possível. Por que foi, então, sua alma criada idiota?

Os estudos espíritas, feitos acerca dos imbecis e idiotas, provam que suas almas são tão inteligentes como as dos outros homens; que essa enfermidade é uma expiação infligida a Espíritos que abusaram da inteligência, e sofrem cruelmente por se sentirem presos, em laços que não podem quebrar, e pelo desprezo de que se veem objeto, quando, talvez, tenham sido tão considerados em encarnação precedente. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III –  p. 165-166)

373. Qual será o mérito da existência de seres que, como os cretinos e os idiotas, não podendo fazer o bem nem o mal, se acham incapacitados de progredir?

“É uma expiação decorrente do abuso que fizeram de certas faculdades. É um estacionamento temporário.”

a) Pode assim o corpo de um idiota conter um Espírito que tenha animado um homem de gênio em precedente existência?

“Certo. O gênio se torna por vezes um flagelo, quando dele abusa o homem.”

Nota – A superioridade moral nem sempre guarda proporção com a superioridade intelectual e os grandes gênios podem ter muito que expiar. Daí, frequentemente, lhes resulta uma existência inferior à que tiveram e uma causa de sofrimentos. Os embaraços que o Espírito encontra para suas manifestações se lhe assemelham às algemas que tolhem os movimentos a um homem vigoroso. Pode dizer-se que os cretinos e os idiotas são estropiados do cérebro, como o coxo o é das pernas e dos olhos o cego. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VII – p. 202-203)

A alma dos cretinos e dos idiotas é da mesma natureza que a de qualquer outro encarnado; possuem, muitas vezes, grande inteligência; sofrem pela deficiência dos meios de que dispõem para entrar em relação com os seus companheiros de existência, como os mudos sofrem por não poderem falar. É que abusaram da inteligência em existências pretéritas e aceitaram voluntariamente a situação de impotência para usar dela, a fim de expiarem o mal que praticaram, etc., etc. (Allan Kardec – Obras Póstumas – As cinco alternativas da humanidade – p. 246)

25. Se a existência atual fosse a única e devesse sozinha decidir sobre o futuro da alma para a eternidade, qual seria o futuro das crianças que morressem em tenra idade? Não tendo feito nem bem nem mal, elas não merecem nem recompensas nem punições. Conforme a palavra do Cristo, sendo cada um recompensado de acordo com suas obras, elas não têm direito à felicidade perfeita dos anjos, nem merecem dela serem privadas. Diga-se que poderão, em outra existência, realizar o que não conseguiram naquela que foi abreviada, e não há mais exceções.

26. Pelo mesmo motivo, qual seria o futuro dos cretinos e dos idiotas? Não tendo consciência alguma do bem e do mal, não têm responsabilidade pelos seus atos. Deus seria bom e justo ao criar almas em que falta a inteligência comum, destiná-las a uma existência miserável e sem compensações. Admita-se, por outro lado, que a alma do idiota e do cretino é um Espírito em processo de expiação num corpo impossibilitado de exprimir o seu pensamento, como se fosse um homem robusto e que estivesse amarrado por laços, e não se terá mais nada que não seja na conformidade com a justiça de Deus. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 36-37)

158. Qual, na vida futura, a sorte das crianças que morrem em tenra idade?

Esta questão é uma das que melhor provam a justiça e a necessidade da pluralidade das existências. Uma alma que só tiver vivido alguns instantes, sem fazer nem bem nem mal, não pode merecer prêmio nem castigo, pois, segundo a máxima do Cristo — cada um é punido ou recompensado conforme suas obras — é tão ilógico como contrário à Justiça de Deus admitir-se que, sem trabalho, essa alma seja chamada a gozar da bem-aventurança dos anjos, ou que desta se veja privada; entretanto, ela deve ter um destino qualquer. Um estado misto, por toda a eternidade, seria igualmente uma injustiça. Uma existência logo em começo interrompida, não podendo, pois, ter consequência alguma para a alma, tem por sorte atual o que mereceu da existência anterior, e futuramente o que vier a merecer em suas existências ulteriores. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 174)

26. […] As provas têm por fim exercitar a inteligência, tanto quanto a paciência e a resignação. Pode dar-se que um homem nasça em posição penosa e difícil, precisamente para se ver obrigado a procurar meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em sofrer, sem murmurar, as consequências dos males que lhe não seja possível evitar, em perseverar na luta, em se não desesperar, se não é bem-sucedido; nunca, porém, numa negligência que seria mais preguiça do que virtude. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 99)

As lutas, aliás, são necessárias para fortalecer a alma; o contato com o mal faz que melhor se apreciem as vantagens do bem. Sem as lutas, que estimulam as faculdades, o Espírito se entregaria a uma despreocupação funesta ao seu adiantamento. As lutas contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência; as lutas contra o mal desenvolvem as forças morais. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A minha primeira iniciação no Espiritismo – p. 396)

[Expiações terrestres – Françoise Vernhes [cega de nascimento]]

— P. Quereis dizer-nos que luz seria essa a guiar-vos naquela noite trevosa e só vista por vós?

— R. Quê! Pois as pessoas como vós, em contínuas relações com os Espíritos, têm necessidade de explicação sobre tal fato? Era o meu anjo de guarda quem me guiava.

[…]

“Aqueles que pecam pelos olhos, por eles devem ser punidos; e assim deve suceder quanto a todas as outras faculdades do homem, que o levam ao abuso. Não procureis, portanto, nos inúmeros sofrimentos humanos, outra causa que lhes não seja a própria e natural, a expiação.”

“Esta, contudo, só é meritória quando suportada com humildade, podendo ser suavizada por meio da prece, pela atração de influências espirituais que, protegendo os réus da penitenciária humana, lhes infundam esperança e conforto.” (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VIII – p. 371)

[Expiações terrestres – Clara Rivier]

2. Tão jovem quando encarnada, donde vos vinham as elevadas ideias sobre a vida futura, manifestadas neste mundo?

— R. Do pouco tempo que me cumpria passar no vosso planeta e da minha precedente encarnação. Eu era médium tanto ao deixar como ao voltar à Terra; predestinada, sentia e via o que dizia.

3. Como se explica que uma criança da vossa idade [10 anos] não desse um só gemido durante quatro anos de sofrimento?

— R. Porque esse sofrimento físico era dominado por maior potência — a do meu guia, continuamente visível ao meu lado. Ele, ao mesmo tempo que me aliviava, sabia incutir-me uma força de vontade superior aos sofrimentos.

4. Como vos apercebestes do momento decisivo da morte?

— R. Por influxo do meu anjo de guarda, que jamais me iludiu.

[…]

8. Qual a razão dos vossos sofrimentos mortificantes numa idade tão infantil?

— R. Faltas anteriores, expiação. Na precedente existência eu abusara da saúde, como da posição brilhante que ocupara. Eis por que Deus me disse: “Gozaste demasiada e desmesuradamente, portanto, pagarás a diferença; eras orgulhosa, logo, serás humilde; vaidosa da tua beleza, importa que dela decaias, esforçando-te antes por adquirir a caridade e a bondade.” Procedi consoante a vontade divina e o meu guia me auxiliou. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VIII – p. 368-369)

8. […] Há ricos e pobres, porque sendo Deus justo, como é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 221)

7. […] Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 219)

134. Por que nascem alguns na indigência e outros na opulência? Por que vemos tantas pessoas nascerem cegas, surdas, mudas ou afetadas de moléstias incuráveis, quando outras possuem todas as vantagens físicas? Será um efeito do acaso, ou um ato da Providência?

Se fosse do acaso, a Providência não existiria. Admitida, porém, a Providência, perguntamos como se conciliam esses fatos com a sua bondade e justiça? É por falta de compreensão da causa de tais males que muitos se arrojam a acusar Deus.

Compreende-se que quem se torna miserável ou enfermo, por suas imprudências ou por excessos, seja punido por onde pecou: porém, se a alma é criada ao mesmo tempo que o corpo, que fez ela para merecer tais aflições, desde o seu nascimento, ou para ficar isenta delas?

Se admitimos a Justiça de Deus, não podemos deixar de admitir que esse efeito tem uma causa; e se esta causa não se encontra na vida presente, deve achar-se antes desta, porque em todas as coisas a causa deve preceder ao efeito; há, pois, necessidade de a alma já ter vivido, para que possa merecer uma expiação. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p.164-165)

ARROJAR: lançar(-se) com ímpeto ou força. [Definição do Dicionário Online do Google]

261. Nas provações por que lhe cumpre passar para atingir a perfeição, tem o Espírito que sofrer tentações de todas as naturezas? Tem que se achar em todas as circunstâncias que possam excitar-lhe o orgulho, a inveja, a avareza, a sensualidade etc.?

“Certo que não, pois bem sabeis haver Espíritos que desde o começo tomam um caminho que os exime de muitas provas. Aquele, porém, que se deixa arrastar para o mau caminho, corre todos os perigos que o inçam. Pode um Espírito, por exemplo, pedir a riqueza e ser-lhe esta concedida. Então, conforme o seu caráter, poderá tornar-se avaro ou pródigo, egoísta ou generoso, ou ainda lançar-se a todos os gozos da sensualidade. Daí não se segue, entretanto, que haja de forçosamente passar por todas estas tendências.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 170)

INÇAR: espalhar(-se) por; cobrir, encher. [Definição do Dicionário Online do Google]

807. Que se deve pensar dos que abusam da superioridade de suas posições sociais, para, em proveito próprio, oprimir os fracos?

“Merecem anátema! Ai deles! Serão, a seu turno, oprimidos: renascerão numa existência em que terão de sofrer tudo o que tiverem feito sofrer aos outros.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IX – p. 365)

815. Qual das duas provas é mais terrível para o homem, a da desgraça ou a da riqueza?

“São-no tanto uma quanto outra. A miséria provoca as queixas contra a Providência, a riqueza incita a todos os excessos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IX – p. 367)

816. Estando o rico sujeito a maiores tentações, também não dispõe, por outro lado, de mais meios de fazer o bem?

“Mas é justamente o que nem sempre faz. Torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável. Com a riqueza, suas necessidades aumentam e ele nunca julga possuir o bastante para si unicamente.”

Nota – A alta posição do homem neste mundo e o ter autoridade sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e tão escorregadias como a desgraça, porque, quanto mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações tem que cumprir e tanto mais abundantes são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder.

A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus disse: “Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus”. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IX – p. 367)

Mateus 19:24.

850. A posição social não constitui às vezes, para o homem, obstáculo à inteira liberdade de seus atos?

“É fora de dúvida que o mundo tem suas exigências. Deus é justo e tudo leva em conta. Deixa-vos, entretanto, a responsabilidade de nenhum esforço empregardes para vencer os obstáculos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 377)

863. Os costumes sociais não obrigam muitas vezes o homem a enveredar por um caminho de preferência a outro e não se acha ele submetido à direção da opinião geral, quanto à escolha de suas ocupações? O que se chama respeito humano não constitui óbice ao exercício do livre-arbítrio?

“São os homens e não Deus quem faz os costumes sociais. Se eles a estes se submetem, é porque lhes convêm. Tal submissão, portanto, representa um ato de livre-arbítrio, pois que, se o quisessem, poderiam libertar-se de semelhante jugo. Por que, então, se queixam? Falece-lhes razão para acusarem os costumes sociais. A culpa de tudo devem lançá-la ao tolo amor-próprio de que vivem cheios e que os faz preferirem morrer de fome a infringi-los. Ninguém lhes leva em conta esse sacrifício feito à opinião pública, ao passo que Deus lhes levará em conta o sacrifício que fizerem de suas vaidades. Não quer isto dizer que o homem deva afrontar sem necessidade aquela opinião, como fazem alguns em quem há mais originalidade do que verdadeira filosofia. Tanto desatino há em procurar alguém ser apontado a dedo, ou considerado animal curioso, quanto acerto em descer voluntariamente e sem murmurar, desde que não possa manter-se no alto da escala.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 381-382)

864. Assim como há pessoas a quem a sorte em tudo é contrária, outras parecem favorecidas por ela, pois que tudo lhes sai bem. A que atribuir isso?

“De ordinário, é que essas pessoas sabem conduzir-se melhor nas suas empresas, mas também pode ser um gênero de prova. O bom êxito as embriaga; fiam-se no seu destino e muitas vezes pagam mais tarde esse bom êxito, mediante revezes cruéis, que a prudência as teria feito evitar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 382)

865. Como se explica que a boa sorte favoreça a algumas pessoas em circunstâncias com as quais nada têm que ver a vontade, nem a inteligência: no jogo, por exemplo?

“Alguns Espíritos hão escolhido previamente certas espécies de prazer. A fortuna que os favorece é uma tentação. Aquele que, como homem, ganha, perde como Espírito. É uma prova para o seu orgulho e para a sua cupidez.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 382)

866. Então, a fatalidade que parece presidir aos destinos materiais de nossa vida também é resultante do nosso livre-arbítrio?

“Tu mesmo escolheste a tua prova. Quanto mais rude ela for e melhor a suportares, tanto mais te elevarás. Os que passam a vida na abundância e na ventura humana são Espíritos pusilânimes, que permanecem estacionários. Assim, o número dos desafortunados é muito superior ao dos felizes deste mundo, atento que os Espíritos, na sua maioria, procuram as provas que lhes sejam mais proveitosas. Eles veem perfeitamente bem a futilidade das vossas grandezas e gozos. Acresce que a mais ditosa existência é sempre agitada, sempre perturbada, quando mais não seja, pela ausência da dor.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 382-383)

896. Há pessoas desinteressadas, mas sem discernimento, que prodigalizam seus haveres sem utilidade real, por lhes não saberem dar emprego criterioso. Têm algum merecimento essas pessoas?

“Têm o do desinteresse, porém, não o do bem que poderiam fazer. O desinteresse é uma virtude, mas a prodigalidade irrefletida constitui sempre, pelo menos, falta de juízo. A riqueza, assim como não é dada a uns para ser aferrolhada num cofre forte, também não o é a outros para ser dispersada ao vento. Representa um depósito de que uns e outros terão de prestar contas, porque terão de responder por todo o bem que podiam fazer e não fizeram, por todas as lágrimas que podiam ter estancado com o dinheiro que deram aos que dele não precisavam.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 398-399)

PRODIGALIZAR: gastar em profusão; dissipar, dilapidar. [Definição do Dicionário Online do Google]

52. A riqueza representa um depósito cujo proprietário é um usufrutuário; posto que não poderá levá-lo consigo para o túmulo, e do qual terá que prestar rigorosa conta de seu uso. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 43)

925. Por que favorece Deus, com os dons da riqueza, a certos homens que não parecem tê-los merecido?

“Isso significa um favor aos olhos dos que apenas veem o presente, mas, fica sabendo, a riqueza é, de ordinário, prova mais perigosa do que a miséria.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 415)

53. A riqueza é uma prova mais difícil do que a miséria, porque é uma tentação aos abusos e excessos. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 43)

54. Tanto o ambicioso que triunfa quanto o rico que vive apenas dos prazeres materiais são mais dignos de pena do que de inveja, pois certamente terão de passar por outras situações de retorno. Os exemplos que colhemos daqueles que retornam para contar sobre a sua sorte, mostra a verdade desta afirmação do Cristo: “Todo aquele que humilhar será rebaixado e todo aquele que for humilhado será elevado.” (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 43-44)

705. Por que nem sempre a Terra produz bastante para fornecer ao homem o necessário?

“É que, ingrato, o homem a despreza! Ela, no entanto, é excelente mãe. Muitas vezes, também, ele acusa a Natureza do que só é resultado da sua imperícia ou da sua imprevidência. A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário. Olha o árabe no deserto. Acha sempre de que viver, porque não cria para si necessidades factícias. Desde que haja desperdiçado a metade dos produtos em satisfazer a fantasias, que motivos tem o homem para se espantar de nada encontrar no dia seguinte e para se queixar de estar desprovido de tudo, quando chegam os dias de penúria? Em verdade vos digo, imprevidente não é a Natureza, é o homem, que não sabe regrar o seu viver.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 328)

707. É frequente a certos indivíduos faltarem os meios de subsistência, ainda quando os cerca a abundância. A que se deve atribuir isso?

“Ao egoísmo dos homens, que nem sempre fazem o que lhes cumpre. Depois e as mais das vezes, devem-no a si mesmos. Buscai e achareis; estas palavras não querem dizer que, para achar o que deseje, basta que o homem olhe para a terra, mas que lhe é preciso procurá-lo, não com indolência, e sim com ardor e perseverança, sem desanimar ante os obstáculos, que muito amiúde são simples meios de que se utiliza a Providência, para lhe experimentar a constância, a paciência e a firmeza.”

Nota – Se é certo que a civilização multiplica as necessidades, também o é que multiplica as fontes de trabalho e os meios de viver. Forçoso, porém, é convir em que, a tal respeito, muito ainda lhe resta por fazer. Quando ela houver concluído a sua obra, ninguém deverá haver que possa queixar-se de lhe faltar o necessário, a não ser por sua própria culpa. A desgraça, para muitos, provém de enveredar por uma senda diversa da que a Natureza lhes traçou. É então que lhes falece a inteligência para o bom êxito. Para todos há lugar ao sol, mas com a condição de que cada um ocupe o seu e não o dos outros. A Natureza não pode ser responsável pelos defeitos da organização social, nem pelas consequências da ambição e do amor-próprio.

Fora preciso, entretanto, ser-se cego, para se não reconhecer o progresso que, por esse lado, têm feito os povos mais adiantados. Graças aos louváveis esforços que, juntas, a Filantropia e a Ciência não cessam de despender para melhorar a condição material dos homens e malgrado o crescimento incessante das populações, a insuficiência da produção se acha atenuada, pelo menos em grande parte, e os anos mais calamitosos do presente não se podem de modo algum comparar aos de outrora. A higiene pública, elemento tão essencial da força e da saúde, a higiene pública, que nossos pais não conheceram, é objeto de esclarecida solicitude. O infortúnio e o sofrimento encontram onde se refugiem. Por toda parte a Ciência contribui para acrescer o bem-estar. Poder-se-á dizer que já se haja chegado à perfeição? Oh! não, certamente; mas o que já se fez deixa prever o que, com perseverança, se logrará conseguir, se o homem se mostrar bastante avisado para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e sérias e não em utopias que o levam a recuar em vez de fazê-lo avançar.(Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 328-329)

708. Não há situações nas quais os meios de subsistência de maneira alguma dependem da vontade do homem, sendo-lhe a privação do de que mais imperiosamente necessita uma consequência da força mesma das coisas?

“É isso uma prova, muitas vezes cruel, que lhe compete sofrer e à qual sabia ele de antemão que viria a estar exposto. Seu mérito então consiste em submeter-se à vontade de Deus, desde que a sua inteligência nenhum meio lhe faculta de sair da dificuldade. Se a morte vier colhê-lo, cumpre-lhe recebê-la sem murmurar, ponderando que a hora da verdadeira libertação soou e que o desespero no derradeiro momento pode ocasionar-lhe a perda do fruto de toda a sua resignação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Terceira – Capítulo V – p. 329-330)

709. Terão cometido crime os que, em certas situações críticas, se viram na contingência de sacrificar seus semelhantes, para matar a fome? Se houve crime, não teve este a atenuá-lo a necessidade de viver, que resulta do instinto de conservação?

“Já respondi, quando disse que há mais merecimento em sofrer todas as provações da vida com coragem e abnegação. Em tal caso, há homicídio e crime de lesa-natureza, falta que é duplamente punida.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 330)

712. Com que fim pôs Deus atrativos no gozo dos bens materiais?

“Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e para experimentá-lo por meio da tentação.”

a) Qual o objetivo dessa tentação?

“Desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos excessos.”

Nota – Se o homem só fosse instigado a usar dos bens terrenos pela utilidade que têm, sua indiferença houvera talvez comprometido a harmonia do Universo. Deus imprimiu a esse uso o atrativo do prazer, porque assim é o homem impelido ao cumprimento dos desígnios providenciais. Além disso, porém, dando àquele uso esse atrativo, quis Deus também experimentar o homem por meio da tentação, que o arrasta para o abuso, de que deve a razão defendê-lo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 330)

713. Traçou a Natureza limites aos gozos?

“Traçou, para vos indicar o limite do necessário; mas, pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 331)

714. Que se deve pensar do homem que procura nos excessos de todo gênero o requinte dos gozos?

“Pobre criatura! mais digna é de lástima que de inveja, pois bem perto está da morte!”

a) Perto da morte física, ou da morte moral?

“De ambas.”

Nota – O homem, que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo, coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade. Abdica da razão que Deus lhe deu por guia e quanto maiores forem seus excessos, tanto maior preponderância confere ele à sua natureza animal sobre a sua natureza espiritual. As doenças, as enfermidades e, ainda, a morte, que resultam do abuso, são, ao mesmo tempo, o castigo à transgressão da lei de Deus. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 331)

715. Como pode o homem conhecer o limite do necessário?

“Aquele que é ponderado o conhece por intuição. Muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 331)

717. Que se há de pensar dos que açambarcam os bens da Terra para se proporcionarem o supérfluo, com prejuízo daqueles a quem falta o necessário?

“Olvidam a lei de Deus e terão que responder pelas privações que houverem causado aos outros.”

Nota – Nada tem de absoluto o limite entre o necessário e o supérfluo. A civilização criou necessidades que o selvagem desconhece e os Espíritos que ditaram os preceitos acima não pretendem que o homem civilizado deva viver como o selvagem. Tudo é relativo, cabendo à razão regrar as coisas. A civilização desenvolve o senso moral e, ao mesmo tempo, o sentimento de caridade, que leva os homens a se prestarem mútuo apoio. Os que vivem à custa das privações dos outros exploram, em seu proveito, os benefícios da civilização. Desta têm apenas o verniz, como muitos há que da religião só têm a máscara. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 331-332)

AÇAMBARCAR: tomar com exclusividade; chamar a si (algo), privando os outros de desfrutarem da mesma vantagem; monopolizar. [Definição do Dicionário Online do Google]

735. Que se deve pensar da destruição, quando ultrapassa os limites que as necessidades e a segurança traçam? Da caça, por exemplo, quando não objetiva senão o prazer de destruir sem utilidade?

“Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus. Os animais só destroem para satisfação de suas necessidades; enquanto o homem, dotado de livre-arbítrio, destrói sem necessidade. Terá que prestar contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois isso significa que cede aos maus instintos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 337)

926. Criando novas necessidades, a civilização não constitui uma fonte de novas aflições?

“Os males deste mundo estão na razão das necessidades factícias que vós criais. A muitos desenganos se poupa nesta vida aquele que sabe restringir seus desejos e olha sem inveja para o que esteja acima de si. O que menos necessidades tem, esse o mais rico.

Invejais os gozos dos que vos parecem os felizes do mundo. Sabeis, porventura, o que lhes está reservado? Se os seus gozos são todos pessoais, pertencem eles ao número dos egoístas: o reverso então virá. Deveis, de preferência, lastimá-los. Deus algumas vezes permite que o mau prospere, mas a sua felicidade não é de causar inveja, porque com lágrimas amargas a pagará. Quando um justo é infeliz, isso representa uma prova que lhe será levada em conta, se a suportar com coragem. Lembrai-vos destas palavras de Jesus: ‘Bem-aventurados os que sofrem, pois que serão consolados’.” 

927. Não há dúvida que, à felicidade, o supérfluo não é forçosamente indispensável, porém o mesmo não se dá com o necessário. Ora, não será real a infelicidade daqueles a quem falta o necessário?

“Verdadeiramente infeliz o homem só o é quando sofre da falta do necessário à vida e à saúde do corpo. Todavia, pode acontecer que essa privação seja de sua culpa. Então, só tem que se queixar de si mesmo. Se for ocasionada por outrem, a responsabilidade recairá sobre aquele que lhe houver dado causa.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 415)

929. Pessoas há, que, baldas de todos os recursos, embora no seu derredor reine a abundância, só têm diante de si a perspectiva da morte. Que partido devem tomar? Devem deixar-se morrer de fome?

“Nunca ninguém deve ter a ideia de deixar-se morrer de fome. O homem acharia sempre meio de se alimentar, se o orgulho não se colocasse entre a necessidade e o trabalho. Costuma-se dizer: ‘Não há ofício desprezível; o seu estado não é o que desonra o homem’. Isso, porém, cada um diz para os outros e não para si.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 416)

930. É evidente que, se não fossem os preconceitos sociais, pelos quais se deixa o homem dominar, ele sempre acharia um trabalho qualquer, que lhe proporcionasse meio de viver, embora pudesse deslocá-lo da sua posição. Entre os que não têm preconceitos ou os põem de lado, porém, não há pessoas que se veem na impossibilidade de prover às suas necessidades, em consequência de moléstias ou outras causas independentes da vontade delas?

“Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome.”

Nota – Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem só por culpa sua pode faltar o necessário, porém suas próprias faltas são frequentemente resultado do meio onde se acha colocado. Quando praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e ele próprio também será melhor. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 416-417)

933. Assim como, quase sempre, é o homem o causador de seus sofrimentos materiais, também o será de seus sofrimentos morais?

“Mais ainda, porque os sofrimentos materiais algumas vezes independem da vontade; mas o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, numa palavra, são torturas da alma.

A inveja e o ciúme! felizes os que desconhecem estes dois vermes roedores! Para aquele que a inveja e o ciúme atacam, não há calma, nem repouso possíveis. À sua frente, como fantasmas que lhe não dão tréguas e o perseguem até durante o sono, se levantam os objetos de sua cobiça, do seu ódio, do seu despeito. O invejoso e o ciumento vivem ardendo em contínua febre. Será essa uma situação desejável e não compreendeis que, com as suas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários, tornando-se-lhe a Terra verdadeiro inferno?”

Nota – Muitas expressões pintam energicamente o efeito de certas paixões. Diz-se: ímpar de orgulho, morrer de inveja, secar de ciúme ou de despeito, não comer nem beber de ciúmes etc. Este quadro é sumamente real. Acontece até não ter o ciúme objeto determinado. Há pessoas ciumentas, por natureza, de tudo o que se eleva, de tudo o que sai da craveira vulgar, embora nenhum interesse direto tenham, mas unicamente porque não podem conseguir outro tanto. Ofusca-as tudo o que lhes parece estar acima do horizonte e, se constituíssem maioria na sociedade, trabalhariam para reduzir tudo ao nível em que se acham. É o ciúme aliado à mediocridade.

De ordinário, o homem só é infeliz pela importância que liga às coisas deste mundo. Fazem-lhe a infelicidade a vaidade, a ambição e a cobiça desiludidas. Se se colocar fora do círculo acanhado da vida material, se elevar seus pensamentos para o infinito, que é seu destino, mesquinhas e pueris lhe parecerão as vicissitudes da humanidade, como o são as tristezas da criança que se aflige pela perda de um brinquedo, que resumia a sua felicidade suprema.

Aquele que só vê felicidade na satisfação do orgulho e dos apetites grosseiros é infeliz, desde que não os pode satisfazer, ao passo que aquele que nada pede ao supérfluo é feliz com os que outros consideram calamidades.

