754. A crueldade não derivará da carência de senso moral?
“Dize — da falta de desenvolvimento do senso moral; não digas da carência, porquanto o senso moral existe, como princípio, em todos os homens. É esse senso moral que dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos. Ele, pois, existe no selvagem, mas como o princípio do perfume no germe da flor que ainda não desabrochou.”
Nota – Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem. Desenvolvem-se, conforme lhes sejam mais ou menos favoráveis as circunstâncias. O desenvolvimento excessivo de umas detém ou neutraliza o das outras. A sobre-excitação dos instintos materiais abafa, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do senso moral enfraquece pouco a pouco as faculdades puramente animais. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VI – p. 341-342)
No ato da reencarnação, as faculdades do Espírito não ficam apenas entorpecidas por uma espécie de sono momentâneo, conforme se dá quando do regresso à vida espiritual; todas, sem exceção, passam ao estado de latência. A vida corpórea tem por fim desenvolvê-las mediante o exercício, mas nem todas se podem desenvolver simultaneamente, porque o exercício de uma poderia prejudicar o de outra, ao passo que, por meio do desenvolvimento sucessivo, umas se firmam nas outras. Convém, pois, que algumas fiquem em repouso, enquanto outras aumentam. Esta a razão por que, na sua nova existência, pode o Espírito apresentar-se sob aspecto muito diferente, sobretudo se pouco adiantado for, do que tinha na existência precedente.
Num, a faculdade musical, por exemplo, será mais ativa; ele conceberá, perceberá e, portanto, fará tudo o que for necessário ao desenvolvimento dessa faculdade; noutra existência, tocará a vez à pintura, às ciências exatas, à poesia, etc. Enquanto estas novas faculdades se exercitarem, a da música estará latente, mas conservando o progresso que realizou. Resulta daí que quem foi artista numa existência, poderá ser um sábio, um homem de estado, ou um estrategista noutra, sendo nulo do ponto de vista artístico e reciprocamente. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Morte Espiritual – p. 249-250)
Todas as faculdades, todas as aptidões se encontram em gérmen no Espírito, desde a sua criação, mas em estado rudimentar, como todos os órgãos no primeiro filete do feto informe, como todas as partes da árvore na semente. O selvagem que mais tarde se tornará homem civilizado possui, pois, em si os germens que, um dia, farão dele um sábio, um grande artista, ou um grande filósofo.
À medida que esses germens chegam à maturidade, a Providência lhes dá, para a vida terrestre, um corpo apropriado às suas novas aptidões. É assim que o cérebro de um europeu é organizado de modo mais completo, provido de maior número de teclas, do que o do selvagem. Para a vida espiritual, dá-lhes um corpo fluídico, ou perispírito, mais sutil e impressionável por novas sensações. À proporção que o Espírito se engrandece, a natureza o provê dos instrumentos que lhe são necessários. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Morte Espiritual – p. 252)
772. Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas, desde a mais remota antiguidade?
“Perguntai, antes, a vós mesmos se a palavra é faculdade natural e por que Deus a concedeu ao homem. Deus condena o abuso e não o uso das faculdades que lhe outorgou. Entretanto, o silêncio é útil, pois no silêncio pões em prática o recolhimento; teu espírito se torna mais livre e pode entrar em comunicação conosco. O voto de silêncio, porém, é uma tolice. Sem dúvida obedecem a boa intenção os que consideram essas privações como atos de virtude. Enganam-se, no entanto, porque não compreendem suficientemente as verdadeiras leis de Deus.”
Nota – O voto de silêncio absoluto, do mesmo modo que o voto de insulamento, priva o homem das relações sociais que lhe podem facultar ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VII – p. 348-349)
792. Por que não efetua a civilização, imediatamente, todo o bem que poderia produzir?
“Porque os homens ainda não estão aptos nem dispostos a alcançá-lo.”
a) Não será também porque, criando novas necessidades, suscita paixões novas?
“É, e ainda porque não progridem simultaneamente todas as faculdades do Espírito. Tempo é preciso para tudo. De uma civilização incompleta não podeis esperar frutos perfeitos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 358)
805. Passando de um mundo superior a outro inferior, conserva o Espírito, integralmente, as faculdades adquiridas?
“Sim, já temos dito que o Espírito que progrediu não retrocede. Poderá escolher, no estado de Espírito livre, um invólucro mais grosseiro, ou uma posição mais precária do que as que já teve, porém tudo isso para lhe servir de ensinamento e ajudá-lo a progredir.”
Nota – Assim, a diversidade das aptidões entre os homens não deriva da natureza íntima da sua criação, mas do grau de aperfeiçoamento a que tenham chegado os Espíritos encarnados neles. Deus, portanto, não criou faculdades desiguais; permitiu, porém, que os Espíritos em graus diversos de desenvolvimento estivessem em contato, para que os mais adiantados pudessem auxiliar o progresso dos mais atrasados e também para que os homens, necessitando uns dos outros, compreendessem a lei de caridade que os deve unir. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo VIII – p. 364)
MÉDIUM – do lat. medium, meio, intermediário. Pessoa acessível à influência dos Espíritos e mais ou menos dotada da faculdade de receber e transmitir suas comunicações. Para os Espíritos o médium é um intermediário; é um agente ou instrumento mais ou menos cômodo, conforme a natureza ou o grau da faculdade mediatriz. Essa faculdade é devida a uma disposição orgânica especial, suscetível de desenvolvimento. Distinguem-se diversas variedades de médiuns, conforme sua aptidão particular para este ou aquele modo de transmissão, ou tal ou qual gênero de comunicação.
Médiuns de influência física, os que têm o poder de provocar manifestações ostensivas. Compreendem as seguintes variedades:
médiuns motores, que provocam movimento e deslocamento de objetos;
médiuns tiptólogos, os que provocam ruídos e golpes vibrados;
médiuns de aparição, os que provocam aparições.
Entre os médiuns de influência física distinguem-se: os médiuns facultativos, isto é, que têm o poder de provocar os fenômenos por um ato da vontade, e os médiuns naturais, os que produzem espontaneamente e sem qualquer participação da vontade.
Médiuns de influência moral, os que são mais especialmente aptos a receber e transmitir as comunicações inteligentes. Conforme sua aptidão especial, distinguem-se em:
médiuns de pressentimentos, pessoas que, em certas circunstâncias, têm uma vaga intuição das coisas futuras;
médiuns desenhistas, os que desenham sob a influência dos Espíritos;
médiuns escreventes ou psicógrafos, os que têm a faculdade de escrever sob a influência dos Espíritos.
médiuns excitadores, os que têm o poder de desenvolver nos outros, pela sua vontade, a faculdade de escrever, sejam ou não médiuns escreventes;
médiuns falantes ou parlantes, os que transmitem pela palavra falada o que os psicógrafos transmitem pela escrita;
médiuns inspirados, as pessoas que, em estado normal ou em êxtase, recebem pelo pensamento comunicações ocultas, estranhas às suas ideias;
médiuns musicistas, os que escrevem música ou a executam sob a influência dos Espíritos;
médiuns pneumatógrafos, os que têm a faculdade de obter a escrita direta dos Espíritos.
médiuns sensitivos ou impressíveis, são as pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma vaga impressão de que não se podem dar conta. Essa variedade não tem um caráter bem definido. Todos os médiuns são necessariamente impressíveis. A impressionabilidade é, assim, antes uma qualidade geral que especial. É: a faculdade rudimentar indispensável ao desenvolvimento de todas as outras. Difere da impressionabilidade puramente física e nervosa, com a qual não deve ser confundida;
médiuns videntes, são as pessoas que têm a faculdade da segunda vista, ou de ver os Espíritos. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 23-24)
159. Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. É de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos desta ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades quantas são as espécies de manifestações. As principais são: a dos médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou impressionáveis; a dos audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes ou psicógrafos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIV – p. 171)
Toda pessoa que, num grau qualquer, experimente a influência dos Espíritos é, por esse simples fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem e, por conseguinte, não constitui privilégio exclusivo, donde se segue que poucos são os que não possuam um rudimento de tal faculdade. Pode-se, pois, dizer que toda gente, mais ou menos, é médium. Contudo, segundo o uso, esse qualificativo só se aplica àqueles em quem a faculdade mediúnica se manifesta por efeitos ostensivos, de certa intensidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 71)
Toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por isso mesmo, médium. Essa faculdade é inerente ao homem e, consequentemente, não é privilégio exclusivo; assim, poucos há nos quais não seja ela encontrada, embora em forma rudimentar. Pode, pois, dizer-se que todo o mundo é mais ou menos médium. Contudo, em geral essa qualificação só se aplica às pessoas nas quais a faculdade mediatriz esteja claramente caracterizada e se traduza por efeitos patentes de uma certa intensidade, o que, então, depende de uma organização mais ou menos sensitiva. Além disso, é de notar-se que essa faculdade não se revela em todos do mesmo modo: geralmente os médiuns têm uma aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que determina tantas variedades quantas as espécies de manifestações. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo V – p. 64)
Entre as diferentes espécies de médiuns, distinguem-se principalmente: os de efeitos físicos; os sensitivos ou impressivos; os audientes, falantes, videntes, inspirados, sonambúlicos, curadores, escreventes ou psicógrafos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos Médiuns – p. 73-74)
10. Os Espíritos podem se manifestar de maneiras bem diferentes: pela visão, pela audição, pelo toque, pelos ruídos, pelos movimentos dos corpos, pela escrita, pelo desenho, pela música, etc. Eles se manifestam por intermédio de pessoas dotadas de uma aptidão especial para cada gênero de manifestação e que se distinguem sob o nome de médiuns. É assim que se distinguem os médiuns videntes, falantes, audientes, sensitivos, de efeitos físicos, desenhistas, tiptólogos, escreventes, etc. Entre os médiuns escreventes, há numerosas variedades, segundo a natureza das comunicações que estão aptos a receber. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestação dos Espíritos – p. 10)
236. […]
“Primeiramente, entendamo-nos bem acerca dos fatos. Que é um médium? É o ser, é o indivíduo que serve de traço de união aos Espíritos, para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens: Espíritos encarnados. Por conseguinte, sem médium, não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer natureza que seja”. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXII – p. 253)
49. […]
8º Todos os Espíritos, em dadas circunstâncias, podem manifestar-se aos homens; indefinido é o número dos que podem comunicar-se;
9º Os Espíritos se comunicam por médiuns, que lhes servem de instrumentos e intérpretes; (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo IV – p. 57)
Para conhecer as coisas do mundo visível e descobrir os segredos da Natureza material, outorgou Deus ao homem a vista corpórea, os sentidos e instrumentos especiais. Com o telescópio, ele mergulha o olhar nas profundezas do espaço, e, com o microscópio, descobriu o mundo dos infinitamente pequenos. Para penetrar no mundo invisível, deu-lhe a mediunidade.
Os médiuns são os intérpretes incumbidos de transmitir aos homens os ensinos dos Espíritos; ou, melhor, são os órgãos materiais de que se servem os Espíritos para se expressarem aos homens por maneira inteligível. Santa é a missão que desempenham, visto ter por fim rasgar os horizontes da vida eterna.
Os Espíritos vêm instruir o homem sobre seus destinos, a fim de o reconduzirem à senda do bem, e não para o pouparem ao trabalho material que lhe cumpre executar neste mundo, tendo por meta o seu adiantamento, nem para lhe favorecerem a ambição e a cupidez. Aí têm os médiuns o de que devem compenetrar-se bem, para não fazer mau uso de suas faculdades. Aquele que, médium, compreende a gravidade do mandato de que se acha investido, religiosamente o desempenha. Sua consciência lhe profligaria, como ato sacrílego, utilizar por divertimento e distração, para si ou para os outros, faculdades que lhe são concedidas para fins sobremaneira sérios e que o põem em comunicação com os seres de além-túmulo.
Como intérpretes do ensino dos Espíritos, têm os médiuns de desempenhar importante papel na transformação moral que se opera. Os serviços que podem prestar guardam proporção com a boa diretriz que imprimam às suas faculdades, porquanto os que enveredam por mau caminho são mais nocivos do que úteis à causa do Espiritismo. Pela má impressão que produzem, mais de uma conversão retardam. Terão, por isso mesmo, de dar contas do uso que hajam feito de um dom que lhes foi concedido para o bem de seus semelhantes.
O médium que queira gozar sempre da assistência dos bons Espíritos tem de trabalhar por melhorar-se. O que deseja que a sua faculdade se desenvolva e engrandeça tem de se engrandecer moralmente e de se abster de tudo o que possa concorrer para desviá-la do seu fim providencial. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 335-336)
5. Resta agora a questão de saber se o Espírito pode comunicar-se com o homem, isto é, se pode com este trocar ideias. Por que não? Que é o homem senão um Espírito aprisionado num corpo? Por que não há de o Espírito livre se comunicar com o Espírito cativo, como o homem livre com o encarcerado? (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Primeira Parte – Capítulo I – p. 21)
Médiuns são pessoas aptas a sentir a influência dos Espíritos e a transmitir os pensamentos destes. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 71)
Nem sempre é necessária a intervenção da vontade do médium. O Espírito que quer manifestar-se procura o indivíduo apto a receber-lhe a impressão e dele se serve, muitas vezes a seu mau grado. Outras pessoas, ao contrário, conscientes de suas faculdades, podem provocar certas manifestações. Daí duas categorias de médiuns: médiuns inconscientes e médiuns facultativos.
No caso dos primeiros, a iniciativa é dos Espíritos; no segundo, é dos médiuns. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 73)
Os médiuns facultativos só se encontram entre pessoas que têm conhecimento mais ou menos completo dos meios de comunicação com os Espíritos, o que lhes possibilita servir-se, por vontade própria, de suas faculdades; os médiuns inconscientes, ao contrário, existem entre as que nenhuma ideia fazem do Espiritismo, nem dos Espíritos, até mesmo entre as mais incrédulas e que servem de instrumento, sem o saberem e sem o quererem. Os fenômenos espíritas de todos os gêneros podem operar-se por influência destes últimos, que sempre existiram, em todas as épocas e no seio de todos os povos. A ignorância e a credulidade lhes atribuíram um poder sobrenatural e, conforme os tempos e os lugares, fizeram deles santos, feiticeiros, loucos ou visionários. O Espiritismo mostra que com eles apenas se dá a manifestação espontânea de uma faculdade natural. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 73)
Médiuns facultativos são os que têm consciência de seu poder e produzem fenômenos espíritas por um ato da própria vontade. Tal faculdade, posto que inerente à espécie humana, como já ficou dito, está longe de encontrar-se em todos no mesmo grau. Mas se há poucas pessoas nas quais ela seja absolutamente nula, as que são aptas a produzir grandes efeitos, tais como a suspensão dos corpos no espaço, a translação aérea e sobretudo as aparições são ainda mais raras. Os mais simples efeitos são os de rotação dos objetos, os golpes vibrados pelo levantamento de um objeto ou na sua própria substância. Sem ligar uma importância capital a tais fenômenos, aconselhamos a que não sejam negligenciados: eles podem dar lugar a observações interessantes e ajudar a convicção. É de notar-se, porém, que a faculdade de produzir efeitos materiais existe raramente nos que possuem mais perfeitos meios de comunicação, tais como, por exemplo, a escrita e a palavra. Geralmente ela diminui num sentido à medida que se desenvolve num outro. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo V – p. 67)
As manifestações espontâneas se produzem muito raramente em lugares isolados. É quase sempre em casas habitadas que elas ocorrem, isto pelo fato da presença de certas pessoas que, mau grado seu, exercem uma certa influência. Tais pessoas são verdadeiros médiuns que ignoram suas próprias faculdades e que, por isso, os chamamos médiuns naturais. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo II – p. 49)
Os médiuns de influência física são os que têm uma aptidão mais especial para a produção dos fenômenos materiais. É nessa classe que se encontram principalmente os médiuns naturais, isto é, os médiuns cuja influência se exerce mau grado seu. Não têm nenhuma consciência de seu poder e frequentemente aquilo que se passa de anormal em seu redor de modo algum lhes parece extraordinário. Isto faz parte deles mesmos, absolutamente como as pessoas dotadas de segunda vista e que não o suspeitam. Estas criaturas são muito dignas de observação e não se deve negligenciar a colheita e o estudo dos fatos desse gênero, que podem vir ao nosso conhecimento. Eles se manifestam em todas as idades, muitas vezes, até, em crianças de muito tenra idade. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo V – p. 64)
Quando uma tal faculdade se desenvolve espontaneamente numa pessoa, deve deixar-se que o fenômeno siga o seu curso natural: a natureza é mais sábia que os homens; aliás a Providência tem seus pontos de vista e o mais humilde pode ser instrumento de grandes desígnios. Deve-se, porém, convir que o fenômeno por vezes adquire proporções fatigantes e importunas para todos. Ora, eis aqui, em todo caso, o que se deve fazer.
