3.3.3 DO ÊXTASE
ÊXTASE – do. gr. ekstasis, transbordamento do Espírito, do verbo existemi, ferir a admiração. Paroxismo da emancipação da alma durante a vida corpórea, de onde resulta a suspensão momentânea das faculdades perceptivas e sensitivas dos órgãos. Em tal estado a alma não se prende mais ao corpo senão por frágeis laços, que procura romper; pertence mais ao mundo dos Espíritos, que entrevê, do que ao mundo material.
Por vezes o êxtase é natural e espontâneo. Também pode ser provocado pela ação magnética e, neste caso, é um grau superior do sonambulismo. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 15-16)
PAROXISMO: 1. espasmo agudo ou convulsão. 2. momento de maior intensidade de uma dor ou de um acesso. [Definição do Dicionário Online do Google]
439. Que diferença há entre o êxtase e o sonambulismo?
“O êxtase é um sonambulismo mais apurado. A alma do extático ainda é mais independente.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 228)
440. O Espírito do extático penetra realmente nos mundos superiores?
“Vê esses mundos e compreende a felicidade dos que os habitam, donde lhe nasce o desejo de lá permanecer. Há, porém, mundos inacessíveis aos Espíritos que ainda não estão bastante purificados.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 228)
441. Quando o extático manifesta o desejo de deixar a Terra, fala sinceramente, não o retém o instinto de conservação?
“Isso depende do grau de purificação do Espírito. Se verifica que a sua futura situação será melhor do que a sua vida presente, esforça-se por desatar os laços que o prendem à Terra.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 228)
442. Se se deixasse o extático entregue a si mesmo, poderia sua alma abandonar definitivamente o corpo?
“Perfeitamente, poderia morrer. Por isso é que preciso se torna chamá-lo a voltar, apelando para tudo o que o prende a este mundo, fazendo-lhe sobretudo compreender que a maneira mais certa de não ficar lá, onde vê que seria feliz, consistiria em partir a cadeia que o tem preso ao planeta terreno.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 228)
444. Que confiança se pode depositar nas revelações dos extáticos?
“O extático está sujeito a enganar-se muito frequentemente, sobretudo quando pretende penetrar no que deva continuar a ser mistério para o homem, porque, então, se deixa levar pela corrente das suas próprias ideias, ou se torna joguete de Espíritos mistificadores, que se aproveitam da sua exaltação para fasciná-lo.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 229)
455. […]
O êxtase é o estado em que a independência da alma, com relação ao corpo, se manifesta de modo mais sensível e se torna, de certa forma, palpável.
No sonho e no sonambulismo, o Espírito anda em giro pelos mundos terrestres. No êxtase, penetra em um mundo desconhecido, o dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem que, todavia, lhe seja lícito ultrapassar certos limites, porque, se os transpusesse, totalmente se partiriam os laços que o prendem ao corpo. Cerca-o então resplendente e desusado fulgor, inebriam-no harmonias que na Terra se desconhecem, indefinível bem-estar o invade: goza antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que pousa um pé no limiar da eternidade.
No estado de êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo. Fica-lhe somente, pode-se dizer, a vida orgânica. Sente-se que a alma se lhe acha presa unicamente por um fio, que mais um pequenino esforço quebraria sem remissão.
Nesse estado, desaparecem todos os pensamentos terrestres, cedendo lugar ao sentimento apurado, que constitui a essência mesma do nosso ser imaterial. Inteiramente entregue a tão sublime contemplação, o extático encara a vida apenas como paragem momentânea. Considera os bens e os males, as alegrias grosseiras e as misérias deste mundo quais incidentes fúteis de uma viagem, cujo termo tem a dita de avistar.
Dá-se com os extáticos o que se dá com os sonâmbulos: mais ou menos perfeita podem ter a lucidez e o Espírito mais ou menos apto a conhecer e compreender as coisas, conforme seja mais ou menos elevado. Muitas vezes, porém, há neles mais excitação do que verdadeira lucidez, ou, melhor, muitas vezes a exaltação lhes prejudica a lucidez. Daí o serem, frequentemente, suas revelações um misto de verdades e erros, de coisas grandiosas e coisas absurdas, até ridículas. Dessa exaltação, que é sempre uma causa de fraqueza, quando o indivíduo não sabe reprimi-la, Espíritos inferiores costumam aproveitar-se para dominar o extático, tomando, com tal intuito, aos seus olhos, aparências que mais o aferram às ideias que nutre no estado de vigília. Há nisso um escolho, mas nem todos são assim. Cabe-nos tudo julgar friamente e pesar-lhes as revelações na balança da razão. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 235-236)
DESUSADO: que caiu em desuso; fora de uso; não usado. [Definição do Dicionário Online do Google]
INEBRIANTE: que embriaga, entontece; embriagador. [Definição do Dicionário Online do Google]
LIMIAR: o primeiro momento; começo, início. [Definição do Dicionário Online do Google]
29. O êxtase é a emancipação da alma no grau máximo. “No sonho e no sonambulismo, a alma erra pelos mundos terrestres; no êxtase, penetra num mundo desconhecido, no mundo dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem, todavia, poder ultrapassar certos limites, que ela não poderia transpor sem quebrar totalmente os laços que a prendem ao corpo. Cercam-na um brilho resplandecente e desusado fulgor, elevam-na harmonias que na Terra se desconhecem, invade-a indefinível bem-estar; dado lhe é gozar antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que põe um pé no limiar da eternidade. No êxtase, é quase completo o aniquilamento do corpo; já não resta, por assim dizer, senão a vida orgânica e percebe-se que a alma lhe está presa apenas por um fio, que mais um pequeno esforço faria partir-se”.
30. Como em nenhum dos outros graus de emancipação da alma, o êxtase não é isento de erros, pelo que as revelações dos extáticos longe estão de exprimir sempre a verdade absoluta. A razão disso reside na imperfeição do espírito humano; somente quando ele há, chegado ao cume da escala pode julgar das coisas lucidamente; antes não lhe é dado ver tudo, nem tudo compreender. Se, após o fenômeno da morte, quando o desprendimento é completo, ele nem sempre vê com justeza; se muitos há que se conservam imbuídos dos prejuízos da vida, que não compreendem as coisas do mundo visível, onde se encontram, com mais forte razão o mesmo há de suceder com o Espírito ainda retido na carne.
Há por vezes, nos extáticos, mais exaltação que verdadeira lucidez, ou, melhor, a exaltação lhes prejudica a lucidez, razão por que suas revelações são com frequência mistura de verdades e erros, de coisas sublimes e outras ridículas. Também Espíritos inferiores se aproveitam dessa exaltação, que é sempre uma causa de fraqueza quando não há quem saiba governá-la, para dominar o extático, e, para conseguirem seus fins, assumem aos olhos deste aparências que o aferram às suas ideias e preconceitos, de modo que suas visões e revelações não vêm a ser mais do que reflexos de suas crenças. É um escolho a que só escapam os Espíritos de ordem elevada, escolho diante do qual o observador deve manter-se em guarda. (Allan Kardec – Obras Póstumas- Manifestações dos Espíritos – p. 68-69)