Referimo-nos ao homem civilizado, porquanto, o selvagem, sendo mais limitadas as suas necessidades, não tem os mesmos motivos de cobiça e de angústias. Diversa é a sua maneira de ver as coisas. Como civilizado, o homem raciocina sobre a sua infelicidade e a analisa. Por isso é que esta mais o fere, mas também lhe é facultado raciocinar sobre os meios de obter consolação e de analisá-los. Essa consolação ele a encontra no sentimento cristão, que lhe dá a esperança de melhor futuro, e no Espiritismo, que lhe dá a certeza desse futuro. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 417-418)

934. A perda dos entes que nos são caros não constitui para nós legítima causa de dor, tanto mais legítima quanto é irreparável e independente da nossa vontade?

“Essa causa de dor atinge assim o rico, como o pobre: representa uma prova, ou expiação, e comum é a lei. Tendes, porém, uma consolação em poderdes comunicar-vos com os vossos amigos pelos meios que vos estão ao alcance, enquanto não dispondes de outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 418-419)

27. […] É certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus; dar-se-á, porém, conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos irmãos: “Não irás mais longe?” Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: “É a Justiça de Deus, importa que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substituí-lo pela paz.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 100-101)

855. Com que fim nos faz a Providência correr perigos que nenhuma consequência devem ter?

“O fato de ser a tua vida posta em perigo constitui um aviso que tu mesmo desejaste, a fim de te desviares do mal e te tornares melhor. Se escapas desse perigo, quando ainda sob a impressão do risco que correste, cogitas, mais ou menos seriamente, de te melhorares, conforme seja mais ou menos forte sobre ti a influência dos Espíritos bons. Sobrevindo o mau Espírito (digo mau, subentendendo o mal que ainda existe nele), entras a pensar que do mesmo modo escaparás a outros perigos e deixas que de novo tuas paixões se desencadeiem. Por meio dos perigos que correis, Deus vos lembra a vossa fraqueza e a fragilidade da vossa existência. Se examinardes a causa e a natureza do perigo, verificareis que, quase sempre, suas consequências teriam sido a punição de uma falta cometida ou da negligência no cumprimento de um dever. Deus, por essa forma, exorta o Espírito a cair em si e a se emendar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 378-379)

34. […] Pelos perigos que corremos, Deus nos adverte da nossa fraqueza e da fragilidade da nossa existência. Mostra-nos que entre suas mãos está a nossa vida e que ela se acha presa por um fio que se pode romper no momento em que menos o esperamos. Sob esse aspecto, não há privilégio para ninguém, pois que às mesmas alternativas se encontram sujeitos assim o grande como o pequeno.

Se examinarmos a natureza e as consequências do perigo, veremos que estas, as mais das vezes, se se verificassem, teriam sido a punição de uma falta cometida, ou da falta do cumprimento de um dever. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 345)

36. […] Pelo perigo que tenhamos corrido, mostra-nos Deus que, de um momento para outro, podemos ser chamados a prestar contas do modo por que utilizamos a vida. Avisa-nos, assim, que devemos tomar tento e emendar-nos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 346)

269. Pode o Espírito enganar-se quanto à eficiência da prova que escolheu?

“Pode escolher uma que esteja acima de suas forças e sucumbir. Pode também escolher alguma que nada lhe aproveite, como sucederá se buscar vida ociosa e inútil. Mas, então, voltando ao mundo dos Espíritos, verifica que nada ganhou e pede outra que lhe faculte recuperar o tempo perdido.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 174)

904. Incorrerá em culpa aquele que sonda as chagas da sociedade e as expõe em público?

“Depende do sentimento que o mova. Se o escritor apenas visa produzir escândalo, não faz mais do que proporcionar a si mesmo um gozo pessoal, apresentando quadros que constituem antes mau do que bom exemplo. O Espírito aprecia isso, mas pode vir a ser punido por essa espécie de prazer que encontra em revelar o mal.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 401)

905. Alguns autores hão publicado belíssimas obras de grande moral, que auxiliam o progresso da Humanidade, das quais, porém, nenhum proveito tiraram eles. Ser-lhes-á levado em conta, como Espíritos, o bem a que suas obras hajam dado lugar?

“A moral sem as ações é o mesmo que a semente sem o trabalho. De que vos serve a semente, se não a fazeis dar frutos que vos alimentem? Grave é a culpa desses homens, porque dispunham de inteligência para compreender. Não praticando as máximas que ofereciam aos outros, renunciaram a colher-lhes os frutos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 402)

17. Se vossa mão é causa de escândalo, cortai-a. Figura enérgica esta, que seria absurda se tomada ao pé da letra, e que apenas significa que cada um deve destruir em si toda causa de escândalo, isto é, de mal; arrancar do coração todo sentimento impuro e toda tendência viciosa. Quer dizer também que, para o homem, mais vale ter cortada uma das mãos, antes que servir essa mão de instrumento para uma ação má; ficar privado da vista, antes que lhe servirem os olhos para conceber maus pensamentos. Jesus nada disse de absurdo, para quem quer que apreenda o sentido alegórico e profundo de suas palavras. Muitas coisas, entretanto, não podem ser compreendidas sem a chave que para as decifrar o Espiritismo faculta. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 130)

Mateus 18:8

20. […] Oh! bem-aventurado o cego que quer viver com Deus. Mais ditoso do que vós que aqui estais, ele sente a felicidade, toca-a, vê as almas e pode alçar-se com elas às esferas espirituais que nem mesmo os predestinados da Terra logram divisar. Abertos, os olhos estão sempre prontos a causar a falência da alma; fechados, estão prontos sempre, ao contrário, a fazê-la subir para Deus. Crede-me, bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, ao passo que a vista é, com frequência, o anjo tenebroso que conduz à morte. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 132-133)

738. Para conseguir a melhora da Humanidade, não podia Deus empregar outros meios que não os flagelos destruidores?

“Pode e os emprega todos os dias, pois que deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. O homem, porém, não se aproveita desses meios. Necessário, portanto, se torna que seja castigado no seu orgulho e que se lhe faça sentir a sua fraqueza.”

a) Mas nesses flagelos tanto sucumbe o homem de bem como o perverso. Será justo isso?

“Durante a vida, o homem tudo refere ao seu corpo; entretanto, de maneira diversa pensa depois da morte. Ora, conforme temos dito, a vida do corpo bem pouca coisa é. Um século no vosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade. Logo, nada são os sofrimentos de alguns dias ou de alguns meses, de que tanto vos queixais. Representam um ensino que se vos dá e que vos servirá no futuro. Os Espíritos, que preexistem e sobrevivem a tudo, formam o mundo real. Esses os filhos de Deus e o objeto de toda a sua solicitude. Os corpos são meros disfarces com que eles aparecem no mundo. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de um exército cujos soldados, durante a guerra, ficassem com seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos. O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles.”

b) Mas nem por isso as vítimas desses flagelos deixam de o ser.

“Se considerásseis a vida qual ela é e quão pouca coisa representa com relação ao infinito, menos importância lhe daríeis. Em outra vida, essas vítimas acharão ampla compensação aos seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem murmurar.”

Nota – Venha por um flagelo a morte, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida. A única diferença, em caso de flagelo, é que maior número parte ao mesmo tempo.

Se, pelo pensamento, pudéssemos elevar-nos de maneira a dominar a humanidade e a abrangê-la em seu conjunto, esses tão terríveis flagelos não nos pareceriam mais do que passageiras tempestades no destino do mundo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 337-338)

739. Têm os flagelos destruidores utilidade, do ponto de vista físico, obstante os males que ocasionam?

“Têm. Muitas vezes mudam as condições de uma região, mas o bem que deles resulta só as gerações vindouras o experimentam.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Terceira – Capítulo VI – p. 338)

740. Não serão os flagelos, igualmente, provas morais para o homem, por porem-no a braços com as mais aflitivas necessidades?

“Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus e que lhe oferecem ensejo de manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se o não domina o egoísmo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Terceira – Capítulo VI – p. 339)

741. Dado é ao homem conjurar os flagelos que o afligem?

“Em parte, é; não, porém, como geralmente o entendem. Muitos flagelos resultam da imprevidência do homem. À medida que adquire conhecimentos e experiência, ele os vai podendo conjurar, isto é, prevenir, se lhes sabe pesquisar as causas. Contudo, entre os males que afligem a humanidade, alguns há de caráter geral, que estão nos decretos da Providência e dos quais cada indivíduo recebe, mais ou menos, o contragolpe. A esses nada pode o homem opor, a não ser sua submissão à vontade de Deus. Esses mesmos males, entretanto, ele muitas vezes os agrava pela sua negligência.”

Nota – Na primeira linha dos flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocadas a peste, a fome, as inundações e as intempéries fatais às produções da terra. Não tem, porém, o homem encontrado na Ciência, nas obras de arte, no aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas, meios de impedir, ou, quando menos, de atenuar muitos desastres? Certas regiões, outrora assoladas por terríveis flagelos, não estão hoje preservadas deles? Que não fará, portanto, o homem pelo seu bem-estar material, quando souber aproveitar-se de todos os recursos da sua inteligência e quando, aos cuidados da sua conservação pessoal, souber aliar o sentimento de verdadeira caridade para com os seus semelhantes? (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Terceira – Capítulo VI – p. 339)

134. […] Nem sempre uma vida penosa é expiação; muitas vezes é prova escolhida pelo Espírito, que vê um meio de avançar mais rapidamente, conforme a coragem com que saiba suportá-la.

A riqueza é também uma prova, mas muito mais perigosa que a miséria, pelas tentações que dá e pelos abusos que enseja; também o exemplo dos que viveram, demonstra ser ela uma prova em que a vitória é mais difícil. A diferença das posições sociais seria a maior das injustiças — quando não seja o resultado da conduta atual —, se ela não tivesse uma compensação. A convicção que dessa verdade adquirimos, pelo Espiritismo, nos dá força para suportarmos as vicissitudes da vida e aceitarmos a nossa sorte, sem invejar a dos outros. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p.165)

19. […] cada um de vós deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo, daqueles cuja tutela vos foi confiada. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 151)

[Expiações terrestres – Joseph Maître, o cego]

Pertencia à classe mediana da sociedade e gozava de modesta abastança, ao abrigo de quaisquer privações. Os pais o destinavam à indústria e deram-lhe boa educação, porém, aos 20 anos, ele perdia a visão. Com perto de 50, veio finalmente a falecer, isto em 1845. Dez anos antes, fora acometido por outra enfermidade que o deixou surdo, de modo que só pelo tato mantinha relações com o mundo dos encarnados. Ora, não ver, já é um suplício; não ver e não ouvir é duplicado suplício, principalmente para quem depois de fruir as faculdades de tais sentidos tiver de suportar essa dupla privação. […]

Eu vo-lo digo: Antes de tudo, importa dizer que era a segunda vez que eu expiava a privação da vista. Na minha precedente existência, em princípios do último século, fiquei cego aos 30 anos, em decorrência de excessos de todo o gênero que, arruinando-me a saúde, me enfraqueceram o organismo. Note-se que era já isso uma punição por abuso dos dons providenciais de que fora largamente cumulado. Em vez, porém, de me atribuir a causa original dessa enfermidade, entendi de acusar a Providência, na qual, aliás, pouco cria. Anatematizei Deus, reneguei-o, acusei-o, acrescentando que, se acaso existisse, devia ser injusto e mau, por deixar assim penar as criaturas. Entretanto, eu deveria dar-me ainda por feliz, isento como estava de mendigar o pão, à feição de tantos outros míseros cegos como eu. Mas é que eu só pensava em mim, na privação de gozos que me impunham. Influenciado por ideias tais, que o ceticismo mais exaltava, tornei-me frenético, exigente, numa palavra, insuportável aos que comigo privavam. Além disso, a vida era-me um moto-contínuo, pois que eu não pensava no futuro — uma quimera. Depois de esgotar baldamente os recursos da Ciência e reputada impossível a cura, resolvi antecipar a morte: suicidei-me.

Que despertar, então, que foi o meu, imerso nas mesmas trevas da vida! Contudo, não tardou muito o reconhecimento da minha situação, da minha transferência para o mundo espiritual. Era um Espírito, sim, porém, cego. A vida de além-túmulo tornava-se-me, pois, a realidade! Procurei fugir-lhe, mas em vão… Envolvia-me o vácuo. Pelo que ouvia dizer, essa vida deveria ser eterna, e com ela a minha situação. Ideia horrenda! Eu não sofria, mas impossível é descrever as angústias e tormentos espirituais experimentados. Quanto teriam eles durado? Ignoro-o… Mas quão longo me pareceu este tempo! Extenuado, fatigado, pude finalmente analisar-me a mim mesmo, e compreendi o ascendente de um poder superior, que sobre mim atuava, e considerei que se essa potência podia oprimir-me, também poderia aliviar-me. E implorei piedade. À proporção que orava e o fervor se me aumentava, alguém me dizia que a minha situação teria um termo. Por fim se fez a luz e extremo foi o meu arroubo de alegria ao entrever as claridades celestes, distinguindo os Espíritos que me rodeavam, sorrindo, benévolos, bem como os que, radiosos, flutuavam no Espaço. Ao querer seguir-lhes os passos, força invisível me reteve. Foi então que um deles me disse: “O Deus que negaste teve comiseração do teu arrependimento e permitiu-nos te déssemos a luz, mas tu só cedeste pelo sofrimento, pelo cansaço. Se queres participar desta felicidade aqui fruída, forçoso é provares a sinceridade do teu arrependimento, as boas disposições, recomeçando a prova terrestre em condições que te predisponham às mesmas faltas, porque esta nova provação deverá ser mais rude que a outra.” Aceitei pressuroso, prometendo não mais falir. Assim voltei à Terra nas condições que sabeis. Não me foi difícil compreender a situação, porque eu não era mau por índole; revoltara-me contra Deus, e Deus me puniu. Reencarnei trazendo a fé inata, razão por que não murmurei, antes aceitei a dupla enfermidade resignado, como expiação que era, oriunda da soberana justiça. O insulamento dos meus derradeiros anos nada tinha de desesperador, porquanto me bafejava a fé no futuro e na misericórdia de Deus. Ademais, esse insulamento me foi proveitoso, porque durante a longa noite silenciosa a minha alma mais livremente se alçava ao Eterno, entrevendo o infinito pelo pensamento. Quando, por fim, terminou o exílio, o mundo espiritual só me proporcionou esplendores, inefáveis gozos. O retrospecto ao passado faz que me julgue muito feliz, relativamente, pelo que dou graças a Deus; quando, porém, olho para o futuro, vejo a grande distância que ainda me separa da completa felicidade.

Tendo já expiado, ainda me faltava reparar. A última encarnação só a mim aproveitou, pelo que espero recomeçar brevemente por existência que me permita ser útil ao próximo, reparando por esse meio a inutilidade anterior. E só assim me adiantarei na boa senda, sempre franqueada aos Espíritos possuídos de boa vontade.

Amigos, eis aí a minha história; e se o meu exemplo puder esclarecer quaisquer dos meus irmãos encarnados, de modo a evitarem a má ação que pratiquei, terei por principiado o resgate da minha dívida.” (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VIII – 375-377)

QUIMERA: produto da imaginação, sem possibilidade de realizar-se; absurdo, fantasia, utopia. [Definição do Dicionário Online do Google]

FRANQUEAR: tornar franco, livre; liberar, permitir. [Definição do Dicionário Online do Google]

PRESSUROSO: que tem ou age com pressa; apressurado, apressado. [Definição do Dicionário Online do Google]

871. Pois que Deus tudo sabe, não ignora se um homem sucumbirá ou não em determinada prova. Assim sendo, qual a necessidade dessa prova, uma vez que nada acrescentará ao que Deus já sabe a respeito desse homem?

“Isso equivale a perguntar por que não criou Deus o homem perfeito e acabado; por que passa o homem pela infância, antes de chegar à condição de adulto. A prova não tem por fim dar a Deus esclarecimentos sobre o homem, pois que Deus sabe perfeitamente o que ele vale, mas dar ao homem toda a responsabilidade de sua ação, uma vez que tem a liberdade de fazer ou não fazer. Dotado da faculdade de escolher entre o bem e o mal, a prova tem por efeito pô-lo em luta com as tentações do mal e conferir-lhe todo o mérito da resistência. Ora, conquanto saiba de antemão se ele se sairá bem ou não, Deus não o pode, em sua justiça, punir, nem recompensar, por um ato ainda não praticado.”

Nota – Assim sucede entre os homens. Por muito capaz que seja um estudante, por grande que seja a certeza que se tenha de que alcançará bom êxito, ninguém lhe confere grau algum sem exame, isto é, sem prova. Do mesmo modo, o juiz não condena um acusado, senão com fundamento num ato consumado e não na previsão de que ele possa ou deva consumar esse ato.

Quanto mais se reflete nas consequências que teria para o homem o conhecimento do futuro, melhor se vê quanto foi sábia a Providência em lho ocultar. A certeza de um acontecimento venturoso o lançaria na inação. A de um acontecimento infeliz o encheria de desânimo. Em ambos os casos, suas forças ficariam paralisadas. Daí o não lhe ser mostrado o futuro, senão como meta que lhe cumpre atingir por seus esforços, mas ignorando os trâmites por que terá de passar para alcançá-la. O conhecimento de todos os incidentes da jornada lhe tolheria a iniciativa e o uso do livre-arbítrio. Ele se deixaria resvalar pelo declive fatal dos acontecimentos, sem exercer suas faculdades. Quando o feliz êxito de uma coisa está assegurado, ninguém mais com ela se preocupa. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 384-385)

13º) A duração do castigo depende da melhoria do Espírito culpado. 

Nenhuma condenação por tempo determinado lhe é prescrita. O que Deus exige por termo de sofrimentos é um melhoramento sério, efetivo, sincero, de volta ao bem. 

Deste modo o Espírito é sempre o árbitro da própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pela pertinácia no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do bem. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VII – p. 84)

1Allan Kardec – O Céu e o Inferno. Em que se baseia a duração dos sofrimentos do culpado?

“No tempo necessário a que se melhore. Sendo o estado de sofrimento ou de felicidade proporcionado ao grau de purificação do Espírito, a duração e a natureza de seus sofrimentos dependem do tempo que ele gaste em melhorar-se. À medida que progride e que os sentimentos se lhe depuram, seus sofrimentos diminuem e mudam de natureza.” São Luís (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 447)

30º) Os Espíritos, em prova, não são, pois, quais galés por certo tempo condenados, mas como doentes de hospital sofrendo de moléstias resultantes da própria incúria a compadecerem-se com meios curativos mais ou menos dolorosos que a moléstia reclama, esperando alta tanto mais pronta quanto mais estritamente observadas as prescrições do solícito médico assistente. Se os doentes, pelo próprio descuido de si mesmos, prolongam a enfermidade, o médico nada tem que ver com isso. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VII – p. 89)

GALÉS: a pena dos que eram condenados a remar nas galés. [Definição do Dicionário Online do Google]

15º) Uma condição inerente à inferioridade dos Espíritos é não lobrigarem o termo da provação, acreditando-a eterna, como eterno lhes parece deva ser um tal castigo. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VII – p. 85)

LOBRIGAR: enxergar com dificuldade na escuridão ou penumbra; ver a custo; entrever. [Definição do Dicionário Online do Google]

1Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo. É arbitrária ou sujeita a uma lei qualquer a duração dos sofrimentos do culpado, na vida futura?

“Deus nunca obra caprichosamente e tudo, no Universo, se rege por leis, em que a sua sabedoria e a sua bondade se revelam.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 447)

1Allan Kardec – O Que é o Espiritismo. Poderão durar eternamente os sofrimentos do Espírito?

“Poderiam, se ele pudesse ser eternamente mau, isto é, se jamais se arrependesse e melhorasse, sofreria eternamente. Deus, porém, não criou seres tendo por destino permanecerem votados perpetuamente ao mal. Apenas os criou a todos simples e ignorantes, tendo todos, no entanto, que progredir em tempo mais ou menos longo, conforme decorrer da vontade de cada um. Mais ou menos tardia pode ser a vontade, do mesmo modo que há crianças mais ou menos precoces, porém, cedo ou tarde, ela aparece, por efeito da irresistível necessidade que o Espírito sente de sair da inferioridade e de se tornar feliz. Eminentemente sábia e magnânima é, pois, a lei que rege a duração das penas, porquanto subordina essa duração aos esforços do Espírito. Jamais o priva do seu livre-arbítrio: se deste faz ele mau uso, sofre as consequências.” São Luís (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 448)

1Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão. Depende sempre da vontade do Espírito a duração das penas? Algumas não haverá que lhe sejam impostas por tempo determinado?

“Sim, ao Espírito podem ser impostas penas por determinado tempo; mas Deus, que só quer o bem de suas criaturas, acolhe sempre o arrependimento, e infrutífero jamais fica o desejo que o Espírito manifeste de se melhorar.” São Luís (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 448)

1Allan Kardec – Viagem Espírita. Assim, as penas impostas jamais o são por toda a eternidade?

“Interrogai o vosso bom senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação perpétua, motivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus. Que é, com efeito, a duração da vida, ainda quando de cem anos, em face da eternidade? Eternidade! Compreendeis bem esta palavra? Sofrimentos, torturas sem-fim, sem esperanças, por causa de algumas faltas! O vosso juízo não repele semelhante ideia? Que os antigos tenham considerado o Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. Na ignorância em que se achavam, atribuíam à divindade as paixões dos homens. Esse, todavia, não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes primordiais o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas. Poderia Ele carecer das qualidades, cuja posse prescreve, como um dever, às suas criaturas? Não haverá contradição em se lhe atribuir a bondade infinita e a vingança também infinita? Dizeis que, acima de tudo, Ele é justo e que o homem não lhe compreende a justiça, mas a justiça não exclui a bondade e Ele não seria bom se condenasse a eternas e horríveis penas a maioria das suas criaturas. Teria o direito de fazer da justiça uma obrigação para seus filhos, se lhes não desse meio de compreendê-la? Aliás, no fazer que a duração das penas dependa dos esforços do culpado não está toda a sublimidade da justiça unida à bondade? Aí é que se encontra a verdade desta sentença: ‘A cada um segundo as suas obras’.” Santo Agostinho (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 449)

1Allan Kardec – Viagem Espírita. […] “Guerras de palavras! guerras de palavras! Ainda não basta o sangue que tendes feito correr! Será ainda preciso que se reacendam as fogueiras? Discutem sobre palavras: eternidade das penas, eternidade dos castigos. Ignorais então que o que hoje entendeis por eternidade não é o que os antigos entendiam e designavam por esse termo? Consulte o teólogo as fontes e lá descobrirá, como todos vós, que o texto hebreu não atribuía esta significação ao vocábulo que os gregos, os latinos e os modernos traduziram por penas sem-fim, irremissíveis. Eternidade dos castigos corresponde à eternidade do mal. Sim, enquanto existir o mal entre os homens, os castigos subsistirão. Importa que os textos sagrados se interpretem no sentido relativo. A eternidade das penas é, pois, relativa e não absoluta. Chegue o dia em que todos os homens, pelo arrependimento, se revistam da túnica da inocência e desde esse dia deixará de haver gemidos e ranger de dentes. Limitada tendes, é certo, a vossa razão humana, porém, tal como a tendes, ela é uma dádiva de Deus e, com o auxílio dessa razão, nenhum homem de boa-fé haverá que de outra forma compreenda a eternidade dos castigos. Pois quê! fora necessário admitir-se por eterno o mal. Somente Deus é eterno e não poderia ter criado o mal eterno; do contrário, forçoso seria tirar-se-lhe o mais magnífico dos seus atributos: o soberano poder, porquanto não é soberanamente poderoso aquele que cria um elemento destruidor de suas obras. Humanidade! humanidade! não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da Terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na ideia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo.” Platão (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 450-451)

IRREMISSÍVEL: que não se pode remitir, que não merece perdão, imperdoável. [Definição do Dicionário Online do Google]

20. Deus, que é soberanamente justo e bom, não condena suas criaturas a castigos perpétuos em decorrência de seus erros temporários; oferece-lhes a qualquer tempo meios de progredirem e repararem o mal que fizeram. Deus perdoa, mas exige o arrependimento, a reparação e que procedam em favor do bem. A persistência do Espírito em permanecer no caminho do mal se torna para ele o próprio castigo. Para quem demorasse eternamente no caminho do mal, seria o castigo eterno, todavia, pelo menor sinal de arrependimento, a bondade de Deus se estende sobre ele, concedendo-lhe novas oportunidades para a reabilitação. Assim se deve entender a relatividade da eternidade e das penas. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 35)

[Espíritos Sofredores – Lisbeth]

6. Deus é muito bom para condenar seus filhos a penas eternas. Confiai na sua misericórdia.

— R. Dizem que isto pode ter um termo, mas onde e quando? Há muito que o procuro e só vejo sofrimento, sempre, sempre, sempre!

7. Como viestes hoje aqui?

— R. Conduzida por um Espírito que me acompanha muitas vezes.

— P. Desde quando o vedes, a esse Espírito?

— R. Não há muito tempo.

— P. E desde quando tendes consciência das faltas que cometestes?

— R. (Depois de longa reflexão.) Sim, tendes razão: foi daí para cá que principiei a vê-lo.

8. Compreendeis agora a relação existente entre o arrependimento e o auxílio prestado por vosso protetor? Tomai por origem desse apoio o amor de Deus, cujo fim será o seu perdão e misericórdia infinitos.

[…]

O guia do médium — Nunca esqueçais os ensinos que bebeis nos sofrimentos dos vossos protegidos e notadamente nas suas causas, visto serem lição que a todos aproveita no sentido de se preservarem dos mesmos perigos e de idênticos castigos. Purificai os corações, sede humildes, amai-vos e ajudai-vos sem esquecerdes jamais a fonte de todas as graças, fonte inesgotável na qual podem todos saciar-se à vontade, fonte de água viva que desaltera e alimenta igualmente, fonte de vida e ventura eterna. Ide a ela, meus amigos, e bebei com fé. Mergulhai nela as vossas vasilhas, que sairão de suas ondas pejadas de bênçãos. Adverti vossos irmãos dos perigos em que podem incorrer. Difundi as bênçãos do Senhor, que se reproduzem incessantes; e quanto mais as propagardes, tanto mais se multiplicarão. Está em vossas mãos a tarefa, porquanto, dizendo aos vossos irmãos — aí estão os perigos, lá os escolhos; vinde conosco a fim de os evitar; imitai-nos a nós que damos o exemplo — assim difundireis as bênçãos do Senhor sobre os que vos ouvirem.