Partindo do princípio que as manifestações físicas espontâneas têm o objetivo de chamar a nossa atenção para qualquer coisa, é preciso procurar conhecer tal objetivo, para o que se deve interrogar o Ser invisível que deseja comunicar-se. A respeito demos uma explicação no capítulo das manifestações. Pode ele querer algo para si mesmo ou para a pessoa a quem se manifesta. Num caso, como no outro, é provável, conforme já dissemos, que se for atendido cessem as visitas. Aliás, eis um outro meio, como o precedente, baseado na observação dos fatos. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo V – p. 65-66)
O fluido perispirítico é o agente de todos os fenômenos espíritas, que só se podem produzir pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito. O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansiva do perispírito do médium e da maior ou menor facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos; depende, portanto, do organismo e pode ser desenvolvida quando exista o princípio; não pode, porém, ser adquirida quando o princípio não exista. A predisposição mediúnica independe do sexo, da idade e do temperamento. Há médiuns em todas as categorias de indivíduos, desde a mais tenra idade, até a mais avançada. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos Médiuns – p. 71)
As relações entre os Espíritos e os médiuns se estabelecem por meio dos respectivos perispíritos, dependendo a facilidade dessas relações do grau de afinidade existente entre os dois fluidos. Alguns há que se combinam facilmente, enquanto outros se repelem, donde se segue que não basta ser médium para que uma pessoa se comunique indistintamente com todos os Espíritos. Há médiuns que só com certos Espíritos podem comunicar-se ou com Espíritos de certas categorias, e outros que não o podem a não ser pela transmissão do pensamento, sem qualquer manifestação exterior. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Dos Médiuns – p. 72)
34. A facilidade das comunicações depende do grau de afinidade que existe entre os fluidos do médium e do Espírito. Cada médium está, assim, mais ou menos apto para receber a impressão ou impulso do pensamento de tal ou tal Espírito; ele pode ser um bom instrumento para um e mau para um outro. Disso resulta que, dois médiuns igualmente bem dotados, estando um ao lado do outro, um Espírito poderá se manifestar por um e não pelo outro.
É, pois, um erro crer que basta ser médium para receber com igual facilidade as comunicações de todo Espírito. Não existem médiuns universais. Os Espíritos procuram, de preferência, os instrumentos que vibrem em uníssono com eles.
Sem a harmonia, que só a assimilação fluídica pode proporcionar, as comunicações são impossíveis, incompletas ou falsas. Podem ser falsas porque, à falta do Espírito desejado, não faltam outros, prontos para aproveitarem a ocasião de se manifestarem e que pouco se importam em dizer a verdade. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Médiuns – p. 18)
Para compreender o papel do médium nas manifestações é preciso que nos demos conta da maneira por que se opera a transmissão do pensamento dos Espíritos. Falamos aqui dos médiuns escreventes.
Como dissemos, o Espírito possui um envoltório semimaterial chamado perispírito. O fluido condensado, por assim dizer, em redor do Espírito, para formar esse envoltório é o intermediário por meio do qual aquele age sobre o corpo; é o agente de sua força material; é por ele que se produzem os fenômenos físicos.
[…] O Espírito pode, pois, exprimir diretamente o seu pensamento pelo movimento de um objeto, do qual a mão do médium serve de ponto de apoio. Pode-o até sem que tal objeto esteja em contato com o médium.
A transmissão do pensamento também se dá por meio do Espírito do médium, ou melhor, por meio de sua alma, porque sob este nome designamos o Espírito encarnado. Neste caso o Espírito estranho não age sobre a mão, fazendo-a escrever como no caso da cesta; ele não a domina, não a guia: age sobre a alma, com a qual se identifica. Sob esse impulso, a alma dirige a mão por meio do fluido que constitui o seu perispírito. A mão dirige a cesta, a cesta dirige o lápis. Notemos aqui – e isto é Importante – que o Espírito estranho não se substitui à alma, pois não poderia deslocá-la: ele a domina, mau grado seu e lhe imprime a sua vontade. Quando dizemos mau grado seu, queremos falar da alma agindo exteriormente pelos órgãos do corpo. Mas a alma, como Espírito que é, mesmo encarnado, pode perfeitamente ter consciência da ação exercida sobre si mesma por um Espírito estranho. O papel da alma em tal circunstância é, por vezes, inteiramente passivo, e, então, o médium nenhuma consciência tem do que escreve ou do que diz, caso seja um médium falante. Mas às vezes, a passividade não é absoluta: então há uma consciência mais ou menos vaga, posto sua mão seja arrastada por um movimento maquinal ao qual fique estranha a sua vontade. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo VI – p. 72-73)
[…] tirantes raras exceções, o médium transmite o pensamento dos Espíritos pelos meios mecânicos à sua disposição e que a expressão desse pensamento pode, e, mesmo, deve, na maioria dos casos, ressentir-se da imperfeição desses meios. Assim, o homem inculto, o campônio, poderá dizer as mais belas coisas, exprimir os mais elevados pensamentos, os mais filosóficos, falando como um camponês. Para os Espíritos o pensamento é tudo, a forma, nada. Isto responde à objeção de certos críticos, relativamente às incorreções de estilo e de ortografia, que podem ser notadas, e que tanto podem vir do médium quanto do Espírito. Seria futilidade agarrar-se a semelhantes coisas. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo VI – p. 74)
Podem os Espíritos manifestar-se de uma infinidade de maneiras, mas não o podem senão com a condição de acharem uma pessoa apta a receber e transmitir impressões deste ou daquele gênero, segundo as aptidões que possua. Ora, como não há nenhuma que possua no mesmo grau todas as aptidões, resulta que umas obtêm efeitos que a outras são impossíveis. Dessa diversidade de aptidões decorre que há diferentes espécies de médiuns. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 72)
236. […]
Há um princípio que, estou certo, todos os espíritas admitem, é que os semelhantes atuam com seus semelhantes e como seus semelhantes. Ora, quais são os semelhantes dos Espíritos senão os Espíritos, encarnados ou não? Será preciso que vo-lo repitamos incessantemente? Pois bem! Repeti-lo-ei ainda: o vosso perispírito e o nosso procedem do mesmo meio, são de natureza idêntica, são, numa palavra, semelhantes. Possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de magnetização mais ou menos vigorosa, que nos permite a nós, Espíritos desencarnados e encarnados, pormo-nos muito pronta e facilmente em comunicação. Enfim, o que é peculiar aos médiuns, o que é da essência mesma da individualidade deles, é uma afinidade especial e, ao mesmo tempo, uma força de expansão particular, que lhes suprimem toda refratariedade e estabelecem, entre eles e nós, uma espécie de corrente, uma espécie de fusão, que nos facilita as comunicações. É, em suma, essa refratariedade da matéria que se opõe ao desenvolvimento da mediunidade, na maior parte dos que não são médiuns. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXII – p. 253)
A cesta ou a prancheta só podem ser postas em movimento debaixo da influência de certas pessoas, dotadas, para isso, de um poder especial, as quais se designam pelo nome de médiuns, isto é — meios ou intermediários entre os Espíritos e os homens. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Introdução IV – p. 21)
203. […] Para que um Espírito possa comunicar-se, preciso é que haja entre ele e o médium relações fluídicas, que nem sempre se estabelecem instantaneamente. Só à medida que a faculdade se desenvolve, é que o médium adquire pouco a pouco a aptidão necessária para pôr-se em comunicação com o Espírito que se apresente. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XVII – p. 208)
223. […]
6ª O Espírito que se comunica por um médium transmite diretamente seu pensamento ou este tem por intermediário o Espírito encarnado no médium?
“O Espírito do médium é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve para falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se comunicam, como é preciso um fio elétrico para comunicar a grande distância uma notícia e, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente, que a receba e transmita.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIX – p. 228-229)
223. […]
7ª O Espírito encarnado no médium exerce alguma influência sobre as comunicações que deva transmitir, provindas de outros Espíritos?
“Exerce, porquanto, se estes não lhe são simpáticos, pode ele alterar-lhes as respostas e assimilá-las às suas próprias ideias e a seus pendores; não influencia, porém, os próprios Espíritos, autores das respostas; constitui-se apenas em mau intérprete.”
8ª Será essa a causa da preferência dos Espíritos por certos médiuns?
“Não há outra. Os Espíritos procuram o intérprete que mais simpatize com eles e que lhes exprima com mais exatidão os pensamentos. Não havendo entre eles simpatia, o Espírito do médium é um antagonista que oferece certa resistência e se torna um intérprete de má qualidade e muitas vezes infiel. É o que se dá entre vós, quando a opinião de um sábio é transmitida por intermédio de um estonteado ou de uma pessoa de má-fé.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIX – p. 229)
10. Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos; suprem, nestes últimos, a falta de órgãos materiais pelos quais transmitam suas instruções. Daí vem o serem dotados de faculdades para esse efeito. Nos tempos atuais, de renovação social, cabe-lhes uma missão especialíssima; são árvores destinadas a fornecer alimento espiritual a seus irmãos; multiplicam-se em número, para que abunde o alimento; há-os por toda a parte, em todos os países, em todas as classes da sociedade, entre os ricos e os pobres, entre os grandes e os pequenos, a fim de que em nenhum ponto faltem e a fim de ficar demonstrado aos homens que todos são chamados. Se, porém, eles desviam do objetivo providencial a preciosa faculdade que lhes foi concedida, se a empregam em coisas fúteis ou prejudiciais, se a põem a serviço dos interesses mundanos, se em vez de frutos sazonados dão maus frutos, se se recusam a utilizá-la em benefício dos outros, se nenhum proveito tiram dela para si mesmos, melhorando-se, são quais a figueira estéril. Deus lhes retirará um dom que se tornou inútil neles: a semente que não sabem fazer que frutifique, e consentirá que se tornem presas dos Espíritos maus. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIX – p. 257)
7. Os médiuns atuais — pois que também os apóstolos tinham mediunidade — igualmente receberam de Deus um dom gratuito: o de serem intérpretes dos Espíritos, para instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los à fé, não para lhes vender palavras que não lhes pertencem, a eles médiuns, visto que não são fruto de suas concepções, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais. Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado e possa dizer: não tenho fé, porque não a pude pagar; não tive o consolo de receber os encorajamentos e os testemunhos de afeição dos que pranteio, porque sou pobre. Tal a razão por que a mediunidade não constitui privilégio e se encontra por toda parte. Fazê-la paga seria, pois, desviá-la do seu providencial objetivo. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVI – p. 307)
9. A par da questão moral, apresenta-se uma consideração efetiva não menos importante, que entende com a natureza mesma da faculdade. A mediunidade séria não pode ser e não o será nunca uma profissão, não só porque se desacreditaria moralmente, identificada para logo com a dos ledores da boa sorte, como também porque um obstáculo a isso se opõe. É que se trata de uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e mutável, com cuja perenidade, pois, ninguém pode contar. Constituiria, portanto, para o explorador, uma fonte absolutamente incerta de receitas, de natureza a poder faltar-lhe no momento exato em que mais necessária lhe fosse. Coisa diversa é o talento adquirido pelo estudo, pelo trabalho e que, por essa razão mesma, representa uma propriedade da qual naturalmente lícito é, ao seu possuidor, tirar partido. A mediunidade, porém, não é uma arte, nem um talento, pelo que não pode tornar-se uma profissão. Ela não existe sem o concurso dos Espíritos; faltando estes, já não há mediunidade. Pode subsistir a aptidão, mas o seu exercício se anula. Daí vem não haver no mundo um único médium capaz de garantir a obtenção de qualquer fenômeno espírita em dado instante. Explorar alguém a mediunidade é, conseguintemente, dispor de uma coisa da qual não é realmente dono. Afirmar o contrário é enganar a quem paga. Há mais: não é de si próprio que o explorador dispõe; é do concurso dos Espíritos, das almas dos mortos, que ele põe a preço de moeda. Essa ideia causa instintiva repugnância. Foi esse tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, pela credulidade e pela superstição que motivou a proibição de Moisés. O moderno Espiritismo, compreendendo o lado sério da questão, pelo descrédito a que lançou essa exploração, elevou a mediunidade à categoria de missão. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVI – p. 308-309)
37. A mediunidade é uma faculdade essencialmente móvel e fugidia, pela razão de estar subordinada à vontade dos Espíritos; por isso é que está sujeita a intermitências. Esse motivo, e o princípio mesmo segundo o qual se estabelece a comunicação, são os obstáculos a que se torne uma profissão lucrativa, uma vez que não poderia ser nem permanente, nem aplicável a todos os Espíritos e porque poderia faltar no momento em que dela se tivesse necessidade. Aliás, não é racional admitir que os Espíritos sérios se coloquem à disposição da primeira pessoa que os queira explorar. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Médiuns – p. 19)
223. […]
19ª […]
A mediunidade propriamente dita independe da inteligência, bem como das qualidades morais. Em falta de instrumento melhor, pode o Espírito servir-se daquele que tem à mão. Porém, é natural que, para as comunicações de certa ordem, prefira o médium que lhe ofereça menos obstáculos materiais. Acresce outra consideração: o idiota muitas vezes só o é pela imperfeição de seus órgãos, podendo, entretanto, seu Espírito ser mais adiantado do que o julguem. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIX – p. 231-232)
Digamos, antes de tudo, que a mediunidade é inerente a uma disposição orgânica, de que qualquer homem pode ser dotado, como da de ver, de ouvir, de falar. Ora, nenhuma há de que o homem, por efeito do seu livre-arbítrio, não possa abusar, e se Deus não houvesse concedido, por exemplo, a palavra senão aos incapazes de proferirem coisas más, maior seria o número dos mudos do que o dos que falam. Deus outorgou faculdades ao homem e lhe dá a liberdade de usá-las, mas não deixa de punir o que delas abusa.
Se só aos mais dignos fosse concedida a faculdade de comunicar com os Espíritos, quem ousaria pretendê-la? Onde, ademais, o limite entre a dignidade e a indignidade? A mediunidade é conferida sem distinção, a fim de que os Espíritos possam trazer a luz a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, ao pobre como ao rico; aos retos, para os fortificar no bem, aos viciosos para os corrigir. Não são estes últimos os doentes que necessitam de médico? Por que Deus, que não quer a morte do pecador, o privaria do socorro que o pode arrancar ao lameiro? Os bons Espíritos lhe vêm em auxílio e seus conselhos, dados diretamente, são de natureza a impressioná-lo de modo mais vivo, do que se os recebesse indiretamente. Deus, em sua bondade, para lhe poupar o trabalho de ir buscá-la longe, nas mãos lhe coloca a luz. Não será ele bem mais culpado, se não a quiser ver? Poderá desculpar-se com a sua ignorância, quando ele mesmo haja escrito com suas mãos, visto com seus próprios olhos, ouvido com seus próprios ouvidos, e pronunciado com a própria boca a sua condenação? Se não aproveitar, será então punido pela perda ou pela perversão da faculdade que lhe fora outorgada e da qual, nesse caso, se aproveitam os maus Espíritos para o obsidiarem e enganarem, sem prejuízo das aflições reais com que Deus castiga os servidores indignos e os corações que o orgulho e o egoísmo endureceram. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXIV – p. 296)
A mediunidade não implica necessariamente relações habituais com os Espíritos superiores. É apenas uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos dúctil aos Espíritos, em geral. O bom médium, pois, não é aquele que comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos e somente deles tem assistência. Unicamente neste sentido é que a excelência das qualidades morais se torna onipotente sobre a mediunidade. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXIV – p. 296-297)
36. O que constitui o médium, propriamente dito, é a faculdade; sob esse aspecto, ele pode estar mais ou menos formado, mais ou menos desenvolvido. O que constitui o médium seguro, o que se pode verdadeiramente qualificar de bom médium, é a aplicação da faculdade, a aptidão de servir de intérprete dos bons Espíritos. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Dos Médiuns – p. 18-19)
Pondo de lado o grau da faculdade, as qualidades essenciais de um bom médium são a modéstia, a simpatia e o devotamento. Deve oferecer seu concurso tendo em vista tornar-se útil, e não para satisfazer à sua vaidade; jamais deve tomar partido das comunicações que recebe, pois, de outra forma, poderia fazer crer que nelas põe algo de si, e que tem interesse em defendê-las; deve aceitar a crítica, mesmo solicitá-la, e submetê-la ao parecer da maioria, sem ideias premeditadas; se o que escreve é falso, é mau, detestável, devem dizê-lo sem temor de o magoar, porque ele não é responsável por nada. Eis os médiuns realmente úteis numa reunião e com os quais jamais teremos contrariedade, porque compreendem a Doutrina; os outros não a compreendem ou não a querem compreender. São estes que recebem as melhores comunicações, porque não se deixam dominar por Espíritos orgulhosos; os Espíritos mentirosos os temem, pois se reconhecem impotentes para deles abusar. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1862 – p. 19)
236. […]
“Sabeis que tomamos [os Espíritos desencarnados] ao cérebro do médium os elementos necessários a dar ao nosso pensamento uma forma que vos seja sensível e apreensível; é com o auxílio dos materiais que possui, que o médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XXII – p. 256)
224. O Espírito que se quer comunicar compreende, sem dúvida, todas as línguas, pois que as línguas são a expressão do pensamento e é pelo pensamento que o Espírito tem a compreensão de tudo, mas, para exprimir esse pensamento, torna-se-lhe necessário um instrumento, e este é o médium. A alma do médium, que recebe a comunicação de um terceiro, não a pode transmitir senão pelos órgãos de seu corpo. Ora, esses órgãos não podem ter, para uma língua que o médium desconheça, a flexibilidade que apresentam para a que lhe é familiar. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIX – p. 233)
226. 1ª O desenvolvimento da mediunidade guarda relação com o desenvolvimento moral dos médiuns?
“Não; a faculdade propriamente dita se radica no organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as qualidades do médium.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XX – p. 239)
227. Se o médium, do ponto de vista da execução, não passa de um instrumento, exerce, todavia, influência muito grande sob o aspecto moral. Pois que, para se comunicar, o Espírito desencarnado se identifica com o Espírito do médium, esta identificação não se pode verificar senão havendo, entre um e outro, simpatia e, se assim é lícito dizer-se, afinidade. A alma exerce sobre o Espírito livre uma espécie de atração ou de repulsão, conforme o grau da semelhança existente entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os bons, e os maus com os maus, donde se segue que as qualidades morais do médium exercem influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por ele se comunicam. Se o médium é vicioso, em torno dele se vêm grupar os Espíritos inferiores, sempre prontos a tomar o lugar aos bons Espíritos evocados. As qualidades que, de preferência, atraem os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, o amor do próximo, o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões que escravizam o homem à matéria. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XX – p. 242-243)
Encontramos em Bordeaux numerosos e excelentes médiuns em todas as classes, de todos os sexos e idades. Muitos escrevem com grande facilidade e obtêm comunicações de elevado alcance, o que, aliás, os Espíritos nos haviam prevenido antes de nossa partida. Além disso, não se pode senão louvá-los pela solicitude com que prestam seu concurso nas reuniões. Mas o que é ainda melhor é a abnegação de todo o amor-próprio a respeito das comunicações; ninguém se julga privilegiado e intérprete exclusivo da verdade; ninguém procura impor-se, nem impor os Espíritos que os assistem; todos submetem com simplicidade o que obtêm ao julgamento da assembleia e ninguém se ofende, nem se melindra com a crítica; aquele que recebe falsas comunicações consola-se aproveitando as boas que outras obtêm e dos quais não têm ciúmes. Acontece a mesma coisa em toda parte? Ignoramos. Constatamos o que vimos; constatamos, também, que se compenetraram do princípio de que todo médium orgulhoso, ciumento e suscetível não pode ser assistido por bons Espíritos e que nele essas imperfeições são motivo de suspeita. Longe, pois, de procurar tais médiuns, a despeito da eminência de suas faculdades, porquanto se fossem encontrados seriam repelidos por todos os grupos sérios que, antes de tudo, querem ter comunicações sérias, e não visar os efeitos. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1861 – p. 63)
24. […] Diremos simplesmente que não há, para se comunicar com os Espíritos, nem dias, nem horas, nem lugares mais propícios uns do que os outros; que não é preciso para evocá-los, nem fórmulas, nem palavras sacramentais ou cabalísticas; e não há necessidade de nenhuma preparação, de nenhuma iniciação; que o emprego de qualquer sinal ou objeto material, seja para atraí-los, seja para afastá-los, não tem efeito e o pensamento basta; enfim, que os médiuns recebem suas comunicações tão simplesmente e tão naturalmente como se fossem ditadas por uma pessoa viva, sem sair do estado normal. […]
A evocação dos Espíritos se faz em nome de Deus, com respeito e recolhimento; é a única coisa recomendada às pessoas sérias que querem ter relações com Espíritos sérios. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestação dos Espíritos – p. 14)
162. […]
Como se sabe, o sonambulismo natural cessa, geralmente, quando substituído pelo sonambulismo magnético. Não se suprime a faculdade, que tem a alma, de emancipar-se; dá-se-lhe outra diretriz. O mesmo acontece com a faculdade mediúnica. Para isso, em vez de pôr óbices ao fenômeno, coisa que raramente se consegue e que nem sempre deixa de ser perigosa, o que se tem de fazer é concitar o médium a produzi-los à sua vontade, impondo-se ao Espírito. Por esse meio, chega o médium a sobrepujá-lo e, de um dominador às vezes tirânico, faz um ser submisso e, não raro, dócil. Fato digno de nota e que a experiência confirma é que, em tal caso, uma criança tem tanta e, por vezes, mais autoridade que um adulto: mais uma prova a favor deste ponto capital da Doutrina, que o Espírito só é criança pelo corpo; que tem por si mesmo um desenvolvimento necessariamente anterior à sua encarnação atual, desenvolvimento que lhe pode dar ascendente sobre Espíritos que lhe são inferiores.
A moralização de um Espírito, pelos conselhos de uma terceira pessoa influente e experiente, não estando o médium em estado de o fazer, constitui frequentemente meio muito eficaz. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIV – p. 174)
220. […]
3ª […]
Este dom de Deus [mediunidade] não é concedido ao médium para seu deleite e, ainda menos, para satisfação de suas ambições, mas para o fim da sua melhora espiritual e para dar a conhecer aos homens a verdade. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XVII – p. 218)
189. […]
Nota – Os Espíritos insistiram, contra a nossa opinião, em incluir a escrita direta entre os fenômenos de ordem física, pela razão, disseram eles, de que: “Os efeitos inteligentes são aqueles para cuja produção o Espírito se serve dos materiais existentes no cérebro do médium, o que não se dá na escrita direta. A ação do médium é aqui toda material, ao passo que no médium escrevente, ainda que completamente mecânico, o cérebro desempenha sempre um papel ativo.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XVI – p. 195)
193. […]
Quanto aos [médiuns] que têm uma aptidão especial para comunicações científicas, históricas, médicas e outras, fora do alcance de suas especialidades atuais, fica certo de que possuíram, em anterior existência, esses conhecimentos, que permaneceram neles em estado latente, fazendo parte dos materiais cerebrais de que necessita o Espírito que se manifesta; são os elementos que a este abrem caminho para a transmissão de ideias que lhe são próprias, porquanto, em tais médiuns, encontra ele instrumentos mais inteligentes e mais maleáveis do que num ignaro”. Erasto (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XVI – p. 201)
[Espíritos sofredores – Ferdinand Bertin]
[…] os Espíritos não encontram em todas as pessoas as condições fluídicas imprescindíveis à manifestação. Este, [o Espírito] na perturbação em que estava, nem mesmo tinha a liberdade da escolha, sendo conduzido instintiva e atrativamente para este médium, dotado, ao que parece, de aptidão especial para as comunicações deste gênero. Também é de supor que pressentisse uma simpatia particular, como outros a encontraram em idênticas circunstâncias. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo IV – p. 249)
44. Fenômeno muito frequente na mediunidade é a aptidão de certos médiuns para escrever em língua que lhes é estranha; a explanar, oralmente ou por escrito, assuntos que lhes estão fora do alcance da instrução recebida. Não é raro o caso de alguns que escrevem correntemente sem nunca terem aprendido a escrever; de outros que compõem poesias, sem jamais na vida terem sabido fazer um verso; de outros que desenham, pintam, esculpem, compõem música, tocam um instrumento, sem conhecerem desenho, pintura, escultura, ou a arte musical. Ocorre frequentemente o fato de um médium escrevente reproduzir com perfeição a grafia e a assinatura que os Espíritos, que por ele se comunicam, tinham quando vivos, se bem não as haja ele conhecido.
Nada, porém, apresenta esse fenômeno de mais maravilhoso, do que o de se fazer que uma criança escreva, guiando-se-lhe a mão; pode-se, dessa maneira, conseguir que ela execute tudo o que se queira. Pode-se fazer que qualquer pessoa escreva num idioma que ela ignore, ditando-se-lhe as palavras letra por letra. Compreende-se que o mesmo se possa dar com a mediunidade, desde que se atente na maneira por que os Espíritos se comunicam com os médiuns que, para eles, mais não são do que instrumentos passivos. Se, porém, o médium tem o mecanismo, se venceu as dificuldades práticas, se lhe são familiares as expressões, se, finalmente, possui no cérebro os elementos daquilo que o Espírito quer fazê-lo executar, ele se acha na posição do homem que sabe ler e escrever correntemente; o trabalho se torna mais fácil e mais rápido; ao Espírito já não resta senão transmitir seus pensamentos ao intérprete, para que este os reproduza pelos meios de que dispõe.
A aptidão de um médium para coisas que lhe são estranhas também tem frequentemente suas raízes nos conhecimentos que ele possuiu noutra existência e dos quais seu Espírito conservou a intuição. Se, por exemplo, ele foi poeta ou músico, mais facilidade encontrará para assimilar o pensamento poético ou musical que um Espírito queira fazê-lo expressar. A língua que ele hoje ignora pode ter-lhe sido familiar noutra existência, donde maior aptidão sua para escrever mediunicamente nessa língua. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 267-268)
41. Médiuns de efeitos físicos — São os mais aptos, especialmente, à produção de fenômenos materiais, como o movimento de corpos inertes, os ruídos, a deslocação, o levantamento e a translação de objetos, etc. Estes fenômenos podem ser espontâneos ou provocados. Em todos os casos, exigem o concurso voluntário ou involuntário de médiuns dotados de faculdades especiais. Em geral, têm por agentes Espíritos de ordem inferior, uma vez que os Espíritos elevados só se preocupam com comunicações inteligentes e instrutivas. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 74)
Os Espíritos manifestam-se ainda e podem transmitir seus pensamentos por sons articulados, que se fazem ouvir, seja no ar, seja no interior do órgão auditivo, pela voz do médium, pela vista, por desenhos, pela música e por muitos outros meios que um estudo completo torna conhecidos.
Os médiuns possuem, para esses diferentes modos de comunicação, aptidões especiais que dependem de sua organização. Assim, temos médiuns de efeitos físicos, isto é, aptos para produzir fenômenos materiais, como pancadas, movimentos de corpos etc.; há médiuns auditivos, falantes, videntes, desenhadores, músicos, escreventes. Esta última faculdade é a mais comum, a que melhor se desenvolve pelo exercício e também a mais preciosa, por ser a que permite comunicações mais frequentes e rápidas. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo I – p. 76-77)
19. Há pessoas que obtêm regularmente e, de alguma forma, à vontade, a produção de certos fenômenos; mas, há que se anotar que esses são sempre efeitos puramente físicos, mais curiosos do que instrutivos, e que se produzem constantemente em condições análogas. As circunstâncias nas quais são obtidos são de natureza a inspirarem dúvidas, tanto mais legítimas sobre sua realidade quando são geralmente objetos de uma exploração, e, frequentemente, quando é difícil distinguir a mediunidade real da prestidigitação. Os fenômenos desse gênero, entretanto, podem ser o produto de uma mediunidade verdadeira, porque pode ocorrer que Espíritos de baixo estágio, que talvez tinham tido esse ofício, se comprazam nessas espécies de exibições; mas seria absurdo pensar que os Espíritos, por pouca que seja sua elevação, se alegrem em se exibirem.
Isso não infirma em nada o princípio da liberdade dos Espíritos; aqueles que vêm, o fazem porque isso lhes agrada, mas não porque sejam constrangidos, e do momento que não lhes convenha mais vir, se o indivíduo for verdadeiro médium, nenhum efeito se produzirá. Os mais poderosos médiuns, de efeitos físicos ou outros, têm tempos de interrupção, independentemente de sua vontade; os charlatães não os têm jamais. (Allan Kardec – Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas – Manifestação dos Espíritos – p. 11-12)
42. Médiuns sensitivos ou impressivos — Dá-se esta denominação às pessoas suscetíveis de pressentir a presença dos Espíritos, por impressão vaga, um como ligeiro atrito em todos os membros, fato que não logram explicar. Tal sutileza pode essa faculdade adquirir, que aquele que a possui reconhece, pela impressão que experimenta, não só a natureza, boa ou má, do Espírito que lhe está ao lado, mas também a sua individualidade, como o cego reconhece instintivamente a aproximação de tal ou tal pessoa. Um Espírito bom causa sempre uma impressão branda e agradável; a de um Espírito mau, ao contrário, é penosa, aflitiva e desagradável: há um como cheiro de impureza. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 74)
43. Médiuns audientes — Esses ouvem os Espíritos; é, algumas vezes, como se escutassem uma voz interna que lhes ressoasse no foro íntimo; doutras vezes é uma voz exterior, clara e distinta, qual a de uma pessoa viva. Os médiuns audientes também podem conversar com os Espíritos. Quando se habituam a comunicar-se com certos Espíritos, eles os reconhecem imediatamente pelo som da voz. Aquele que não é médium audiente pode comunicar-se com um Espírito por via de um médium audiente que lhe transmite as palavras. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 74-75)
44. Médiuns falantes — Os médiuns audientes, que nada mais fazem do que transmitir o que ouvem, não são propriamente médiuns falantes, os quais, as mais das vezes, nada ouvem. Com eles, o Espírito atua sobre os órgãos da palavra, como atuam sobre a mão dos médiuns escreventes. Querendo comunicar-se, o Espírito se serve do órgão que acha mais maleável: de um, utiliza-se da mão, de outro da palavra, de um terceiro da audição. Em geral, o médium falante se exprime sem ter consciência do que diz e diz amiúde coisas inteiramente fora do âmbito de suas ideias habituais, de seus conhecimentos e, até, fora do alcance da sua inteligência. Não é raro verem-se pessoas iletradas e de inteligência vulgar expressar-se, em tais momentos, com verdadeira eloquência e tratar, com incontestável superioridade, de questões sobre as quais seriam incapazes de emitir, no estado ordinário, uma opinião.
Se bem esteja perfeitamente acordado quando exerce a sua faculdade, raro é que o médium falante guarde lembrança do que disse. Nem sempre, porém, é integral a sua passividade. Alguns há que têm intuição do que dizem, no próprio instante em que proferem as palavras. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 75)
PSlCOFONIA – do gr. psuké, alma e phone, som ou voz. Transmissão do pensamento dos Espíritos pela voz do médium falante. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 30)
45. Médiuns videntes — Dá-se esta qualificação às pessoas que, em estado normal e perfeitamente despertas, gozam da faculdade de ver os Espíritos. A possibilidade de vê-los em sonho resulta, sem contestação, de uma espécie de mediunidade, mas não são médiuns videntes, propriamente ditos. Expusemos a teoria deste fenômeno no capítulo: “Visões e Aparições” de O Livro dos Médiuns.