Abençoados sejam os vossos esforços. O Senhor ama os corações puros: fazei por merecer-lhe o amor. Saint Paulin (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 243-244)

PEJADO: que tem a capacidade completa; carregado, cheio, repleto. [Definição do Dicionário Online do Google]

ESCOLHO: obstáculo, óbice, perigo. [Definição do Dicionário Online do Google]

A duração do castigo é subordinada ao melhoramento do Espírito culpado. Nenhuma condenação por tempo determinado é pronunciada contra ele. O que Deus exige, para pôr um termo aos sofrimentos, é o arrependimento, a expiação e a reparação; em uma palavra, um melhoramento sério e efetivo, uma volta sincera ao bem. O Espírito é assim o árbitro de sua própria sorte; sua pertinácia no mal prolonga-lhe os sofrimentos; seus esforços para fazer o bem os minoram ou abreviam. Sendo a duração da pena subordinada ao arrependimento, o Espírito culpado, que não se arrependesse e nunca se melhorasse, sofreria sempre, e para ele então a pena seria eterna. Essa eternidade de penas deve ser entendida no sentido relativo, e não no absoluto. Uma condição inerente à inferioridade do Espírito é não ver o termo da sua situação e crer que há de sofrer sempre — o que é para ele um castigo. Desde que, porém, sua alma se abra ao arrependimento, Deus lhe faz entrever um raio de esperança.

Esta doutrina é, por certo, mais conforme à Justiça de Deus, que pune, enquanto o culpado persiste no mal, e concede-lhe graça desde que ele volte ao bom caminho. Quem imaginou essa teoria? Seríamos nós?

Não; são os Espíritos que a ensinam e provam, pelos exemplos que diariamente nos fornecem. Os Espíritos não negam, pois, as penas futuras, pois que são eles mesmos que nos vêm descrever seus próprios sofrimentos; e este quadro nos toca mais que o das chamas perpétuas, porque tudo nele é perfeitamente lógico. Compreende-se que isto é possível, que assim deve ser, que essa situação é uma consequência natural das coisas; o pensador filósofo pode aceitá-lo, porque nele nada repugna à razão. Eis por que as crenças espíritas têm conduzido ao bem muita gente, mesmo entre os materialistas, aos quais não fazia mossa o medo do inferno, como lhes era pintado. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo I – p. 110)

PERTINÁCIA: qualidade ou ação de pertinaz; perseverança, tenacidade, obstinação. [Definição do Dicionário Online do Google]

MOSSA: perturbação moral e/ou emocional; agitação, abalo. [Definição do Dicionário Online do Google]

13. A cada existência corporal deve o Espírito cumprir com uma tarefa conforme o seu desenvolvimento, quanto mais penosa e trabalhosa for a existência, tanto maior será o mérito alcançado por ele. Cada existência é assim uma provação que o aproxima de seu objetivo. O número dessas existências é indeterminado. Esse número depende da vontade do Espírito de trabalhar ativamente para o seu aperfeiçoamento moral da mesma maneira que depende da vontade do trabalhador em diminuir o número de dias para realizar um determinado trabalho. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 33)

1000. Já desde esta vida poderemos ir resgatando as nossas faltas?

“Sim, reparando-as; mas não creiais que as resgateis mediante algumas privações pueris, ou distribuindo em esmolas o que possuirdes, depois que morrerdes, quando de nada mais precisais. Deus não dá valor a um arrependimento estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no peito. A perda de um dedo mínimo, quando se esteja prestando um serviço, apaga mais faltas do que o suplício da carne suportado durante anos, com objetivo exclusivamente pessoal.

Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem nos seus interesses materiais.

De que serve, para sua justificação, que restitua, depois de morrer, os bens mal adquiridos, quando se lhe tornaram inúteis e deles tirou todo o proveito?

“De que lhe serve privar-se de alguns gozos fúteis, de algumas superfluidades, se permanece integral o dano que causou a outrem?

“De que lhe serve, finalmente, humilhar-se diante de Deus se, perante os homens, conserva o seu orgulho?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 446)

1Allan Kardec – O Livro dos Espíritos. Nenhum mérito haverá em assegurarmos, para depois de nossa morte, emprego útil aos bens que possuímos?

“Nenhum mérito não é o termo. Isso sempre é melhor do que nada. A desgraça, porém, é que aquele, que só depois de morto dá, é quase sempre mais egoísta do que generoso. Quer ter o fruto do bem, sem o trabalho de praticá-lo. Duplo proveito tira aquele que, em vida, se priva de alguma coisa: o mérito do sacrifício e o prazer de ver felizes os que lhe devem a felicidade. Lá, porém, está o egoísmo a dizer-lhe: O que dás tiras aos teus gozos; e, como o egoísmo fala mais alto do que o desinteresse e a caridade, o homem guarda o que possui, pretextando suas necessidades pessoais e as exigências da sua posição! Ah! lastimai aquele que desconhece o prazer de dar; acha-se verdadeiramente privado de um dos mais puros e suaves gozos. Submetendo-o à prova da riqueza, tão escorregadia e perigosa para o seu futuro, houve Deus por bem conceder-lhe, como compensação, a ventura da generosidade, de que já neste mundo pode gozar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 446-447)

978. A lembrança das faltas que a alma, quando imperfeita, tenha cometido, não lhe turba a felicidade, mesmo depois de se haver purificado?

“Não, porque resgatou suas faltas e saiu vitoriosa das provas a que se submetera para esse fim.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 439)

19. […] cada um de vós deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo, daqueles cuja tutela vos foi confiada. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 151)

568. Os Espíritos, que têm missões a cumprir, as cumprem na erraticidade, ou encarnados?

“Podem tê-las num e noutro estado. Para certos Espíritos errantes, é uma grande ocupação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 274)

569. Em que consistem as missões de que podem ser encarregados os Espíritos errantes?

“São tão variadas que impossível fora descrevê-las. Muitas há mesmo que não podeis compreender. Os Espíritos executam as vontades de Deus e não vos é dado penetrar-lhe todos os desígnios.”

Nota – As missões dos Espíritos têm sempre por objeto o bem. Quer como Espíritos, quer como homens, são incumbidos de auxiliar o progresso da humanidade, dos povos ou dos indivíduos, dentro de um círculo de ideias mais ou menos amplas, mais ou menos especiais e de velar pela execução de determinadas coisas. Alguns desempenham missões mais restritas e, de certo modo, pessoais ou inteiramente locais, como sejam assistir os enfermos, os agonizantes, os aflitos, velar por aqueles de quem se constituíram guias e protetores, dirigi-los, dando-lhes conselhos ou inspirando-lhes bons pensamentos. Pode dizer-se que há tantos gêneros de missões quantas as espécies de interesses a resguardar, assim no mundo físico, como no moral. O Espírito se adianta conforme a maneira por que desempenha a sua tarefa. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 274)

573. Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados?

“Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais. As missões, porém, são mais ou menos gerais e importantes. O que cultiva a terra desempenha tão nobre missão, como o que governa, ou o que instrui. Tudo na Natureza se encadeia. Ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, concorre, dessa forma, para a execução dos desígnios da Providência. Cada um tem neste mundo a sua missão, porque todos podem ter alguma utilidade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos Parte Segunda – Capítulo X – p. 275)

270. A que se devem atribuir as vocações de certas pessoas e a vontade que sentem de seguir uma carreira de preferência a outra?

“Parece-me que vós mesmos podeis responder a esta pergunta. Pois não é isso a consequência de tudo o que acabamos de dizer sobre a escolha das provas e sobre o progresso efetuado em existência anterior?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 174)

13. A cada existência corporal deve o Espírito cumprir com uma tarefa conforme o seu desenvolvimento, quanto mais penosa e trabalhosa for a existência, tanto maior será o mérito alcançado por ele. Cada existência é assim uma provação que o aproxima de seu objetivo. O número dessas existências é indeterminado. Esse número depende da vontade do Espírito de trabalhar ativamente para o seu aperfeiçoamento moral da mesma maneira que depende da vontade do trabalhador em diminuir o número de dias para realizar um determinado trabalho. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 33)

470. Os Espíritos, que ao mal procuram induzir-nos e que põem assim em prova a nossa firmeza no bem, procedem desse modo cumprindo missão? E, se assim é, cabe-lhes alguma responsabilidade?

“A nenhum Espírito é dada a missão de praticar o mal. Aquele que o faz fá-lo por conta própria, sujeitando-se, portanto, às consequências. Pode Deus permitir-lhe que assim proceda, para vos experimentar; nunca, porém, lhe determina tal procedimento. Compete-vos, pois, repeli-lo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 240-241)

584. De que natureza será a missão do conquistador que apenas visa satisfazer à sua ambição e que, para alcançar esse objetivo, não vacila ante nenhuma das calamidades que vai espalhando?

“As mais das vezes não passa de um instrumento de que se serve Deus para cumprimento de seus desígnios, representando essas calamidades um meio de que ele se utiliza para fazer que um povo progrida mais rapidamente.”

a) Nenhuma parte tendo na produção do bem que dessas calamidades passageiras possa resultar, pois que visava a um fim todo pessoal, aquele que delas se constitui instrumento tirará, não obstante, proveito desse bem?

“Cada um é recompensado de acordo com as suas obras, com o bem que intentou fazer e com a retidão de suas intenções.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 278-279)

9. […] Todo homem tem na Terra uma missão, grande ou pequena; qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem; falseá-la em seu princípio é, pois, falir ao seu desempenho. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVII – p. 239)

[…] Cada um de nós tem a sua missão providencial na grande colmeia humana e concorre para a obra comum na sua esfera de atividade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A segunda vista – p. 125-126)

575. As ocupações comuns mais nos parecem deveres do que missões propriamente ditas. A missão, de acordo com a ideia a que esta palavra está associada, tem um caráter menos exclusivo, de importância sobretudo menos pessoal. Deste ponto de vista, como se pode reconhecer que um homem tem realmente na Terra uma determinada missão?

“Pelas grandes coisas que opera, pelos progressos a cuja realização conduz seus semelhantes.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 276)

7. […] Com efeito, o homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta. Cabe-lhe desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão comporta. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 220)

DESOBSTRUIR: desembaraçar(-se) daquilo que obstrui; desimpedir(-se), desentupir(-se). [Definição do Dicionário Online do Google]

570. Os Espíritos percebem sempre os desígnios que lhes compete executar?

“Não. Muitos há que são instrumentos cegos. Outros, porém, sabem muito bem com que fim atuam.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 275)

571. Só os Espíritos elevados desempenham missões?

“A importância das missões corresponde às capacidades e à elevação do Espírito. O estafeta que leva um telegrama ao seu destinatário também desempenha uma missão, se bem que diversa da de um general.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 275)

ESTAFETA: portador de despachos, encomendas, cartas, que faz a entrega a cavalo. [Definição do Dicionário Online do Google]

572. A missão de um Espírito lhe é imposta, ou depende da sua vontade?

“Ele a pede e ditoso se considera se a obtém.”

a) Pode uma mesma missão ser pedida por muitos Espíritos?

“Sim, é frequente apresentarem-se muitos candidatos, mas nem todos são aceitos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 275)

574. Qual pode ser, na Terra, a missão das criaturas voluntariamente inúteis?

“Há efetivamente pessoas que só para si mesmas vivem e que não sabem tornar-se úteis ao que quer que seja. São pobres seres dignos de compaixão, porquanto expiarão duramente sua voluntária inutilidade, começando-lhes muitas vezes, já neste mundo, o castigo, pelo aborrecimento e pelo desgosto que a vida lhes causa.”

a) Pois que lhes era facultada a escolha, por que preferiram uma existência que nenhum proveito lhes traria?

“Entre os Espíritos também há preguiçosos que recuam diante de uma vida de labor. Deus consente que assim procedam. Mais tarde compreenderão, à própria custa, os inconvenientes da inutilidade a que se votaram e serão os primeiros a pedir que se lhes conceda recuperar o tempo perdido. Pode também acontecer que tenham escolhido uma vida útil e que hajam recuado diante da execução da obra, deixando-se levar pelas sugestões dos Espíritos que os induzem a permanecer na ociosidade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 275-276)

680. Não há homens que se encontram impossibilitados de trabalhar no que quer que seja e cuja existência é, portanto, inútil?

“Deus é justo e, pois, só condena aquele que voluntariamente tornou inútil a sua existência, porquanto esse vive a expensas do trabalho dos outros. Ele quer que cada um seja útil, de acordo com as suas faculdades.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo III – p. 318-319)

576. Foram predestinados a isso, antes de nascerem, os homens que trazem uma importante missão e dela têm conhecimento? 

“Algumas vezes, assim é. Quase sempre, porém, o ignoram. Baixando à Terra, colimam um vago objetivo. Depois do nascimento e de acordo com as circunstâncias é que suas missões se lhes desenham às vistas. Deus os impele para a senda onde devam executar-lhe os desígnios.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo  X – p. 276)

COLIMAR: mirar, visar. [Definição do Dicionário Online do Google]

577. Quando um homem faz alguma coisa útil, fá-la sempre em virtude da missão em que foi anteriormente investido e a que vem predestinado, ou pode suceder que haja recebido missão não prevista?

“Nem tudo o que o homem faz resulta de missão a que tenha sido predestinado. Amiudadas vezes é o instrumento de que se serve um Espírito para fazer que se execute uma coisa que julga útil. Por exemplo, entende um Espírito ser útil que se escreva um livro que ele próprio escreveria se estivesse encarnado. Procura então o escritor mais apto a lhe compreender e executar o pensamento. Transmite-lhe a ideia do livro e o dirige na execução. Ora, esse escritor não veio à Terra com a missão de publicar tal obra. O mesmo ocorre com diversos trabalhos artísticos e muitas descobertas. Devemos acrescentar que, durante o sono corporal, o Espírito encarnado se comunica diretamente com o Espírito errante, entendendo-se os dois acerca da execução.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo  X – p. 276-277)

578. Poderá o Espírito, por própria culpa, falir na sua missão?

“Sim, se não for um Espírito superior.”

a) Que consequências lhe advirão da sua falência?

“Terá que retomar a tarefa; essa a sua punição. Também sofrerá as consequências do mal que haja causado.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo  X – p. 277)

579. Pois se é de Deus que o Espírito recebe a sua missão, como se há de compreender que Deus confie missão importante e de interesse geral a um Espírito capaz de falir?

“Não sabe Deus se o seu general obterá a vitória ou se será vencido? Sabe-o, crede, e seus planos, quando importantes, não se apoiam nos que hajam de abandonar em meio a obra. Toda a questão, para vós, está no conhecimento que Deus tem do futuro, mas que não vos é concedido.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo  X – p. 277)

580. O Espírito, que encarna para desempenhar determinada missão, tem apreensões idênticas às de outro que o faz por provação?

“Não, porque traz a experiência adquirida.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo  X – p. 277)

581. Certamente desempenham missão os homens que servem de faróis ao gênero humano, que o iluminam com a luz do gênio. Entre eles, porém, alguns há que se enganam, que, de par com grandes verdades, propagam grandes erros. Como se deve considerar a missão desses homens?

“Como falseadas por eles próprios. Estão abaixo da tarefa que tomaram sobre os ombros. Contudo, mister se faz levar em conta as circunstâncias. Os homens de gênio têm que falar de acordo com as épocas em que vivem e, assim, um ensinamento que pareceu errôneo ou pueril, numa época adiantada, pode ter sido o que convinha no século em que foi divulgado.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 277)

582. Pode-se considerar como missão a paternidade?

“É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem, e lhes facilitou a tarefa dando àquele uma organização débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões. Muitos há, no entanto, que mais cuidam de aprumar as árvores do seu jardim e de fazê-las dar bons frutos em abundância, do que de formar o caráter de seu filho. Se este vier a sucumbir por culpa deles, suportarão os desgostos resultantes dessa queda e partilharão dos sofrimentos do filho na vida futura, por não terem feito o que lhes estava ao alcance para que ele avançasse na estrada do bem.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 277-278)

583. São responsáveis os pais pelo transviamento de um filho que envereda pelo caminho do mal, apesar dos cuidados que lhe dispensaram?

“Não; porém, quanto piores forem as propensões do filho, tanto mais pesada é a tarefa e tanto maior o mérito dos pais, se conseguirem desviá-lo do mau caminho.”

a) Se um filho se torna homem de bem, não obstante a negligência ou os maus exemplos de seus pais, tiram estes daí algum proveito?

“Deus é justo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Segunda – Capítulo X – p. 278)

Nota – Pois que, na vida social, todos os homens podem chegar às mais altas funções, seria o caso de perguntar-se por que o soberano de um país não faz de cada um de seus soldados um general; por que todos os empregados subalternos não são funcionários superiores; por que todos os colegiais não são mestres. Ora, entre a vida social e a espiritual há esta diferença: enquanto a primeira é limitada e nem sempre permite que o homem suba todos os seus degraus, a segunda é indefinida e a todos oferece a possibilidade de se elevarem ao grau supremo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 99-100)

9. […] Assim como pergunta ao rico: “Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos devera ser um manancial a espalhar a fecundidade ao teu derredor”, também Deus inquirirá daquele que disponha de alguma autoridade: “Que uso fizeste dessa autoridade? Que males evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVII – p. 239-240)

CUPIDEZ: desejo, cobiça (esp. de bens materiais) [Definição do Dicionário Online do Google]

14. Ao lado das grandes missões confiadas aos Espíritos superiores, há outras de importância relativa em todos os graus, concedidas a Espíritos de todas as categorias, podendo afirmar-se que cada encarnado tem a sua, isto é, deveres a preencher a bem dos seus semelhantes, desde o chefe de família, a quem incumbe o progresso dos filhos, até o homem de gênio que lança às sociedades novos germens de progresso. É nessas missões secundárias que se verificam desfalecimentos, prevaricações e renúncias que prejudicam o indivíduo sem afetar o todo.

Todas as inteligências concorrem, pois, para a obra geral, qualquer que seja o grau atingido, e cada uma na medida das suas forças, seja no estado de encarnação ou no de espírito. Por toda parte a atividade, desde a base ao ápice da escala, instruindo-se, coadjuvando-se em mútuo apoio, dando-se as mãos para alcançarem o zênite.

Assim se estabelece a solidariedade entre o mundo espiritual e o corporal, ou, em outros termos, entre os homens e os Espíritos, entre os Espíritos libertos e os cativos. Assim se perpetuam e consolidam, pela purificação e continuidade de relações, as verdadeiras simpatias e nobres afeições.

Por toda parte, a vida e o movimento: nenhum canto do infinito despovoado, nenhuma região que não seja incessantemente percorrida por legiões inumeráveis de Espíritos radiantes, invisíveis aos sentidos grosseiros dos encarnados, mas cuja vista deslumbra de alegria e admiração as almas libertas da matéria. Por toda parte, enfim, há uma felicidade relativa a todos os progressos, a todos os deveres cumpridos, trazendo cada um consigo os elementos de sua felicidade, decorrente da categoria em que se coloca pelo seu adiantamento. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – p. 32)

ZÊNITE: o ponto ou grau mais elevado; apogeu, culminância.  [Definição do Dicionário Online do Google]

34. […] Para o progresso daqueles que cumprem na Terra uma missão normal, há vantagem real em volverem ao mesmo meio para aí continuarem o que deixaram inacabado, muitas vezes na mesma família ou em contato com as mesmas pessoas, a fim de repararem o mal que tenham feito, ou de sofrerem a pena de talião. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XI – p. 198)

314. Aquele que deu começo a trabalhos de vulto com um fim útil e, que os vê interrompidos pela morte, lamenta, no outro mundo, tê-los deixado por acabar?

“Não, porque vê que outros estão destinados a concluí-los. Trata, ao contrário, de influenciar outros Espíritos humanos, para que os ultimem. Seu objetivo, na Terra, era o bem da humanidade; o mesmo objetivo continua a ter no mundo dos Espíritos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – parte Segunda – Capítulo VI – p. 185)

[…] Nem sempre os sofrimentos amargados na Terra constituem uma expiação. Os Espíritos que, cumprindo a vontade do Senhor, baixam à Terra, como este [Espíritos Felizes – Victor], são felizes em provar males que para outros seriam uma expiação. O sono os revigora perante o Todo-Poderoso, dando-lhes a força de tudo suportarem para sua maior glória. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo II – p. 213)

[Expiações terrestres – Marcel, o menino do nº 4]

Um dia, o menino disse-lhe: — Doutor, tenha a bondade de me dar ainda uma vez aquelas pílulas ultimamente receitadas.

— Para quê? — replicou-lhe o médico — se já te ministrei o suficiente, e maior quantidade pode fazer-te mal…

— É que eu sofro tanto, que dificilmente posso orar a Deus para que me dê forças, pois não quero incomodar os outros enfermos que aí estão. Essas pílulas fazem-me dormir e, ao menos quando durmo, a ninguém incomodo.

Aqui está quanto basta para demonstrar a grandeza dessa alma encerrada num corpo informe. Onde teria ido essa criança haurir tais sentimentos? Certo, não foi no meio em que se educou; além disso, na idade em que principiou a sofrer, não possuía sequer o raciocínio.

Tais sentimentos eram-lhe inatos: mas então por que se via condenado ao sofrimento, admitindo-se que Deus houvesse concomitantemente criado uma alma assim tão nobre e aquele mísero corpo –– instrumento dos suplícios?

É preciso negar a bondade de Deus, ou admitir a anterioridade de causa; isto é, a preexistência da alma e a pluralidade das existências.

Os últimos pensamentos desta criança, ao desencarnar, foram para Deus e para o caridoso médico que dela se condoeu. […]

Instruções do guia do médium — Pobrezinho sofredor, definhado, ulceroso e disforme! Nesse asilo de misérias e lágrimas, quantos gemidos exalados! E como era resignado… e como a sua alma lobrigava já então o termo dos sofrimentos, apesar da tenra idade! No além-túmulo, pressentia a recompensa de tantos gemidos abafados, e esperava! E como orava também por aqueles que não tinham resignação no sofrimento, pelos que trocavam preces por blasfêmias!

Foi-lhe lenta a agonia, mas terrível não lhe foi a hora do trespasse; certo, os membros convulsos contorciam-se, oferecendo aos assistentes o espetáculo de um corpo disforme a revoltar-se contra a morte, nessa lei da carne que a todo o custo quer viver, mas um anjo bom lhe pairava por sobre o leito mortuário e cicatrizava-lhe o coração. Depois, esse anjo arrebatou nas asas brancas essa alma tão bela a escapar-se de tão horripilante corpo, e foram estas as palavras pronunciadas: “Glória a vós, Senhor, meu Deus!” E a alma subiu ao Todo-Poderoso, feliz, e exclamou: “Eis-me aqui, Senhor; destes-me por missão exemplificar o sofrimento… terei suportado dignamente a provação?” […] Santo Agostinho (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo   VIII – p. 337-339)

LOBRIGAR: enxergar com dificuldade na escuridão ou penumbra; ver a custo; entrever. [Definição do Dicionário Online do Google]

178. Podem os Espíritos encarnar em um mundo relativamente inferior a outro onde já viveram?

“Sim, quando em missão, com o objetivo de auxiliarem o progresso, caso em que aceitam alegres as tribulações de tal existência, por lhes proporcionar meio de se adiantarem.”

a) Mas não pode dar-se também por expiação? Não pode Deus degredar para mundos inferiores Espíritos rebeldes?

“Os Espíritos podem conservar-se estacionários, mas não retrogradam. Em caso de estacionamento, a punição deles consiste em não avançarem, em recomeçarem, no meio conveniente à sua natureza, as existências mal-empregadas.”

b) Quais os que têm de recomeçar a mesma existência?

“Os que faliram em suas missões ou em suas provas.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p.127)

233. Os Espíritos já purificados descem aos mundos inferiores?

“Fazem-no frequentemente, com o fim de auxiliar-lhes o progresso. A não ser assim, esses mundos estariam entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 156)

986. Pode o Espírito, que progrediu em sua existência terrena, reencarnar alguma vez no mesmo mundo?

“Sim; desde que não tenha logrado concluir a sua missão, pode ele próprio pedir lhe seja dado completá-la em nova existência, mas, então, já não está sujeito a uma expiação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 442)

273. Será possível que um homem de raça civilizada reencarne, por expiação, numa raça de selvagens?

“É; mas depende do gênero da expiação. Um senhor, que tenha sido de grande crueldade para os seus escravos, poderá, por sua vez, tornar-se escravo e sofrer os maus-tratos que infligiu a seus semelhantes. Um, que em certa época exerceu o mando, pode, em nova existência, ter que obedecer aos que se curvavam ante a sua vontade. Ser-lhe-á isso uma expiação, que Deus lhe imponha, se ele abusou do seu poder. Também um bom Espírito pode querer encarnar no seio daquelas raças, ocupando posição influente, para fazê-las progredir. Em tal caso, desempenha uma missão.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 175-176)

268. Até que chegue ao estado de pureza perfeita, tem o Espírito que passar constantemente por provas?

“Sim, mas que não são como o entendeis, pois que só considerais provas as tribulações materiais. Ora, havendo-se elevado a um certo grau, o Espírito, embora não seja ainda perfeito, já não tem que sofrer provas. Continua, porém, sujeito a deveres nada penosos, cuja satisfação lhe auxilia o aperfeiçoamento, mesmo que consistam apenas em auxiliar os outros a se aperfeiçoarem.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 174)

493. É voluntária ou obrigatória a missão do Espírito protetor?

“O Espírito fica obrigado a vos assistir, uma vez que aceitou esse encargo. Cabe-lhe, porém, o direito de escolher, para seus protegidos, seres que lhe sejam simpáticos. Para alguns, é um prazer; para outros, missão ou dever.”

a) Dedicando-se a uma pessoa, renuncia o Espírito a proteger outros indivíduos?

“Não, mas protege-os menos exclusivamente.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 247)

494. O Espírito protetor fica fatalmente preso à criatura confiada à sua guarda?

“Frequentemente sucede que alguns Espíritos deixam suas posições de protetores para desempenhar diversas missões, mas, nesse caso, outros os substituem.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 247)

495. Poderá dar-se que o Espírito protetor abandone o seu protegido, por se lhe mostrar este rebelde aos conselhos?

“Afasta-se, quando vê que seus conselhos são inúteis e que mais forte é, no seu protegido, a decisão de submeter-se à influência dos Espíritos inferiores. Não o abandona completamente, porém, e sempre se faz ouvir. É então o homem quem tapa os ouvidos. O protetor volta desde que este o chame.

É uma doutrina, esta, dos anjos guardiães, que, pelo seu encanto e doçura, devera converter os mais incrédulos. Não vos parece grandemente consoladora a ideia de terdes sempre junto de vós seres que vos são superiores, prontos sempre a vos aconselhar e amparar, a vos ajudar na ascensão da abrupta montanha do bem; mais sinceros e dedicados amigos do que todos os que mais intimamente se vos liguem na Terra? Eles se acham ao vosso lado por ordem de Deus. Foi Deus quem aí os colocou e, aí permanecendo por amor de Deus, desempenham bela, porém penosa missão.

Sim, onde quer que estejais, estarão convosco. Nem nos cárceres, nem nos hospitais, nem nos lugares de devassidão, nem na solidão, estais separados desses amigos a quem não podeis ver, mas cujo brando influxo vossa alma sente, ao mesmo tempo que lhes ouve os ponderados conselhos.