São muito frequentes as aparições dos Espíritos às pessoas que os amaram, ou os conheceram na Terra. Conquanto os que costumam tê-las possam ser considerados médiuns videntes, esta denominação, em regra, só é dada aos que gozam, de modo mais ou menos permanente, da faculdade de ver quase que todos os Espíritos. Nesse número, há os que apenas veem os Espíritos que são evocados e que eles conseguem descrever com minuciosa exatidão. Descrevem-lhes os gestos com todos os pormenores, os traços fisionômicos, o vestuário e até os sentimentos de que parecem animados. Há outros em quem essa faculdade revela caráter ainda mais geral: são os que vêem toda a população espírita ambiente a movimentar-se, como se tratasse, poder-se-ia dizer, de seus negócios. Esses médiuns nunca estão sós; cerca-os sempre uma sociedade a cuja escolha podem proceder, livremente, porquanto podem, pela ação da vontade própria, afastar os Espíritos que lhes não convenha ter próximos de si, ou atrair os que lhes são simpáticos. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 76-77)
27ª Pode-se provocar a aparição dos Espíritos?
“Isso algumas vezes é possível, porém muito raramente. A aparição é quase sempre espontânea. Para que alguém veja os Espíritos, precisa ser dotado de uma faculdade especial.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 115)
APARIÇÃO – fenômeno pelo qual os seres do mundo incorpóreo se tornam visíveis.
aparição etérea ou vaporosa – a que é impalpável e insustentável, pois não oferece resistência ao tacto;
aparição tangível ou estereolítica – a que é palpável e apresenta a consistência dos corpos sólidos.
A aparição difere da visão pelo fato de ocorrer em estado de vigília, afetando os órgãos visuais, quando o homem tem plena consciência de suas relações com o mundo exterior. A visão se dá no estado de sono ou de êxtase; também ocorre em vigília, por efeito da segunda vista. A aparição nos chega pelos olhos do corpo; produz-se no próprio lugar onde nos encontramos. A visão tem por objeto coisas ausentes ou afastadas, percebidas pela alma no estado de emancipação e quando as faculdades sensitivas se acham mais ou menos suspensas. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 10)
46. Médiuns sonambúlicos — Pode-se considerar o sonambulismo como uma variedade da faculdade mediúnica ou, antes, são duas ordens de fenômenos que frequentemente se encontram ligados. O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; sua própria alma é que, em momentos de emancipação, vê, ouve e percebe além dos limites dos sentidos. O que ele exprime haure-o de si mesmo; suas ideias são, em geral, mais justas do que no estado normal, mais extensos os seus conhecimentos, porque livre se lhe acha a alma. Em suma, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos. O médium, ao contrário, é instrumento de uma inteligência estranha; é passivo e o que diz não vem do seu próprio eu.
Em resumo: o sonâmbulo externa seus próprios pensamentos e o médium exprime os de outrem. Mas, o Espírito que se comunica com um médium qualquer também pode comunicar-se com um sonambúlico. É até frequente o estado de emancipação da alma, durante o sonambulismo, tornar mais fácil essa comunicação. Muitos sonâmbulos veem perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes; podem conversar com eles e transmitir-nos seus pensamentos; se o que dizem está fora do âmbito de seus conhecimentos pessoais, é que outros Espíritos lho sugerem. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 77)
47. Médiuns inspirados — Nestes médiuns, muito menos aparentes são do que nos outros os sinais exteriores da mediunidade; é toda intelectual e moral a ação que os Espíritos exercem sobre eles e se revela nas menores circunstâncias da vida, como nas maiores concepções. Sobretudo debaixo desse aspecto é que se pode dizer que todos são médiuns, porquanto ninguém há que não tenha Espíritos protetores e familiares a empregar todos os esforços por lhe sugerir salutares ideias. No inspirado, difícil muitas vezes se torna distinguir as ideias que lhe são próprias do que lhe é sugerido. A espontaneidade é principalmente o que caracteriza esta última.
Nos grandes trabalhos da inteligência é onde mais se evidencia a inspiração. Os homens de gênio, de todas as categorias, artistas, sábios, literatos, oradores, são sem dúvida Espíritos adiantados, capazes, por si mesmos, de compreender e conhecer grandes coisas; ora, precisamente porque são considerados capazes, é que os Espíritos que visam à execução de certos trabalhos lhes sugerem as ideias necessárias, de sorte que na maioria dos casos eles são médiuns sem o saberem. Têm, contudo, vaga intuição de uma assistência estranha, porquanto aquele que apela para a inspiração nada mais faz do que uma evocação. Se não esperasse ser atendido, por que exclamaria, como tão amiúde sucede: Meu bom gênio, vem em meu auxílio! (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 77-78)
545. Pode, alguma vez, o general ser guiado por uma espécie de dupla vista, por uma visão intuitiva, que lhe mostre de antemão o resultado de seus planos?
“Isso se dá amiúde com o homem de gênio. É o que ele chama inspiração e o que faz que obre com uma espécie de certeza. Essa inspiração lhe vem dos Espíritos que o dirigem, os quais se aproveitam das faculdades de que o veem dotado.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 265)
48. Médiuns de pressentimentos — Pessoas há que, em dadas circunstâncias, têm uma imprecisa intuição das coisas futuras. Essa intuição pode provir de uma espécie de dupla vista, que faculta se entrevejam as consequências das coisas presentes; mas, doutras vezes, resulta de comunicações ocultas, que fazem de tais pessoas uma variedade dos médiuns inspirados. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 78-79)
49. Médiuns proféticos — É igualmente uma variedade dos médiuns inspirados. Recebem, com a permissão de Deus e com mais precisão do que os médiuns de pressentimentos, a revelação das coisas futuras, de interesse geral, que eles recebem o encargo de tornar conhecidas aos homens, para lhes servir de ensinamento.
De certo modo, o pressentimento é dado à maioria dos homens, para uso pessoal deles; o dom de profecia, ao contrário, é excepcional e implica a ideia de uma missão na Terra.
Todavia, se há verdadeiros profetas, maior é o número dos falsos, que tomam os devaneios da sua imaginação como revelações, quando não são velhacos que por ambição se fazem passar como profetas.
O profeta verdadeiro é um homem de bem, inspirado por Deus; pode ser reconhecido pelas suas palavras e pelas suas ações. Não é possível que Deus se sirva da boca do mentiroso para ensinar a verdade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 79)
50. Médiuns escreventes ou psicógrafos — Essa denominação é dada às pessoas que escrevem sob a influência dos Espíritos. Assim como um Espírito pode atuar sobre os órgãos vocais de um médium falante e fazê-lo pronunciar palavras, também pode servir-se da sua mão para fazê-lo escrever. A mediunidade psicográfica apresenta três variedades bem distintas: os médiuns mecânicos, os intuitivos e os semimecânicos.
Com o médium mecânico, o Espírito lhe atua diretamente sobre a mão, impulsionando-a. O que caracteriza este gênero de mediunidade é a inconsciência absoluta, por parte do médium, do que sua mão escreve. O movimento desta independe da vontade do escrevente; movimenta-se sem interrupção, a despeito do médium, enquanto o Espírito tem alguma coisa a dizer, e para desde que este último haja concluído.
Com o médium intuitivo, à transmissão do pensamento serve de intermediário o Espírito do médium. O outro Espírito, nesse caso, não atua sobre a mão para movê-la, atua sobre a alma, identificando-se com ela e imprimindo-lhe sua vontade e suas ideias. A alma recebe o pensamento do Espírito comunicante e o transcreve. Nesta situação, o médium escreve voluntariamente e tem consciência do que escreve, embora não grafe seus próprios pensamentos.
Torna-se frequentemente difícil distinguir o pensamento do médium do que lhe é sugerido, o que leva muitos médiuns deste gênero a duvidar da sua faculdade. Podem reconhecer-se os pensamentos sugeridos pelo fato de não serem nunca preconcebidos; eles surgem à proporção que o médium vai escrevendo e não raro são opostos à ideia que este previamente concebera. Podem mesmo estar fora dos conhecimentos e da capacidade do médium.
Há grande analogia entre a mediunidade intuitiva e a inspiração; a diferença consiste em que a primeira se restringe quase sempre a questões de atualidade e pode aplicar-se ao que esteja fora das capacidades intelectuais do médium; por intuição pode este último tratar de um assunto que lhe seja completamente estranho. A inspiração se estende por um campo mais vasto e geralmente vem em auxílio das capacidades e das preocupações do Espírito encarnado. Os traços da mediunidade são, de regra, menos evidentes.
O médium semimecânico, ou semi-intuitivo participa dos outros dois gêneros. No médium puramente mecânico, o movimento da mão independe da sua vontade; no médium intuitivo, o movimento é voluntário e facultativo. O médium semimecânico sente na mão uma impulsão dada mau grado seu, mas ao mesmo tempo tem consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam. Com o primeiro, o pensamento vem depois do ato de escrever; com o segundo, precede-o; com o terceiro, acompanha-o. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 79-81)
PSICOGRAFIA – do gr. psuké, borboleta, alma e grapho, eu escrevo. Transmissão do pensamento dos Espíritos por meio da escrita pela mão de um médium. No médium escrevente a mão é o instrumento, mas a sua alma ou Espírito nele encarnado é o intermediário ou intérprete do Espírito estranho que se comunica. Na pneumatografia é o próprio Espírito estranho quem escreve sem intermediário.
Psicografia imediata ou direta, é quando o próprio médium escreve, tomando do lápis como para escrever normalmente.
Psicografia mediata ou indireta, é quando o lápis é adaptado a um objeto qualquer, que serve, de certo modo, como um apêndice da mão, tal como uma cesta, uma prancheta, etc. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 30)
Quem quer que tenha recebido o dom de escrever sob a influência dos Espíritos possui uma faculdade preciosa, porque se toma intérprete entre o mundo visível e o invisível. É muitas vezes uma missão que recebeu para o bem, mas do qual não se deve envaidecer, pois a faculdade pode lhe ser retirada se dela fizer mau uso e, até, voltar-se contra si mesmo, no sentido de que escreverá coisas más e terá apenas maus Espíritos à sua disposição. Aquele que, a despeito dos esforços e da perseverança, não chega a possuí-Ia, não deve, por isso, concluir desfavoravelmente à sua pessoa: é que sua organização física não se presta para isso, mas não fica deserdado das comunicações espíritas; se as não recebe diretamente, pode obtê-las muito belas e muito boas por um intermediário. Aliás, pode, em compensação, possuir outras faculdades não menos úteis. A privação de um sentido quase sempre é compensada por um outro sentido mais desenvolvido. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Capítulo V – p. 71)
Não sendo o médium mais do que um instrumento que recebe e transmite o pensamento de um Espírito estranho, que obedece à impulsão mecânica que lhe é dada, nada há que ele não possa fazer fora do campo de seus conhecimentos, se possui a maleabilidade e a aptidão mediúnica necessárias. Assim é que há médiuns desenhistas, pintores, músicos, versejadores, embora estranhos às artes do desenho, da pintura, da música e da poesia; médiuns iletrados, que escrevem sem saber ler, nem escrever; médiuns polígrafos, que reproduzem escritas de diversos gêneros e, algumas vezes, com perfeita exatidão, a que o Espírito tinha quando encarnado; médiuns poliglotas, que escrevem ou falam em línguas que lhes são desconhecidas, etc. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 81)
Entre os médiuns que vimos, um há que merece menção especial. É uma moça de dezenove anos que, à faculdade de escrever, reúne a de médium desenhista e músico. Ela anotou mecanicamente, sob o ditado de um Espírito, que disse ser Mozart, um trecho de música que este não desautorizaria. Assinou-o, e várias pessoas, que viram os seus autógrafos, atestaram a perfeita identidade da assinatura. Mas o trabalho mais notável é, sem contradita, o desenho; trata-se de um quadro planetário de quatro metros quadrados de superfície, de um efeito tão original e tão singular que nos seria impossível dar uma ideia pela sua descrição. E trabalhado em lápis negro, em pastel de diversas cores e em esfuminho. Esse quadro, começado há alguns meses, ainda não está terminado; é destinado pelo Espírito à Sociedade Espírita de Paris. Vimos a médium à obra e tanto ficamos maravilhados com a rapidez, quanto com a precisão do trabalho. Inicialmente, e à guisa de treino, o Espírito a fez traçar, com mão levantada e de um jacto, círculos e espirais de cerca de um metro de diâmetro e de tal regularidade, que se encontrou o centro geométrico perfeitamente exato. Nada podemos dizer ainda quanto ao valor científico do quadro; mas, admitindo seja uma fantasia, não deixa de ser, como execução mediúnica, um trabalho deveras notável. Devendo o original ser enviado a Paris, o Espírito aconselhou que o fotografassem para se tirar várias cópias.
Um fato que devemos mencionar é que o pai da médium é pintor. Como artista achava que o Espírito obrava contrariamente às regras da arte e pretendia dar conselhos. Por isso o Espírito o proibiu de assistir ao trabalho, a fim de que a médium não lhe sofresse a influência.
Até pouco tempo a médium não havia lido nossas obras. O Espírito lhe ditou, para nos ser entregue à nossa chegada, que ainda não estava anunciada, um pequeno tratado de Espiritismo, em todos os pontos conforme O Livro dos Espíritos. (Allan Kardec – Viagem Espírita – Viagem Espírita em 1861 – p. 63-64)
Não se devem confundir os médiuns curadores com os médiuns receitistas, que são simples médiuns escreventes, cuja especialidade consiste em servirem mais facilmente de intérpretes aos Espíritos para as prescrições médicas; absolutamente mais não fazem que transmitir o pensamento do Espírito, sem exercerem, de si mesmos, nenhuma influência. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 83-84)
10. A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora. O médico dá o fruto de seus estudos, feitos, muita vez, à custa de sacrifícios penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes até a sua saúde. Podem pôr-lhes preço. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam.
Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVI – p. 309)
É por vezes muito difícil distinguir, num dado efeito, o que provém diretamente da alma do médium do que promana de uma causa estranha, porque com frequência as duas ações se confundem e convalidam. É assim que nas curas por imposição das mãos, o Espírito do médium pode atuar por si só, ou com a assistência de outro Espírito; que a inspiração poética ou artística pode ter dupla origem. Mas, do fato de ser difícil fazer-se uma distinção como essa não se segue seja ela impossível. Não raro, a dualidade é evidente e, em todos os casos, quase sempre ressalta de atenta observação. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Controvérsias sobre a ideia da existência de seres intermediários entre o homem e Deus – p. 113-114)
MAGNETISMO ANIMAL – do gr. magnes, ímã. Assim chamado por analogia como o magnetismo mineral. Demonstrou a experiência que não existe tal analogia ou que é apenas aparente. Assim, a denominação não é exata. Como, porém, foi consagrada pelo emprego universal, e como, por outro lado, o epíteto que é adicionado não permite equívocos, haveria mais inconveniente do que utilidade em substituir a expressão. Algumas pessoas a substituem por mesmerismo. Mas até agora a tentativa não prevaleceu.
O magnetismo animal pode assim ser definido: ação recíproca de dois seres vivos por meio de um agente especial chamado fluido magnético. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 22)
[…] a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxílio. Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo XIV – p. 183)
Como se há visto, o fluido universal é o elemento primitivo do corpo carnal e do perispírito, os quais são simples transformações dele. Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer princípios reparadores ao corpo; o Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância do seu envoltório fluídico. A cura se opera mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas, depende também da energia da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido. Depende ainda das intenções daquele que deseje realizar a cura, seja homem ou Espírito. Os fluidos que emanam de uma fonte impura são quais substâncias medicamentosas alteradas. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 261)
33. A ação magnética pode produzir-se de muitas maneiras:
1º) pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou magnetismo humano, cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do fluido;
2º) pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um encarnado, seja para o curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade está na razão direta das qualidades do Espírito;
3º) pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para esse derramamento. É o magnetismo misto, semiespiritual, ou, se o preferirem, humano-espiritual. Combinado com o fluido humano, o fluido espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Em tais circunstâncias, o concurso dos Espíritos é amiúde espontâneo, porém, as mais das vezes, provocado por um apelo do magnetizador. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 261-262)
5. O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível. Daí decorre que aquele que a um grande poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural. Tal o motivo por que Jesus disse a seus apóstolos: se não o curastes, foi porque não tínheis fé. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIX – p. 254)
12. No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade.
Até o presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso, porque o Cristo a exalçou como poderosa alavanca e porque o tem considerado apenas como chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis?