Ah! se conhecêsseis bem esta verdade! Quanto vos ajudaria nos momentos de crise! Quanto vos livraria dos maus Espíritos! Mas, oh! quantas vezes, no dia solene, não se verá esse anjo constrangido a vos observar: ‘Não te aconselhei isto? Entretanto, não o fizeste. Não te mostrei o abismo? Contudo, nele te precipitaste! Não fiz ecoar na tua consciência a voz da verdade? Preferiste, no entanto, seguir os conselhos da mentira!’ Oh! interrogai os vossos anjos guardiães; estabelecei entre eles e vós essa terna intimidade que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes ocultar nada, pois que eles têm o olhar de Deus e não podeis enganá-los. Pensai no futuro; procurai adiantar-vos na vida presente. Assim fazendo, encurtareis vossas provas e mais felizes tornareis as vossas existências. Vamos, homens, coragem! De uma vez por todas, lançai para longe todos os preconceitos e ideias preconcebidas. Entrai na nova senda que diante dos passos se vos abre. Caminhai! Tendes guias, segui-os, que a meta não vos pode faltar, porquanto essa meta é o próprio Deus.

Aos que considerem impossível que Espíritos verdadeiramente elevados se consagrem a uma tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que nós vos influenciamos as almas, estando embora muitos milhões de léguas distantes de vós. O espaço, para nós, nada é e, não obstante viverem noutro mundo, os nossos Espíritos conservam suas ligações com os vossos. Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas ficai certos de que Deus não nos impôs tarefa superior às nossas forças e de que não vos deixou sós na Terra, sem amigos e sem amparo. Cada anjo de guarda tem o seu protegido, pelo qual vela, como o pai pelo filho. Alegra-se, quando o vê no bom caminho; sofre, quando ele lhe despreza os conselhos.

Não receeis fatigar-nos com as vossas perguntas. Ao contrário, procurai estar sempre em relação conosco. Sereis assim mais fortes e mais felizes. São essas comunicações de cada um com o seu Espírito familiar que fazem sejam médiuns todos os homens, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão qual oceano sem margens, levando de roldão a incredulidade e a ignorância. Homens doutos, instruí os vossos semelhantes; homens de talento, educai os vossos irmãos. Não imaginais que obra fazeis desse modo: a do Cristo, a que Deus vos impõe. Para que vos outorgou Deus a inteligência e o saber, senão para os repartirdes com os vossos irmãos, senão para fazerdes que se adiantem pela senda que conduz à bem-aventurança, à felicidade eterna?” São Luís, Santo Agostinho.

Nota – Nada tem de surpreendente a doutrina dos anjos guardiães, a velarem pelos seus protegidos, malgrado a distância que medeia entre os mundos. É, ao contrário, grandiosa e sublime. Não vemos na Terra o pai velar pelo filho, ainda que de muito longe, e auxiliá-lo com seus conselhos, correspondendo-se com ele? Que motivo de espanto haverá, então, em que os Espíritos possam, de um outro mundo, guiar os que, habitantes da Terra, eles tomaram sob sua proteção, uma vez que, para eles, a distância que vai de um mundo a outro é menor do que a que, neste planeta, separa os continentes? Não dispõem, além disso, do fluido universal, que entrelaça todos os mundos, tornando-os solidários; veículo imenso da transmissão dos pensamentos, como o ar é, para nós, o da transmissão do som? (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 247-249)

502. O Espírito protetor, que consegue trazer ao bom caminho o seu protegido, lucra algum bem para si?

“Constitui isso um mérito que lhe é levado em conta, seja para seu progresso, seja para sua felicidade. Sente-se ditoso quando vê bem-sucedidos os seus esforços, o que representa, para ele, um triunfo, como triunfo é, para um preceptor, os bons êxitos do seu educando.”

a) É responsável pelo mau resultado de seus esforços?

“Não, pois que fez o que de si dependia.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 251)

503. Sofre o Espírito protetor quando vê que seu protegido segue mau caminho, não obstante os avisos que dele recebe? Não há aí uma causa de turbação da sua felicidade?

“Compungem-no os erros do seu protegido, a quem lastima. Tal aflição, porém, não tem analogia com as angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal e que o que não se faz hoje, amanhã se fará.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 251)

TURBAÇÃO: perturbação, desordem, tumulto. [Definição do Dicionário Online do Google]

509. Quando em estado de selvageria ou de inferioridade moral, têm os homens, igualmente, seus Espíritos protetores? E, assim sendo, esses Espíritos são de ordem tão elevada quanto a dos Espíritos protetores de homens muito adiantados?

“Todo homem tem um Espírito que por ele vela, mas as missões são relativas ao fim que visam. Não dais a uma criança, que está aprendendo a ler, um professor de filosofia. O progresso do Espírito familiar guarda relação com o do Espírito protegido.

Tendo um Espírito que vela por vós, podeis tornar-vos, a vosso turno, o protetor de outro que vos seja inferior e os progressos que este realize, com o auxílio que lhe dispensardes, contribuirão para o vosso adiantamento. Deus não exige do Espírito mais do que comportem a sua natureza e o grau de elevação a que já chegou.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 252-253)

510. Quando o pai, que vela pelo filho, reencarna, continua a velar por ele?

“Isso é mais difícil. Contudo, de certo modo o faz, pedindo, num instante de desprendimento, a um Espírito simpático que o assista nessa missão. Ademais, os Espíritos só aceitam missões que possam desempenhar até ao fim.

Encarnado, mormente em mundo onde a existência é material, o Espírito se acha muito sujeito ao corpo para poder dedicar-se inteiramente a outro Espírito, isto é, para poder assisti-lo pessoalmente. Tanto assim que os que ainda se não elevaram bastante são também assistidos por outros, que lhes estão acima, de tal sorte que, se por qualquer circunstância um vem a faltar, outro lhe supre a falta.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX  – p. 253)

516. Poderiam os nossos bom e mau gênios encarnar, a fim de mais de perto nos acompanharem na vida?

“Isso às vezes se dá, porém, o que mais frequentemente se verifica é encarregarem dessa missão outros Espíritos encarnados que lhes são simpáticos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX  – p. 255)

519. As aglomerações de indivíduos, como as sociedades, as cidades, as nações, têm Espíritos protetores especiais?

“Têm, pela razão de que esses agregados são individualidades coletivas que, caminhando para um objetivo comum, precisam de uma direção superior.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 256)

520. Os Espíritos protetores das coletividades são de natureza mais elevada do que os que se ligam aos indivíduos?

“Tudo é relativo ao grau de adiantamento, quer se trate de coletividades, quer de indivíduos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 256)

[Espíritos Felizes – Sixdeniers] 

— P. (A Sixdeniers.) Tendes muitos Espíritos sofredores a guiar?

— R. Não; entretanto, regenerando algum, buscamos logo outro e assim por diante, sem abandonar os primeiros.

— P. Como podeis prover uma vigilância que deverá multiplicar-se ao infinito no decurso dos séculos?

— R. Os que regeneramos purificam-se e progridem sem que por isso nos deem maior cuidado; além disso, também nos vamos elevando, e, à proporção que subimos, as faculdades, como os poderes, se dilatam, na razão direta da nossa pureza. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo II – p. 181)

558. Alguma outra coisa incumbe aos Espíritos fazer, que não seja melhorarem-se pessoalmente?

“Concorrem para a harmonia do Universo, executando as vontades de Deus, cujos ministros eles são. A vida espírita é uma ocupação contínua, mas que nada tem de penosa, como a vida na Terra, porque não há a fadiga corporal, nem as angústias das necessidades.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 271)

559. Também desempenham função útil no Universo os Espíritos inferiores e imperfeitos?

“Todos têm deveres a cumprir. Para a construção de um edifício, não concorre tanto o último dos serventes de pedreiro, como o arquiteto?” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo X – p. 271)

645. Quando o homem se acha, de certo modo, mergulhado na atmosfera do vício, o mal não se lhe torna um arrastamento quase irresistível?

“Arrastamento, sim; irresistível, não; porquanto, mesmo dentro da atmosfera do vício, com grandes virtudes às vezes deparas. São Espíritos que tiveram a força de resistir e que, ao mesmo tempo, receberam a missão de exercer boa influência sobre os seus semelhantes.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 303)

45. […] É igualmente com o objetivo de fazer que a humanidade se adiante em determinado sentido que Espíritos superiores, embora não tenham as qualidades do Cristo, encarnam de tempos a tempos na Terra para desempenhar missões especiais, proveitosas, simultaneamente, ao adiantamento pessoal deles, se as cumprirem de acordo com os desígnios do Criador. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XI – p. 204-205)

622. Confiou Deus a certos homens a missão de revelarem a sua Lei?

“Indubitavelmente. Em todos os tempos houve homens que tiveram essa missão. São Espíritos superiores, que encarnam com o fim de fazer progredir a humanidade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 297)

7 de maio de 1856

(Em casa do Sr. Roustan; médium: Srta. Japhet)

MINHA MISSÃO [de Allan Kardec]

Pergunta (a Hahnemann) — Outro dia, disseram-me os Espíritos que eu tinha uma importante missão a cumprir e me indicaram o seu objeto. Desejaria saber se confirmas isso.

Resposta — Sim e, se observares as tuas aspirações e tendências e o objeto quase constante das tuas meditações, não te surpreenderás com o que te foi dito. Tens que cumprir aquilo com que sonhas desde longo tempo. É preciso que nisso trabalhes ativamente, para estares pronto, pois mais próximo do que pensas vem o dia.

P. — Para desempenhar essa missão tal como a concebo, são-me necessários meios de execução que ainda não se acham ao meu alcance.

R. — Deixa que a Providência faça a sua obra e serás satisfeito. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A minha primeira iniciação no Espiritismo – 338-339)

12 de junho de 1856

(Em casa do Sr. C…; médium: Srta. Aline C…)

MINHA MISSÃO [de Allan Kardec]

Pergunta (à Verdade) — Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns Espíritos me assinaram. Dize-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor-próprio. Tenho, como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário em chefe, a distância é grande e não percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a tantos outros que possuem talento e qualidades de que não disponho.

Resposta — Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria a maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar-se pela obra realizada e tu ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou tarde, visto que pelos frutos é que se verifica a qualidade da árvore.

P. — Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma missão na qual dificilmente creio. Se estou destinado a servir de instrumento aos desígnios da Providência, que ela disponha de mim. Nesse caso, reclamo a tua assistência e a dos bons Espíritos, no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.

R. — A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de teu lado, não fizeres o que for necessário. Tens o teu livre-arbítrio, do qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem é constrangido a fazer coisa alguma.

P. — Que causas poderiam determinar o meu malogro? Seria a insuficiência das minhas capacidades?

R. — Não; mas, a missão dos reformadores é prenhe de escolhos e perigos. Previno-te de que é rude a tua, porquanto se trata de abalar e transformar o mundo inteiro. Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranquilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo. Ora bem! não poucos recuam quando, em vez de uma estrada florida, só veem sob os passos urzes, pedras agudas e serpentes. Para tais missões, não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para agradar a Deus, humildade, modéstia e desinteresse, visto que Ele abate os orgulhosos, os presunçosos e os ambiciosos. Para lutar contra os homens, são indispensáveis coragem, perseverança e inabalável firmeza. Também são de necessidade prudência e tato, a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito com palavras ou medidas intempestivas. Exigem-se, por fim, devotamento, abnegação e disposição a todos os sacrifícios.

Vês, assim, que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti.

Espírito Verdade

Eu — Espírito Verdade, agradeço os teus sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.

Senhor! pois que te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios, faça-se a tua vontade! Está nas tuas mãos a minha vida; dispõe do teu servo. Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não desfalecerá, as forças, porém, talvez me traiam. Supre à minha deficiência; dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos momentos difíceis e, com o teu auxílio e dos teus celestes mensageiros, tudo envidarei para corresponder aos teus desígnios. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A minha primeira iniciação no Espiritismo – p. 343-345)

PRENHE: que foi enchido ao máximo; abarrotado, repleto, cheio.

ENCARNIÇADO: que demonstra ferocidade, cruentação; sanguinário. [Definição do Dicionário Online do Google]

CONJURAR: associar(-se) para determinado fim. [Definição do Dicionário Online do Google]

12 de abril de 1860

(Em casa do Sr. Dehau; médium: Sr. Crozet)

(Comunicação espontânea obtida na minha ausência)

MINHA MISSÃO [de Allan Kardec]

Pela sua firmeza e perseverança, o vosso Presidente desmanchou os projetos dos que procuravam destruir-lhe o crédito e arruinar a Sociedade, na esperança de desfecharem na Doutrina um golpe fatal. Honra lhe seja! Fique ele certo de que estamos a seu lado e que os Espíritos de sabedoria se sentirão felizes por poderem assisti-lo em sua missão. Quantos desejariam desempenhar a sombra dessa missão, para receberem a sombra dos benefícios que decorrem dela!

Ela, porém, é perigosa e, para cumpri-la, são necessárias uma fé e uma vontade inabaláveis, assim como abnegação e coragem para afrontar as injúrias, os sarcasmos, as decepções e não se alterar com a lama que a inveja e a calúnia atirem. Nessa posição, o menos que pode acontecer a quem a ocupa é ser tratado de louco e de charlatão. Deixai que falem, deixai que pensem livremente: tudo, exceto a felicidade eterna, dura pouco. Tudo vos será levado em conta e ficai sabendo que, para ser-se feliz, é preciso que se haja contribuído para a felicidade dos pobres seres de que Deus povoou a vossa terra. Permaneça, pois, tranquila e serena a vossa consciência: é o precursor da felicidade celeste. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A minha primeira iniciação no Espiritismo – p. 361-362)

22 de dezembro de 1861

(Em minha casa: comunicação particular; médium: Sr. d’A…)

MEU SUCESSOR [de Allan Kardec]

[…]

P. — Poderás dizer-me se a escolha do meu sucessor [de Allan Kardec] já está feita?

R. — Está, sem o estar, dado que o homem, dispondo do livre-arbítrio, pode no último momento recuar diante da tarefa que ele próprio elegeu. É também indispensável que dê provas de si, de capacidade, de devotamento, de desinteresse e de abnegação. Se se deixasse levar apenas pela ambição e pelo desejo de primar, seria certamente posto de lado. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A minha primeira iniciação no Espiritismo – p. 371)

[…] Ao te escolherem [a Kardec], os Espíritos conheciam a solidez das tuas convicções e sabiam que a tua fé, qual muro de aço, resistiria a todos os ataques.

Entretanto, amigo, se a tua coragem ainda não desfaleceu sob a tarefa tão pesada que aceitaste, fica sabendo que foste feliz até ao presente, mas que é chegada a hora das dificuldades. Sim, caro Mestre, prepara-se a grande batalha; o fanatismo e a intolerância, exacerbados pelo bom êxito da tua propaganda, vão atacar-te e aos teus com armas envenenadas. Prepara-te para a luta. Tenho, porém, fé em ti, como tu tens fé em nós, e sei que a tua fé é das que transportam montanhas e fazem caminhar por sobre as águas. Coragem, pois, e que a tua obra se complete. Conta conosco e conta sobretudo com a grande alma do Mestre de todos nós, que te protege de modo muito particular. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A minha primeira iniciação no Espiritismo – p. 373)

9. Somente a um hábil general, capaz de o dirigir, se confia o comando de um exército. Julgais que Deus seja menos prudente do que os homens? Ficai certos de que só confia missões importantes aos que Ele sabe capazes de as cumprir, porquanto as grandes missões são fardos pesados que esmagariam o homem carente de forças para carregá-los. Em todas as coisas, o mestre há de sempre saber mais do que o discípulo; para fazer que a Humanidade avance moralmente e intelectualmente, são precisos homens superiores em inteligência e em moralidade. Por isso, para essas missões são sempre escolhidos Espíritos já adiantados, que fizeram suas provas noutras existências, visto que, se não fossem superiores ao meio em que têm de atuar, nula lhes resultaria a ação.

Isto posto, haveis de concluir que o verdadeiro missionário de Deus tem de justificar, pela sua superioridade, pelas suas virtudes, pela grandeza, pelo resultado e pela influência moralizadora de suas obras, a missão de que se diz portador. Tirai também esta outra consequência: se, pelo seu caráter, pelas suas virtudes, pela sua inteligência, ele se mostra abaixo do papel com que se apresente, ou da personagem sob cujo nome se coloca, mais não é do que um histrião de baixo estofo, que nem sequer sabe imitar o modelo que escolheu. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXI – p. 272)

HISTRIÃO: indivíduo palhaço, farsista. [Definição do Dicionário Online do Google]

ESTOFO: garra, fibra, energia. [Definição do Dicionário Online do Google]

[Espíritos Felizes – A condessa Paula]

[…] Importante missão me é afeta, e grandemente me esforço por cumpri-la, o melhor possível. Não foi sem luta que alcancei a posição que ora ocupo na vida espiritual; e ficai certo de que a minha última existência, por mais meritória que porventura vos pareça, não era por si só e a tanto suficiente. Em várias existências passei por provas de trabalho e miséria que voluntariamente havia escolhido para fortalecer e depurar o meu Espírito; dessas provas tive a dita de triunfar, vindo a faltar no entanto uma, porventura de todas a mais perigosa: a da fortuna e bem-estar materiais, um bem-estar sem sombras de desgosto. Nessa consistia o perigo. E antes de o tentar, eu quis sentir-me assaz forte para não sucumbir. Deus, tendo em vista as minhas boas intenções, concedeu-me a graça do seu auxílio. Muitos Espíritos há que, seduzidos por aparências, pressurosos escolhem essa prova, mas, fracos para afrontar-lhe os perigos, deixam que as seduções do mundo triunfem da sua inexperiência.

Trabalhadores! estou nas vossas fileiras: eu, a dama nobre, ganhei como vós o pão com o suor do meu rosto; saturei-me de privações, sofri reveses e foi isso que me retemperou as forças da alma; do contrário eu teria falido na última prova, o que me teria deixado para trás na minha carreira.

Como eu, também vós tereis a vossa prova da riqueza, mas não vos apresseis em pedi-la muito cedo. E vós outros, ricos, tende sempre em mente que a verdadeira fortuna, a fortuna imorredoura, não existe na Terra; procurai antes saber o preço pelo qual podeis alcançar os benefícios do Todo-Poderoso.” (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo II – p. 200-201)

PRESSUROSO: que tem ou age com pressa; apressurado, apressado. [Definição do Dicionário Online do Google]

22. Chegados a certo grau de pureza, os Espíritos têm missões adequadas ao seu progresso; preenchem assim todas as funções atribuídas aos anjos de diferentes categorias. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo IX – p. 120)

119. Não podia Deus isentar os Espíritos das provas que lhes cumpre sofrer para chegarem à primeira ordem?

“Se Deus os houvesse criado perfeitos, nenhum mérito teriam para gozar dos benefícios dessa perfeição. Onde estaria o merecimento sem a luta? Demais, a desigualdade entre eles existente é necessária às suas personalidades. Acresce ainda que as missões que desempenham nos diferentes graus da escala estão nos desígnios da Providência, para a harmonia do Universo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 99-100)

2.3 DA ESPIRITUALIZAÇÃO DA EXISTÊNCIA

— O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que vence esta influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos bons Espíritos, em cuja companhia um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal;. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução – p. 25)

10. O Espírito tem por destino a vida espiritual, porém, nas primeiras fases da sua existência corpórea, somente às exigências materiais lhe cumpre satisfazer e, para tal, o exercício das paixões constitui uma necessidade para a conservação da espécie e dos indivíduos, materialmente falando. Mas, uma vez saído desse período, outras necessidades se lhe apresentam, a princípio semimorais e semimateriais, depois exclusivamente morais. É então que o Espírito exerce domínio sobre a matéria, sacode-lhe o jugo, avança pela senda providencial que se lhe acha traçada e se aproxima do seu destino final. Se, ao contrário, ele se deixa dominar pela matéria, atrasa-se e se identifica com o bruto. Nessa situação, o que era outrora um bem, porque era uma necessidade da sua natureza, transforma-se num mal, não só porque já não constitui uma necessidade, como porque se torna prejudicial à espiritualização do ser. Muita coisa, que é qualidade na criança, torna-se defeito no adulto. O mal é, pois, relativo e a responsabilidade é proporcionada ao grau de adiantamento. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo III – p. 67)

22. […] Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender e crede que Deus é justo em todas as coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no entanto, são as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreendem os vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa acanhada esfera e, à medida que vos elevardes, diminuirá para vós a importância da vida material que, nesse caso, se vos apresentará como simples incidente, no curso infinito da vossa existência espiritual, única existência verdadeira. – Fénelon (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 96)

OBTUSO: a que falta nitidez; confuso. [Definição do Dicionário Online do Google]

23. Vive o homem incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra na Terra. Entretanto, malgrado as vicissitudes que formam o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e turbará, e, coisa singular! o homem, como que de intento, cria para si tormentos que está nas suas mãos evitar. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 96)

PRELIBAR: sentir prazer antecipadamente ao pensar em (algo); antegozar, antefruir. [Definição do Dicionário Online do Google]

26. […]

Vós, porém, que vos retirais do mundo, para lhe evitar as seduções e viver no insulamento, que utilidade tendes na Terra? Onde a vossa coragem nas provações, uma vez que fugis à luta e desertais do combate? Se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas, e não aos vossos corpos; mortificai o vosso Espírito, e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amor-próprio; enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente do que a dor física. Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus. – Um anjo guardião (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 100)

ENRIJAR: tornar(-se) rijo, fortalecido, robusto (física e moralmente); arrijar(-se), enrijecer, enrobustecer(-se). [Definição do Dicionário Online do Google]

8. […] O sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao espírito e resignação. O coração bate então melhor, a alma se asserena e o corpo se forra aos desfalecimentos, por isso que o corpo tanto menos forte se sente, quanto mais profundamente golpeado é o espírito. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VI – p. 109)

FORRAR: pôr(-se) a salvo de; poupar(-se). [Definição do Dicionário Online do Google] 

5. Que queria Jesus dizer por estas palavras: “Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra”, tendo recomendado aos homens que renunciassem aos bens deste mundo e havendo-lhes prometido os do céu?

Enquanto aguarda os bens do céu, tem o homem necessidade dos da Terra para viver. Apenas, o que Ele lhe recomenda é que não ligue a estes últimos mais importância do que aos primeiros. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IX – p. 136)

[Espíritos Sofredores – Exprobrações de um boêmio]

[…]

Quem sacrifica aos instintos brutos a inteligência e os bons sentimentos que Deus lhe dá, assemelha-se ao animal que muitas vezes se maltrata. O homem deve utilizar-se sobriamente dos bens de que é depositário, habituando-se a visar a eternidade que o espera, abrindo mão, por consequência, dos gozos materiais. A sua alimentação deve ter por exclusivo fim a vitalidade; o luxo deve apenas restringir-se às necessidades da sua posição; os gostos, os pendores, mesmo os mais naturais, devem obedecer ao mais são raciocínio; sem o que, ele se materializa em vez de se purificar.

As paixões humanas são estreitos grilhões que se enroscam na carne e, assim, não lhes deis abrigo. Vós não sabeis o seu preço, quando regressamos à pátria! As paixões humanas vos despem antes mesmo de vos deixarem, de modo a chegardes nus, completamente nus, ante o Senhor. Ah! cobri-vos de boas obras que vos ajudem a franquear o Espaço entre vós e a eternidade. Manto brilhante, elas escondem as vossas torpezas humanas. Envolvei-vos na caridade e no amor — vestes divinas que duram eternamente. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 240)

FRANQUEAR: passar por cima ou através de; transpor; atravessar. [Definição do Dicionário Online do Google]

10. Meus caros condiscípulos, os Espíritos aqui presentes vos dizem, por meu intermédio: “Amai muito, a fim de serdes amados.” É tão justo esse pensamento, que nele encontrareis tudo o que consola e abranda as penas de cada dia; ou melhor: pondo em prática esse sábio conselho, elevar-vos-eis de tal modo acima da matéria que vos espiritualizareis antes de deixardes o invólucro terrestre. Havendo os estudos espíritas desenvolvido em vós a compreensão do futuro, uma certeza tendes: a de caminhardes para Deus, vendo realizadas todas as promessas que correspondem às aspirações de vossa alma. Por isso, deveis elevar-vos bem alto para julgardes sem as constrições da matéria, e não condenardes o vosso próximo sem terdes dirigido a Deus o pensamento. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XI – p. 158)

CONDISCÍPULO: colega, companheiro. [Definição do Dicio – Dicionário Online de Português]

13. […] Sim, meus filhos, é inútil que o homem ávido de gozos procure iludir-se sobre o seu destino nesse mundo, pretendendo ser-lhe lícito ocupar-se unicamente com a sua felicidade. Sem dúvida, Deus nos criou para sermos felizes na eternidade; entretanto, a vida terrestre tem que servir exclusivamente ao aperfeiçoamento moral, que mais facilmente se adquire com o auxílio dos órgãos físicos e do mundo material. Sem levar em conta as vicissitudes ordinárias da vida, a diversidade dos gostos, dos pendores e das necessidades, é esse também um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Com efeito, só a poder de concessões e sacrifícios mútuos podeis conservar a harmonia entre elementos tão diversos.

Tereis, contudo, razão, se afirmardes que a felicidade se acha destinada ao homem nesse mundo, desde que ele a procure, não nos gozos materiais, sim no bem. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XI – p. 161)

14. […]

[…] Quando Deus vos desferir um golpe, não esqueçais nunca que, ao lado da mais rude prova, coloca sempre uma consolação. Ponderai, sobretudo, que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa ideia vos ajudará a desprender-vos destes últimos. O pouco apreço que se ligue a uma coisa faz que menos sensível seja a sua perda. O homem que se aferra aos bens terrenos é como a criança que somente vê o momento que passa. O que deles se desprende é como o adulto que vê as coisas mais importantes, por compreender estas proféticas palavras do Salvador: “O meu reino não é deste mundo.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 229)

11. Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida uma viagem que o há de conduzir a determinado ponto, pouco caso faz das asperezas da jornada e não deixa que seus passos se desviem do caminho reto. Com o olhar constantemente dirigido para o termo a alcançar, nada lhe importa que as urzes e os espinhos ameacem produzir-lhe arranhaduras; umas e outros lhe roçam a epiderme, sem o ferirem, nem impedirem de prosseguir na caminhada. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XII – p. 172)

14. Venho, meus irmãos, meus amigos, trazer-vos o meu óbolo, a fim de vos ajudar a avançar, desassombradamente, pela senda do aperfeiçoamento em que entrastes. Nós nos devemos uns aos outros; somente pela união sincera e fraternal entre os Espíritos e os encarnados será possível a regeneração.

O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas materiais. Sede sinceros: proporciona a riqueza uma felicidade sem mescla? Quando tendes cheios os cofres, não há sempre um vazio no vosso coração? No fundo dessa cesta de flores não há sempre oculto um réptil? Compreendo a satisfação, bem justa, aliás, que experimenta o homem que, por meio de trabalho honrado e assíduo, ganhou uma fortuna; mas dessa satisfação, muito natural e que Deus aprova, a um apego que absorve todos os outros sentimentos e paralisa os impulsos do coração vai grande distância, tão grande quanto a que separa da prodigalidade exagerada a sórdida avareza, dois vícios entre os quais colocou Deus a caridade, santa e salutar virtude que ensina o rico a dar sem ostentação, para que o pobre receba sem baixeza. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 226)

ÓBOLO: Pequena moeda usada na antiguidade grega de valor insignificante, correspondia a um sexto de dracma. Donativo de pouco valor, dado aos pobres; esmola. [Definição do Dicio – Dicionário Online de Português]

912. Qual o meio mais eficiente de combater-se o predomínio da natureza corpórea?

“Praticar a abnegação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 404)

9. […] Ricos! […] Auxiliai os infelizes o melhor que puderdes. Dai, para que Deus, um dia, vos retribua o bem que houverdes feito, para que tenhais, ao sairdes do vosso invólucro terreno, um cortejo de Espíritos agradecidos, a receber-vos no limiar de um mundo mais ditoso.

Se pudésseis saber da alegria que experimentei ao encontrar no Além aqueles a quem, na minha última existência, me fora dado servir!… (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIII – p. 183-184)

14. […]

[…] O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 228)

A causa do orgulho está na crença, em que o homem se firma, da sua superioridade individual. Ainda aí se faz sentir a influência da concentração dos pensamentos sobre a vida corpórea. Naquele que nada vê adiante de si, atrás de si, nem acima de si, o sentimento da personalidade sobrepuja e o orgulho fica sem contrapeso.

A incredulidade não só carece de meios para combater o orgulho, como o estimula e lhe dá razão, negando a existência de um poder superior à Humanidade. O incrédulo apenas crê em si mesmo; é, pois, natural que tenha orgulho. Enquanto que, nos golpes que o atingem, unicamente vê uma obra do acaso e se ergue para combatê-la, aquele que tem fé percebe a mão de Deus e se submete. Crer em Deus e na vida futura é, conseguintemente, a primeira condição para moderar o orgulho; porém, não basta. Juntamente com o futuro, é necessário ver o passado, para fazer ideia exata do presente. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O egoísmo e o orgulho – p. 281-282)

941. Para muitas pessoas, o temor da morte é uma causa de perplexidade. Donde lhes vêm esse temor, tendo elas diante de si o futuro?

“Falece-lhes fundamento para semelhante temor. Mas que queres! se procuram persuadi-las, quando crianças, de que há um inferno e um paraíso e que mais certo é irem para o inferno, visto que também lhes disseram que o que está na Natureza constitui pecado mortal para a alma! Sucede então que, tornadas adultas, essas pessoas, se algum juízo têm, não podem admitir tal coisa e se fazem ateias ou materialistas. São assim levadas a crer que, além da vida presente, nada mais há. Quanto aos que persistiram nas suas crenças da infância, esses temem aquele fogo eterno que os queimará sem os consumir.

Ao justo, nenhum temor inspira a morte, porque, com a fé, tem ele a certeza do futuro. A esperança fá-lo contar com uma vida melhor; e a caridade, a cuja lei obedece, lhe dá a segurança de que, no mundo para onde terá de ir, nenhum ser encontrará cujo olhar lhe seja de temer.”

Nota – O homem carnal, mais preso à vida corpórea do que à vida espiritual, tem, na Terra, penas e gozos materiais. Sua felicidade consiste na satisfação fugaz de todos os seus desejos. Sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, se conserva numa ansiedade e numa tortura perpétuas. A morte o assusta, porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeições e esperanças.

O homem moral, que se colocou acima das necessidades factícias criadas pelas paixões, já neste mundo experimenta gozos que o homem material desconhece. A moderação de seus desejos lhe dá ao Espírito calma e serenidade. Ditoso pelo bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades lhe deslizam por sobre a alma, sem nenhuma impressão dolorosa deixarem. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 423)

942. Pessoas não haverá que achem um tanto banais esses conselhos para ser-se feliz na Terra; que neles vejam o que chamam lugares comuns, sediciosas verdades; e que digam, que, afinal, o segredo para ser-se feliz consiste em saber cada um suportar a sua desgraça?

“Há as que isso dizem e em grande número, mas muitas se parecem com certos doentes a quem o médico prescreve a dieta; desejariam curar-se sem remédios e continuando a apanhar indigestões.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 423-424)

SEDICIOSO: revoltoso, insurgente, insubordinado. [Definição do Dicionário Online do Google] 

1018. Em que sentido se devem entender estas palavras do Cristo: Meu Reino não é deste mundo?

“Respondendo assim, o Cristo falava em sentido figurado. Queria dizer que o seu reinado se exerce unicamente sobre os corações puros e desinteressados. Ele está onde quer que domine o amor do bem. Ávidos, porém, das coisas deste mundo e apegados aos bens da Terra, os homens com Ele não estão.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 459)

799. De que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso?

“Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio do presente, lhe é dado preparar o seu futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 361)

5. A ideia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no porvir, fé que acarreta enormes consequências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, breve estada num país ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguir-se-lhes um estado mais ditoso. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo II – p. 53)

Com esse conhecimento [do Espiritismo] podemos saber qual será a nossa condição de felicidade ou infelicidade na vida futura, bem como a causa de nossos sofrimentos atuais, e a maneira de aliviá-los.

A difusão das ideais espíritas será inevitável e terá como efeito a destruição do materialismo que não resistirá às evidências dos fatos.

O homem, convencido da grandeza e da importância da sua existência futura, que é eterna, a compara com a incerteza da vida terrestre, que é tão curta, e se eleva por meio do pensamento acima das mesquinhas considerações humanas.

Conhecendo antecipadamente a causa e o término de suas misérias, resigna-se com paciência porque sabe que são meios para alcançar um estado melhor. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 26-27)

13. O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a duração do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento terá presto passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar. Contrariamente, para aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe parece esta, e a dor o oprime com todo o seu peso. Daquela maneira de considerar a vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se compelido o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, a receber atenuada a impressão dos reveses e das decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o ciúme e a ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as angústias da sua curta existência. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 87-88)

8. […] Somente a fé na vida futura e na Justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XII – p. 170)

36. […] A crença somente é válida se nos fizer dar um passo na senda do progresso e nos tornar melhores homens, uns para com os outros. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 40-41)

9. O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. Quando alguém vai a um país distante, constitui a sua bagagem de objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali lhe seriam inúteis. Procedei do mesmo modo com relação à vida futura; aprovisionai-vos de tudo o de que lá vos possais servir. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 222)

12. Quando considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante preocupação de que é para vós objeto o bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dais ao vosso aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum tempo consagrais e que, no entanto, é o que importa para a eternidade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 224)

Outros, porém, são os sentimentos daquele que tem fé no futuro [em oposição à doutrina do nadismo]; que sabe que nada do que adquiriu em saber e em moralidade lhe estará perdido; que o trabalho de hoje dará seus frutos amanhã; que ele próprio fará parte das gerações porvindouras, mais adiantadas e mais ditosas. Sabe que, trabalhando para os outros, trabalha para si mesmo. Sua visão não se detém na Terra, abrange a infinidade dos mundos que lhe servirão um dia de morada; entrevê o glorioso lugar que lhe caberá, como o de todos os seres que alcançam a perfeição.

Com a fé na vida futura, dilata-se-lhe o círculo das ideias; o porvir lhe pertence; o progresso pessoal tem um fim, uma utilidade real. Da continuidade das relações entre os homens nasce a solidariedade; a fraternidade se funda numa lei da Natureza e no interesse de todos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo espírita – p. 465)

14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 88)

[…] Continuai, pelo exemplo, a provar os benéficos resultados desta Doutrina [Espírita]. Aos que perguntarem para que pode ela servir, respondei: Em meu desespero eu queria me matar; o Espiritismo me deteve, porque agora sei o que custa abreviar voluntariamente as provas que Deus houve por bem mandar aos homens. Para me atordoar, embriagava-me; compreendi o quanto era desprezível por me tirar voluntariamente a razão, privando-me assim de ganhar o meu pão e o de meus filhos. Havia-me divorciado de todos os sentimentos religiosos: hoje rogo a Deus e deponho as esperanças na sua misericórdia. Só acreditava no nada, como supremo remédio para as minhas misérias; meu pai comunicou-se comigo e me disse: Filho, coragem! Deus te vê; mais um esforço e estarás salvo! Ajoelhei-me perante Deus e lhe pedi perdão. Vendo ricos e pobres, gente que tem tudo e outros que nada têm, acusava a Providência; hoje sei que Deus tudo pesa na balança da justiça e espero o seu julgamento; se estiver em seus decretos que eu deva sucumbir no sofrimento, então sucumbirei, mas com a consciência pura e sem levar o remorso de haver roubado um óbolo a quem me podia salvar a vida. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem espírita em 1861 – p. 61)

19. […] O Senhor apôs o seu selo em todos os que nele creem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo ficará sob a sua égide e não mais sofrerá. Os momentos das mais fortes dores lhe serão as primeiras notas alegres da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira do corpo que, enquanto ele se estorcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, entoando, com os anjos, hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor. Ditosos os que sofrem e choram! Alegres estejam suas almas, porque Deus as cumulará de bem-aventuranças. – Santo Agostinho  (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 92)

ÉGIDE: o que protege, ampara. [Definição do Dicionário Online do Google]

Nota – Os Espíritos que sucumbem são geralmente levados a alegar um compromisso superior às próprias forças – o que é ainda um resto de orgulho e um meio de se desculparem para consigo mesmos, não se conformando com a própria fraqueza. Deus não dá a ninguém mais do que possa suportar, não exige da árvore nascente os frutos dados pelo tronco desenvolvido. Ademais, os Espíritos têm a liberdade; o que lhes falta é a vontade, e esta depende deles exclusivamente. Com força de vontade não há tendências viciosas insuperáveis; mas, quando um vício nos apraz, é natural que não façamos esforços por domá-lo. Assim, somente a nós devemos atribuir as respectivas consequências. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 245)

21. […] Humanos, é nesse ponto que precisais elevar-vos acima do terra a terra da vida, para compreenderdes que o bem, muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia previdência onde pensais divisar a cega fatalidade do destino. Por que haveis de avaliar a Justiça divina pela vossa? Podeis supor que o Senhor dos mundos se aplique, por mero capricho, a vos infligir penas cruéis? Nada se faz sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos advêm, nelas encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e os vossos miseráveis interesses se tornariam de tão secundária consideração, que os atiraríeis para o último plano. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V – p. 94)

921. Concebe-se que o homem será feliz na Terra quando a Humanidade estiver transformada. Enquanto isso se não verifica, pode-se conseguir uma felicidade relativa?

“O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.”

Nota – Aquele que se acha bem compenetrado de seu destino futuro não vê na vida corporal mais do que uma estação temporária, uma como parada momentânea em péssima hospedaria. Facilmente se consola de alguns aborrecimentos passageiros de uma viagem que o levará a tanto melhor posição, quanto melhor tenha cuidado dos preparativos para empreendê-la. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 413)

922. A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?

“Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Quarta – Capítulo I – p. 414)

[Espíritos Felizes – A Srta. Emma]

“Os que sofrem na Terra, são recompensados na outra vida.

Deus é repleto de Justiça e Misericórdia para com os que aqui sofrem.

Concede a felicidade pura e perfeita, que não se deveria temer os sofrimentos e tampouco a morte, se fosse possível aos pobres seres humanos saber os misteriosos desígnios de nosso Criador.

Mas a Terra é um local de muitas provações e frequentemente semeados de dores bem pungentes.

Seja resignado se for ferido e diante de Deus que é o criador absoluto, inclinai-vos pela vossa bondade quando Ele vos dar um fardo pesado para suportar.

Se Ele vos chamar depois de grandes sofrimentos, se nenhum lamento ou murmúrio entrar em vosso coração, vereis como eram poucas essas dores e as penas da Terra, quando percebeis a recompensa que Deus vos reserva.

Bem cedo deixei a Terra e Deus quis me perdoar e dar-me a vida daqueles que respeitam vossa vontade.

Adorai e amai de todo coração para sempre a Deus.

Acima de tudo orai firmemente.

É nisto que consiste o vosso sustentáculo aqui na Terra.

A vossa esperança, a vossa salvação.” Emma (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo II – p. 209)

37. Tirai ao homem o Espírito livre e independente, sobrevivente à matéria, e fareis dele uma simples máquina organizada, sem finalidade, nem responsabilidade; sem outro freio além da lei civil e própria a ser explorada como um animal inteligente. Nada esperando depois da morte, nada obsta a que aumente os gozos do presente; se sofre, só tem a perspectiva do desespero e o nada como refúgio. Com a certeza do futuro, com a de encontrar de novo aqueles a quem amou e com o temor de tornar a ver aqueles a quem ofendeu, todas as suas ideias mudam. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo I – p. 31-32)

O homem não se preocupará com a vida futura, senão quando vir nela um fim claro e positivamente definido, uma situação lógica, em correspondência com todas as suas aspirações, que resolva todas as dificuldades do presente e em que não se lhe depare coisa alguma que a razão não possa admitir. Se ele se preocupa com o dia seguinte, é porque a vida do dia seguinte se liga intimamente à vida do dia anterior; uma e outra são solidárias; ele sabe que do que fizer hoje depende a sua posição amanhã e que do que fizer amanhã dependerá a sua posição no dia imediato e assim por diante.

Tal tem de ser para ele a vida futura, quando esta não mais se achar perdida nas nebulosidades da abstração e for uma atualidade palpável, complemento necessário da vida presente, uma das fases da vida geral, como os dias são fases da vida corporal. Quando vir o presente reagir sobre o futuro, pela força das coisas, e, sobretudo, quando compreender a reação do futuro sobre o presente; quando, em suma, verificar que o passado, o presente e o futuro se encadeiam por inflexível necessidade, como o ontem, o hoje e o amanhã na vida atual, oh! então suas ideias mudarão completamente, porque ele verá na vida futura não só um fim, como também um meio; não um efeito distante, mas atual. Então, igualmente, essa crença exercerá sem dúvida, e por uma consequência toda natural, ação preponderante sobre o estado social e sobre a moralização da Humanidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A vida futura – p. 262-263)

Identifique-se o homem com a vida futura e completamente mudará a sua maneira de ver, como a do indivíduo que apenas por poucas horas haja de permanecer numa habitação má e que sabe que, ao sair, terá outra, magnífica, para o resto de seus dias.

A importância da vida presente, tão triste, tão curta, tão efêmera, se apaga, para ele, ante o esplendor do futuro infinito que se lhe desdobra às vistas. A consequência natural e lógica dessa certeza é sacrificar o homem um presente fugidio a um porvir duradouro, ao passo que antes ele tudo sacrificava ao presente. Tomando por objetivo a vida futura, pouco lhe importa estar um pouco mais ou um pouco menos nesta outra; os interesses mundanos passam a ser o acessório, em vez de ser o principal; ele trabalha no presente com o fito de assegurar a sua posição no futuro, tanto mais quando sabe em que condições poderá ser feliz.

Pelo que toca aos interesses terrenos, podem os humanos criar-lhe obstáculos: ele tem que os afastar e se torna egoísta pela força mesma das coisas. Se lançar os olhos para o alto, para uma felicidade a que ninguém pode obstar, interesse nenhum se lhe deparará em oprimir a quem quer que seja e o egoísmo se lhe torna carente de objeto. Todavia, restará o estimulante do orgulho. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O orgulho e o egoísmo – p. 280-281)

[Espíritos em condições medianas – Joseph Bré]

(Falecido em 1840 e evocado em Bordeaux, por sua neta, em 1862.)

O homem honesto segundo Deus ou segundo os homens

1. Caro avô, podeis dizer-me como vos encontrais no mundo dos Espíritos, dando-me quaisquer pormenores úteis ao nosso progresso?

— R. Tudo que quiseres, querida filha. Eu expio a minha descrença; porém, grande é a bondade de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias imaginar: é o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra.

2. Como? Pois não vivestes sempre honestamente?

— R. Sim, no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus. E uma vez que desejas instruir-te, procurarei demonstrar-te a diferença. Aí, entre vós, é reputado honesto aquele que respeita as leis do seu país, respeito arbitrário para muitos. Honesto é aquele que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o culpado hipócrita.

Podendo fazer gravar na pedra do túmulo um epitáfio de virtude, julgam muitos terem pago sua dívida à humanidade! Erro! Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso antes de tudo não haver transgredido as Leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for ativo na vida; ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações, sem esquecer a condição de servo ao qual o Senhor pedirá contas, um dia, do emprego do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.

“Assim o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo. O homem honesto, segundo Deus, deve ter sempre cerrado o coração a quaisquer germens de orgulho, de inveja, de ambição; deve ser paciente e benévolo para com os que o agredirem; deve perdoar do fundo da alma, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda; deve, enfim, praticar o preceito conciso e grandioso que se resume ‘no amor de Deus sobre todas as coisas e do próximo como a si mesmo’.

“Eis aí, querida filha, aproximadamente o que deve ser o homem honesto perante Deus. Pois bem: tê-lo-ia eu sido? (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo III – p. 219-220)

MORDAZ: que agride ou corrói; cáustico, corrosivo, sarcástico. [Definição do Dicionário Online do Google]

626. Só por Jesus foram reveladas as leis divinas e naturais? Antes do seu aparecimento, o conhecimento dessas leis só por intuição os homens o tiveram?

“Já não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Desde os séculos mais longínquos, todos os que meditaram sobre a sabedoria hão podido compreendê-las e ensiná-las. Pelos ensinos, mesmo incompletos, que espalharam, prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da natureza, possível foi ao homem conhecê-las, logo que as quis procurar. Por isso é que os preceitos que consagram foram, desde todos os tempos, proclamados pelos homens de bem; e também por isso é que elementos delas se encontram, se bem que incompletos ou adulterados pela ignorância, na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 298)

Jesus assentou o princípio da caridade, da igualdade e da fraternidade, fazendo dele uma condição expressa para a salvação; mas, estava reservado à terceira manifestação da vontade de Deus, ao Espiritismo, pelo conhecimento que faculta da vida espiritual, pelos novos horizontes que desvenda e pelas leis que revela, sancionar esse princípio, provando que ele não encerra uma simples doutrina moral, mas uma lei da Natureza que o homem tem o máximo interesse em praticar. Ora, ele a praticará desde que, deixando de encarar o presente como o começo e o fim, compreenda a solidariedade que existe entre o presente, o passado e o futuro. No campo imenso do infinito, que o Espiritismo lhe faz entrever, anula-se a sua importância capital e ele percebe que, por si só, nada vale e nada é; que todos têm necessidade uns dos outros e que uns não são mais do que os outros: duplo golpe, no seu egoísmo e no seu orgulho.

Mas, para isso, é-lhe necessária a fé, sem a qual permanecerá na rotina do presente, não a fé cega, que foge à luz, restringe as ideias e, em consequência, alimenta o egoísmo. É-lhe necessária a fé inteligente, racional, que procura a claridade e não as trevas, que ousadamente rasga o véu dos mistérios e alarga o horizonte. Essa fé, elemento básico de todo progresso, é que o Espiritismo lhe proporciona, fé robusta, porque assente na experiência e nos fatos, porque lhe fornece provas palpáveis da imortalidade da sua alma, lhe mostra donde ele vem, para onde vai e por que está na Terra e, finalmente, lhe firma as ideias, ainda incertas, sobre o seu passado e sobre o seu futuro.

Uma vez que haja entrado decisivamente por esse caminho, já não tendo o que os incite, o egoísmo e o orgulho se extinguirão pouco a pouco, por falta de objetivo e de alimento, e todas as relações sociais se modificarão sob o influxo da caridade e da fraternidade bem compreendidas. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O egoísmo e o orgulho – p. 284-285)

O homem que se esforça seriamente por se melhorar assegura para si a felicidade, já nesta vida. Além da satisfação que proporciona à sua consciência, ele se isenta das misérias materiais e morais, que são a consequência inevitável das suas imperfeições. Terá calma, porque as vicissitudes só de leve o roçarão. Gozará de saúde, porque não estragará o seu corpo com os excessos. Será rico, porque rico é sempre todo aquele que sabe contentar-se com o necessário. Terá a paz do espírito, porque não experimentará necessidades fictícias, nem será atormentado pela sede das honrarias e do supérfluo, pela febre da ambição, da inveja e do ciúme. Indulgente para com as imperfeições alheias, menos sofrimentos lhe causarão elas, que, antes, lhe inspirarão piedade e não cólera. Evitando tudo o que possa prejudicar o seu próximo, por palavras e por atos, procurando, ao invés, fazer tudo o que possa ser útil e agradável aos outros, ninguém sofrerá com o seu contato.

Garante a sua felicidade na vida futura, porque, quanto mais ele se depurar, tanto mais se elevará na hierarquia dos seres inteligentes e cedo abandonará esta terra de provações, por mundos superiores, porquanto o mal que haja reparado nesta vida não terá que o reparar em outras existências; porquanto, na erraticidade, só encontrará seres amigos e simpáticos e não será atormentado pela visão incessante dos que contra ele tenham motivos de queixa.

Vivam juntos alguns homens, animados desses sentimentos, e serão tão felizes quanto o comporta a nossa terra. Ganhem assim, passo a passo, esses sentimentos todo um povo, toda uma raça, toda a Humanidade e o nosso globo tomará lugar entre os mundos ditosos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo espírita – p. 463)

5. […] Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VI – p. 107)

9. […] O Cristo foi o iniciador da mais pura, da mais sublime moral, da moral evangélico-cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações a caridade e o amor do próximo e estabelecer entre os humanos uma solidariedade comum; de uma perfeita moral, enfim, que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos que hoje a habitam. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo I – p. 46)

Pobres ovelhas desgarradas, aprendei a ver aproximar-se de vós o bom Pastor, que, longe de vos banir para todo o sempre de sua presença, vem pessoalmente ao vosso encontro, para vos reconduzir ao aprisco. Filhos pródigos, deixai o vosso voluntário exílio; encaminhai vossos passos para a morada paterna. O Pai vos estende os braços e está sempre pronto a festejar o vosso regresso ao seio da família.” Lamennais (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 450)

18. Disse o Cristo: “Deixai que venham a mim as criancinhas.” Profundas em sua simplicidade, essas palavras não continham um simples chamamento dirigido às crianças, mas também o das almas que gravitam nas regiões inferiores, onde o infortúnio desconhece a esperança. Jesus chamava a si a infância intelectual da criatura formada: os fracos, os escravizados e os viciosos. Ele nada podia ensinar à infância física, presa à matéria, submetida ao jugo do instinto, ainda não incluída na categoria superior da razão e da vontade que se exercem em torno dela e por ela.

Queria que os homens a Ele fossem com a confiança daqueles entezinhos de passos vacilantes, cujo chamamento conquistava, para o seu, o coração das mulheres, que são todas mães. Submetia assim as almas à sua terna e misteriosa autoridade. Ele foi o facho que ilumina as trevas, a claridade matinal que toca a despertar; foi o iniciador do Espiritismo, que a seu turno atrairá para Ele, não as criancinhas, mas os homens de boa vontade. Está empenhada a ação viril; já não se trata de crer instintivamente, nem de obedecer maquinalmente; é preciso que o homem siga a lei inteligente que se lhe revela na sua universalidade. […] João Evangelista. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 130-131)

28. […] 3º [Entre os que se convenceram por um estudo direto] Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as consequências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do progresso, única que os pode elevar na hierarquia do mundo dos Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e coibir seus maus pendores. As relações com eles sempre oferecem segurança, porque a convicção que nutrem os preserva de pensarem praticar o mal. A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo III – p. 38)

38. A crença no Espiritismo somente é proveitosa para aquele de quem se pode dizer: hoje ele é melhor do que ontem. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 41)

11. […] 

[…] Aquele, portanto, que não aproveita essas máximas [“muito se pedirá àquele que muito recebeu”] para melhorar-se, que as admira como coisas interessantes e curiosas, sem que lhe toquem o coração, que não se torna nem menos vão, nem menos orgulhoso, nem menos egoísta, nem menos apegado aos bens materiais, nem melhor para seu próximo, mais culpado é, porque mais meios tem de conhecer a verdade.

Os médiuns que obtêm boas comunicações ainda mais censuráveis são, se persistem no mal, porque muitas vezes escrevem sua própria condenação e porque, se não os cegasse o orgulho, reconheceriam que a eles é que se dirigem os Espíritos. Todavia, em vez de tomarem para si as lições que escrevem, ou que leem escritas por outros, têm por única preocupação aplicá-las aos demais, confirmando assim estas palavras de Jesus: “Vedes um argueiro no olho do vosso próximo e não vedes a trave que está no vosso.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVIII – p. 249)

Mateus, 5:1-2 

9. […] Conseguir a assistência destes [os bons Espíritos], afastar os Espíritos levianos e mentirosos, tal deve ser a meta para qual convirjam os esforços constantes de todos os médiuns sérios. Sem isso, a mediunidade se torna uma faculdade estéril, capaz mesmo de redundar em prejuízo daquele que a possua, pois pode degenerar em perigosa obsessão.

O médium que compreende o seu dever, longe de se orgulhar de uma faculdade que não lhe pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui a Deus as boas coisas que obtém. Se as suas comunicações receberem elogios, não se envaidecerá com isso, porque as sabe independentes do seu mérito pessoal; agradece a Deus o haver consentido que por seu intermédio bons Espíritos se manifestassem. Se dão lugar à crítica, não se ofende, porque não são obra do seu próprio Espírito. Ao contrário, reconhece no seu íntimo que não foi um instrumento bom e que não dispõe de todas as qualidades necessárias a obstar a imiscuição dos Espíritos maus. Cuida, então, de adquirir essas qualidades e suplica, por meio da prece, as forças que lhe faltam. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 336)

919. Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?

“Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.

a) Concebemos toda a sabedoria desta máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?

“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: ‘Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?’.

Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.

O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na podereis ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.

Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o objeto de todos os vossos desejos, o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! que é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de alguns esforços? Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o futuro. Ora, esta exatamente a ideia que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este objetivo é que ditamos O livro dos espíritos.Santo Agostinho

Nota – Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que uma máxima, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós mesmos. Aquela exige respostas categóricas, por um sim ou um não, que não abrem lugar para qualquer alternativa e que não outros tantos argumentos pessoais. E, pela soma que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que existe em nós. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 408-410)

7. […] Sede pacientes. A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência.

A vida é difícil, bem o sei. Compõe-se de mil nadas, que são outras tantas picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém, atentarmos nos deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que, por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito mais numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesado, quando se olha para o alto, do que quando se curva para a terra a fronte. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IX – p. 137)

4. A misericórdia é o complemento da brandura, porquanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. Ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam alma sem elevação, nem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir. Uma é sempre ansiosa, de sombria suscetibilidade e cheia de fel; a outra é calma, toda mansidão e caridade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 142)

Durante a minha estada em Lyon, assistindo a uma reunião espírita, um homem, por cujas roupas identifiquei um trabalhador, levantou-se no fundo da sala e disse: “Senhor, há seis meses eu não acreditava em Deus, nem no diabo, nem em minha alma; estava convencido de que quando morremos tudo se acaba; não temia as penas futuras, pois me parecia que tudo se findava com a vida. Devo dizer-vos que não orava, e que desde a minha primeira comunhão não voltei a pôr os pés numa igreja; além disso, eu era violento e exaltado. Enfim, nada temia, nem mesmo a justiça humana. Há seis meses, assim era eu. Foi então que o Espiritismo chegou; lutei durante dois meses; mas li, compreendi e não pude me furtar à evidência. Uma verdadeira revolução operou-se em mim. Hoje já não sou o mesmo homem; oro todos os dias e vou à igreja. Quanto ao meu caráter, perguntai aos meus camaradas se mudei! Outrora eu me irritava com tudo: um nada me exasperava; agora estou tranquilo e feliz, bendizendo a Deus por me ter enviado a luz.” (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem espírita em 1862 – p. 35)

535. Quando algo de venturoso nos sucede é ao Espírito nosso protetor que devemos agradecê-lo?

“Agradecei primeiramente a Deus, sem cuja permissão nada se faz; depois, aos bons Espíritos que foram os agentes da sua vontade.”

a) Que sucederia se nos esquecêssemos de agradecer?