A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim colimado, certeza que lhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendores que se não chegue a vencer.
O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.
Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. – Um Espírito protetor. (Paris, 1863.) (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XIX – p. 259)
52. Médiuns curadores — Consiste a mediunidade desta espécie na faculdade que certas pessoas possuem de curar pelo simples contato, pela imposição das mãos, pelo olhar, por um gesto, mesmo sem o concurso de qualquer medicamento. Semelhante faculdade incontestavelmente tem o seu princípio na força magnética; difere desta, entretanto, pela energia e instantaneidade da ação ao passo que as curas magnéticas exigem um tratamento metódico, mais ou menos longo. Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, se sabem proceder convenientemente; dispõem da ciência que adquiriram. Nos médiuns curadores, a faculdade é espontânea e alguns a possuem sem nunca ter ouvido falar de magnetismo. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 81-82)
52. […]
A faculdade de curar pela imposição das mãos deriva evidentemente de uma força excepcional de expansão, mas diversas causas concorrem para aumentá-la, entre as quais são de colocar-se, na primeira linha: a pureza dos sentimentos, o desinteresse, a benevolência, o desejo ardente de proporcionar alívio, a prece fervorosa e a confiança em Deus; numa palavra: todas as qualidades morais. A força magnética é puramente orgânica; pode, como a força muscular, ser partilha de toda gente, mesmo do homem perverso; mas, só o homem de bem se serve dela exclusivamente para o bem, sem ideias ocultas de interesse pessoal, nem de satisfação de orgulho ou de vaidade. Mais depurado, o seu fluido possui propriedades benfazejas e reparadoras, que não pode ter o do homem vicioso ou interesseiro. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 82)
552. Que se deve pensar da crença no poder, que certas pessoas teriam, de enfeitiçar?
“Algumas pessoas dispõem de grande força magnética, de que podem fazer mau uso, se maus forem seus próprios Espíritos, caso em que possível se torna serem secundados por outros Espíritos maus. Não creias, porém, num pretenso poder mágico, que só existe na imaginação de criaturas supersticiosas, ignorantes das verdadeiras Leis da Natureza. Os fatos que citam, como prova da existência desse poder, são fatos naturais, mal observados e sobretudo mal compreendidos.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 267)
555. Que sentido se deve dar ao qualificativo de feiticeiro?
“Aqueles a quem chamais feiticeiros são pessoas que, quando de boa-fé, gozam de certas faculdades, como sejam a força magnética ou a dupla vista. Então, como fazem coisas geralmente incompreensíveis, são tidas por dotadas de um poder sobrenatural.
Os vossos sábios não têm passado muitas vezes por feiticeiros aos olhos dos ignorantes?”
Nota – O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única, mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas Leis da Natureza e o que não passa de ridícula crendice. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 268-269)
556. Têm algumas pessoas, verdadeiramente, o poder de curar pelo simples contato?
“A força magnética pode chegar até aí, quando secundada pela pureza dos sentimentos e por um ardente desejo de fazer o bem, porque então os bons Espíritos lhe vêm em auxílio.
Cumpre, porém, desconfiar da maneira pela qual contam as coisas pessoas muito crédulas e muito entusiastas, sempre dispostas a considerar maravilhoso o que há de mais simples e mais natural. Importa desconfiar também das narrativas interesseiras, que costumam fazer os que exploram, em seu proveito, a credulidade alheia.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 269)
1. Os fatos que o Evangelho relata e que foram até hoje considerados milagrosos pertencem, na sua maioria, à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, dos que têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma. […]
O princípio dos fenômenos psíquicos repousa, como já vimos, nas propriedades do fluido perispiritual, que constitui o agente magnético; nas manifestações da vida espiritual durante a vida corpórea e depois da morte; e, finalmente, no estado constitutivo dos Espíritos e no papel que eles desempenham como força ativa da natureza. Conhecidos estes elementos e comprovados os seus efeitos, tem-se, como consequência, de admitir a possibilidade de certos fatos que eram rejeitados enquanto se lhes atribuía uma origem sobrenatural. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XV – p. 273-274)
52. […]
Todo efeito mediúnico, como já foi dito, resulta da combinação dos fluidos que emitem um Espírito e um médium. Pela sua conjugação esses fluidos adquirem propriedades novas, que separadamente não teriam, ou, pelo menos, não teriam no mesmo grau. A prece, que é uma verdadeira evocação, atrai os bons Espíritos sempre solícitos em secundar os esforços do homem bem-intencionado; o fluido benéfico dos primeiros se casa facilmente com o do segundo, ao passo que o do homem vicioso se junta ao dos maus Espíritos que o cercam.
O homem de bem, que não dispusesse da força fluídica, pouca coisa conseguiria fazer por si mesmo, só lhe restando apelar para a assistência dos Espíritos bons, pois quase nula seria a sua ação pessoal; uma grande força fluídica, aliada à maior soma possível de qualidades morais, pode operar, em matéria de curas, verdadeiros prodígios.
53. A ação fluídica, ao demais, é poderosamente secundada pela confiança do doente, e Deus quase sempre lhe recompensa a fé, concedendo-lhe o bom êxito. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos) p. 82-83)
Por vezes acontece que a subjugação avulta até ao ponto de paralisar a vontade do obsidiado, do qual nenhum concurso sério se pode esperar. Aí, principalmente, é que a intervenção de terceiros se torna necessária, quer por meio da prece, quer pela ação magnética. Mas, também a força dessa intervenção depende do ascendente moral que os interventores possam ter sobre os Espíritos; se não valerem mais do que estes, improfícua será a ação que desenvolvam. A ação magnética, no caso, tem por efeito introduzir no fluido do obsidiado um fluido melhor e eliminar o do mau Espírito. Ao operar, deve o magnetizador objetivar duplo fim: o de opor a uma força moral outra força moral e produzir sobre o paciente uma espécie de reação química, para nos servirmos de uma comparação material, expelindo um fluido com o auxílio de outro fluido. Dessa forma, não só opera um desprendimento salutar, como igualmente fortalece os órgãos enfraquecidos por longa e vigorosa constrição. Compreende-se, em suma, que o poder da ação fluídica está na razão direta não somente da energia da vontade, mas, sobretudo, da qualidade do fluido introduzido e, segundo o que deixamos dito, que essa qualidade depende da instrução e das qualidades morais do magnetizador. Daí se segue que um magnetizador ordinário, que atuasse maquinalmente, apenas por magnetizar, fraco ou nenhum efeito produziria. É de toda a necessidade um magnetizador espírita, que atue com conhecimento de causa, com a intenção de obter, não o sonambulismo ou uma cura orgânica, porém, os resultados que vimos de descrever. É, além disso, evidente que uma ação magnética dirigida neste sentido não pode deixar de ser muito proveitosa nos casos de obsessão ordinária, porque, então, se o magnetizador tem a auxiliá-lo a vontade do obsidiado, o Espírito se vê combatido por dois adversários em lugar de um. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestação dos Espíritos – p. 88-89)
Toda ação física ou moral, patente ou oculta, de um ser sobre si mesmo, ou sobre outro, pressupõe, de um lado, uma força atuante e, de outro, uma sensibilidade passiva. Em todas as coisas, duas forças iguais se neutralizam e a fraqueza cede à força. Ora, não sendo todos os homens dotados da mesma energia fluídica, ou, por outra, não tendo o fluido perispirítico, em todos, a mesma potência ativa, explicado fica por que, nuns, essa potência é quase irresistível, ao passo que, noutros, é nula; por que algumas pessoas são muito acessíveis à sua ação, enquanto que outras lhe são refratárias.
Essa superioridade e essa inferioridade relativas dependem evidentemente do organismo; mas, fora erro acreditar-se que estão na razão direta da força ou da fraqueza física. A experiência prova que os homens mais robustos às vezes sofrem as influências fluídicas mais facilmente do que outros de constituição muito mais delicada, ao passo que com frequência se descobrem entre estes últimos uma força que a frágil aparência deles não permitiria se suspeitasse. De muitas formas se pode explicar essa diversidade no modo de agir. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Introdução ao estudo da fotografia e da telegrafia do pensamento – p. 135)
O poder fluídico aplicado à ação recíproca dos homens uns sobre os outros, isto é, ao Magnetismo, pode depender: 1º da quantidade de fluido que cada um possua; 2º da natureza intrínseca do fluido de cada um, abstração feita da quantidade; 3º do grau de energia da força impulsiva; porventura, até, dessas três causas reunidas. Na primeira hipótese, aquele que tem mais fluido dá-lo-ia ao que tem menos, recebendo-o deste em menor quantidade. Haveria nesse caso analogia perfeita com a permuta de calórico entre dois corpos que se colocam em equilíbrio de temperatura. Qualquer que seja a causa daquela diferença, podemos aperceber-nos do efeito que ela produz, imaginando três pessoas cujo poder representaremos pelos números 10, 5 e 1. O 10 agirá sobre o 5 e sobre o 1, porém mais energicamente sobre o 1 do que sobre o 5; este atuará sobre o 1 mas será impotente para atuar sobre o 10; o 1, finalmente, não atuará sobre nenhum dos dois outros. Será essa talvez a razão por que certos pacientes são sensíveis à ação de tal magnetizador e insensíveis à de tal outro.
Pode-se também, até certo ponto, explicar esse fenômeno, apoiado nas considerações precedentes. Dissemos, com efeito, que os fluidos individuais são simpáticos ou antipáticos, uns com relação aos outros. Ora, não poderia dar-se que a ação recíproca de dois indivíduos estivesse na razão da simpatia dos fluidos, isto é, da tendência destes a se confundirem por uma espécie de harmonia, como as ondas sonoras produzidas pelos corpos vibrantes? Indubitavelmente essa harmonia ou simpatia dos fluidos é uma condição, ainda que não indispensável em absoluto, pelo menos muito preponderante, e quando há desacordo ou antipatia, a ação não pode deixar de ser fraca, ou, até, nula. Este sistema explica bem as condições prévias da ação; mas, não diz de que lado está a força e, admitindo-o, somos forçados a recorrer à nossa primeira suposição. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Introdução ao estudo da fotografia e da telegrafia do pensamento – p. 135-136)
VISTA (SEGUNDA) – Efeito da emancipação da alma, que se manifesta em estado de vigília. Faculdade de ver as coisas ausentes como se estivessem presentes. Os que são dotados dessa faculdade não veem pelos olhos, mas pela alma, que parece a imagem dos objetos em qualquer parte para onde se transporte e como que por uma espécie de miragem. Essa faculdade não é permanente: certas pessoas a possuem, mau grado seu; ela lhes parece um efeito natural e produz aquilo a que se chama visões. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 37)
CLARIVIDÊNCIA – propriedade inerente à alma e que dá a certas pessoas a faculdade de ver sem o concurso dos órgãos da visão. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 11)
LUCIDEZ – Clarividência, faculdade de ver sem auxílio dos órgãos da visão. É uma faculdade inerente à natureza mesma da alma ou do Espírito, e que reside em todo o seu ser. Por isso, em todos os casos em que há emancipação da alma, o homem tem percepções independentes dos sentidos. No estado corpóreo normal a faculdade de ver é limitada pelos órgãos materiais; desprendida desse obstáculo, ela não mais se acha circunscrita; estende-se por toda a parte onde a alma exerce a sua ação. Tal é a causa da visão à distância, de que desfrutam certos sonâmbulos. Veem-se no próprio local que observam, ainda que a milhares de quilômetros, porque, se ali não se acha o corpo, a alma realmente está. Pode, pois, dizer-se que o sonâmbulo vê pela luz da alma.
O vocábulo clarividência é mais geral. Lucidez se diz mais particularmente da clarividência sonambúlica. Um sonâmbulo é mais ou menos lúcido, conforme seja mais ou menos completa a emancipação da alma. (Allan Kardec – Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas – Vocabulário Espírita – p. 21)
245. O Espírito tem circunscrita a visão como os seres corpóreos?
“Não, ela reside em todo ele.”
246. Precisam da luz para ver?
“Veem por si mesmos, sem precisarem de luz exterior. Para os Espíritos, não há trevas, salvo as em que podem achar-se por expiação.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 160)
247. Para verem o que se passa em dois pontos diferentes, precisam transportar-se a esses pontos? Podem, por exemplo, ver simultaneamente nos dois hemisférios do globo?
“Como o Espírito se transporta aonde queira, com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parte ao mesmo tempo. Seu pensamento é suscetível de irradiar, dirigindo-se a um tempo para muitos pontos diferentes, mas esta faculdade depende da sua pureza. Quanto menos puro é o Espírito, tanto mais limitada tem a visão. Só os Espíritos superiores podem com a vista abranger um conjunto.”
Nota – No Espírito, a faculdade de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso. É uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange simultaneamente o espaço, os tempos e as coisas, lucidez para a qual não há trevas, nem obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a visão se dá pelo funcionamento de um órgão que a luz impressiona. Daí se segue que, não havendo luz, o homem fica na obscuridade. No Espírito, como a faculdade de ver constitui um atributo seu, abstração feita de qualquer agente exterior, a visão independe da luz. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 160)
248. O Espírito vê as coisas tão distintamente como nós?
“Mais distintamente, pois que sua vista penetra onde a vossa não pode penetrar. Nada a obscurece.”
249. Percebe os sons?
“Sim, percebe mesmo sons imperceptíveis para os vossos sentidos obtusos.”
a) No Espírito, a faculdade de ouvir está em todo ele, como a de ver?
“Todas as percepções constituem atributos do Espírito e lhe são inerentes ao ser. Quando o reveste um corpo material, elas só lhe chegam pelo conduto dos órgãos. Deixam, porém, de estar localizadas, em se achando ele na condição de Espírito livre.”
250. Constituindo elas atributos próprios do Espírito, ser-lhe-á possível subtrair-se às percepções?
“O Espírito unicamente vê e ouve o que quer. Dizemos isto de um ponto de vista geral e, em particular, com referência aos Espíritos elevados, porquanto os imperfeitos muitas vezes ouvem e veem, a seu mau grado, o que lhes possa ser útil ao aperfeiçoamento.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 160-161)
282. Como se comunicam entre si os Espíritos?
“Eles se veem e se compreendem. A palavra é material, é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VI – p. 177-178)
100. […]
19ª A visão dos Espíritos se produz no estado normal ou só estando o vidente num estado extático?
“Pode produzir-se achando-se este em condições perfeitamente normais. Entretanto, as pessoas que os veem se encontram muito amiúde num estado próximo do de êxtase, estado que lhes faculta uma espécie de dupla vista.”
20ª Os que veem os Espíritos veem-nos com os olhos?
“Assim o julgam, mas, na realidade, é a alma quem vê, e o que o prova é que os podem ver com os olhos fechados.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 114)
25ª Toda gente tem aptidão para ver os Espíritos?
“Durante o sono, todos têm; em estado de vigília, não. Durante o sono, a alma vê sem intermediário; no estado de vigília, acha-se sempre mais ou menos influenciada pelos órgãos. Daí vem não serem totalmente idênticas as condições nos dois casos.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 115)
26ª De que depende, para o homem, a faculdade de ver os Espíritos, em estado de vigília?
“Depende da organização física. Reside na maior ou menor facilidade que tem o fluido do vidente para se combinar com o do Espírito. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se, é preciso também que encontre a necessária aptidão na pessoa a quem deseje fazer-se visível.”
a) Pode essa faculdade desenvolver-se pelo exercício?