“O que sucede aos ingratos.”

b) No entanto, pessoas há que não pedem nem agradecem e às quais tudo sai bem!

“Assim é, de fato, mas importa ver o fim. Pagarão bem caro essa felicidade de que não são merecedoras, pois quanto mais houverem recebido, tanto maiores contas terão que prestar.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 261-262)

22. O dever primordial de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece. Quase todos vós orais, mas quão poucos são os que sabem orar! Que importam ao Senhor as frases que maquinalmente articulais umas às outras, fazendo disso um hábito, um dever que cumpris e que vos pesa como qualquer dever?

A prece do cristão, do espírita, seja qual for o culto, deve ele dizê-la logo que o Espírito haja retomado o jugo da carne; deve elevar-se aos pés da majestade divina com humildade, com profundeza, num ímpeto de reconhecimento por todos os benefícios recebidos até aquele dia; pela noite transcorrida e durante a qual lhe foi permitido, ainda que sem consciência disso, ir ter com os seus amigos, com os seus guias, para haurir, no contato com eles, mais força e perseverança. Deve ela subir humilde aos pés do Senhor, para lhe recomendar a vossa fraqueza, para lhe suplicar amparo, indulgência e misericórdia. Deve ser profunda, porquanto é a vossa alma que tem de elevar-se para o Criador, de transfigurar-se, como Jesus no Tabor, a fim de lá chegar nívea e radiosa de esperança e de amor.

A vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê alegrias e riquezas. Rogai-lhe que vos conceda os bens mais preciosos da paciência, da resignação e da fé. Não digais, como o fazem muitos: “Não vale a pena orar, porquanto Deus não me atende.” Que é o que, na maioria dos casos, pedis a Deus? Já vos tendes lembrado de pedir-lhe a vossa melhoria moral? Oh! não; bem poucas vezes o tendes feito. O que preferentemente vos lembrais de pedir é o bom êxito para os vossos empreendimentos terrenos e haveis com frequência exclamado: “Deus não se ocupa conosco; se se ocupasse, não se verificariam tantas injustiças.” Insensatos! Ingratos! Se descêsseis ao fundo da vossa consciência, quase sempre depararíeis, em vós mesmos, com o ponto de partida dos males de que vos queixais. Pedi, pois, antes de tudo, que vos possais melhorar e vereis que torrente de graças e de consolações se derramará sobre vós.

Deveis orar incessantemente, sem que, para isso, se faça mister vos recolhais ao vosso oratório, ou vos lanceis de joelhos nas praças públicas. A prece do dia é o cumprimento dos vossos deveres, sem exceção de nenhum, qualquer que seja a natureza deles. Não é ato de amor a Deus assistirdes os vossos irmãos numa necessidade, moral ou física? Não é ato de reconhecimento o elevardes a Ele o vosso pensamento, quando uma felicidade vos advém, quando evitais um acidente, quando mesmo uma simples contrariedade apenas vos roça a alma, desde que vos não esqueçais de exclamar: Sede bendito, meu Pai?! Não é ato de contrição o vos humilhardes diante do supremo Juiz, quando sentis que falistes, ainda que somente por um pensamento fugaz, para lhe dizerdes: Perdoai-me, meu Deus, pois pequei (por orgulho, por egoísmo, ou por falta de caridade); dai-me forças para não falir de novo e coragem para a reparação da minha falta?!

Isso independe das preces regulares da manhã, da noite e dos dias consagrados. Como o vedes, a prece pode ser de todos os instantes, sem nenhuma interrupção acarretar aos vossos trabalhos. Dita assim, ela, ao contrário, os santifica. Tende como certo que um só desses pensamentos, se partir do coração, é mais ouvido pelo vosso Pai celestial do que as longas orações ditas por hábito, muitas vezes sem causa determinante e às quais apenas maquinalmente vos chama a hora convencional. – V. Monod. (Bordeaux, 1862.) (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVII – p. 321-322)

NÍVEO:  alva, láctea, nevada, branca. [Definição  do Dicio – Dicionário Online de Português] ;

44. A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar e se aproximar do criador; é entrar em comunicação com Ele. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 42)

45. Quem ora com confiança e fervorosamente torna-se mais forte para resistir às tentações do mal. Deus lhe envia bons Espíritos em seu auxílio. Trata-se de um socorro que jamais lhe é negado, quando o pedido é feito com sinceridade. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 42)

47. Aquele que solicita o perdão de Deus para os seus erros, somente o obtém por meio da mudança de conduta. A melhor prece reside nas boas ações, porquanto os atos valem mais do que as palavras. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 42)

50. Cada um deve pedir de acordo com suas convicções e do modo que julgar mais adequado; pois a forma não é nada, o pensamento é tudo; a sinceridade e a pureza de intenção são essenciais; um bom pensamento vale mais do que inúmeras palavras, que se parecem com o ruído de um moinho em que não toma parte o coração. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 43)

523. Acontecendo que os pressentimentos e a voz do instinto são sempre algum tanto vagos, que devemos fazer, na incerteza em que ficamos?

“Quando te achares na incerteza, invoca o teu bom Espírito, ou ora a Deus, soberano senhor de todos, e Ele te enviará um de seus mensageiros, um de nós.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 257)

23. […] Avançai, avançai pelas veredas da prece e ouvireis as vozes dos anjos. Que harmonia! Já não são o ruído confuso e os sons estrídulos da Terra; são as liras dos arcanjos; são as vozes brandas e suaves dos serafins, mais delicadas do que as brisas matinais, quando brincam na folhagem dos vossos bosques. Por entre que delícias não caminhareis! A vossa linguagem não poderá exprimir essa ventura, tão rápida entra ela por todos os vossos poros, tão vivo e refrigerante é o manancial em que, orando, se bebe. Dulçorosas vozes, inebriantes perfumes, que a alma ouve e aspira, quando se lança a essas esferas desconhecidas e habitadas pela prece! Sem mescla de desejos carnais, são divinas todas as aspirações. Também vós, orai como o Cristo, levando a sua cruz ao Gólgota, ao Calvário. Carregai a vossa cruz e sentireis as doces emoções que lhe perpassavam na alma, se bem que vergado ao peso de um madeiro infamante. Ele ia morrer, mas para viver a vida celestial na morada de seu Pai. – Santo Agostinho. (Paris, 1861.) (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVII – p. 323)

ESTRÍDULO: que ou o que se caracteriza pelo som agudo, ruidoso, penetrante. [Definição do Dicionário Online do Google] 

11. […] Despertai, meus irmãos, meus amigos. Que a voz dos Espíritos ecoe nos vossos corações. Sede generosos e caridosos, sem ostentação, isto é, fazei o bem com humildade. Que cada um proceda pouco a pouco à demolição dos altares que todos ergueram ao orgulho. Numa palavra: sede verdadeiros cristãos e tereis o Reino da Verdade. Não continueis a duvidar da bondade de Deus, quando dela vos dá Ele tantas provas. Vimos preparar os caminhos para que as profecias se cumpram. Quando o Senhor vos der uma manifestação mais retumbante da sua clemência, que o enviado celeste já vos encontre formando uma grande família; que os vossos corações, mansos e humildes, sejam dignos de ouvir a palavra divina que Ele vos vem trazer; que ao eleito somente se deparem em seu caminho as palmas que aí tenhais deposto, volvendo ao bem, à caridade, à fraternidade. Então, o vosso mundo se tornará o paraíso terrestre. No entanto, se permanecerdes insensíveis à voz dos Espíritos enviados para depurar e renovar a vossa sociedade civilizada, rica de ciências, mas tão pobre de bons sentimentos, ah! então não nos restará senão chorar e gemer pela vossa sorte. Mas não, assim não será. Voltai para Deus, vosso Pai, e todos nós que houvermos contribuído para o cumprimento da sua vontade entoaremos o cântico de ação de graças, agradecendo-lhe a inesgotável bondade e glorificando-o por todos os séculos dos séculos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VI – p. 119)

15. […] “Tira-se ao que não tem ou tem pouco.” Tomai isso como uma antítese figurada. Deus não retira das suas criaturas o bem que se haja dignado de fazer-lhes. Homens cegos e surdos, abri as vossas inteligências e os vossos corações; vede pelo vosso espírito; ouvi pela vossa alma e não interpreteis de modo tão grosseiramente injusto as palavras daquele que fez resplandecesse aos vossos olhos a Justiça do Senhor. Não é Deus quem retira daquele que pouco recebera: é o próprio Espírito que, por pródigo e descuidado, não sabe conservar o que tem e aumentar, fecundando-o, o óbolo que lhe caiu no coração.

Aquele que não cultiva o campo que o trabalho de seu pai lhe granjeou, e que lhe coube em herança, o vê cobrir-se de ervas parasitas. É seu pai quem lhe tira as colheitas que ele não quis preparar? Se, à falta de cuidado, deixou fenecessem as sementes destinadas a produzir nesse campo, é a seu pai que lhe cabe acusar por nada produzirem elas? Não e não. Em vez de acusar aquele que tudo lhe preparara [Deus], de criticar as suas doações, queixe-se do verdadeiro autor de suas misérias [si mesmo] e, arrependido e operoso, meta, corajoso, mãos à obra; arroteie o solo ingrato com o esforço de sua vontade; lavre-o fundo com auxílio do arrependimento e da esperança; lance nele, confiante, a semente que haja separado, por boa, dentre as más; regue-o com o seu amor e a sua caridade, e Deus, o Deus de amor e de caridade, dará àquele que já recebera. Verá ele, então, coroados de êxito os seus esforços e um grão produzir cem e outro mil. Ânimo, trabalhadores! Tomai dos vossos arados e das vossas charruas; lavrai os vossos corações; arrancai deles a cizânia; semeai a boa semente que o Senhor vos confia e o orvalho do amor lhe fará produzir frutos de caridade. – Um Espírito amigo. (Bordeaux, 1862.) (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – p. 250-251)

Marcos, 4:24-25

ARROTEAR: desmoitar, desbravar (terreno) para plantação. [Definição do Dicionário Online do Google]

37. O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cobiça, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência são, para a alma, ervas venenosas, das quais se devem arrancar as raízes. Seus antídotos são a caridade e a humildade. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 41)

8. Quando diz: “Ide reconciliar-vos com o vosso irmão, antes de depordes a vossa oferenda no altar”, Jesus ensina que o sacrifício mais agradável ao Senhor é o que o homem faça do seu próprio ressentimento; que, antes de se apresentar para ser por Ele perdoado, precisa o homem haver perdoado e reparado o agravo que tenha feito a algum de seus irmãos. Só então a sua oferenda será bem-aceita, porque virá de um coração expungido de todo e qualquer pensamento mau. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 143-144)

8. […] O cristão não oferece dons materiais, pois que espiritualizou o sacrifício. Com isso, porém, o preceito ainda mais força ganha. Ele oferece sua alma a Deus e essa alma tem de ser purificada. Entrando no templo do Senhor, deve ele deixar fora todo sentimento de ódio e de animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão. Só então os anjos levarão sua prece aos pés do Eterno. Eis aí o que ensina Jesus por estas palavras: “Deixai a vossa oferenda junto do altar e ide primeiro reconciliar-vos com o vosso irmão, se quiserdes ser agradável ao Senhor.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 144)

Mateus, 5:23-24

14. Prestai, pois, ouvidos a essa resposta de Jesus [Quantas vezes perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-eis, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes] e, como Pedro, aplicai-a a vós mesmos. Perdoai, usai de indulgência, sede caridosos, generosos, pródigos até do vosso amor. Dai, que o Senhor vos restituirá; perdoai, que o Senhor vos perdoará; abaixai-vos, que o Senhor vos elevará; humilhai-vos, que o Senhor fará vos assenteis à sua direita. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 147)

15. Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio; perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era. Perdoai, pois, meus amigos, a fim de que Deus vos perdoe, porquanto, se fordes duros, exigentes, inflexíveis, se usardes de rigor até por uma ofensa leve, como querereis que Deus esqueça de que cada dia maior necessidade tendes de indulgência? Oh! ai daquele que diz: “Nunca perdoarei”, pois pronuncia a sua própria condenação. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 147)

16. […] Quando perdoardes aos vossos irmãos, não vos contenteis com o estender o véu do esquecimento sobre suas faltas, porquanto, as mais das vezes, muito transparente é esse véu para os olhares vossos. Levai-lhes, simultaneamente, com o perdão, o amor; fazei por eles o que pediríeis fizesse o vosso Pai celestial por vós. Substituí a cólera que conspurca, pelo amor que purifica. Pregai, exemplificando, essa caridade ativa, infatigável, que Jesus vos ensinou; pregai-a, como Ele o fez durante todo o tempo em que esteve na Terra, visível aos olhos corporais e como ainda a prega incessantemente, desde que se tornou visível tão somente aos olhos do Espírito. Segui esse modelo divino; caminhai em suas pegadas; elas vos conduzirão ao refúgio onde encontrareis o repouso após a luta. Como Ele, carregai todos vós as vossas cruzes e subi penosamente, mas com coragem, o vosso calvário, em cujo cimo está a glorificação. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 150)

CONSPURCAR: fazer recair dúvidas sobre a integridade de; macular, infamar, desonrar. [Definição do Dicionário Online do Google]

30. […] No que nos aflige, só vemos, em geral, o presente, e não as ulteriores consequências favoráveis que possa ter a nossa aflição. Muitas vezes, o bem é a consequência de um mal passageiro, como a cura de uma enfermidade é o resultado dos meios dolorosos que se empregaram para combatê-la. Em todos os casos devemos submeter-nos à vontade de Deus, suportar com coragem as tribulações da vida, se queremos que elas nos sejam levadas em conta e que se nos possam aplicar estas palavras do Cristo: “Bem-aventurados os que sofrem.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 344)

19. […] Deixai venham a mim todos os que sofrem, a multidão dos aflitos e dos infortunados: Eu lhes ensinarei o grande remédio que suaviza os males da vida e lhes revelarei o segredo da cura de suas feridas! Qual é, meus amigos, esse bálsamo soberano, que possui tão grande virtude, que se aplica a todas as chagas do coração e as cicatriza? É o amor, é a caridade! Se possuís esse fogo divino, que é o que podereis temer? Direis a todos os instantes de vossa vida: “Meu Pai, que a tua vontade se faça e não a minha; se te apraz experimentar-me pela dor e pelas tribulações, bendito sejas, porquanto é para meu bem, eu o sei, que a tua mão sobre mim se abate. Se é do teu agrado, Senhor, ter piedade da tua criatura fraca, dar-lhe ao coração as alegrias sãs, bendito sejas ainda.

[…]

Se tendes amor, possuís tudo o que há de desejável na Terra, possuís preciosíssima pérola, que nem os acontecimentos, nem as maldades dos que vos odeiem e persigam poderão arrebatar. Se tendes amor, tereis colocado o vosso tesouro lá onde os vermes e a ferrugem não o podem atacar e vereis apagar-se da vossa alma tudo o que seja capaz de lhe conspurcar a pureza; sentireis diminuir dia a dia o peso da matéria e, qual pássaro que adeja nos ares e já não se lembra da Terra, subireis continuamente, subireis sempre, até que vossa alma, inebriada, se farte do seu elemento de vida no seio do Senhor. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 131)

ADEJAR: agitar as asas para se manter no ar durante voo; voar. [Definição do Dicionário Online do Google]  

INEBRIANTE: que embriaga, entontece; embriagador. [Definição do Dicionário Online do Google]  

629. Que definição se pode dar da moral?

“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 299-300)

630. Como se pode distinguir o bem do mal?

“O bem é tudo o que é conforme a lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 300)

631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?

“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para distinguir um do outro.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 300)

632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal?

“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 300)

643. Haverá quem, pela sua posição, não tenha possibilidade de fazer o bem?

“Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque, fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso venha a ser necessário.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 302-303)

646. Estará subordinado a determinadas condições o mérito do bem que se pratique? Por outra: será de diferentes graus o mérito que resulta da prática do bem?

“O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo. Nenhum merecimento há em fazê-lo sem esforço e quando nada custe. ‘Em melhor conta tem Deus o pobre que divide com outro o seu único pedaço de pão, do que o rico que apenas dá do que lhe sobra’, disse-o Jesus, a propósito do óbolo da viúva.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 303)

Lucas 21: 1-4

647. A Lei de Deus se acha contida toda no preceito do amor ao próximo, ensinado por Jesus?

“Certamente. Esse preceito encerra todos os deveres dos homens uns para com os outros. Cumpre, porém, se lhes mostre a aplicação que comporta, do contrário deixarão de cumpri-lo, como o fazem presentemente. Ademais, a lei natural abrange todas as circunstâncias da vida e esse preceito compreende só uma parte da lei. Aos homens são necessárias regras precisas; os preceitos gerais e muito vagos deixam grande número de portas abertas à interpretação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 303-304)

648. Que pensais da divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis de adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade e, por fim, a de justiça, amor e caridade?

“Essa divisão da Lei de Deus em dez partes é a de Moisés e de natureza a abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes, pois, adotá-la, sem que, por isso, tenha qualquer coisa de absoluta, como não o tem nenhum dos outros sistemas de classificação, que todos dependem do prisma pelo qual se considere o que quer que seja. A última lei é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo I – p. 304)

883. É natural o desejo de possuir?

“Sim, mas quando o homem deseja possuir para si somente e para sua satisfação pessoal, o que há é egoísmo.”

a) Não será, entretanto, legítimo o desejo de possuir, uma vez que aquele que tem de que viver a ninguém é pesado?

“Há homens insaciáveis, que acumulam bens sem utilidade para ninguém, ou apenas para saciar suas paixões. Julgas que Deus vê isso com bons olhos? Aquele que, ao contrário, junta pelo trabalho, tendo em vista socorrer os seus semelhantes, pratica a lei de amor e caridade, e Deus abençoa o seu trabalho.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XI – p. 392)

4. “Amar o próximo como a si mesmo: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós”, é a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o próximo. Não podemos encontrar guia mais seguro, a tal respeito, que tomar para padrão, do que devemos fazer aos outros, aquilo que para nós desejamos. Com que direito exigiríamos dos nossos semelhantes melhor proceder, mais indulgência, mais benevolência e devotamento para conosco, do que os temos para com eles? A prática dessas máximas tende à destruição do egoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas tão somente união, concórdia e benevolência mútua. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XI – p. 154)

10. Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento. Missionário do amor, Ele amou até dar o sangue e a vida por amor. Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XII – p. 171)

11. […]

[…] Difunde em torno de ti, como os socorros materiais, o amor de Deus, o amor do trabalho, o amor do próximo. Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará e que te trará grandes lucros: a das boas obras. A riqueza da inteligência deves utilizá-la como a do ouro. Derrama em torno de ti os tesouros da instrução; derrama sobre teus irmãos os tesouros do teu amor e eles frutificarão. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XVI – p. 224)

876. Posto de parte o direito que a lei humana consagra, qual a base da justiça, segundo a lei natural?

“Disse o Cristo: Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo. No coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de como deva proceder com o seu semelhante, em dada circunstância, trate o homem de saber como quereria que com ele procedessem, em circunstância idêntica. Guia mais seguro do que a própria consciência não lhe podia Deus haver dado.”

Nota – Efetivamente, o critério da verdadeira justiça está em querer cada um para os outros o que para si mesmo quereria e não em querer para si o que quereria para os outros, o que absolutamente não é a mesma coisa. Não sendo natural que haja quem deseje o mal para si, desde que cada um tome por modelo o seu desejo pessoal, é evidente que nunca ninguém desejará para o seu semelhante senão o bem. Em todos os tempos e sob o império de todas as crenças, sempre o homem se esforçou para que prevalecesse o seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XI – p. 390)

Mateus 7:12

893. Qual a mais meritória de todas as virtudes?

“Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 397)

895. Postos de lado os defeitos e os vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o sinal mais característico da imperfeição?

“O interesse pessoal. Frequentemente, as qualidades morais são como, num objeto de cobre, a douradura, que não resiste à pedra de toque. Pode um homem possuir qualidades reais, que levem o mundo a considerá-lo homem de bem. Mas, essas qualidades, conquanto assinalem um progresso, nem sempre suportam certas provas e às vezes basta que se fira a corda do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto. O verdadeiro desinteresse é coisa ainda tão rara na Terra que, quando se patenteia, todos o admiram como se fora um fenômeno.

O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferra aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 398)

PEDRA DE TOQUE: Elemento que serve para avaliar (ou no qual se manifesta) a essência ou a verdadeira natureza de algo. [Definição do Dicionário Online de Português: Dicio]

918. Por que indícios se pode reconhecer em um homem o progresso real que lhe elevará o Espírito na hierarquia espírita?

“O Espírito prova a sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática da lei de Deus e quando antecipadamente compreende a vida espiritual.”

Nota – Verdadeiramente, homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal, se fez todo bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim, se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça.

É bondoso, humanitário e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todos os homens, sem distinção de raças, nem de crenças.

Se Deus lhe outorgou o poder e a riqueza, considera essas coisas como UM DEPÓSITO, de que lhe cumpre usar para o bem. Delas não se envaidece, por saber que Deus, que lhas deu, também lhas pode retirar.

Se sob a sua dependência a ordem social colocou outros homens, trata-os com bondade e complacência, porque são seus iguais perante Deus. Usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho.

É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que também precisa da indulgência dos outros e se lembra destas palavras do Cristo: Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado.

Não é vingativo. A exemplo de Jesus, perdoa as ofensas, para só se lembrar dos benefícios, pois não ignora que, como houver perdoado, assim perdoado lhe será.

Respeita, enfim, em seus semelhantes, todos os direitos que as leis da Natureza lhes concedem, como quer que os mesmos direitos lhe sejam respeitados. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 407-408)

923. O que para um é supérfluo não representará, para outro, o necessário, e reciprocamente, de acordo com as posições respectivas?

“Sim, conforme as vossas ideias materiais, os vossos preconceitos, a vossa ambição e as vossas ridículas extravagâncias, a que o futuro fará justiça, quando compreenderdes a verdade. Não há dúvida de que aquele que tinha cinquenta mil libras de renda, vendo-se reduzido a só ter dez mil, se considera muito desgraçado, por não mais poder fazer a mesma figura, conservar o que chama a sua posição, ter cavalos, lacaios, satisfazer a todas as paixões etc. Acredita que lhe falta o necessário, mas, francamente, achas que seja digno de lástima, quando ao seu lado muitos há, morrendo de fome e frio, sem um abrigo onde repousem a cabeça? O homem criterioso, a fim de ser feliz, olha sempre para baixo e não para cima, a não ser para elevar sua alma ao infinito.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 414)

12. […] Homens de bem, de boa e firme vontade, uni-vos para continuar amplamente a obra de propagação da caridade; no exercício mesmo dessa virtude, encontrareis a vossa recompensa; não há alegria espiritual que ela não proporcione já na vida presente. Sede unidos, amai-vos uns aos outros, segundo os preceitos do Cristo. Assim seja. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIII – p. 188)

913. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical?

“Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 404)

698. O celibato voluntário representa um estado de perfeição meritório aos olhos de Deus?

“Não, e os que assim vivem, por egoísmo, desagradam a Deus e enganam o mundo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IV – p. 324)

699. Da parte de certas pessoas, o celibato não será um sacrifício que fazem com o fim de se votarem, de modo mais completo, ao serviço da Humanidade?

“Isso é muito diferente. Eu disse: por egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem. Quanto maior o sacrifício, tanto maior o mérito.”

Nota – Não é possível que Deus se contradiga, nem que ache mau o que Ele próprio fez. Nenhum mérito, portanto, pode haver na violação da sua lei. Se o celibato, em si mesmo, não é um estado meritório, outro tanto não se dá quando constitui, pela renúncia, às alegrias da família, um sacrifício praticado em prol da humanidade. Todo sacrifício pessoal, tendo em vista o bem e sem qualquer ideia egoísta, eleva o homem acima da sua condição material. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IV – p. 324)

720. São meritórias aos olhos de Deus as privações voluntárias, com o objetivo de uma expiação igualmente voluntária?

“Fazei o bem aos vossos semelhantes e mais mérito tereis.”

a) Haverá privações voluntárias que sejam meritórias?

“Há: a privação dos gozos inúteis, porque desprende da matéria o homem e lhe eleva a alma. Meritório é resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao gozo das coisas inúteis; é o homem tirar do que lhe é necessário para dar aos que carecem do bastante. Se a privação não passar de simulacro, será uma irrisão.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V –  p. 332)

IRRISÃO: aquele ou aquilo que é alvo de risos desdenhosos, motejos e zombarias. [Definição do Dicionário Online do Google]

724. Será meritório abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação?

“Sim, se praticar essa privação em benefício dos outros. Aos olhos de Deus, porém, só há mortificação, havendo privação séria e útil. Por isso é que qualificamos de hipócritas os que apenas aparentemente se privam de alguma coisa.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 333)

725. Que se deve pensar das mutilações operadas no corpo do homem ou dos animais?

“A que propósito, semelhante questão? Ainda uma vez: inquiri sempre vós mesmos se é útil aquilo de que porventura se trate. A Deus não pode agradar o que seja inútil e o que for nocivo lhe será sempre desagradável. Porque, ficai sabendo, Deus só é sensível aos sentimentos que elevam para Ele a alma. Obedecendo-lhe à lei e não a violando é que podereis forrar-vos ao jugo da vossa matéria terrestre.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 333)

726. Visto que os sofrimentos deste mundo nos elevam, se os suportarmos devidamente, dar-se-á que também nos elevam os que nós mesmos nos criamos?

“Os sofrimentos naturais são os únicos que elevam, porque vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários de nada servem, quando não concorrem para o bem de outrem. Supões que se adiantam no caminho do progresso os que abreviam a vida, mediante rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas? Por que de preferência não trabalham pelo bem de seus semelhantes? Vistam o indigente; consolem o que chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações para alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto, agradáveis a Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 333-334)

BONZO: membro de qualquer ordem religiosa; frade, sacerdote. [Definição do  Dicionário Online do Google]

FAQUIR: asceta que, na Índia, pratica a mendicância e submete-se a uma vida de privações, procurando atingir a perfeição espiritual a partir do controle sobre os sentidos. [Definição do  Dicionário Online do Google]

727. Uma vez que não devemos criar sofrimentos voluntários, que nenhuma utilidade tenham para outrem, deveremos cuidar de preservar-nos dos que prevejamos ou nos ameacem?