“Pode, como todas as outras faculdades, mas pertence ao número daquelas com relação às quais é melhor que se espere o desenvolvimento natural do que provocá-lo, para não sobreexcitar a imaginação. A de ver os Espíritos, em geral e permanentemente, constitui uma faculdade excepcional e não está nas condições normais do homem.” (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VI – p. 115)
25. Assim, envolta no seu perispírito, a alma tem consigo o seu princípio luminoso. Penetrando a matéria por virtude da sua essência etérea, não há, para a sua visão, corpos opacos.
Entretanto, a vista espiritual não é idêntica, quer em extensão, quer em penetração, para todos os Espíritos. Somente os Espíritos puros a possuem em todo o seu poder. Nos inferiores ela se acha enfraquecida pela relativa grosseria do perispírito, que se lhe interpõe qual nevoeiro.
Manifesta-se em diferentes graus, nos Espíritos encarnados, pelo fenômeno da segunda vista, tanto no sonambulismo natural ou magnético, quanto no estado de vigília. Conforme o grau de poder da faculdade, diz-se que a lucidez é maior ou menor. Com o auxílio dessa faculdade é que certas pessoas veem o interior do organismo humano e descrevem as causas das enfermidades. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 258)
27. Necessariamente incompleta e imperfeita é a vista espiritual nos Espíritos encarnados e, por conseguinte, sujeita a aberrações. Tendo por sede a própria alma, o estado desta há de influir nas percepções que aquela vista faculte. Segundo o grau de desenvolvimento, as circunstâncias e o estado moral do indivíduo, pode ela dar, quer durante o sono, quer no estado de vigília: 1º a percepção de certos fatos materiais e reais, como o conhecimento de alguns que ocorram a grande distância, os detalhes descritivos de uma localidade, as causas de uma enfermidade e os remédios convenientes; 2º a percepção de coisas igualmente reais do mundo espiritual, como a presença dos Espíritos; 3º imagens fantásticas criadas pela imaginação, análogas às criações fluídicas do pensamento. Estas criações se acham sempre em relação com as disposições morais do Espírito que as gera. É assim que o pensamento de pessoas fortemente imbuídas de certas crenças religiosas e com elas preocupadas lhes apresenta o inferno, suas fornalhas, suas torturas e seus demônios, tais quais essas pessoas os imaginam. Às vezes, é toda uma epopeia. Os pagãos viam o Olimpo e o Tártaro, como os cristãos veem o inferno e o paraíso. Se, ao despertarem, ou ao saírem do êxtase, conservam lembrança exata de suas visões, os que as tiveram tomam-nas como realidades confirmativas de suas crenças, quando tudo não passa de produto de seus próprios pensamentos. Cumpre, pois, se faça uma distinção muito rigorosa nas visões extáticas, antes que se lhes dê crédito. A tal propósito, o remédio para a excessiva credulidade é o estudo das leis que regem o mundo espiritual. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 258-259)
146. A alma, que deixa o corpo, pode ver a Deus?
As faculdades perceptivas da alma são proporcionais à sua purificação: só as de escol podem gozar da presença de Deus. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 170)
9. […]
A pesca qualificada de miraculosa igualmente se explica pela dupla vista. Jesus não produziu espontaneamente peixes onde não os havia; Ele viu, com a vista da alma, como teria podido fazê-lo um lúcido vígil, o lugar onde se achavam os peixes e disse com segurança aos pescadores que lançassem aí suas redes.
A acuidade do pensamento e, por conseguinte, certas previsões decorrem da vista espiritual. Quando Jesus chama a si Pedro, André, Tiago, João e Mateus, é que lhes conhecia as disposições íntimas e sabia que eles o acompanhariam e que eram capazes de desempenhar a missão que tencionava confiar-lhes. E mister se fazia que eles próprios tivessem intuição da missão que iriam desempenhar para, sem hesitação, atenderem ao chamamento de Jesus. O mesmo se deu quando, por ocasião da Ceia, Ele anunciou que um dos doze o trairia e o apontou, dizendo ser aquele que punha a mão no prato; e deu-se também, quando predisse que Pedro o negaria.
Em muitos passos do Evangelho se lê: “Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, lhes diz…” Ora, como poderia Ele conhecer os pensamentos dos seus interlocutores, senão pelas irradiações fluídicas desses pensamentos e, ao mesmo tempo, pela vista espiritual que lhe permitia ler-lhes no foro íntimo?
Muitas vezes, supondo que um pensamento se acha sepultado nos refolhos da alma, o homem não suspeita que traz em si um espelho onde se reflete aquele pensamento, um revelador na sua própria irradiação fluídica, impregnada dele. Se víssemos o mecanismo do mundo invisível que nos cerca, as ramificações dos fios condutores do pensamento, a ligarem todos os seres inteligentes, corporais e incorpóreos, os eflúvios fluídicos carregados das marcas do mundo moral, os quais, como correntes aéreas, atravessam o espaço, muito menos surpreendidos ficaríamos diante de certos efeitos que a ignorância atribui ao acaso. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XV- p. 278-279)
2. Suponhamos um homem colocado no cume de uma alta montanha, a observar a vasta extensão da planície em derredor. Nessa situação, o espaço de uma légua pouca coisa será para ele, que poderá facilmente apanhar, de um golpe de vista, todos os acidentes do terreno, de um extremo a outro da estrada que lhe esteja diante dos olhos. O viajor, que pela primeira vez percorra essa estrada, sabe que, caminhando, chegará ao fim dela. Constitui isso uma simples previsão da consequência que terá a sua marcha. Entretanto, os acidentes do terreno, as subidas e descidas, os cursos de água que terá de transpor, os bosques que haja de atravessar, os precipícios em que poderá cair, as casas hospitaleiras onde lhe será possível repousar, os ladrões que o espreitem para roubá-lo, tudo isso independe da sua pessoa; é para ele o desconhecido, o futuro, porque a sua vista não vai além da pequena área que o cerca. Quanto à duração, mede-a pelo tempo que gasta em perlustrar o caminho. Tirai-lhe os pontos de referência e a duração desaparecerá. Para o homem que está em cima da montanha e que o acompanha com o olhar, tudo aquilo está presente. Suponhamos que esse homem desce do seu ponto de observação e, indo ao encontro do viajante, lhe diz: “Em tal momento, encontrarás tal coisa, serás atacado e socorrido.” Estará predizendo o futuro, mas, futuro para o viajante, não para ele, autor da previsão, pois que, para ele, esse futuro é presente.
3. Se, agora, sairmos do âmbito das coisas puramente materiais e entrarmos, pelo pensamento, no domínio da vida espiritual, veremos o mesmo fenômeno produzir-se em maior escala. Os Espíritos desmaterializados são como o homem da montanha; o espaço e a duração não existem para eles. Mas a extensão e a penetração da vista são proporcionadas à depuração deles e à elevação que alcançaram na hierarquia espiritual. Com relação aos Espíritos inferiores, aqueles são quais homens munidos de possantes telescópios, ao lado de outros que apenas dispõem dos olhos. Nos Espíritos inferiores, a visão é circunscrita, não só porque eles dificilmente podem afastar-se do globo a que se acham presos, como também porque a grosseria de seus perispíritos lhes vela as coisas distantes, do mesmo modo que um nevoeiro as oculta aos olhos do corpo.
Bem se compreende, pois, que, de conformidade com o grau de sua perfeição, possa um Espírito abarcar um período de alguns anos, de alguns séculos, mesmo de muitos milhares de anos, porquanto, que é um século em face do infinito? Diante dele, os acontecimentos não se desenrolam sucessivamente, como os incidentes da estrada diante do viajor: ele vê simultaneamente o começo e o fim do período; todos os eventos que, nesse período, constituem o futuro para o homem da Terra são o presente para ele, que poderia então vir dizer-nos com certeza: Tal coisa acontecerá em tal época, porque essa coisa ele a vê como o homem da montanha vê o que espera o viajante no curso da viagem. Se assim não procede, é porque poderia ser prejudicial ao homem o conhecimento do futuro, conhecimento que lhe pearia o livre-arbítrio, paralisá-lo-ia no trabalho que lhe cumpre executar a bem do seu progresso. O se lhe conservarem desconhecidos o bem e o mal com que topará constitui para o homem uma prova.
Se tal faculdade, mesmo restrita, se pode contar entre os atributos da criatura, em que grau de potencialidade não existirá no Criador, que abrange o infinito? Para o Criador, o tempo não existe: o princípio e o fim dos mundos lhe são o presente. Dentro desse panorama imenso, que é a duração da vida de um homem, de uma geração, de um povo?
4. Entretanto, como o homem tem de concorrer para o progresso geral, como certos acontecimentos devem resultar da sua cooperação, pode convir que, em casos especiais, ele pressinta esses acontecimentos, a fim de lhes preparar o encaminhamento e de estar pronto a agir, em chegando a ocasião. Por isso é que Deus, às vezes, permite se levante uma ponta do véu; mas, sempre com fim útil, nunca para satisfação de vã curiosidade. Tal missão pode, pois, ser conferida, não a todos os Espíritos, porquanto muitos há que do futuro não conhecem mais do que os homens, porém a alguns Espíritos bastante adiantados para desempenhá-la. Ora, é de notar-se que as revelações dessa espécie são sempre feitas espontaneamente e jamais, ou, pelo menos, muito raramente, em resposta a uma pergunta direta.
5. Pode também semelhante missão ser confiada a certos homens, desta maneira:
Aquele a quem é dado o encargo de revelar uma coisa oculta recebe, à sua revelia e por inspiração dos Espíritos que a conhecem, a revelação dela e a transmite maquinalmente, sem se aperceber do que faz. É sabido, ao demais, que, assim durante o sono, como em estado de vigília, nos êxtases da dupla vista, a alma se desprende e adquire, em grau mais ou menos alto, as faculdades do Espírito livre. Se for um Espírito adiantado, se, sobretudo, houver recebido, como os profetas, uma missão especial para esse efeito, gozará, nos momentos de emancipação da alma, da faculdade de abarcar, por si mesmo, um período mais ou menos extenso, e verá, como presente, os sucessos desse período. Pode então revelá-los no mesmo instante, ou conservar lembrança deles ao despertar. Se os sucessos hajam de permanecer secretos, ele os esquecerá, ou apenas guardará uma vaga intuição do que lhe foi revelado, bastante para o guiar instintivamente.
6. É assim que em certas ocasiões essa faculdade se desenvolve providencialmente, na iminência de perigos, nas grandes calamidades, nas revoluções, e é assim também que a maioria das seitas perseguidas adquire numerosos videntes. É ainda por isso que se veem os grandes capitães avançar resolutamente contra o inimigo, certos da vitória; que homens de gênio, como, por exemplo, Cristóvão Colombo, caminham para uma meta, anunciando previamente, por assim dizer, o instante em que a alcançarão. É que eles viram, essa meta, que, para seus Espíritos, deixou de ser o desconhecido.
Nada, pois, tem de sobrenatural o dom da predição, mais do que uma imensidade de outros fenômenos. Ele se funda nas propriedades da alma e na lei das relações do mundo visível com o mundo invisível, que o Espiritismo veio dar a conhecer.
A teoria da presciência talvez não resolva de modo absoluto todos os casos que se possam apresentar de revelação do futuro, mas não se pode deixar de convir em que lhe estabelece o princípio fundamental. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVI – p. 317-320)
447. O fenômeno a que se dá a designação de dupla vista tem alguma relação com o sonho e o sonambulismo?
“Tudo isso é uma só coisa. O que se chama dupla vista é ainda resultado da libertação do Espírito, sem que o corpo seja adormecido. A dupla vista ou segunda vista é a vista da alma.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 229)
Desde que no estado sonambúlico as manifestações da alma se tornam, de certo modo, ostensivas, fora absurdo supor que no estado normal ela se ache confinada, de modo absoluto, em seu envoltório, como o caramujo em sua concha. Não é de maneira alguma a influência magnética que a desenvolve; essa influência nada mais faz do que a tornar patente pela ação que exerce sobre os órgãos corporais. Ora, nem sempre o estado sonambúlico é condição indispensável a essa manifestação. As faculdades que se revelam nesse estado desenvolvem-se algumas vezes espontaneamente, no estado normal, em certos indivíduos. Resulta-lhes daí a faculdade de verem as coisas distantes, por onde quer que a alma estenda sua ação; veem, se podemos servir-nos desta expressão, através da vista ordinária; e os quadros que descrevem, os fatos que narram se lhes apresentam como efeitos de uma miragem. É o fenômeno a que se dá o nome de segunda vista. No sonambulismo, a clarividência deriva da mesma causa; a diferença está em que, nesse estado, ela é isolada, independe da vista corporal, ao passo que é simultânea nos que dessa faculdade são dotados em estado de vigília. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 121-122)
448. É permanente a segunda vista?
“A faculdade é, o exercício não. Nos mundos menos materiais do que o vosso, os Espíritos se desprendem mais facilmente e se põem em comunicação apenas pelo pensamento, sem que, todavia, fique abolida a linguagem articulada. Por isso mesmo, em tais mundos, a dupla vista é faculdade permanente, para a maioria de seus habitantes, cujo estado normal se pode comparar ao dos vossos sonâmbulos lúcidos. Essa também a razão por que esses Espíritos se vos manifestam com maior facilidade do que os encarnados em corpos mais grosseiros.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 230)
449. A segunda vista aparece espontaneamente ou por efeito da vontade de quem a possui como faculdade?
“As mais das vezes é espontânea, porém, a vontade também desempenha com grande frequência importante papel no seu aparecimento. Toma, para exemplo, de umas dessas pessoas a quem se dá o nome de ledoras da buena-dicha, algumas das quais dispõem desta faculdade, e verás que é com o auxílio da própria vontade que se colocam no estado de terem a dupla vista e o que chamas visão.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 230)
450. A dupla vista é suscetível de desenvolver-se pelo exercício?
“Sim, do trabalho sempre resulta o progresso e a dissipação do véu que encobre as coisas.”
a) Esta faculdade tem qualquer ligação com a organização física?
“Incontestavelmente, o organismo influi para a sua existência. Há organismos que lhe são refratários.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – p. 230)
451. Por que a segunda vista parece hereditária em algumas famílias?
“Por semelhança da organização, que se transmite como as outras qualidades físicas. Depois, a faculdade se desenvolve por uma espécie de educação, que também se transmite de um a outro.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 230)
452. É exato que certas circunstâncias desenvolvem a segunda vista?
“A moléstia, a proximidade do perigo, uma grande comoção podem desenvolvê-la. O corpo, às vezes, vem a achar-se num estado especial que faculta ao Espírito ver o que não podeis ver com os olhos carnais.”
Nota – Nas épocas de crises e de calamidades, as grandes emoções, todas as causas, enfim, de superexcitação do moral provocam não raro o desenvolvimento da dupla vista. Parece que a Providência, quando um perigo nos ameaça, nos dá o meio de conjurá-lo. Todas as seitas e partidos perseguidos oferecem múltiplos exemplos desse fato. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 230-231)
453. As pessoas dotadas de dupla vista sempre têm consciência de que a possuem?
“Nem sempre. Consideram isso coisa perfeitamente natural e muitos creem que, se cada um observasse o que se passa consigo, todos verificariam que são como eles.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 231)
454. Poder-se-ia atribuir a uma espécie de segunda vista a perspicácia de algumas pessoas que, sem nada apresentarem de extraordinário, apreciam as coisas com mais precisão do que outras?
“É sempre a alma a irradiar mais livremente e a apreciar melhor do que sob o véu da matéria.”
a) Pode esta faculdade, em alguns casos, dar a presciência das coisas?
“Pode. Também dá os pressentimentos, pois que muitos são os graus em que ela existe, sendo possível que num mesmo indivíduo exista em todos os graus, ou em alguns somente.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 231)
Quase nunca é permanente a segunda vista. Em geral, o fenômeno se produz espontaneamente, em dados momentos, sem ser por efeito da vontade, e provoca uma espécie de crise que, algumas vezes, modifica sensivelmente o estado físico. O indivíduo parece olhar sem ver; toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação.