“Contra os perigos e os sofrimentos é que o instinto de conservação foi dado a todos os seres. Fustigai o vosso espírito e não o vosso corpo, mortificai o vosso orgulho, sufocai o vosso egoísmo, que se assemelha a uma serpente a vos roer o coração, e fareis muito mais pelo vosso adiantamento do que infligindo-vos rigores que já não são deste século.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 334)

Bem sabeis, senhores, que a palavra caridade tem uma acepção muito ampla. Há caridade em pensamentos, em palavras, em ações; não consiste apenas na esmola. Alguém é caridoso em pensamentos sendo indulgente para com as faltas do próximo; caridoso em palavras, nada dizendo que possa prejudicar a outrem; caridoso em ações quando assiste o próximo na medida de suas forças. O pobre, que partilha seu naco de pão com outro mais pobre que ele, é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus do que aquele que dá do supérfluo, sem de nada se privar.

Quem quer que alimente contra o próximo sentimentos de ódio, de animosidade, de inveja, de rancor, falta com a caridade. A caridade é a antítese do egoísmo; a primeira é a abnegação da personalidade, o segundo é a exaltação da personalidade. Uma diz: Para vós primeiro lugar, para mim depois; e o outro: Para mim antes, para vós se sobrar. A primeira está toda inteira nestas palavras do Cristo: “Fazei aos outros o que quereríeis que vos fizessem.” Numa palavra, aplica-se sem exceção a todas as relações sociais. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem espírita de 1862 – p. 24-25)

Mateus, 7:12

55. A caridade é a lei suprema do Cristo: “Amai-vos uns aos outros como os irmãos se amam.” “Amai o vosso próximo como amai-vos a vós mesmos.” “Perdoai os vossos inimigos; não façais aos outros o que não desejais que vos façam” – isso tudo se resume em uma única palavra: Caridade.

56. A caridade não consiste somente em dar esmolas. Existe atitude caridosa por meio dos pensamentos, das palavras e das ações. É caridoso em pensamento aquele que é indulgente para com os erros alheios; é caridoso em palavras quem não diz coisa alguma que possa prejudicar o próximo; é caridoso nas ações aquele que auxilia o seu próximo na medida de suas possibilidades. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 44)

12. Não pode a alma elevar-se às altas regiões espirituais, senão pelo devotamento ao próximo; somente nos arroubos da caridade encontra ela ventura e consolação. Sede bons, amparai os vossos irmãos, deixai de lado a horrenda chaga do egoísmo. Cumprido esse dever, abrir-se-vos-á o caminho da felicidade eterna. […] Se unicamente buscásseis a volúpia que uma ação boa proporciona, conservar-vos-íeis sempre na senda do progresso espiritual. Não vos faltam os exemplos; rara é apenas a boa vontade. Notai que a vossa história guarda piedosa lembrança de uma multidão de homens de bem. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIII – p. 186-187)

O Espiritismo não se limita a provar o mundo invisível. Pelos exemplos que desdobra aos nossos olhos, ele no-lo mostra em sua realidade e não tal como a imaginação o havia feito conceber; ele no-lo revela povoado de seres felizes ou infelizes, mas prova que só a caridade, a soberana lei do Cristo, pode assegurar, a felicidade. Por outro lado, vemos a sociedade terrestre dilacerar-se mutuamente sob o império do egoísmo, ao passo que viveria feliz e pacífica sob o domínio da caridade. Com a caridade tudo é, pois, benefício para o homem: felicidade neste mundo e no outro. Não se trata mais, conforme a expressão de um materialista, de um sacrifício de tolos, mas, segundo a expressão do Cristo, de um dinheiro aplicado ao cêntuplo. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem espírita de 1862 – p. 27)

O caminho traçado pela caridade é claro, infalível e sem equívocos. Poder-se-ia defini-lo assim: “Sentimento de benevolência, de justiça e de indulgência para com o próximo, baseado no que quereríamos que o próximo nos fizesse.” Tomando-a por guia, podemos estar certos de não nos afastar do reto caminho, daquele que conduz a Deus; quem quer que deseje, de maneira sincera e séria, trabalhar por sua própria melhoria, deve analisar a caridade em seus mais minuciosos detalhes e por ela conformar sua conduta, pois ela se aplica a todas as circunstâncias da vida, pequenas ou grandes. Quando estivermos em dúvida sobre que partido tomar, no interesse alheio, basta que interroguemos a caridade e ela responderá sempre de maneira justa. Infelizmente escutamos, na maioria das vezes, a voz do egoísmo. (Allan Kardec – Viagem Espírita –  Viagem espírita de 1862 – p. 31)

57. O pobre que reparte o seu pão com quem possui menos ou não possui nada é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus do que aquele que dá do seu supérfluo, e que não se priva de coisa alguma. (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 44)

60. O egoísmo leva os homens a uma luta permanente; a caridade os conduz a uma vivência pacífica. A caridade deve constituir-se na base das instituições. Com ela haverá garantia de felicidade neste mundo. O Cristo disse que somente a caridade pode garantir a felicidade futura, pois ela encerra todas as virtudes que podem levar os homens à perfeição.

Com a verdadeira caridade ensinada e vivenciada pelo Cristo, deixará de existir o egoísmo, o orgulho, o ódio, a inveja, a maledicência; não haverá mais tanto apego às coisas do mundo material. É por isso que o Espiritismo cristão ostenta como máxima: “FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.” (Allan Kardec – O Espiritismo Em Sua Mais Simples Expressão – p. 45)

951. Não é, às vezes, meritório o sacrifício da vida, quando aquele que o faz visa salvar a de outrem, ou ser útil aos seus semelhantes?

“Isso é sublime, conforme a intenção, e, em tal caso, o sacrifício da vida não constitui suicídio. Deus, porém, se opõe a todo sacrifício inútil e não o pode ver de bom grado, se tem o orgulho a manchá-lo. Só o desinteresse torna meritório o sacrifício e, não raro, quem o faz guarda oculto um pensamento, que lhe diminui o valor aos olhos de Deus.”

Nota – Todo sacrifício que o homem faça à custa da sua própria felicidade é um ato soberanamente meritório aos olhos de Deus, porque resulta da prática da lei de caridade. Ora, sendo a vida o bem terreno a que maior apreço dá o homem, não comete atentado o que a ela renuncia pelo bem de seus semelhantes: cumpre um sacrifício; mas, antes de o cumprir, deve refletir sobre se sua vida não será mais útil do que sua morte. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 426)

Não podem os homens ser felizes, se não viverem em paz, isto é, se não os animar um sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocas; numa palavra: enquanto procurarem esmagar-se uns aos outros. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e todos os deveres sociais; uma e outra, porém, pressupõem a abnegação. Ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; logo, com esses vícios, não é possível a verdadeira fraternidade, nem, por conseguinte, igualdade, nem liberdade, dado que o egoísta e o orgulhoso querem tudo para si. (Allan Kardec – Obras Póstumas – O egoísmo e o orgulho – p. 278)

743. Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá?

“Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, todos os povos serão irmãos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IV – p. 340)

A fraternidade, na rigorosa acepção do termo, resume todos os deveres dos homens, uns para com os outros. Significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência. É, por excelência, a caridade evangélica e a aplicação da máxima: “Proceder para com os outros, como quereríamos que os outros procedessem para conosco.” O oposto do egoísmo. A fraternidade diz: “Um por todos e todos por um.” O egoísmo diz: “Cada um por si.” Sendo estas duas qualidades a negação uma da outra, tão impossível é que um egoísta proceda fraternalmente para com os seus semelhantes, quanto a um avarento ser generoso, quanto a um indivíduo de pequena estatura atingir a de um outro alto. Ora, sendo o egoísmo a chaga dominante da sociedade, enquanto ele reinar soberanamente, impossível será o reinado da fraternidade verdadeira. Cada um a quererá em seu proveito; não quererá, porém, praticá-la em proveito dos outros, ou, se o fizer, será depois de se certificar de que não perderá coisa alguma.

Considerada do ponto de vista da sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira linha: é a base. Sem ela, não poderiam existir a igualdade, nem a liberdade séria. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade é consequência das duas outras. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Liberdade, igualdade, fraternidade – p. 287-288)

[…] Os homens que vivam como irmãos, com direitos iguais, animados do sentimento de benevolência recíproca, praticarão entre si a justiça, não procurarão causar danos uns aos outros e nada, por conseguinte, terão que temer uns dos outros. A liberdade nenhum perigo oferecerá, porque ninguém pensará em abusar dela em prejuízo de seus semelhantes. Mas, como poderiam o egoísmo, que tudo quer para si, e o orgulho, que incessantemente quer dominar, dar a mão à liberdade que os destronaria? O egoísmo e o orgulho são, pois, os inimigos da liberdade, como o são da igualdade e da fraternidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Liberdade, igualdade, fraternidade – p. 289)

812. Por não ser possível a igualdade das riquezas, o mesmo se dará com o bem-estar?

“Não, mas o bem-estar é relativo e todos poderiam dele gozar, se se entendessem convenientemente, porque o verdadeiro bem-estar consiste em cada um empregar o seu tempo como lhe apraza e não na execução de trabalhos pelos quais nenhum gosto sente. Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. Em tudo existe o equilíbrio; o homem é quem o perturba.”

a) Será possível que todos se entendam?

“Os homens se entenderão quando praticarem a lei de justiça.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo IX – p. 366)

943. Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?

“Efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade.

Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo I – p. 424)

O homem foi criado para a atividade; a atividade do Espírito é da sua própria essência; e a do corpo, uma necessidade.

Cumpri, portanto, as prescrições da existência, como Espírito votado à paz eterna. A serviço do Espírito, o corpo mais não é que máquina submetida à inteligência: trabalhai, cultivai, portanto, a inteligência, para que dê salutar impulso ao instrumento que deve auxiliá-la no cumprimento de sua missão. Não lhe concedais tréguas nem repouso, tendo em mente que essa paz a que aspirais não vos será concedida senão pelo trabalho.  Assim, quanto mais protelardes este, tanto mais durará para vós a ansiedade de espera.

Trabalhai, trabalhai incessantemente; cumpri todos os deveres sem exceção, isto com zelo, com coragem, com perseverança.

A fé vos alentará. Todo aquele que desempenha conscientemente o papel mais ingrato e vil da vossa sociedade, é cem vezes mais elevado aos olhos do Onipotente do que aquele que, impondo esse papel aos outros, despreza o seu.

Tudo é degrau que dá acesso ao Céu: não quebreis a lápide sob os pés e contai com o concurso de amigos que vos estendem a mão, sustentáculos que são dos que vão haurir suas forças na crença do Senhor. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 329)

O princípio do melhoramento está na natureza das crenças, porque estas constituem o móvel das ações e modificam os sentimentos. Também está nas ideias inculcadas desde a infância e que se identificam com o Espírito; está ainda nas ideias que o desenvolvimento ulterior da inteligência e da razão podem fortalecer, nunca destruir. É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo espírita – p. 462)

10. Uma das insensatezes da Humanidade consiste em vermos o mal de outrem, antes de vermos o mal que está em nós. Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa e perguntar: Que pensaria eu se visse alguém fazer o que faço? Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a dissimular, para si mesmo, os seus defeitos, tanto morais quanto físicos. […] porque é o pai de muitos vícios, o orgulho é também a negação de muitas virtudes. Ele se encontra na base e como móvel de quase todas as ações humanas. Essa a razão por que Jesus se empenhou tanto em combatê-lo, como principal obstáculo ao progresso. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo X – p. 144-145)

Para julgar os Espíritos, como para julgar os homens, é necessário, de saída, saber julgar-se a si próprio. Infelizmente há muita gente que toma a sua opinião pessoal como medida exclusiva do bom e do mau, do verdadeiro e do falso: tudo quanto contradiga a sua maneira de ver, as suas ideias, o sistema que conceberam ou adotaram, aos seus olhos é mau. Evidentemente a tais criaturas falta a primeira qualidade para uma sã apreciação – o reto julgamento. Mas elas nem o suspeitam. E isto é uma falta sobre a qual mais se iludem. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo III – p. 53)

903. Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios?

“Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar, porque será faltar com a caridade. Se o fizer, para tirar daí proveito, para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade. Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos de outrem é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o mesmo. Tratai, pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticais no vosso semelhante. Esse o meio de vos tornardes superiores a ele. Se lhe censurais o ser avaro, sede generosos; se o ser orgulhoso, sede humildes e modestos; se o ser áspero, sede brandos; se o proceder com pequenez, sede grandes em todas as vossas ações. Numa palavra, fazei por maneira que se não vos possam aplicar estas palavras de Jesus: vê o argueiro no olho do seu vizinho e não vê a trave no seu próprio.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 401)

Mateus 7:3

Os males da Humanidade provêm da imperfeição dos homens; pelos seus vícios é que eles se prejudicam uns aos outros. Enquanto forem viciosos, serão infelizes, porque a luta dos interesses gerará constantes misérias.

Sem dúvida, boas leis contribuem para melhorar o estado social, mas são impotentes para tornar venturosa a Humanidade, porque mais não fazem do que comprimir as paixões ruins, sem as eliminar. Em segundo lugar, porque são mais repressivas do que moralizadoras e só reprimem os mais salientes atos maus, sem lhes destruir as causas. Aliás, a bondade das leis guarda relação com a bondade dos homens; enquanto estes se conservarem dominados pelo orgulho e pelo egoísmo, farão leis em benefício de suas ambições pessoais. A lei civil apenas modifica a superfície; somente a lei moral pode penetrar o foro íntimo da consciência e reformá-lo.

Reconhecido, pois, que o atrito oriundo do contato dos vícios é que faz infortunados os homens, o único remédio para seus males está em se melhorarem eles moralmente. Uma vez que nas imperfeições se encontra a causa dos males, a felicidade aumentará na proporção em que as imperfeições diminuírem. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Credo espírita – p. 461-462)

19. “Rejubilai-vos”, diz Jesus, “quando os homens vos odiarem e perseguirem por minha causa, visto que sereis recompensados no céu.” Podem traduzir-se assim essas verdades: “Considerai-vos ditosos, quando haja homens que, pela sua má vontade para convosco, vos deem ocasião de provar a sinceridade da vossa fé, porquanto o mal que vos façam redundará em proveito vosso. Lamentai-lhes a cegueira, porém, não os maldigais.”

Depois, acrescenta: “Tome a sua cruz aquele que me quiser seguir”, isto é, suporte corajosamente as tribulações que sua fé lhe acarretar, dado que aquele que quiser salvar a vida e seus bens, renunciando a mim, perderá as vantagens do Reino dos Céus, enquanto os que tudo houverem perdido neste mundo, mesmo a vida, para que a verdade triunfe, receberão, na vida futura, o prêmio da coragem, da perseverança e da abnegação de que deram prova. Mas aos que sacrificam os bens celestes aos gozos terrestres, Deus dirá: “Já recebestes a vossa recompensa.” (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXIV – p. 298)

Lucas, 6:22-23

Marcos, 8:34 a 36; Lucas, 9:23 a 25; Mateus, 10:38 e 39; João, 12:25 e 26

649. Em que consiste a adoração?

“Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela adoração, aproxima o homem sua alma.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 305)

654. Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou daquela maneira?

“Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes.

Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam.

É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento.

Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem, ou ambicioso dos bens deste mundo. Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais culpado do mal que faz, do que o selvagem ignorante que vive no deserto. E como tal será tratado no dia da justiça. Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis; se for um homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão.

Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda uma vez vos digo: até ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 306)

657. Têm, perante Deus, algum mérito os que se consagram à vida contemplativa, uma vez que nenhum mal fazem e só em Deus pensam?

“Não, porquanto, se é certo que não fazem o mal, também o é que não fazem o bem e são inúteis. Ademais, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que o homem pense nele, mas não quer que só nele pense, pois que lhe impôs deveres a cumprir na Terra. Quem passa todo o tempo na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque vive uma vida toda pessoal e inútil à humanidade e Deus lhe pedirá contas do bem que não houver feito.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 307)

658. Agrada a Deus a prece?

“A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para Ele, a intenção é tudo. Assim, preferível lhe é a prece do íntimo à prece lida, por muito bela que seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração. Agrada-lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e sinceridade. Não creiais, porém, que toque a Deus a prece do homem fútil, orgulhoso e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 307-308)

659. Qual o caráter geral da prece?

“A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar nele; é aproximar-se dele; é pôr-se em comunicação com Ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir, agradecer.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 308)

660. A prece torna melhor o homem?

“Sim, porquanto aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assisti-lo. É este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade.”

a) Como é que certas pessoas, que oram muito, são, não obstante, de mau caráter, ciosas, invejosas, impertinentes, carentes de benevolência e de indulgência e até, algumas vezes, viciosas?

“O essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas pessoas supõem que todo o mérito está na longura da prece e fecham os olhos para os seus próprios defeitos. Fazem da prece uma ocupação, um emprego do tempo, nunca, porém, um estudo de si mesmas. A ineficácia, em tais casos, não é do remédio, sim da maneira por que o aplicam.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 308)

661. Poderemos utilmente pedir a Deus que perdoe as nossas faltas?

“Deus sabe discernir o bem do mal; a prece não esconde as faltas. Aquele que a Deus pede perdão de suas faltas só o obtém mudando de proceder. As boas ações são a melhor prece, por isso que os atos valem mais que as palavras.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 308)

58. […] 

Antes de pretender, quem quer que seja, domar um Espírito mau, precisa cuidar de domar-se a si mesmo. De todos os meios de adquirir-se força para chegar a isso, o mais eficiente é a vontade secundada pela prece, a prece do coração, entenda-se, e não a de palavras, das quais a boca participa mais do que o pensamento. Precisamos pedir ao nosso anjo guardião e aos bons Espíritos que nos assistam na luta; não basta, porém, lhes peçamos que afastem o Espírito mau; devemos lembrar-nos desta máxima: ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará e rogar-lhes, sobretudo, a força que nos falta para vencermos os nossos maus pendores, que são, para nós, piores que os maus Espíritos, porquanto são esses pendores que os atraem, como a podridão atrai as aves de rapina. Orando também pelo Espírito obsessor, retribuir-lhe-emos com o bem o mal que nos queira e nos mostraremos melhores do que ele, o que já é uma superioridade. Com perseverança, acaba-se as mais das vezes por induzi-lo à posse de melhores sentimentos e a transformá-lo de perseguidor em amigo grato. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 88)

58. […] 

Em resumo: a prece fervorosa e os esforços sérios que a criatura faça por melhorar-se constituem os únicos meios de ela afastar os maus Espíritos, que reconhecem como seus senhores aqueles que praticam o bem, enquanto que as fórmulas lhes provocam o riso, do mesmo modo que a cólera e a impaciência os excitam. Precisa o perseguido cansá-los, demonstrando-se mais paciente do que eles. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 88)

872. […] 

[…] Muito mais moral se mostra, indiscutivelmente, a Doutrina Espírita. Ela admite no homem o livre-arbítrio em toda a sua plenitude e, se lhe diz que, praticando o mal, ele cede a uma sugestão estranha e má, em nada lhe diminui a responsabilidade, pois lhe reconhece o poder de resistir, o que evidentemente lhe é muito mais fácil do que lutar contra a sua própria natureza. Assim, de acordo com a Doutrina Espírita, não há arrastamento irresistível: o homem pode sempre cerrar ouvidos à voz oculta que lhe fala no íntimo, induzindo-o ao mal, como pode cerrá-los à voz material daquele que lhe fale ostensivamente. Pode-o pela ação da sua vontade, pedindo a Deus a força necessária e reclamando, para tal fim, a assistência dos bons Espíritos. Foi o que Jesus nos ensinou por meio da sublime prece que é a Oração dominical, quando manda que digamos: “Não nos deixes sucumbir à tentação, mas livra-nos do mal”.

Essa teoria da causa determinante dos nossos atos ressalta, com evidência, de todo o ensino que os Espíritos hão dado. Não só é sublime de moralidade, mas também, acrescentaremos, eleva o homem aos seus próprios olhos. Mostra-o livre de subtrair-se a um jugo obsessor, como livre é de fechar sua casa aos importunos. Ele deixa de ser simples máquina, atuando por efeito de uma impulsão independente da sua vontade, para ser um ente racional, que ouve, julga e escolhe livremente de dois conselhos um. Aditemos que, apesar disto, o homem não se acha privado de iniciativa, não deixa de agir por impulso próprio, pois que, em definitivo, ele é apenas um Espírito encarnado que conserva, sob o envoltório corporal, as qualidades e os defeitos que tinha como Espírito. Conseguintemente, as faltas que cometemos têm por fonte primária a imperfeição do nosso próprio Espírito, que ainda não conquistou a superioridade moral que um dia alcançará, mas que, nem por isso, carece de livre-arbítrio. A vida corpórea lhe é dada para se expungir de suas imperfeições, mediante as provas por que passa, imperfeições que, precisamente, o tornam mais fraco e mais acessível às sugestões de outros Espíritos imperfeitos, que delas se aproveitam para tentar fazê-lo sucumbir na luta em que se empenhou. Se dessa luta sai vencedor, ele se eleva; se fracassa, permanece o que era, nem pior, nem melhor. Será uma prova que lhe cumpre recomeçar, podendo suceder que longo tempo gaste nessa alternativa. Quanto mais se depura, tanto mais diminuem os seus pontos fracos e tanto menos acesso oferece aos que procurem atraí-lo para o mal. Na razão de sua elevação, cresce-lhe a força moral, fazendo que dele se afastem os maus Espíritos. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 387-388)

Mateus 6:9

909. Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?

“Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo XII – p. 403)

911. Não haverá paixões tão vivas e irresistíveis, que a vontade seja impotente para dominá-las?

“Há muitas pessoas que dizem: Quero, mas a vontade só lhes está nos lábios. Querem, porém muito satisfeitas ficam que não seja como ‘querem’. Quando o homem crê que não pode vencer as suas paixões, é que seu Espírito se compraz nelas, em consequência da sua inferioridade. Compreende a sua natureza espiritual aquele que as procura reprimir. Vencê-las é, para ele, uma vitória do Espírito sobre a matéria.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Terceira – Capítulo XII – p. 403)

226. […] 11ª Quais as condições necessárias para que a palavra dos Espíritos superiores nos chegue isenta de qualquer alteração?

“Querer o bem; repulsar o egoísmo e o orgulho. Ambas essas coisas são necessárias.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XX – p. 242)

226. […] Os Espíritos que considerais como personificações do bem não atendem de boa vontade ao apelo dos que trazem o coração manchado pelo orgulho, pela cupidez e pela falta de caridade. Expurguem-se, pois, os que desejam esclarecer-se, de toda a vaidade humana e humilhem a sua inteligência ante o infinito poder do Criador. Esta a melhor prova que poderão dar da sinceridade do desejo que os anima. É uma condição a que todos podem satisfazer. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XX – p. 242)

EXPURGAR: livrar do que é pernicioso, deletério, imoral. [Definição do Dicionário Online do Google]

254. […] O mais poderoso meio de combater a influência dos maus Espíritos é aproximar-se o mais possível da natureza dos bons. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXIII – p. 269)

15. […] Das qualidades do indivíduo depende-lhe a felicidade, e não do estado material do meio em que se encontra, podendo a felicidade, portanto, existir em qualquer parte onde haja Espíritos capazes de a gozar. Nenhum lugar lhe é circunscrito e assinalado no universo.

Onde quer que se encontrem, os Espíritos podem contemplar a majestade divina, porque Deus está em toda parte. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – p. 32)

2.4 DA VIDA NOS DIVERSOS MUNDOS

– Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo;. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução – p. 25)

10. Em todos os mundos espalhados no espaço ocorre a encarnação de Espíritos. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 32)

55. São habitados todos os globos que se movem no Espaço?

“Sim e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Entretanto, há homens que se têm por espíritos muito fortes e que imaginam pertencer a este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam que só para eles criou Deus o Universo.”

Nota – Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objetivo final da Providência. Acreditar que só os haja no Planeta que habitamos fora duvidar da sabedoria de Deus, que não fez coisa alguma inútil. Certo, a esses mundos há de ele ter dado uma destinação mais séria do que a de nos recrearem a vista. Aliás, nada há, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa induzir a suposição de que ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Primeira – Capítulo III – p. 71)

105. Os diferentes mundos que circulam no espaço terão habitantes como a Terra?

Todos os Espíritos o afirmam e a razão diz que assim deve ser. A Terra não ocupa no universo nenhuma posição especial, nem por sua colocação, nem pelo seu volume, e nada justificaria o privilégio exclusivo de ser habitada. Além disso, Deus não teria criado milhares de globos, com o fim único de recrear-nos a vista, tanto mais que o maior número deles se acha fora de nosso alcance. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Parte Primeira – Capítulo III – p. 157)

106. Se os mundos são povoados, serão seus habitantes, em tudo, semelhantes aos da Terra? Em uma palavra, poderiam eles viver entre nós, e nós entre eles?

A forma geral poderia ser, mais ou menos, a mesma, mas o organismo deve ser adaptado ao meio em que eles têm de viver, como os peixes são feitos para viver na água e as aves no ar. Se o meio for diverso, como tudo leva a crê-lo e como parece demonstrá-lo as observações astronômicas, a organização deve ser diferente; não é, pois, provável que, em seu estado normal, eles possam mudar de mundo com os mesmos corpos. Isto é confirmado por todos os Espíritos.

107. Admitindo que esses mundos sejam povoados, estarão na mesma colocação que o nosso, sob o ponto de vista intelectual e moral?

Segundo o ensino dos Espíritos, os mundos se acham em graus de adiantamento muito diferentes; alguns estão no mesmo ponto que o nosso; outros são mais atrasados, sendo sua humanidade mais bruta, mais material e mais propensa ao mal. Pelo contrário, outros são muito mais adiantados moral, intelectual e fisicamente; neles, o mal moral é desconhecido, as Artes e as Ciências já atingiram um grau de perfeição que foge à nossa apreciação; a organização física, menos material, não está sujeita aos sofrimentos, moléstias e enfermidades; aí os homens vivem em paz, sem buscar o prejuízo uns dos outros, isentos dos desgostos, cuidados, aflições e necessidades que os apoquentam na Terra. Há, finalmente, outros ainda mais adiantados, onde o invólucro corporal, quase fluídico, se aproxima cada vez mais da natureza dos anjos.

Na série progressiva dos mundos, o nosso nem ocupa o primeiro nem o último lugar, mas é um dos mais materializados e atrasados. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 157-158)

2. A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no Espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo III – p. 57)

14. A humanidade não se limita à Terra: habita inúmeros mundos, que no Espaço circulam, já habitou os desaparecidos, e habitará os que se formarem. Tendo-a criado de toda a eternidade, Deus jamais cessa de criá-la. Muito antes que a Terra existisse e por mais remota que a suponhamos, outros mundos havia, nos quais Espíritos encarnados percorreram as mesmas fases que ora percorrem os de mais recente formação, atingindo seu fim antes mesmo que houvéramos saído das mãos do Criador.