É de notar-se que as pessoas dotadas dessa faculdade não suspeitam possuí-la. Ela se lhes afigura natural, como a de ver com os olhos. Consideram-na um atributo de seu ser e nunca uma coisa excepcional. Cumpre acrescentar que muito amiúde o esquecimento se segue a essa lucidez passageira, cuja lembrança, cada vez mais imprecisa, acaba por desvanecer-se como a de um sonho. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 122)
Há infinitos graus na potencialidade da segunda vista, desde a sensação confusa, até a percepção tão nítida quanto no sonambulismo. Há carência de um termo para designar-se esse estado especial e, sobretudo, os indivíduos suscetíveis de experimentá-lo. Tem-se empregado a palavra vidente, que, embora não exprima com exatidão a ideia, adotaremos até nova ordem, em falta de outra melhor.
Se agora confrontarmos os fenômenos de segunda vista com os da clarividência sonambúlica, compreenderemos que o vidente possa perceber coisas que lhe estejam fora do alcance da visão ordinária, do mesmo modo que o sonâmbulo vê, a distância, acompanha o curso dos acontecimentos, aprecia-lhes a tendência e, em certos casos, lhes prevê o desenlace. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 122-123)
Esse dom da segunda vista é que, em estado rudimentar, dá a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma espécie de segurança aos atos, o que se pode com justeza denominar: golpe de vista moral. Mais desenvolvido, ele acorda os pressentimentos, ainda mais desenvolvido, faz ver acontecimentos que já se realizaram, ou que estão prestes a realizar-se; finalmente, quando chega ao apogeu, é o êxtase vígil. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 123)
Como já dissemos, o fenômeno da segunda vista é quase sempre natural e espontâneo; parece, entretanto, que se produz com mais frequência sob o império de determinadas circunstâncias. Os tempos de crise, de calamidades, de grandes emoções, tudo, enfim, que sobrexcita o moral, que provoca o desenvolvimento. Dir-se-ia que a Providência, diante de perigos iminentes, multiplica em torno das criaturas a faculdade de prevê-los. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 123)
Videntes sempre os houve em todos os tempos e em todas as nações, parecendo, no entanto, que alguns povos são mais naturalmente predispostos a tê-los. Dizem que na Escócia é muito comum o dom da segunda vista. Não se lhe nota a existência entre a gente do campo e os que habitam nas montanhas.
Os videntes têm sido diversamente considerados, conforme os tempos, os costumes e o grau de civilização. Para os cépticos, eles não passam de cérebros desarranjados, de alucinados; as seitas religiosas os arvoraram em profetas, sibilas, oráculos; nos séculos de superstição e ignorância, eram feiticeiros e acabavam nas fogueiras. Para o homem sensato, que acredita no poder infinito da Natureza e na bondade inesgotável do Criador, a dupla vista é uma faculdade inerente à espécie humana, por meio da qual Deus nos revela a existência da nossa essência espiritual. Quem não reconheceria um dom dessa natureza em Joana d’Arc e em toda uma multidão de outras personagens que a história qualifica de inspiradas? (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 123-124)
Podem incluir-se os médiuns videntes na categoria das pessoas que possuem a dupla vista. Com efeito, do mesmo modo que estas últimas, aqueles julgam ver com os olhos, mas, na realidade, a alma é que vê e por essa razão é que eles veem tão bem com os olhos abertos como com os olhos fechados. Segue-se, necessariamente, que um cego poderia ser médium vidente, tanto quanto um que tenha perfeita a vista. Constituiria estudo interessante indagar se essa faculdade é mais frequente nos cegos. Somos levado a crê-lo, dado que, como se pode verificar experimentalmente, a privação de comunicar-se com o meio exterior, por falta de certos sentidos, confere em geral poder maior à faculdade de abstração da alma e, consequentemente, maior desenvolvimento ao sentido íntimo pelo qual ela se põe em relação com o mundo espiritual. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 124-125)
Podem, pois, os médiuns videntes ser identificados às pessoas que gozam da vista espiritual; mas, seria porventura demasiado considerar essas pessoas como médiuns, porquanto a mediunidade se caracteriza unicamente pela intervenção dos Espíritos, não se podendo ter como ato mediúnico o que alguém faz por si mesmo. Aquele que possui a vista espiritual vê pelo seu próprio Espírito, não sendo de necessidade, para o surto da sua faculdade, o concurso de um Espírito estranho. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 125)
No fenômeno da dupla vista, por se achar a alma parcialmente liberta do envoltório material, que lhe limita as faculdades, não há duração, nem distância; visto que lhe é dado abranger o espaço e o tempo, tudo se lhe confunde no presente. Livre dos entraves da carne, ela julga dos efeitos e das causas melhor do que nós, que não podemos fazer outro tanto; vê as consequências das coisas presentes e pode levar-nos a pressenti-las. É neste sentido que se deve entender o dom de presciência atribuído aos videntes. Suas previsões resultam de ter a alma consciência mais nítida do que existe e não de uma predição de coisas fortuitas, sem ligação com o presente. É por dedução lógica do conhecido que ela chega ao desconhecido, dependente muitas vezes da nossa maneira de proceder. Quando um perigo nos ameaça, se somos avisados, ficamos em condições de tentar tudo o que seja preciso para evitá-lo, cabendo-nos a liberdade de fazê-lo ou não.
Em tal caso, o vidente tem diante de si um perigo que se nos acha oculto; ele o assinala, indica o meio de afastá-lo, pois de outro modo o acontecimento segue o seu curso.
Suponhamos que uma carruagem enveredou por uma estrada que vai dar num precipício que o condutor não pode perceber. É evidente que, se nada ocorrer que a desvie, ela ali se precipitará. Suponhamos também que um homem colocado de maneira a divisar a estrada em toda a sua extensão, vendo o perigo que corre o viajante, consegue avisá-lo a tempo de ele se desviar. O perigo estará conjurado. Da sua posição, dominando o espaço, o observador vê o que o viajante, cuja visão os acidentes do terreno circunscrevem, não logra divisar. Pode ele ver se uma causa fortuita obstará à queda do outro; conhece então, previamente, o que se dará e prediz o acontecimento.
Imaginemos que esse homem, do alto de uma montanha, divise ao longe, pela estrada, uma tropa inimiga dirigindo-se para uma aldeia a que pretende atear fogo. Fácil lhe será, levados em conta o espaço e a velocidade, prever quando a tropa chegará. Se, então, descendo à aldeia, disser apenas: A tal hora a aldeia será incendiada, caso o fato ocorrer, ele passará, aos olhos da multidão ignorante, por adivinho, feiticeiro; entretanto, apenas viu o que os outros não podiam ver e deduziu, do que vira, as conseqüências.
Ora, o vidente, como esse homem, apreende e acompanha o curso dos acontecimentos; não lhes prevê o resultado porque possua o dom de adivinhar: ele o vê e, desde então, pode dizer-vos se estais no bom caminho, indicar-vos outro melhor e anunciar o que se vos deparará no extremo do que seguis. É, para vós, o fio de Ariadne, mostrando a saída do labirinto.
Como se vê, longe está isso da predição propriamente dita, conforme a entendemos na acepção vulgar do termo. Nada foi tirado ao livre-arbítrio do homem, que conserva sempre a liberdade de agir ou não, de evitar ou deixar que os acontecimentos se deem, por sua vontade, ou por sua inércia; indica-se-lhe um meio de chegar ao fim, cabendo-lhe utilizá-lo. Supô-lo submetido a uma fatalidade inexorável, com relação aos menores acontecimentos da vida, é despojá-lo do seu mais belo atributo: a inteligência; é assimilá-lo ao bruto. O vidente, pois, não é um adivinho; é um ser que percebe o que não vemos; é, para nós, o cão do cego. Nada nisto há, portanto, que se contraponha aos desígnios da Providência quanto ao segredo de nosso destino; é ela própria quem nos dá um guia.
Tal o ponto de vista donde se deve considerar o conhecimento do futuro, por parte das pessoas dotadas de dupla vista. Se fosse fortuito esse futuro, se dependesse do a que se chama acaso, se nenhuma ligação tivesse com as circunstâncias presentes, nenhuma clarividência poderia penetrá-lo e nenhuma certeza, nesse caso, ofereceria qualquer previsão. O vidente (referimo-nos ao que verdadeiramente o é), o vidente sério e não o charlatão que simula sê-lo, o verdadeiro vidente, não diz o que o vulgo denomina “buena-dicha”; ele apenas prevê as consequências que decorrerão do presente; nada mais e já é muito. (Allan Kardec – Obras Póstumas – A Segunda Vista – p. 126-129)
8. Para compreendermos as coisas espirituais, isto é, para fazermos delas ideia tão clara como a que fazemos de uma paisagem que tenhamos ante os olhos, falta-nos em verdade um sentido, exatamente como ao cego de nascença falta um que lhe faculte compreender os efeitos da luz, das cores e da vista, sem o contato. Daí se segue que somente por esforço da imaginação e por meio de comparações com coisas materiais que nos sejam familiares chegamos a consegui-lo. As coisas materiais, porém, não nos podem dar das coisas espirituais senão ideias muito imperfeitas, razão por que não se devem tomar ao pé da letra essas comparações e crer, por exemplo, que a extensão das faculdades perceptivas dos Espíritos depende da efetiva elevação deles, nem que eles precisem estar em cima de uma montanha ou acima das nuvens para abrangerem o tempo e o espaço.
Tal faculdade lhes é inerente ao estado de espiritualização, ou, se o preferirem, de desmaterialização. Quer isto dizer que a espiritualização produz um efeito que se pode comparar, se bem muito imperfeitamente, ao da visão de conjunto que tem o homem colocado sobre a montanha. Esta comparação objetivava simplesmente mostrar que acontecimentos pertencentes ainda, para uns, ao futuro, estão, para outros, ao presente e podem assim ser preditos, o que não implica que o efeito se produza de igual maneira.
Para, portanto, gozar dessa percepção, não precisa o Espírito transportar-se a um ponto qualquer do espaço. Pode possuí-la em toda a sua plenitude aquele que na Terra se acha ao nosso lado, tanto quanto se achasse a mil léguas de distância, ao passo que nós nada vemos além do nosso horizonte visual. Não se operando a visão, nos Espíritos, do mesmo modo, nem com os mesmos elementos que no homem, muito diverso é o horizonte visual dos primeiros. Ora, é precisamente esse o sentido que nos falece para o concebermos. O Espírito, ao lado do encarnado, é como o vidente ao lado do cego.
9. Devemos, além disso, ponderar que essa percepção não se limita ao que diz respeito à extensão; que ela abrange a penetração de todas as coisas. É, repetimo-lo, uma faculdade inerente e proporcionada ao estado de desmaterialização. A encarnação amortece-a, sem, contudo, a anular completamente, porque a alma não fica encerrada no corpo como numa caixa. O encarnado a possui, embora sempre em grau menor do que quando se acha completamente desprendido; é o que confere a certos homens um poder de penetração que a outros falece inteiramente; maior agudeza de visão moral; compreensão mais fácil das coisas extramateriais.
O Espírito encarnado não somente percebe, como também se lembra do que viu no estado de Espírito livre e essa lembrança é como um quadro que se lhe desenha na mente. Na encarnação, ele vê, mas vagamente, como através de um véu; no estado de liberdade, vê e concebe claramente. O princípio da visão não lhe é exterior, está nele; essa a razão por que não precisa da luz exterior. Por efeito do desenvolvimento moral, alarga-se o círculo das ideias e da concepção; por efeito da desmaterialização gradual do perispírito, este se purifica dos elementos grosseiros que lhe alteravam a delicadeza das percepções, o que torna fácil compreender-se que a ampliação de todas as faculdades acompanha o progresso do Espírito.
10. O grau da extensão das faculdades do Espírito é que, na encarnação, o torna mais ou menos apto a conceber as coisas espirituais. Essa aptidão, todavia, não é corolário forçoso do desenvolvimento da inteligência; a ciência vulgar não a dá, tanto assim que há homens de grande saber tão cegos para as coisas espirituais, quanto outros o são para as coisas materiais; são-lhes refratários, porque não as compreendem, o que significa que ainda não progrediram em tal sentido, ao passo que outros, de instrução e inteligência vulgares, as aprendem com a maior facilidade, o que prova que já tinham de tais coisas uma intuição prévia. É, para estes, uma lembrança retrospectiva do que viram e souberam, quer na erraticidade, quer em suas existências anteriores, como alguns têm a intuição das línguas e das ciências de que já foram conhecedores. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVI – p. 320-322)
14. Pode, portanto, ser certo o resultado final de um acontecimento, por se achar este nos desígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os pormenores e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens, podem ser eventuais as sendas e os meios. Está nas possibilidades dos Espíritos prevenir-nos do conjunto, se convier que sejamos avisados; mas, para determinarem lugar e data, fora mister conhecessem previamente a decisão que tomará este ou aquele indivíduo. Ora, se essa decisão ainda não lhe estiver na mente, poderá, tal venha ela a ser, apressar ou demorar a realização do fato, modificar os meios secundários de ação, embora o mesmo resultado chegue sempre a produzir-se. É assim, por exemplo, que, pelo conjunto das circunstâncias, podem os Espíritos prever que uma guerra se acha mais ou menos próxima, que é inevitável, sem, contudo, poderem predizer o dia em que começará, nem os incidentes pormenorizados que possam ser modificados pela vontade dos homens. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVI – p. 323-324)
18. A humanidade contemporânea também conta seus profetas. Mais de um escritor, poeta, literato, historiador ou filósofo hão traçado, em seus escritos, a marcha futura de acontecimentos a cuja realização agora assistimos.
Essa aptidão, sem dúvida, decorre, muitas vezes, da retidão do juízo, no deduzir as consequências lógicas do presente; mas, doutras vezes, também resulta de uma especial clarividência inconsciente, ou de uma inspiração vinda do exterior. O que tais homens fizeram quando vivos, podem, com razão mais forte e maior exatidão, fazer no estado de Espíritos livres, quando não têm a visão espiritual obscurecida pela matéria. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVI – p. 326)
20. A faculdade de pressentir as coisas porvindouras é um dos atributos da alma e se explica pela teoria da presciência. Jesus a possuía, como todos os outros, em grau eminente. Pôde, portanto, prever os acontecimentos que se seguiriam à sua morte, sem que nesse fato algo haja de sobrenatural, pois que o vemos reproduzir-se aos nossos olhos, nas mais vulgares condições. Não é raro que indivíduos anunciem com precisão o instante em que morrerão; é que a alma deles, no estado de desprendimento, está como o homem da montanha: abarca a estrada a ser percorrida e lhe vê o termo.
21. Tanto mais assim havia de dar-se com Jesus, quanto, tendo consciência da missão que viera desempenhar, sabia que a morte no suplício forçosamente lhe seria a consequência. A visão espiritual, permanente nele, assim como a penetração do pensamento, haviam de mostrar-lhe as circunstâncias e a época fatal. Pela mesma razão podia prever a ruína do Templo, a de Jerusalém, as desgraças que se iam abater sobre seus habitantes e a dispersão dos judeus. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XVII – p. 333)
138. Donde vêm os pressentimentos?
São recordações vagas e intuitivas do que o Espírito aprendeu em seus momentos de liberdade e algumas vezes avisos ocultos dados por Espíritos benévolos. (Allan Kardec – O Que é o Espiritismo – Capítulo III – p. 166)
522. O pressentimento é sempre um aviso do Espírito protetor?
“É o conselho íntimo e oculto de um Espírito que vos quer bem. Também está na intuição da escolha que se haja feito. É a voz do instinto. Antes de encarnar, tem o Espírito conhecimento das fases principais de sua existência, isto é, do gênero das provas a que se submete. Tendo estas caráter assinalado, ele conserva, no seu foro íntimo, uma espécie de impressão de tais provas e esta impressão, que é a voz do instinto, fazendo-se ouvir quando lhe chega o momento de sofrê-las, se torna pressentimento.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 257)
857. Há homens que afrontam os perigos dos combates, persuadidos, de certo modo, de que a hora não lhes chegou. Haverá algum fundamento para essa confiança?
“Muito amiúde tem o homem o pressentimento do seu fim, como pode ter o de que ainda não morrerá. Esse pressentimento lhe vem dos Espíritos seus protetores, que assim o advertem para que esteja pronto a partir, ou lhe fortalecem a coragem nos momentos em que mais dela necessita. Pode vir-lhe também da intuição que tem da existência que escolheu, ou da missão que aceitou e que sabe ter que cumprir.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Capítulo X – p. 379)
960. Donde se origina a crença, com que deparamos entre todos os povos, na existência de penas e recompensas porvindouras?
“É sempre a mesma coisa: pressentimento da realidade, trazido ao homem pelo Espírito nele encarnado. Porque, sabei-o bem, não é debalde que uma voz interior vos fala. O vosso erro consiste em não lhe prestardes bastante atenção. Melhores vos tornaríeis, se nisso pensásseis muito, e muitas vezes.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Quarta – Capítulo II – p. 432)
Pode-se conceber a luz sem chama e compreender a harmonia sem música. A alma é apta a perceber a harmonia, excluído todo o concurso de instrumentação, como é apta a ver a luz sem o concurso de combinações materiais. A luz é um sentido íntimo que a alma possui: quanto mais desenvolvido ele, tanto melhor percebe ela a luz. A harmonia é igualmente um sentido íntimo da alma, que a percebe em relação com o desenvolvimento desse sentido. Fora do mundo material, isto é, fora das causas tangíveis, a luz e a harmonia são de essência divina. A posse de uma e outra está na razão dos esforços empregados para adquiri-las. Se comparo a luz e a harmonia, é para me fazer mais bem compreendido e também porque esses dois sublimes gozos da alma são filhos de Deus e, portanto, irmãos. (Rossini) (Allan Kardec – Obras Póstumas – Música Espírita – p. 220)
90. O Espírito que se transporta de um lugar a outro tem consciência da distância que percorre e dos espaços que atravessa ou é subitamente transportado ao lugar aonde quer ir?
“Dá-se uma e outra coisa. O Espírito pode perfeitamente, se o quiser, inteirar-se da distância que percorre, mas também essa distância pode desaparecer completamente, dependendo isso da sua vontade, bem como da sua natureza mais ou menos depurada.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 88)
420. Podem os Espíritos comunicar-se, estando completamente despertos os corpos?
“O Espírito não se acha encerrado no corpo como numa caixa; irradia por todos os lados. Segue-se que pode comunicar-se com outros Espíritos, mesmo em estado de vigília, se bem que mais dificilmente.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 222-223)
421. Como se explica que duas pessoas, perfeitamente acordadas, tenham instantaneamente a mesma ideia?
“São dois Espíritos simpáticos, que se comunicam e veem reciprocamente seus pensamentos respectivos, embora não estejam adormecidos os corpos.”
Nota – Há, entre os Espíritos que se encontram, uma comunicação de pensamento, que dá causa a que duas pessoas se vejam e compreendam sem precisarem dos sinais ostensivos da linguagem. Poder-se-ia dizer que falam entre si a linguagem dos Espíritos. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo VIII – p. 223)
91. A matéria opõe obstáculo aos Espíritos?
“Nenhum; eles passam através de tudo. O ar, a terra, as águas e até mesmo o fogo lhes são igualmente acessíveis.” (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 88)
[Suicidas – Um ateu]
19. Vós, e vosso irmão que acabamos de evocar, vos vedes reciprocamente?
— R. Não; ele me foge.
Nota – Poder-se-ia perguntar como é que os Espíritos se podem evitar no mundo espiritual, uma vez que aí não existem obstáculos materiais nem refúgios impenetráveis à vista. Tudo é, porém, relativo nesse mundo e conforme a natureza fluídica dos seres que o habitam. Só os Espíritos superiores têm percepções indefinidas, que nos inferiores são limitadas. Para estes, os obstáculos fluídicos equivalem a obstáculos materiais. Os Espíritos furtam-se às vistas dos semelhantes por efeito volitivo, que atua sobre o envoltório perispiritual e fluidos ambientes. A Providência, porém, qual mãe, por todos os seus filhos vela, e por intermédio dos mesmos, individualmente, lhes concede ou nega essa faculdade, conforme as suas disposições morais, o que constitui, conforme as circunstâncias, um castigo ou uma recompensa. (Allan Kardec – O Céu e o Inferno – Segunda Parte – Capítulo V – p. 281)
39. Podendo o Espírito operar transformações na contextura do seu envoltório perispirítico e irradiando-se esse envoltório em torno do corpo qual atmosfera fluídica, pode produzir-se na superfície mesma do corpo um fenômeno análogo ao das aparições. Pode a imagem real do corpo apagar-se mais ou menos completamente, sob a camada fluídica, e assumir outra aparência; ou, então, vistos através da camada fluídica modificada, os traços primitivos podem tomar outra expressão. Se, saindo do terra a terra, o Espírito encarnado se identifica com as coisas do mundo espiritual, pode a expressão de um semblante feio tornar-se bela, radiosa e até luminosa; se, ao contrário, o Espírito é presa de paixões más, um semblante belo pode tomar um aspecto horrendo.
Assim se operam as transfigurações, que refletem sempre qualidades e sentimentos predominantes no Espírito. O fenômeno resulta, portanto, de uma transformação fluídica; é uma espécie de aparição perispirítica, que se produz sobre o próprio corpo do vivo e, algumas vezes, no momento da morte, em lugar de se produzir ao longe, como nas aparições propriamente ditas. O que distingue as aparições desse gênero é o serem, geralmente, perceptíveis por todos os assistentes e com os olhos do corpo, precisamente por se basearem na matéria carnal visível, ao passo que, nas aparições puramente fluídicas, não há matéria tangível. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 264-265)
O fenômeno da transfiguração pode operar-se com intensidades muito diferentes, conforme o grau de depuração do perispírito, grau que sempre corresponde ao da elevação moral do Espírito. Cinge-se às vezes a uma simples mudança no aspecto geral da fisionomia, enquanto que doutras vezes dá ao perispírito uma aparência luminosa e esplêndida.
A forma material pode conseguintemente desaparecer sob o fluido perispirítico, sem que se faça para isso necessário que o fluido assuma outro aspecto. Por vezes, apenas oculta um corpo inerte ou vivo, tornando-o invisível para uma ou para muitas pessoas, como o faria uma camada de vapor. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 63)
Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre aqueles como o som atua sobre o ar; eles nos trazem o pensamento como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer, com verdade, que há ondas nos fluidos e radiações de pensamento, que se cruzam sem se confundirem, como há, no ar, ondas e radiações sonoras.
Ainda mais; criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico como num espelho, ou, então, como essas imagens de objetos terrestres que se refletem nos vapores do ar tomando aí um corpo e, de certo modo, fotografando-se. Se um homem, por exemplo, tiver a ideia de matar alguém, embora seu corpo material se conserve impassível, seu corpo fluídico é acionado por essa ideia e a reproduz com todos os matizes. Ele executa fluidicamente o gesto, o ato que o indivíduo premeditou. Seu pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira se desenha, como num quadro, tal qual lhe está na mente.
É, assim que os mais secretos movimentos da alma repercutem no invólucro fluídico. É assim que uma alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos corporais. Estes veem as impressões interiores que se refletem nos traços fisionômicos: a cólera, a alegria, a tristeza; a alma, porém, vê nos traços da alma os pensamentos que não se exteriorizam. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Fotografia e Telegrafia do Pensamento – p. 142)
O homem exerce ação direta sobre as coisas, assim como sobre as pessoas que o cercam. Frequentemente, uma pessoa de quem se faz pouco caso a exerce decisiva sobre outras de reputação muito superior. Isto decorre de que na Terra se veem muito mais máscaras do que semblantes e de que aí o olhar tem a obscurecê-lo a vaidade, o interesse pessoal e todas as paixões más. A experiência demonstra que se pode atuar sobre o espírito dos homens, à revelia deles. Um pensamento superior, fortemente pensado, permita-se-nos a expressão, pode, pois, conforme a sua força e a sua elevação, tocar de perto ou de longe homens que nenhuma ideia fazem da maneira por que ele lhes chega, do mesmo modo que muitas vezes aquele que o emite não faz idéia do efeito produzido pela sua emissão. É esse um jogo constante das inteligências humanas e da ação recíproca de umas sobre as outras. Juntai-lhe a das inteligências dos desencarnados e imaginai, se o conseguirdes, o poder incalculável dessa força composta de tantas forças reunidas.
Se se pudesse suspeitar do imenso mecanismo que o pensamento aciona e dos efeitos que ele produz de um indivíduo a outro, de um grupo de seres a outro grupo e, afinal, da ação universal dos pensamentos das criaturas umas sobre as outras, o homem ficaria assombrado! Sentir-se-ia aniquilado diante dessa infinidade de pormenores, diante dessas inúmeras redes ligadas entre si por uma potente vontade e atuando harmonicamente para alcançar um único objetivo: o progresso universal.
Pela telegrafia do pensamento, ele apreciará em todo o seu valor a lei da solidariedade, ponderando que não há um pensamento, seja criminoso, seja virtuoso, ou de outro gênero, que não tenha ação real sobre o conjunto dos pensamentos humanos e sobre cada um deles. Se o egoísmo o levava a desconhecer as consequências, para outrem, de um pensamento perverso, pessoalmente seu, por esse mesmo egoísmo ele se verá induzido a ter bons pensamentos, para elevar o nível moral da generalidade das criaturas, atentando nas consequências que sobre si mesmo produziria um mau pensamento de outrem. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Fotografia e Telegrafia do Pensamento – p. 145-146)
482. Como é que sucede estender-se subitamente a toda uma população o estado anormal dos convulsionários e dos que sofrem de crises nervosas?
“Efeito de simpatia. As disposições morais se comunicam mui facilmente, em certos casos. Não és tão alheio aos efeitos magnéticos que não compreendas isto e a parte que alguns Espíritos naturalmente tomam no fato, por simpatia com os que os provocam.”
Nota – Entre as singulares faculdades que se notam nos convulsionários, algumas facilmente se reconhecem, de que numerosos exemplos oferecem o sonambulismo e o magnetismo, tais como, além de outras, a insensibilidade física, a leitura do pensamento, a transmissão das dores, por simpatia etc. Não há, pois, duvidar de que aqueles em quem tais crises se manifestam estejam numa espécie de sonambulismo desperto, provocado pela influência que exercem uns sobre os outros. Eles são ao mesmo tempo magnetizadores e magnetizados, inconscientemente. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 244)
483. Qual a causa da insensibilidade física que se observa em alguns convulsionários, assim como em outros indivíduos submetidos às mais atrozes torturas?
“Em alguns é, exclusivamente, efeito do magnetismo, que atua sobre o sistema nervoso, do mesmo modo que certas substâncias. Em outros, a exaltação do pensamento embota a sensibilidade. Dir-se-ia que nestes a vida se retirou do corpo, para se concentrar toda no Espírito. Não sabeis que, quando o Espírito está vivamente preocupado com uma coisa, o corpo nada sente, nada vê e nada ouve?”
Nota – A exaltação fanática e o entusiasmo hão proporcionado, em casos de suplícios, múltiplos exemplos de uma calma e de um sangue frio que não seriam capazes de triunfar de uma dor aguda, senão admitindo-se que a sensibilidade se acha neutralizada, como por efeito de um anestésico. Sabe-se que, no ardor da batalha, combatentes há que não se apercebem de que estão gravemente feridos, ao passo que, em circunstâncias ordinárias, uma simples arranhadura os poria trêmulos.
Visto que esses fenômenos dependem de uma causa física e da ação de certos Espíritos, lícito se torna perguntar como há podido uma autoridade pública fazê-los cessar em alguns casos. Simples a razão. Meramente secundária é aqui a ação dos Espíritos, que nada mais fazem do que aproveitar-se de uma disposição natural. A autoridade não suprimiu essa disposição, mas a causa que a entretinha e exaltava. De ativa que era, passou esta a ser latente. E a autoridade teve razão para assim proceder, porque do fato resultava abuso e escândalo. Sabe-se, ademais, que semelhante intervenção nenhum poder absolutamente tem, quando a ação dos Espíritos é direta e espontânea. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo IX – p. 244)
92. Têm os Espíritos o dom da ubiquidade? Por outras palavras: um Espírito pode dividir-se, ou existir em muitos pontos ao mesmo tempo?
“Não pode haver divisão de um mesmo Espírito, mas cada um é um centro que irradia para diversos lados. Isso é que faz parecer estar um Espírito em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol? É um somente. No entanto, irradia em todos os sentidos e leva muito longe os seus raios. Contudo, não se divide.”
a) Todos os Espíritos irradiam com igual força?
“Longe disso. Essa força depende do grau de pureza de cada um.”
Nota – Cada Espírito é uma unidade indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados, sem que se fracione para tal efeito. Nesse sentido unicamente é que se deve entender o dom da ubiquidade atribuído aos Espíritos. Dá-se com eles o que se dá com uma centelha, que projeta longe a sua claridade e pode ser percebida de todos os pontos do horizonte; ou, ainda, o que se dá com um homem que, sem mudar de lugar e sem se fracionar, transmite ordens, sinais e movimento a diferentes pontos. (Allan Kardec – O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo I – p. 88-89)
5. […] O Espiritismo nos faz compreender como podem os Espíritos achar-se entre nós. Comparecem com seu corpo fluídico ou espiritual e sob a aparência que nos levaria a reconhecê-los, se se tornassem visíveis. Quanto mais elevados são na hierarquia espiritual, tanto maior é neles o poder de irradiação. É assim que possuem o dom da ubiquidade e que podem estar simultaneamente em muitos lugares, bastando para isso que enviem a cada um desses lugares um raio de suas mentes. (Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XXVIII – p. 332)
119. […]
Quando o homem, por suas virtudes, chegou a desmaterializar-se completamente; quando conseguiu elevar sua alma para Deus, pode aparecer em dois lugares ao mesmo tempo. Eis como: o Espírito encarnado, ao sentir que lhe vem o sono, pode pedir a Deus lhe seja permitido transportar-se a um lugar qualquer. Seu Espírito, ou sua alma, como quiseres, abandona então o corpo, acompanhado de uma parte do seu perispírito, e deixa a matéria imunda num estado próximo do da morte. Digo próximo do da morte, porque no corpo ficou um laço que liga o perispírito e a alma à matéria, laço este que não pode ser definido. O corpo aparece, então, no lugar desejado. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 131)
119. […]
Nota – A alma não se divide, no sentido literal do termo: irradia-se para diversos lados e pode assim manifestar-se em muitos pontos, sem se haver fracionado. Dá-se o que se dá com a luz, que pode refletir-se simultaneamente em muitos espelhos. (Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Segunda Parte – Capítulo VII – p. 132)
37. Sendo o mesmo o perispírito, assim nos encarnados, como nos desencarnados, um Espírito encarnado, por efeito completamente idêntico, pode, num momento de liberdade, aparecer em ponto diverso do em que repousa seu corpo, com os traços que lhe são habituais e com todos os sinais de sua identidade. Foi esse fenômeno, do qual se conhecem muitos casos autênticos, que deu lugar à crença nos homens duplos. (Allan Kardec – A Gênese – Capítulo XIV – p. 264)
32. A faculdade, que a alma possui, de emancipar-se e de desprender-se do corpo durante a vida pode dar lugar a fenômenos análogos aos que os Espíritos desencarnados produzem. Enquanto o corpo se acha mergulhado em sono, o Espírito, transportando-se a diversos lugares, pode tornar-se visível e aparecer sob forma vaporosa, quer em sonho, quer em estado de vigília. Pode igualmente apresentar-se sob forma tangível, ou, pelo menos, com uma aparência tão idêntica à realidade, que possível se torna a muitas pessoas estar com a verdade, ao afirmarem tê-lo visto ao mesmo tempo em dois pontos diversos. Ele, com efeito, estava em ambos, mas apenas num se achava o corpo verdadeiro, achando-se no outro o Espírito. Foi este fenômeno, aliás muito raro, que deu origem à crença nos homens duplos e que se denomina de bicorporeidade. (Allan Kardec – Obras Póstumas – Manifestações dos Espíritos – p. 70)