De toda a eternidade têm havido, pois, puros Espíritos ou anjos, mas, como a sua existência humana se passou num infinito passado, eis que os supomos como se tivessem sido sempre anjos de todos os tempos.  (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VIII – p. 103)

56. […]

Uma mesma família humana foi criada na universalidade dos mundos e os laços de uma fraternidade que ainda não sabeis apreciar foram postos a esses mundos. Se os astros que se harmonizam em seus vastos sistemas são habitados por inteligências, não o são por seres desconhecidos uns dos outros, mas, ao contrário, por seres que trazem marcado na fronte o mesmo destino, que se hão de encontrar temporariamente segundo suas funções de vida e suas mútuas simpatias. É a grande família dos Espíritos que povoam as terras celestes; é a grande irradiação do Espírito divino que abrange a extensão dos céus e que permanece como tipo primitivo e final da perfeição espiritual. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo VI – p. 119)

181. Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos?

“É fora de dúvida que têm corpos, porque o Espírito precisa estar revestido de matéria para atuar sobre a matéria. Esse envoltório, porém, é mais ou menos material, conforme o grau de pureza a que chegaram os Espíritos. É isso o que assinala a diferença entre os mundos que temos de percorrer, porquanto muitas moradas há na casa de nosso Pai, sendo, conseguintemente, de muitos graus essas moradas. Alguns o sabem e desse fato têm consciência na Terra; com outros, no entanto, o mesmo não se dá.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p.127-128)

185. O estado físico e moral dos seres vivos é perpetuamente o mesmo em cada mundo?

“Não; os mundos também estão sujeitos à lei do progresso. Todos começaram, como o vosso, por um estado inferior e a própria Terra sofrerá idêntica transformação. Tornar-se-á um paraíso, quando os homens se houverem tornado bons.”

Nota – É assim que as raças, que hoje povoam a Terra, desaparecerão um dia, substituídas por seres cada vez mais perfeitos, pois que essas novas raças transformadas sucederão às atuais, como estas sucederam a outras ainda mais grosseiras. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 129)

234. Há, de fato, como já foi dito, mundos que servem de estações ou pontos de repouso aos Espíritos errantes?

“Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que lhes podem servir de habitação temporária, espécies de bivaques, de campos onde descansem de uma demasiado longa erraticidade, estado este sempre um tanto penoso. São, entre os outros mundos, posições intermédias, graduadas de acordo com a natureza dos Espíritos que a elas podem ter acesso e onde eles gozam de maior ou menor bem-estar.”

a) Os Espíritos que habitam esses mundos podem deixá-los livremente?

“Sim, os Espíritos que se encontram nesses mundos podem deixá-los, a fim de irem aonde devam ir. Figurai-os como bandos de aves que pousam numa ilha, para aí aguardarem que se lhes refaçam as forças, a fim de seguirem seu destino.”

235. Enquanto permanecem nos mundos transitórios, os Espíritos progridem?

“Certamente. Os que vão a tais mundos levam o objetivo de se instruírem e de poderem mais facilmente obter permissão para passar a outros lugares melhores e chegar à perfeição que os eleitos atingem.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 156)

BIVAQUE: acampamento provisório, a céu aberto, feito esp. à noite por um grupo de pessoas em marcha. [Definição do Dicionário Online do Google]

732. Será idêntica, em todos os mundos, a necessidade de destruição?

“Guarda proporções com o estado mais ou menos material dos mundos. Cessa, quando o físico e o moral se acham mais depurados. Muito diversas são as condições de existência nos mundos mais adiantados do que o vosso.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 336)

17. Posto que os Espíritos estejam por toda parte, os mundos são de preferência os seus centros de atração, em virtude da analogia existente entre eles e os que os habitam. Em torno dos mundos adiantados abundam Espíritos superiores, como em torno dos atrasados pululam Espíritos inferiores. Cada globo tem, de alguma sorte, sua população própria de Espíritos encarnados e desencarnados, alimentada em sua maioria pela encarnação e desencarnação dos mesmos. Esta população é mais estável nos mundos inferiores, pelo apego dos Espíritos à matéria, e mais flutuante nos superiores.

Destes últimos, porém, verdadeiros focos de luz e felicidade, Espíritos se destacam para mundos inferiores a fim de neles semearem os germens do progresso, levar-lhes consolação e esperança, levantar os ânimos abatidos pelas provações da vida. Por vezes também se encarnam para cumprir com mais eficácia a sua missão. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – p. 33)

18. Existem mundos que são apropriados aos diversos graus de adiantamento dos Espíritos, e onde a existência corporal encontra-se em condições muito diferentes. Quanto mais inferioridade ter o Espírito, tanto mais inferior será o mundo onde deve habitar. Na medida em que melhora a sua condição, passa para mundos moral e materialmente superiores. A Terra não é o primeiro nem o último desses mundos, é, porém, um dos mais atrasados. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 34)

15. […] Suponhamos que a Humanidade se transforme e passe a ser constituída de homens de bem: nenhum pensará em fazer mal ao seu próximo e todos serão ditosos por serem bons. Tal a condição dos mundos elevados, donde já o mal foi banido; tal virá a ser a da Terra, quando houver progredido bastante. No entanto, ao mesmo tempo que alguns mundos se adiantam, outros se formam, povoados de Espíritos primitivos e que, além disso, servem de habitação, de exílio e de estância expiatória a Espíritos imperfeitos, rebeldes, obstinados no mal, expulsos de mundos que se tornaram felizes. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo VIII – p. 129)

Nota – Segundo os Espíritos, de todos os mundos que compõem o nosso sistema planetário, a Terra é dos que têm habitantes menos adiantados, física e moralmente. Marte lhe estaria ainda abaixo, sendo-lhe Júpiter superior de muito, a todos os respeitos. O Sol não seria mundo habitado por seres corpóreos, mas simplesmente um lugar de reunião dos Espíritos superiores, os quais de lá irradiam seus pensamentos para os outros mundos, que eles dirigem por intermédio de Espíritos menos elevados, transmitindo-os a estes por meio do fluido universal. Considerado do ponto de vista da sua constituição física, o Sol seria um foco de eletricidade. Todos os sóis como que estariam em situação análoga.

O volume de cada um e a distância a que esteja do Sol nenhuma relação necessária guardam com o grau do seu adiantamento, pois que, do contrário, Vênus deveria ser tida por mais adiantada do que a Terra e Saturno menos do que Júpiter. Muitos Espíritos, que na Terra animaram personalidades conhecidas, disseram estar reencarnados em Júpiter, um dos mundos mais próximos da perfeição, e há causado espanto que, nesse globo tão adiantado, estivessem homens a quem a opinião geral aqui não atribuía tanta elevação. Nisso nada há de surpreendente, desde que se atenda a que, possivelmente, certos Espíritos, habitantes daquele planeta, foram mandados à Terra para desempenharem aí certa missão que, aos nossos olhos, os não colocava na primeira plana. Em segundo lugar, deve-se atender a que, entre a existência que tiveram na Terra e a que passaram a ter em Júpiter, podem eles ter tido outras intermédias, em que se melhoraram. Finalmente, cumpre se considere que, naquele mundo, como no nosso, múltiplos são os graus de desenvolvimento e que, entre esses graus, pode mediar lá a distância que vai, entre nós, do selvagem ao homem civilizado. Assim, do fato de um Espírito habitar Júpiter não se segue que esteja no nível dos seres mais adiantados, do mesmo modo que ninguém pode considerar-se na categoria de um sábio do Instituto, só porque resida em Paris.

As condições de longevidade não são, tampouco, em qualquer parte, as mesmas que na Terra e as idades não se podem comparar. Evocado, um Espírito que desencarnara havia alguns anos, disse que, desde seis meses antes, estava encarnado em mundo cujo nome nos é desconhecido. Interrogado sobre a idade que tinha nesse mundo, disse: “Não posso avaliá-lo, porque não contamos o tempo como contais. Depois, os modos de existência não são idênticos. Nós, lá, nos desenvolvemos muito mais rapidamente. Entretanto, se bem não haja mais de seis dos vossos meses que lá estou, posso dizer que, quanto à inteligência, tenho trinta anos da idade que tive na Terra”.

Muitas respostas análogas foram dadas por outros Espíritos e o fato nada apresenta de inverossímil. Não vemos que, na Terra, uma imensidade de animais em poucos meses adquire o desenvolvimento normal? Por que não se poderia dar o mesmo com o homem noutras esferas? Notemos, além disso, que o desenvolvimento que o homem alcança na Terra aos trinta anos talvez não passe de uma espécie de infância, comparado com o que lhe cumpre atingir. Bem curto de vista se revela quem nos toma em tudo por protótipos da Criação, assim como é rebaixar a Divindade o imaginar-se que, fora o homem, nada mais seja possível a Deus. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 130)

15. […] 

Para determinação da época dos acontecimentos futuros, será preciso, ao demais, se leve em conta uma circunstância inerente à natureza mesma dos Espíritos.

O tempo, como o espaço, não pode ser avaliado senão com o auxílio de pontos de referências que o dividam em períodos que se contem. Na Terra, a divisão natural do tempo em dias e anos tem a marcá-la o levantar e o pôr do sol, assim como a duração do movimento de translação do planeta terreno. As unidades de medida do tempo necessariamente variam conforme os mundos, pois que são diferentes os períodos astronômicos. Assim, por exemplo, em Júpiter, os dias equivalem a dez das horas terrestres e os anos a mais de doze anos nossos.

Há, pois, para cada mundo, um modo diferente de computar-se a duração, de acordo com a natureza das revoluções astrais que nele se efetuam. Já haverá aí uma dificuldade para que Espíritos que não conheçam o nosso mundo determinem datas com relação a nós. Além disso, fora dos mundos, não existem tais meios de apreciação. Para um Espírito, no espaço, não há levantar nem pôr de sol a marcar os dias, nem revolução periódica a marcar os anos; só há, para ele, a duração e o espaço infinitos. Aquele, portanto, que jamais houvesse vindo à Terra nenhum conhecimento possuiria dos nossos cálculos que, aliás, lhe seriam completamente inúteis. Mais ainda: aquele que jamais houvesse encarnado em nenhum mundo, nenhuma noção teria das frações da duração. Quando um Espírito estranho à Terra vem aqui manifestar-se, não pode assinar datas aos acontecimentos, senão identificando-se com os nossos usos; ora, isso sem dúvida lhe é possível, porém, as mais das vezes, ele nenhuma utilidade descobre nessa identificação. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVI – p. 324)

Entre as causas que podem opôr-se à manifestação de um Espírito, umas lhes são pessoais e outras lhes são estranhas. Entre as primeiras devem ser colocadas as suas ocupações ou as missões que devem realizar e das quais não podem desviar-se para ceder aos nossos desejos.

Há, ainda, a sua própria situação. Posto o estado de encanação não seja um obstáculo absoluto, pode ser um impedimento em dados momentos, principalmente quando a encarnação se verifica em mundos inferiores e quando o próprio Espírito é pouco desmaterializado. Nos mundos superiores, naqueles onde os laços entre o Espírito e a matéria são muitos fracos, a manifestação é quase tão fácil quanto no estado de erraticidade; em todo caso é mais fácil do que naqueles em que a matéria corpórea é mais compacta. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo VIII – p. 83)

8. […] Nos [mundos] mais atrasados, são de certo modo rudimentares os seres que os habitam. Revestem a forma humana, mas sem nenhuma beleza. Seus instintos não têm a abrandá-los qualquer sentimento de delicadeza ou de benevolência, nem as noções do justo e do injusto. A força bruta é, entre eles, a única lei. Carentes de indústrias e de invenções, passam a vida na conquista de alimentos. Deus, entretanto, a nenhuma de suas criaturas abandona; no fundo das trevas da inteligência jaz, latente, a vaga intuição, mais ou menos desenvolvida, de um Ente supremo. Esse instinto basta para torná-los superiores uns aos outros e para lhes preparar a ascensão a uma vida mais completa, porquanto eles não são seres degradados, mas crianças que estão a crescer. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo III – p. 60)

19. Os Espíritos que mais erram encarnam em mundos menos adiantados, sujeitos às expiações de suas faltas. Passam por atribulações da vida material. Esses mundos, para eles, se constituem em verdadeiros purgatórios, de onde saem por meio dos próprios esforços e melhora da sua condição moral. (Allan Kardec – O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão – p. 34-35)

18º) Os Espíritos imperfeitos são excluídos dos mundos felizes, cuja harmonia perturbariam. Ficam nos mundos inferiores a expiarem as suas faltas pelas tribulações da vida, e purificando-se das suas imperfeições até que mereçam a encarnação em mundos mais elevados, mais adiantados moral e fisicamente.  (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo VII – p. 86)

27. O progresso material de um planeta acompanha o progresso moral de seus habitantes. Ora, sendo incessante, como é a criação dos mundos e dos Espíritos e progredindo estes mais ou menos rapidamente, conforme o uso que façam do livre-arbítrio, segue-se que há mundos mais ou menos antigos, em graus diversos de adiantamento físico e moral, onde é mais ou menos material a encarnação e onde, por conseguinte, o trabalho, para os Espíritos, é mais ou menos rude. Deste ponto de vista, a Terra é um dos menos adiantados. Povoada de Espíritos relativamente inferiores, a vida corpórea é aí mais penosa do que noutros orbes, havendo-os também mais atrasados, onde a existência é ainda mais penosa do que na Terra e em confronto com os quais esta seria, relativamente, um mundo ditoso. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XI – p. 193)

172. As nossas diversas existências corporais se verificam todas na Terra?

“Não; vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p.125)

173. A cada nova existência corporal a alma passa de um mundo para outro, ou pode ter muitas no mesmo globo?

“Pode viver muitas vezes no mesmo globo, se não se adiantou bastante para passar a um mundo superior.”

a) Podemos então reaparecer muitas vezes na Terra?

“Certamente.”

b) Podemos voltar a este, depois de termos vivido em outros mundos?

“Sem dúvida. É possível que já tenhais vivido algures e na Terra.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IV – p. 125)

12 de maio de 1856

(Sessão pessoal em casa do Sr. Baudin)

ACONTECIMENTOS

Pergunta (à Verdade) […]

P. — Disseram os Espíritos que os tempos são chegados em que tais coisas têm de acontecer: em que sentido se devem tomar essas palavras?

R. — Em se tratando de coisas de tanta gravidade, que são alguns anos a mais ou a menos? Elas nunca ocorrem bruscamente, como o chispar de um raio; são longamente preparadas por acontecimentos parciais que lhes servem como que de precursores, quais os rumores surdos que precedem a erupção de um vulcão. Pode-se, pois, dizer que os tempos são chegados, sem que isso signifique que as coisas sucederão amanhã. Significa unicamente que vos achais no período em que se verificarão.

P. — Confirmas o que foi dito, isto é, que não haverá cataclismos?

R. — Sem dúvida, não tendes que temer nem um dilúvio, nem o abrasamento do vosso planeta, nem outros fatos desse gênero, porquanto não se pode denominar cataclismos a perturbações locais que se têm produzido em todas as épocas. Apenas haverá um cataclismo de natureza moral, de que os homens serão os instrumentos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A minha primeira iniciação no Espiritismo – p. 341)

CHISPAR: soltar chispas (‘faíscas, lampejos’); chispear. [Definição do Dicionário Online do Google]

1019. Poderá jamais implantar-se na Terra o reinado do bem?

“O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons predominarem, porque, então, farão que aí reinem o amor e a justiça, fonte do bem e da felicidade. Por meio do progresso moral e praticando as leis de Deus é que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e dela afastará os maus. Estes, porém, não a deixarão, senão quando daí estejam banidos o orgulho e o egoísmo.

Predita foi a transformação da humanidade e vos avizinhais do momento em que se dará, momento cuja chegada apressam todos os homens que auxiliam o progresso. Essa transformação se verificará por meio da encarnação de Espíritos melhores, que constituirão na Terra uma geração nova. Então, os Espíritos dos maus, que a morte vai ceifando dia a dia, e todos os que tentem deter a marcha das coisas serão daí excluídos, pois que viriam a estar deslocados entre os homens de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão para mundos novos, menos adiantados, desempenhar missões penosas, trabalhando pelo seu próprio adiantamento, ao mesmo tempo que trabalharão pelo de seus irmãos ainda mais atrasados. Neste banimento de Espíritos da Terra transformada, não percebeis a sublime alegoria do Paraíso perdido e, na vinda do homem para a Terra em semelhantes condições, trazendo em si o gérmen de suas paixões e os vestígios da sua inferioridade primitiva, não descobris a não menos sublime alegoria do pecado original? Considerado deste ponto de vista, o pecado original se prende à natureza ainda imperfeita do homem que, assim, só é responsável por si mesmo, pelas suas próprias faltas e não pelas de seus pais.

Todos vós, homens de fé e de boa vontade, trabalhai, portanto, com ânimo e zelo na grande obra da regeneração, que colhereis pelo cêntuplo o grão que houverdes semeado. Ai dos que fecham os olhos à luz! Preparam para si mesmos longos séculos de trevas e decepções. Ai dos que fazem dos bens deste mundo a fonte de todas as suas alegrias! Terão que sofrer privações muito mais numerosas do que os gozos de que desfrutaram! Ai, sobretudo, dos egoístas! Não acharão quem os ajude a carregar o fardo de suas misérias.” São Luís (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 459-460)

17. Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os mundos felizes. A alma penitente encontra neles a calma e o repouso e acaba por depurar-se. Sem dúvida, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a Humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que a tortura, do ódio que a sufoca. Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis.

Nesses mundos, todavia, ainda não existe a felicidade perfeita, mas a aurora da felicidade. O homem lá é ainda de carne e, por isso, sujeito às vicissitudes de que libertos só se acham os seres completamente desmaterializados. Ainda tem de suportar provas, porém, sem as pungentes angústias da expiação. Comparados à Terra, esses mundos são bastante ditosos e muitos dentre vós se alegrariam de habitá-los, pois que eles representam a calma após a tempestade, a convalescença após a moléstia cruel. Contudo, menos absorvido pelas coisas materiais, o homem divisa, melhor do que vós, o futuro; compreende a existência de outros gozos prometidos pelo Senhor aos que deles se mostrem dignos, quando a morte lhes houver de novo ceifado os corpos, a fim de lhes outorgar a verdadeira vida. Então, liberta, a alma pairará acima de todos os horizontes. Não mais sentidos materiais e grosseiros; somente os sentidos de um perispírito puro e celeste, a aspirar as emanações do próprio Deus, nos aromas de amor e de caridade que do seu seio emanam. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo III – p. 64)

9. […] Nos mundos superiores, o amor recíproco é que harmoniza e dirige os Espíritos adiantados que os habitam, e o vosso planeta, destinado a realizar em breve sensível progresso, verá seus habitantes, em virtude da transformação social por que passará, a praticar essa lei sublime, reflexo da Divindade.

Os efeitos da lei de amor são o melhoramento moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrestre. Os mais rebeldes e os mais viciosos se reformarão, quando observarem os benefícios resultantes da prática deste preceito: Não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam; fazei-lhes, ao contrário, todo o bem que vos esteja ao alcance fazer-lhes. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XI – p. 158)

11. A reencarnação pode dar-se na Terra ou em outros mundos. Há entre os mundos alguns mais adiantados onde a existência se exerce em condições menos penosas que na Terra, física e moralmente, mas onde também só são admitidos Espíritos chegados a um grau de perfeição relativo ao estado desses mundos.

A vida nos mundos superiores já é uma recompensa, visto nos acharmos isentos, aí, dos males e vicissitudes terrenos. Os corpos menos materiais, quase fluídicos, não sujeitos aí às moléstias, às enfermidades, tampouco têm as mesmas necessidades. Excluídos os Espíritos maus, gozam os homens de plena paz, sem outra preocupação além da do adiantamento pelo trabalho intelectual.

Reina lá a verdadeira fraternidade, porque não há egoísmo; a verdadeira igualdade, porque não há orgulho, e a verdadeira liberdade por não haver desordens a reprimir, nem ambiciosos que procurem oprimir o fraco.

Comparados à Terra, esses mundos são verdadeiros paraísos, quais pousos ao longo do caminho do progresso conducente ao estado definitivo. Sendo a Terra um mundo inferior destinado à purificação dos Espíritos imperfeitos, está nisso a razão do mal que aí predomina, até que praza a Deus fazer dela morada de Espíritos mais adiantados. Assim é que o Espírito, progredindo gradualmente à medida que se desenvolve, chega ao apogeu da felicidade; porém, antes de ter atingido a culminância da perfeição, goza de uma felicidade relativa ao seu progresso. A criança também frui os prazeres da infância, mais tarde os da mocidade, e finalmente os mais sólidos, da madureza. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno –  Primeira Parte – Capítulo III – p. 30)

12. Entretanto, os mundos felizes não são orbes privilegiados, visto que Deus não é parcial para qualquer de seus filhos; a todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem a tais mundos. Fá-los partir todos do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos outros; a todos são acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre conquistá-las pelo seu trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por séculos de séculos no lodaçal da Humanidade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo III – p. 62)

9ª Nos mundos mais adiantados que o nosso, os Espíritos são vistos com mais frequência do que entre nós?

“Quanto mais o homem se aproxima da natureza espiritual, tanto mais facilmente se põe em comunicação com os Espíritos. A grosseria do vosso envoltório é que dificulta e torna rara a percepção dos seres etéreos.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 111)

601. Os animais estão sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva?

“Sim; e daí vem que nos mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre, porém, inferiores ao homem e se lhe acham submetidos, tendo neles o homem servidores inteligentes.”

Nota – Nada há nisso de extraordinário. Tomemos os nossos mais inteligentes animais, o cão, o elefante, o cavalo, e imaginemo-los dotados de uma conformação apropriada a trabalhos manuais. Que não fariam sob a direção do homem? (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo XI – p. 286)

678. Nos mundos mais aperfeiçoados, os homens se acham submetidos à mesma necessidade de trabalhar?

“A natureza do trabalho está em relação com a natureza das necessidades. Quanto menos materiais são estas, menos material é o trabalho. Não deduzais daí, porém, que o homem se conserve inativo e inútil. A ociosidade seria um suplício, em vez de ser um benefício.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo II – p. 318)

710. Nos mundos de mais apurada organização, têm os seres vivos necessidade de alimentar-se?

“Têm, mas seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Tais alimentos não seriam bastante substanciosos para os vossos estômagos grosseiros; assim como os deles não poderiam digerir os vossos alimentos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo V – p. 330)

985. Constitui recompensa a reencarnação da alma em um mundo menos grosseiro?

“É a consequência de sua depuração, porquanto, à medida que se vão depurando, os Espíritos passam a encarnar em mundos cada vez mais perfeitos, até que se tenham despojado totalmente da matéria e lavado de todas as impurezas, para eternamente gozarem da felicidade dos Espíritos puros, no seio de Deus.”

Nota – Nos mundos onde a existência é menos material do que neste, menos grosseiras são as necessidades e menos agudos os sofrimentos físicos. Lá, os homens desconhecem as paixões más, que, nos mundos inferiores, os fazem inimigos uns dos outros. Nenhum motivo tendo de ódio, ou de ciúme, vivem em paz, porque praticam a lei de justiça, amor e caridade. Não conhecem os aborrecimentos e cuidados que nascem da inveja, do orgulho e do egoísmo, causas do tormento da nossa existência terrestre.  (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 442)

1016. Em que sentido se deve entender a palavra céu?

“Julgas que seja um lugar, como os campos elísios dos antigos, onde todos os bons Espíritos estão promiscuamente aglomerados, sem outra preocupação que a de gozar, pela eternidade toda, de uma felicidade passiva? Não; é o espaço universal; são os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores, onde os Espíritos gozam plenamente de suas faculdades, sem as tribulações da vida material, nem as angústias peculiares à inferioridade.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 458)

9. Nos mundos que chegaram a um grau superior, as condições da vida moral e material são muitíssimo diversas das da vida na Terra. Como por toda parte, a forma corpórea aí é sempre a humana, mas embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada. O corpo nada tem da materialidade terrestre e não está, conseguintemente, sujeito às necessidades, nem às doenças ou deteriorações que a predominância da matéria provoca. Mais apurados, os sentidos são aptos a percepções a que neste mundo a grosseria da matéria obsta. A leveza específica do corpo permite locomoção rápida e fácil: em vez de se arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela superfície, ou plana na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da vontade, conforme se representam os anjos, ou como os antigos imaginavam os manes nos Campos Elíseos. Os homens conservam, a seu grado, os traços de suas passadas migrações e se mostram a seus amigos tais quais estes os conheceram, porém, irradiando uma luz divina, transfigurados pelas impressões interiores, então sempre elevadas. Em lugar de semblantes descorados, abatidos pelos sofrimentos e paixões, a inteligência e a vida cintilam com o fulgor que os pintores hão figurado no nimbo ou auréola dos santos. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo III – p. 60-61)

MANES: as almas dos mortos. [Definição do Dicionário Online do Google]

CAMPOS ELÍSEOS: representavam o lugar de destino dos bem-aventurados; era o paraíso, segundo a mitologia grega. [Informação retirada do site https://brasilescola.uol.com.br/mitologia/campos-eliseos.htm]

24. […] 

Se mundos especiais são destinados a Espíritos de grande adiantamento, estes últimos não lhes ficam presos, como nos mundos inferiores. O estado de desprendimento em que se encontram lhes permite ir a toda parte onde os chamem as missões que lhes estejam confiadas. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo IV – p. 76)

20. […] 

Conseguintemente, se à morada terrena são peculiares as provas e a expiação, forçoso é se admita que, algures, moradas há mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado ainda numa carne material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes à vida humana. Tal a razão por que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais os vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando vos achardes suficientemente purificados e aperfeiçoados. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V –  p. 93)

182. É-nos possível conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes mundos?

 “Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais. Quer dizer que não devemos revelar estas coisas a todos, porque nem todos estão em estado de compreendê-las e semelhante revelação os perturbaria.”

Nota – À medida que o Espírito se purifica, o corpo que o reveste se aproxima igualmente da natureza espírita. Torna-se-lhe menos densa a matéria, deixa de rastejar penosamente pela superfície do solo, menos grosseiras se lhe fazem as necessidades físicas, não mais sendo preciso que os seres vivos se destruam mutuamente para se nutrirem. O Espírito se acha mais livre e tem, das coisas longínquas, percepções que desconhecemos. Vê com os olhos do corpo o que só pelo pensamento entrevemos.

Da purificação do Espírito decorre o aperfeiçoamento moral, para os seres que eles constituem, quando encarnados. As paixões animais se enfraquecem e o egoísmo cede lugar ao sentimento da fraternidade. Assim é que, nos mundos superiores ao nosso, se desconhecem as guerras, carecendo de objeto os ódios e as discórdias, porque ninguém pensa em causar dano ao seu semelhante. A intuição que seus habitantes têm do futuro, a segurança que uma consciência isenta de remorsos lhes dá, fazem que a morte nenhuma apreensão lhes cause. Encaram-na de frente, sem temor, como simples transformação.

A duração da vida, nos diferentes mundos, parece guardar proporção com o grau de superioridade física e moral de cada um, o que é perfeitamente racional. Quanto menos material o corpo, menos sujeito às vicissitudes que o desorganizam. Quanto mais puro o Espírito, menos paixões a miná-lo. É essa ainda uma graça da Providência, que desse modo abrevia os sofrimentos. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos –  Parte Segunda – Capítulo IV – p.128)

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